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04/09/2019

Resenha Sobre A Mulher Líquida, Por Genecy Souza

Resenha Sobre A Mulher Líquida
Por Genecy Souza
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Sou um dos muitos homens que puseram as mãos em Angela Maria. No meu caso, só as mãos mesmo. O autor não me deu a chance de usar outra coisa (risos). De qualquer modo fiquei muito lisonjeado por ser citado pela (anti?)heroína.

Angela é o que se chama de mulher-problema. E é dessa forma que, de cama em cama, de homem em homem, de enrascadas em enrascadas, contrassensos em contrassensos, a mulher liquefaz toda um ordem moral e todo um ordenamento social que ela ousa desafiar com a única arma de que dispõe: o sexo. 

E Marquês de Sade.

E rock and roll.

E Belchior... tratado aqui como uma espécie de guru -- ou um norte incerto --, cuja poesia-voz-música-e-bigode o excluem longa lista de homens-objeto de Angela, pelo simples fato da existência da enorme distância física entre eles. O poeta e sua dileta ouvinte nunca se tocaram. Não trocaram fluídos.

A Mulher Liquida é aqui mostrada nua e exposta. E tal exposição também desvenda a nudez moral de pessoas amorais fora dos holofotes sociais e comportamentais, a começar por sua família. 

Angela Maria enfrentou o mundo com seu sexo e flertou várias vezes com a morte, e até tentou ser feliz em seu mundinho dissoluto. Na verdade, até foi. Mas era só um sonho.

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06/08/2019

E Eu Nem Sei Porque Escrevi Esta Merda

E Eu Nem Sei Porque Escrevi Esta Merda
Luiz Carlos Cichetto, Barata Cichetto



Depois de concluir "Jorro" em 2013, texto que mereceu a atenção, correção e até elogios por parte do amigo escritor doutor Eduardo Amaro, texto que foi rechaçado por editoras e acabou abandonado nalgum canto do meu computador. Ainda inseguro no gênero Romance, tentei outras coisas, mas só o que consegui foram longos contos abruptamente concluídos.

Em 2017, em menos de um mês, escrevi e revisei outro romance que tinha em mente há muito tempo, e a ele batizei de "A Mulher Líquida", mas nesse não pude contar com leituras críticas, afinal, é um saco esse negócio de ficar lendo textos dos outros quando se tem os próprios para pensar. O calhamaço que rendeu mais de seiscentas páginas impressas, depois de também ser recusado por várias editoras. Recusado nem é bem a palavra, pois neste Brasil de merda, sequer o prazer de ser recusado as malditas editoras nos dão. Enviei-o, entre outras à Record, aquela que chupa o pau das sandices e ainda dá dinheiro para o tal de "Bukowiski da Amazônia", mesmo quando o sujeito é pego com a mão no bolso alheio e depois desaparece. O livro acabou sendo publicado, por sugestão de meu irmão Genecy Souza na Amazon, que não oferece qualquer apoio a escritores sem editora, sem dinheiro e sem prestígio, o que relega qualquer obra ao limbo, somente vendendo algo por esforço único do autor, além de estar sujeito às chamadas "Diretrizes da Comunidade", a forma sutil de censura, já que qualquer menção à sexo, por exemplo, condena o autor a ter seu trabalho bloqueado. 

Sem desistir, mas sem saber o caminho a seguir, já que todos parecem estar fechado para nós que não somos jovens, e ao contrário somos velhos, sem dinheiro, sem amigos importantes e vindos do interior, parafraseando o amigo Belchior, ainda este ano de 2019 lancei-me em nova empreitada, e em uma semana escrevi novo romance, ao qual dei o nome de "Satânia", que também foi submetido à algumas editoras e concursos literários, sem qualquer resultado positivo. Uma editora de Portugal, indicada pelo amigo Carlos Manuel, a quem enviei o manuscrito respondeu: "Caro senhor, após análise do seu livro, lamentamos, mas não foi aceite para publicação por não cumprir padrões literários e linguísticos de qualidade. Com os melhores cumprimentos." Ao menos respondeu. Eu tentei.

