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17/07/2012

Vida Útil ou A Morte Como Utilidade


Vida Útil ou A Morte Como Utilidade
Luiz Carlos Barata Cichetto

A Universidade da Vida, uma escola cara, onde o único e possível diploma é a Certidão de Óbito. Espero que minha formatura ainda demore um pouco, pois existem muitas lições ainda a ler e aprender nas costas das mulheres e nas bocas dos profetas. Sim, dos profetas, mas não daqueles entronizado livros sagrados, em bancos de academia. Não esses pouco interessam na atualidade. Interesso-me francamente pelos profetas não de mantos e togas e túnicas, mas pelos profetas de roupas rasgadas e sujas, pelos profetas de dentes quebrados, de feições marcadas pela dor de um cotidiano injusto. 

Ah, o cotidiano é sempre injusto com todos, pois emburrece os seres humanos, os torna frágeis e inúteis a si mesmos. E a pior coisa que um ser humano pode ser é inútil a si mesmo. Aqueles pregadores da falsa caridade detestam tal forma de pensamento por ser ela um contraponto à mentira pregada pelos dogmas cristãos e religiosos de uma forma geral. A caridade é a pior forma de humilhação, por tornar as pessoas dependentes e inúteis a si mesmo e consequentemente aos demais.

A primeira coisa que um ser humano precisa é ser útil a si mesmo. A utilidade ao próximo só será válida se a auto-utilidade estiver completa. E de que forma podemos ser úteis a nós mesmos? Primeira sendo verdadeiros conosco. Não aceitando regras inúteis nem tomando atitudes que sejam contra nossos próprios princípios íntimos. Segundo, analisando todas as experiências que nos foram oferecidas e tirando delas o melhor em nosso próprio proveito. Temos sim que ler bons livros, pois serão eles que nos trarão as experiências e formas de pensamento que serão o amálgama de nossa personalidade. Mas não adianta também apenas ler livros, é preciso viver nossos próprios livros. E fazer uma mistura de todas as coisas, bater todos esses componentes em um liquidificador mental, coar numa fina peneira ética e depois beber até fartar. Então assim estaremos sendo úteis a nós mesmos. E apenas depois disso, poderemos nos dedicar a tentar ser de utilidade a outras pessoas. Um filósofo, um político, um artista, um padre ou pastor religioso de qualquer ideologia ou crença deve ser antes de qualquer coisa, útil a si mesmo antes de se dedicar, antes de pretender, ser de utilidade aos outros. Esta é a grande falha, o grande erro das instituições todas, das religiosas às políticas, passando pelas artísticas e filosóficas: pretender ser de utilidade a alguém sem antes obter a certeza da utilidade a si mesmo. Essas pessoas na maioria das vezes têm teorias demais e vivência de menos, têm teses demais e tesão de menos, têm vontade demais e desejo de menos. E pretendem ser de alguma valia, alguma utilidade, para o restante da humanidade. E as pessoas, a massa burra, dominada pelo cotidiano emburrecedor, inseguras de suas próprias e íntimas crenças se deixam abater, dominar e principalmente serem de utilidade a esses usurpadores da utilidade alheia. Serão então úteis a eles, serão de utilidade pessoal a eles e nunca a si próprios. E em outras palavras, serão escravos sem correntes e bolas de ferro. Todos, independentemente de cor, raça, religião etc., estarão sendo de utilidade a seus preceptores, que, feito morcegos vampiros alimentados do sangue útil alheio.

A obrigação do ser humano é a de ser útil a si mesmo, não aos outros, desde o sua concepção. Isso significa que, ter ou não um filho, não deve ser uma decisão tomada por fatores como ego, interesses pessoais, financeiros ou sociais. Muito menos com a execrável pratica de "salvar casamentos". Um filho deve ser pensado com relação à utilidade ao próprio. E nada além disso, pois a utilidade dele aos outros, será construída a partir da edificação de sua própria utilidade. Mas é claro que nunca ou quase nunca isso ocorre e o resultado é a sociedade como um todo que colhe, com seres totalmente inúteis a si próprios e consequentemente a sociedade e a humanidade com um todo.

E do mesmo jeito que o nascimento, a morte de um ser humano deve ser de utilidade. E podem pensar, "Como a morte de alguém poderia ser de utilidade a ela própria? Esse sujeito é maluco!" Recorram a parágrafos anteriores onde coloco a necessidade imperativa de que um ser humano necessita ser de utilidade primeiramente a si próprio e depois aos demais. Então, diante disso, a morte deve ser cercada de utilidade. De que forma? Da forma de não ser inútil e principalmente prejudicial, pois uma coisa de extrema inutilidade é uma coisa totalmente prejudicial. E não ser inútil nesse caso significa: sem corpos apodrecendo e derramando o necrochorumem nos lençóis freáticos e ocupando espaço vital a moradia ou cultivo de terra; sem túmulos suntuosos totalmente inúteis, sem despesas inúteis de pompa social de velórios, coroas etc. Por qualquer ponto de vista, a morte deve ser tratada com simplicidade, aí sim será de utilidade. 

Acaso os governos do mundo fossem o que definem ser, laicos, de fato, todos os cemitérios seriam extintos e todos os corpos seriam cremados. Isso depois de retirados todos os órgãos ainda úteis aos vivos e totalmente inúteis aos mortos. Está aí a utilidade da morte, e qualquer ser humano que pretenda ser útil durante toda a sua vida deve incluir tal atitude perante sua futura morte em suas decisões. De fato, cemitérios são mantidos por fatores como a religião e os costumes, criados justamente para que cada ser humano se considere inferior e inútil, justificando suas próprias necessidades.

Não existem estados laicos, ao contrário do que pregam as cartas máximas da maioria dos paises ditos democráticos, pois ser um Estado Laico significaria não apenas deixar de professar oficialmente uma determinada crença, ou não ter símbolos religiosos exibidos em instituições públicas, mas principalmente não admitir leis influenciadas por religiões, crenças e dogmas. Um Estado laico de fato e de direito não pode aceitar orientações religiosas de nenhuma espécie, sob nenhum tipo de desculpa. Um Estado laico não pode estar atrelado a uma moral religiosa, seja cristã, budista ou qualquer coisa semelhante. E historicamente é o que temos, com os governos e suas casas legislativas sendo ainda reféns principalmente da hipócrita moral cristã. Um verdade estado democrático não pode estar debaixo de regras de moral religiosas, debaixo de dogmas de nenhuma espécie. Ele deve sim, permitir e proteger o direito a que cada um use sua religião da forma que quiser, da forma que lhe for útil. Mas desde que essa “utilidade” se restrinja ao caráter pessoal e intransferível.

Um Estado atrelado a qualquer desejo religioso é um Estado totalmente inútil. E reafirmo: uma coisa de extrema inutilidade é uma coisa totalmente prejudicial... Pior que isso, chega a ser criminosa. Em outras palavras, eu somente confiarei no Estado a partir do momento em que ele for, de fato, ateu. 

7/07/2012