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28/04/2013

Por Justiça de Francisca Júlia


Por Justiça de Francisca Júlia
Barata Cichetto

Dos italianos oleiros aos escravos da modernidade
Cresce um bairro burro, símbolo da mediocridade
Lotado de ignorância evanesce qualquer lembrança
Feito um trem que, bêbado carrega a sua esperança.

Esquecem o homem da estátua na praça da biblioteca
Lembrar é dor e dor jamais quita a conta da hipoteca
Mas o bairro burro precisa saber da ilustre moradora
Que da poesia transformou vida em musa inspiradora.

E não tem estátua nem nome de Rua à Musa Impassível
Pois não reconhecem a poesia como arte do impossível
Morta a musa, morto o telegrafista da Estrada de Ferro
Resta a pobreza que despreza o poder do próprio berro.

E o bairro burro, pois falta de memória é burrice certa
Aperta o passo em direção a um futuro que lhe deserta
Pois àquele que não lembra, o que resta é ser esquecido
E aquele que nunca aprende tem aquilo que é merecido.

Musa Impassível
Francisca Júlia   

I
Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.

Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave e idílico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.

Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva;

Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.

II
Ó Musa, cujo olhar de pedra, que não chora,
Gela o sorriso ao lábio e as lágrimas estanca!
Dá-me que eu vá contigo, em liberdade franca,
Por esse grande espaço onde o impassível mora.

Leva-me longe, ó Musa impassível e branca!
Longe, acima do mundo, imensidade em fora,
Onde, chamas lançando ao cortejo da aurora,
O áureo plaustro do sol nas nuvens solavanca.

Transporta-me de vez, numa ascensão ardente,
À deliciosa paz dos Olímpicos-Lares
Onde os deuses pagãos vivem eternamente,

E onde, num longo olhar, eu possa ver contigo
Passarem, através das brumas seculares,
Os Poetas e os Heróis do grande mundo antigo.


Do livro Mármores – 1895
Francisca Júlia, considerada a maior poetisa da língua portuguesa em seu tempo, foi a mais fiel representante do Parnasianismo no Brasil, a única que conseguiu atingir o respeito à forma e a impassibilidade exigidos pelo movimento: a arte pela arte. Criadora de versos perfeitos, sua obra, parnasiana no início da carreira, ao final da vida volta-se à poesia simbólica e mística. Seus sonetos estão entre os mais perfeitos da língua portuguesa. - http://www.rosanycosta.com.br/reconhecidos-esquecidos-e-emergentes/164-musa-impassivel.html