Sem quaisquer dos requisitos necessários atualmente solicitados pelas editoras, brasileiras, como: alinhamento ideológico de esquerda, engajamento no politicamente correto, e alguma forma de ligação com os poderosos que determinam que come e quem não no mercado editorial, o que me resta afinal, além de um cotidiano de perdas e danos, de desilusão e em que oportunidades de trabalho, especialmente a quem já passou dos sessenta anos são praticamente impossíveis? O que resta, se não brigar com a depressão e desejar não acordar? O que sobra, senão as sobras?

Com uma pilha de mais de um metro de textos impressos, sem contar as pilhas virtuais de outros empilhados no meu computador, cujo monitor tem mal de Parkinson já que fica tremendo, a única conclusão, seguindo o poema de Pessoa, "a única conclusão é morrer". O maldito século XXI, me cerca feito um facínora querendo meu sangue. Ele me despreza e eu também o desprezo. Não há lugar dentro dele para mim e não há lugar para mim dentro dele.

06/08/2019


Foto: Carlos Manuel (Portugal)

Foto: Carlos Manuel (Portugal)






20/07/2019

Família

Família
Ao meu irmão Genecy Souza e a minha filha Joanna Franko

Aos meus pais, a meus filhos e a qualquer um que seja:
Família não é o que se empresta, nem o que se deseja.
Respeito é o que importa, e irmão é o que lhe respeita,
O restante tem o sangue, igual ao pernilongo e a seita.

Aos meus filhos, pais e todos que se afirmam parentes:
Família não é sorriso de fotografia de pasta de dentes,
É dividir a dor em partes idênticas, reduzir as cargas,
O resto é peso morto que carregamos nas costas largas.

A meus pais e filhos, que batem punheta a comunistas:
Família não é um luxo lixo aos interesses capitalistas.
É fluxo fixo de trocas, sem perdas ou lucros cessantes,
Sem saldo em conta bancária, e nem juros incessantes.

A filhos meus e pais seus, que roubaram noites e dias:
Família não é herança genética dos úteros das vadias.
É estar perto mesmo que longe, junto até que separado,
Ser o que precisar ser, e não aquilo que lhe é esperado.

A meus filhos que não são pais, e a pais sem filhos:
Família não é rua sem saída, nem trem sem trilhos.
É a estrada de mão dupla e um caminho sem culpa,
A quem não se precisa pedir perdão e nem desculpa.

Aos meus filhos sem mente, e meus pais sem coração,
Família não é a escolha, uma democracia sem eleição.
É um direito ao dever e um dever àquilo que foi feito,
E nem sempre perfeito é justo, ou não pode ser eleito.

Aos meus filhos, da puta ou da santa, e nunca abortados:
Família não é cuidar dos pais ou de filhos não adotados,
É dar aquilo que não foi pedido, agradecer o oferecido,
Sabendo que a troca é um valor há muito desaparecido.

E aos meus pais, que abortaram de mim antes de nascer:
Família não é sobrenome, ou algo que se possa esquecer.
Não é escolha, mas conquista; individual, e não coletivo,
É capital do ser, trabalho do estar; e essência do ser vivo!

20/07/2019


22/01/2016

O Cordel Em Ritmo de Rock de Jorge Bandeira


A primeira vez que tomei contato com um texto do escritor, professor e diretor de teatro Jorge Bandeira, foi procurando textos na Internet sobre o líder-fundador do Pink Floyd Syd Barrett.

Um primoroso texto, escrito em parágrafo único, com uma "viagem" psicodélica que versava sobre Karine, a namorada naturista do musico inglês, que cuja foto nua ao fundo era a capa do seu primeiro disco solo.

O primoroso texto, publicado num site sobre naturismo e dedicado "a um floydiano chamado Genecy", me chamou tanto a atenção que deixei marcado nos favoritos do meu navegador e vez ou outra voltava e o relia, percebendo a nuance das cores apresentada, e os detalhes desnudados, literalmente. Isso foi por volta de 2010.

Alguns meses depois, quando eu escrevia alguns textos polêmicos no site de Rock Whiplash, travei amizade com Genecy Souza, que logo percebi ser um sujeito de refinado gosto por musica e dono de um bom senso a toda prova. O nome, um pouco estranho me bateu quase que de imediato, como a quem o texto do Bandeira era dedicado.  Era o próprio.

Por intermédio dele, fui apresentado (da forma como alguém é apresentado a outro alguém em uma rede social) ao Jorge.  Nascia ali uma amizade, uma parceira enorme que incluiu a edição de dois livros por parte da Editor'A Barata Artesanal, e a participação como  colaborador em todos os seis números de uma revista independente que eu criei no final de 2013e que durou 2 anos.

A marca de Jorge, além de outros textos, era justamente esses textos, em literatura de cordel, contando a história de ídolos do Rock e da musica em geral. Os seis primeiros cordéis foram publicados na revista, os demais criados especialmente para este livro.

Literatura de cordel é tida como algo menor, ao menos por aqueles acostumados à "grande" literatura urbana, como algo ligado à algo puramente "brasileiro", sem estrangeirismos. Então, ao misturar o mundo do Rock com o mundo da literatura de Cordel, Jorge Bandeira cria uma salada cultural  sem similares, com o sabor acre da literatura predominante no nordeste e norte brasileiros, com o sabor, digamos amargo do Rock. O resultado? Apreciem.

Luiz Carlos Barata Cichetto, Escritor e Artesão de Livros, 2016.

13/07/2012

O Amigo Naturista e o Criador do Pink Floyd


O Amigo Naturista e o Criador do Pink Floyd
(Acerca de Um Texto de Jorge Bandeira)
Luiz Carlos Barata Cichetto


Há cerca de um ano pretendia escrever um texto sobre Syd Barrett para a Revist'A Barata. Considero Roger "Syd" Barrett um dos maiores gênios não apenas do Rock, mas de toda a música contemporânea, e sai pelas páginas virtuais em busca de mais informações e imagens. Queria escrever algo um tanto diferente, não apenas uma outra biografia, afinal ninguém merece ler outra biografia de Pink Floyd ou de seus membros. Depois de muitas páginas lidas e abandonadas por não oferecerem nenhuma informação diferente, nada que eu ainda não soubesse, entrei num blog por intermédio de uma busca no Google e o título do texto logo de cara me chamou a atenção: "Namorada Naturista de Syd Barrett, o Criador do Pink Floyd". Decerto estaria ali um enfoque diferente. E estava mesmo! Comecei a ler o texto, ilustrado fartamente com as fotos do ensaio feito por Syd para o álbum "The Madcap Laughs", com uma linda mulher nua, sempre de costas, exibindo um corpo maravilhoso. O contraste do olhar perdido e por horas penetrante de Syd com aquela bela mulher suscitava inúmeras alucinações, viagens, interpretações. E foi assim que Jorge Bandeira, o autor do texto de forma genial tratou: uma viagem transcendental para dentro da mente de Syd Barrett, com os olhos fixos no Naturismo de Karinne. Escrito na primeira pessoa, Jorge mistura ficção com realidade, viagem com sonho e nos desenha com tintas psicodélicas um quadro completamente natural traçando por horas um paralelo entre o Naturismo e a mente “nua” de Syd Barrett. 

Acabei por desistir de meu intento, pois jamais poderia ser tão preciso e louco a ponto de produzir um texto tão cheio de imagens e interpretações quanto aquele. Desisti, ao menos naquele momento, e a acabei publicando apenas uma frase com algumas fotos... A partir daí retornei inúmeras vezes ao blog e reli o texto do Jorge, cada vez mais apaixonado por Karinne e pelas imagens criadas feito instantâneos por ele. Deixei uma mensagem no blog, nunca  respondida, e achei que o autor houvesse abandonado, que tivesse pirado, desistido.. Sei lá, tanta gente começa coisas na Internet e desaparece... Mas aquilo ficou martelando na minha cabeça. Aquela visão era muito forte. Aquele quadro pintado por Jorge Bandeira tinha cores intensas demais. Um dia, poucos meses depois, o reflexo de uma antena parabólica numa parede, num ponto de ônibus deserto me alçou novamente à condição de poeta e comecei a escrever um poema enorme: "A Sombra de Objetos Inexistentes": "Apenas lunáticos enxergam o lado escuro da Lua, mas quem percebe a sombra de objetos inexistentes?...". Uma resposta, ou contraponto ao que os remanescentes do Pink Floyd tentaram mostrar com "The Dark Side Of The Moon", pretensa homenagem a Syd Barrett. "Um domingo de sol desses, eu levo minha sombra para visitar um parque qualquer, carregando em meu embornal um par de sanduíches de carne de elefante efervescente." Minhas claras referências estavam pululando, pulando, pulverizando minha mente. "Pink Floyd rolando em um velho disco negro de vinil enquanto Syd Barrett ignora o corpo nu de Karinne e eu desejo ao seu."... Este trecho, particularmente brotou inspirado na jornada naturista de Bandeira. E no final do poema: "Syd Barrett é um São Jorge moderno domando com sua lança psicodélica, um elefante efervescente de olhos de cristal.". Depois de pronto o poema, gravei uma narração e fiz um vídeo onde misturo cenas de antigos vídeos pornôs, minha narração e a musica do Pink Floyd da era Barrett. O poema foi lançado em meu ultimo livro de poemas "Cohena Vive!" 

Algum tempo depois, Syd e o Elefante Efervescente apareciam em meus sonhos e finalmente meu texto sobre ele saiu: "E nem Karine suportou comer bolachas passadas por debaixo da porta, colocou a roupa e desapareceu. (...). E Barrett respirou fundo, cavou um buraco bem fundo dentro de sua própria mente, e feito um coelho assustado ficou quieto, calado, deixando que pensassem que era a loucura o que o afastara do mundo." Sentia que tinha pago meu tributo a Syd. Eu o desnudara. E também estava nu.

A alemã Nico era uma paixão desde a época, nos anos 70 que me descobri a trupe de Lou Reed e John Cale. E decidi escrever alguns textos sobre eles. O primeiro, dedicado á ela, foi publicado no Whiplash e entre as pessoas que comentaram, uma pessoa de nome Genecy Souza, de Manaus. Acabamos por criar uma amizade e ele acabou sendo a primeira pessoa a comprar minha autobiografia. Adicionado ao Facebook hora ou outra trocávamos algumas palavras. Mas há uns dias, decidi ler o texto do Bandeira novamente e ao reler, percebi que o mesmo tinha sido dedicado "a um floydiano de nome Genecy". Não poderia ser coincidência, pois o “blog” era de alguém de Manaus, tal e qual meu amigo de nome incomum. Perguntei-lhe sobre o texto, ele confirmou e também falou sobre a amizade de mais de 25 com o autor, e do orgulho de ter tão maravilhoso texto dedicado à sua pessoa. E então, hoje ao acordar recebo um pedido de amizade virtual de Jorge Bandeira. Horas depois conversávamos via Internet sobre esse texto e principalmente sobre o assunto que mais interessa a ele, "uma pessoa que acredita que o Naturismo é a solução para muitos problemas da humanidade." 

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A Namorada Naturista de Syd Barrett, o Criador do Pink Floyd
(A Um Floydiano de Nome Genecy.)

Jorge Bandeira (*)
(Reprodução autorizada pelo Autor)

Eu estava tentando superar aqueles pesadelos que me perseguiam após a saída da banda, o que nem mesmo eu desconfiava. Não esperava ter ido ao fundo do poço sem som algum, sem letras, sem acordes, sem viagens ao meu interior. Os caras não tinham o que inventar, uma estranha sintonia desconectada, talvez pelo uso de certas substâncias que muito me alegraram e que até hoje consomem meus sonhos mais apreciados. A insistência de Roger e David, agora, seria para que eu entrasse naquele estúdio e registrasse algo para a minha alma. Eles sabiam que o elefante efervescente poderia ser domado para este circo da indústria de discos. Neste período conheci Karinne. Ela era nudista, mas me corrigia sempre quando a chamava assim, dizia que o certo era naturista, e que a nudez no caso dela era um complemento perfeito para sua arte, no final de 1967 essencialmente colocada nos palcos e na feitura de livros artesanais de poemas. Karinne adorava ficar nua, e em princípio achei aquilo meio que um exibicionismo gratuito, sem um foco específico. Roger e David, quando entravam em meu apartamento e a encontravam nua ficavam cabisbaixos, mas não demorou muito para que se acostumassem com a nudez de Karinne. Eu ficava nu, mas só quando estávamos sós, e chegamos a fazer um ensaio fotográfico juntos, este que vocês estão vendo ilustrando este relato. Ficamos pouco tempo juntos, talvez em virtude de minhas iluminações, que cegavam a todos, ou dos momentos de reclusão interior, quando ficava incomunicável por longo tempo. Nos separamos depois que a prendi neste recinto e passei a alimentá-la com biscoitos, e ficou Karinne nua com seus biscoitos apetitosos. Ela reclamou e foi embora, para não voltar mais. A nudez e a arte dela deixaram resquícios, porém. Muito tempo depois cheguei a ver vários ensaios do Pink Floyd utilizando-se da nudez de forma artística e dinâmica. Um bonito trabalho é aquele das mulheres nuas com as costas pintadas na beira de uma piscina, tendo como motivos algumas capas do Pink Floyd. O próprio Roger usou uma capa com uma mulher nua pedindo carona,usando somente uma mochila nas costas. Karinne é a co-responsável por estas obras, tenho a certeza, mesmo que o ego inflado e Roger e David não admitam, Karinne está lá! O louco Syd não esqueceu mesmo daquela naturista, as fotos um tanto desbotadas daquela sessão memorável não me deixam mentir, Karinne era muito talentosa, além de possuir uma sensibilidade para esta coisa de movimento do corpo. No piso de taco e tecido aveludado daquele recinto esta menina-mulher nua perpetuou sua arte. Digo isso, pois Roger e David tanto insistiram que acabei por lançar (eles fizeram a parte burocrática com a gravadora!) dois álbuns, “Barrett” e “Madcap Laught”. A capa do primeiro tinha a pintura de uns insetos que matei com a bravura de um Dom Quixote e no Louco que ri, o segundo, as fotos de Karinne nua foram incluídas no encarte (a da capa só aparecia eu e um jarro). Karinne nua, sentada num banco alto, um tamborete, no canto do aposento, como se estivesse agüentando a parede para que não caísse sobre nós e nos esmagasse, e eu de mendigo louco, descabelado, um hippie mesmo, um ser feito de psicodelia tentando, com minha bicicleta, deixar uma limonada de bebê para minha querida tia gigôlo. Coisa da vida, e da morte. 

Eu falava de Karinne, aquela nudista que passeava pela casa e que não lavava roupas. As dela não precisava, pois ficava nua o dia todo, e as minhas porque ficavam podres mesmo, não fazia questão de que as lavasse. Pedia a Karinne que esquecesse o fogão, a escova e o sabão em pó. Que cuidasse só da arte, pois a vida é passageira, e a arte é um infinito profundo, interplanetário, descomunal. Existia entre nós uma comunhão de propósitos, Karinne nua com seus poemas e coreografias, Barrett com uma música verdadeira, nua. Ao ver a natural nudez de Karinne imaginava em meus sonhos artificiais aqueles índios das florestas selvagens, inóspitas, prendendo Tarzã por usar aquela tanga ridícula. Índios nus que usavam aqueles alteradores de consciência, de percepção, que usei e abusei, tornando-me um diamante louco, como querem David e Roger. Minha lapidação, porém, foi feita por algo que os índios nus não conheciam, não foi o peiote, não foi a mescalina, não foi o yage, não foram os cogumelos, não foi erva alguma, foi um composto criado em laboratório por um certo Hoffmann. Louco, Sem Diamante. Foi como fiquei, (L)ouco, (S)em (D)iamante, e o que seria pior, sem aquela agradável nudez naturista de Karinne, minha companheira de quarto naqueles dias e noites londrinos de eternas viagens ao redor de mim mesmo. Agora penso no jarro, escuro, com aquelas flores claras, de um amarelo pálido, e Karinne indo na outra direção de minha vida. Meu olhar interroga um possível interlocutor, como se perguntasse a ele se nunca viu aquilo, uma mulher nua e um jarro num meio de uma sala vazia. Nua, Karinne desponta da penumbra no recinto fechado, neste quadrado em que me encontro, onde ratos imperam, onde o único livro é um grosso exemplar do Ulisses, de James Joyce. David e Roger hoje estão muito ricos, Mason não sei por onde anda ou o que faz, e o Richard daqui há pouco deve me acompanhar, quando eu conseguir sair deste local, deste quarto interminável. Coisas da vida, e da morte. Karinne nua percorre minha mente, ela anda desenvolta, com muita calma e elegância. Os gnomos do quarto acabaram por quebrar o jarro com suas brincadeiras insanas, tempos depois. As flores do jarro não resistiram por muito tempo e também murcharam, como secaram os meus neurônios. Só restou em minha mente a nudez representativa da paz interior de Karinne, e fico até hoje divagando se tudo ocorresse diferente, como outro. Outrora. Talvez se eu ficasse com Karinne, como um casal, por exemplo, John e Yoko, não teria feito um disco com a capa de nós dois nus, dois nus e um jarro de flores desbotadas. Quem o saberá? 

O meu vertiginoso pensamento percorre os espaços vazios e amplos daquele recinto, e sinto mais uma vez que Karinne passeia nua aqui, eu não estou só. A nudez dela cheira a alfazema do campo, um perfume agradável, um odor de pele como não se tem ao usar uma roupa, qualquer que seja a vestimenta. Karinne, do alto de seu espírito completa e totalmente naturista dizia que quem veste uma vestimenta veste a mentira, quem usa vestimenta, a veste e mente. Um trocadilho que me deixa encucado até hoje. A música poderia ser nua? Como alcançar um som que nos faça feliz, sem usar nada além do som e de nosso corpo despido? Eu não consegui esta façanha, e Karinne por causa deste vácuo na minha produção, não retornou ao quarto dos biscoitos e do jarro escuro. Roger poderia me dar a resposta, mas ele está muito ocupado contando seu dinheiro e fazendo ópera na selva, na companhia daqueles indios nus, ou que ficavam nus. David está fora de cogitação, está com uma tremenda barriga proeminente e quase careca, e fisicamente ficou um tanto quanto parecido comigo, perdeu sua força junto com suas medeichas que caíram pelo caminho tortuoso do tempo e das intrigas e pelejas pelo potencial de uma marca, de um nome de banda. Trivialidades. Sem a nudez de Karinne confesso que fiquei meio perdido, foi como se faltasse uma peça fundamental da roupa de minha mente, e eu chorei esta ausência, a nua mulher menina que eu vi e senti, a menina mulher nua que me fez acostumar com a naturalidade de um corpo nu, desta Eva desgarrada do Éden, que fugiu de Deus e da serpente, e que deve estar em busca de um raro Adão dos séculos vindouros. Sei que entre olhar dois olhos que não se enxergam por entre uma cabeleira despenteada e uma mulher nua, seu olhar dará preferência àquelas protuberâncias que fazem a festa dos olhos gulosos de muitos e de muitas... Saiba porém que a dona destes atributos, naqueles anos de psicodelia chamava-se Karinne, e que tinha em sua nudez uma força além da limitação destes olhares curiosos e famintos pelo nada. Seu corpo nu almejava somente a nudez, natural, e nada mais.

(*) Jorge Bandeira é escritor, autor do livro de poemas Bela Cruedade, Diretor de Teatro e Cantor da banda "Alma Nômade".

Texto  Original: 


Links Relacionados:
- Video de "À Sombra de Objetos Inexistentes" - http://www.abarata.com.br/videos_detalhe.asp?codigo=1513
- Syd Barrett e o Elefante Efeverscente:  http://whiplash.net/materias/biografias/153733-sydbarrett.html