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10/05/2019

A Viagem Imaginária de Ara Watasara a Manaus
Barata Cichetto

Ao Bandeira
Foto: Vivi Acácio - Modelo: Alessandra Gomes

É, Jorge... As coisas pararam. Tudo. Não há trabalho para mim, apenas dividas e mais dividas. É... São quatro e pouco da manhã e mais uma noite perdida pensando nas dividas, na falta de perspectivas... Ninguém quer saber de merda nenhuma. Umbigos, umbigos, ah, os umbigos, tão salientes, proficientes, maledicentes, inconscientes. Indecentes, até. Mas, esses são períodos, falam. É comum. Comum? Amigos comentam que feito eu, que precisa trabalho, existem aos milhares de milhares. Não sou milhares, sou um. Sou indivíduo, que sempre trabalha e trabalhou. Mas o indivíduo não importa mais nessa senzala pseudo-comunista. Eu e o Eu? Estamos mortos. As feiras humanas da madrugada proliferam na periferia e há um quilo de tripas de poetas escorrendo pelas sarjetas... O que importa, Jorge? A bandeira? (desculpe o trocadilho, infame, mas necessário) De que cor? A minha é negra. De pirata e de morto. É de luto, minha bandeira. Por uma terra porca composta de gente que emporcalha seus monumentos, que transforma excrementos em tiranos. E gente em excrementos. Mudar nomes de monumentos, apagar a história, mudar a história. Mas o que não muda é a escória. Minha mulher chora o emprego que perdeu, as gatas miam sem ração. Qual é a razão de tanto? A nação do pranto? Quanto? Quanto? Quanto falta? A mim, tudo. Para onde ir? Manaus? Porto Alegre? Paris? Ou apenas até a esquina? Sentir o cheiro de merda que exala do córrego onde dejetos humanos de pobres e ricos estupram meus pulmões. Pobres e ricos são capitalistas. Comunismo é uma ilação histérica de gente de mente corrompida. Haja saco! Tanta baderna política e tanta loucura por nada. Nada mesmo. Nada nada nesse córrego. Bosta de pobres das favelas à beira. Bosta de ricos das fábricas. Bostas são bostas. E ponto. Bandeiras tremulando na porta da escola, mas dentro tem merenda: cérebros de crianças devorados por idealistas mal educados, mal amados e mal comidos. Tolos. Tirem as mãos dos crânios dos meus filhos. Qual é seu preço? Qual é o preço da sua ideologia? Tem preço, mas não apreço. Tenho cinquenta e oito, acabei com meu ultimo pacote de biscoito. Coito? Nem. Que hoje não comi. Nada. Nem ninguém. Desfralde a bandeira, troque as fraldas e a mamadeira. Não tenham medo da responsabilidade, da autoridade e a da vontade. Tenham filhos, criem filhos e percebam os trilhos te levarem a uma estação diferente. Pode ser Guaianases, Inferno ou o Verão. Mas verão a cor da estação. Paredes pintadas de verde. Vertente. Pode ser na Ponta Negra, na Ponte Rasa, ou na Puta Que Pariu. Riu? Então ria. Cioran se mata de rir de nós e compomos literatura de cordel. Ou de bordel. Cioran é o santo protetor dos incrédulos. Política é crença. Morro ontem, mas amanhã eu componho um poema escrito com merda na parede. Sonho com mortos, depois desperto. Certo. Tem muita gente com insônia. Alô, Bandeira! Tem fotos sacanas? Que bacana! Manda aquela daquela. Preciso dormir, porra! Deidades não dormem. Eu preciso. Que tal um filme pornô, penso comigo. Lembro-me de Sara, Jane, Cleide, Monica, Alexandra e uma porrada de putas que eu comi mas não gostei. Tem muita puta escrota na beira do Cais do Porto de Manaus. Bauhaus? Ou no Cais do Porto Alegre. Triste. Quintana triste. Ah, preciso sair. Ir à quitanda. Tem alface? Nem Gatos nem Alfaces. O chaveiro roubou a chave. Mas eu ainda tenho o segredo da fechadura. Ara Watasara, titulo honorífico que destes a mim, “Andarilho do Tempo”, em Nheengatu.  Admito: o tempo é meu caminho, uma estrada sem desvios, um destino certo. A morte é o destino. O tempo é o caminho. Ainda quero desfilar pelado pela Amazônia, roubar a fruta, comer a outra puta. Desfilar pelado sem vergonha do meu pinto. Sem vergonha do que sinto. Mas sinto que a unica nudez que me será permitida seja a da morte. A morte nos deixa nus. Então por que não desfrutarmos a nudez em vida? Sabes o caminho da salvação pela dor e pela arte. O que é a mesma coisa. Quero uma escrava, uma eslava e uma cavala. Potranca de ancas largas e buceta raspada. Quero ser naturista, nudista, artista, anarquista, "anartista". Foder monistas bêbadas em noite de lua cheia. E a cheia do Negro. O Encontro das Águas que eu conheço lá do alto. Tenho medo de altura, mas não tenho medo de voar. Componho poemas no raiar do sol. É frio no Sudeste. Manhãs geladas. Manhãs peladas. Sol em brasa. Frio queima. Componho outro livro de poesia. Ah, estou com azia. Dessa hipocrisia. Ah, meu amigo Jorge, que nem santo nem nada. Há terrorismo nas alas mais conservadoras do Partido Comunista Cristão. Há intolerância nas alas mais liberais do Partido da Esola Sem Partido. E eu, com meu coração partido e o estômago que mais parece solo árido do sertão, quero que se foda a política, a escola e os partidos. Quero a escola de sacanagem de Sade. O partido repartido ao meio dos cabelos das putas setentistas. Quero a ideologia dos mendigos que pedem dinheiro na porta do banco. E que morrem pela política sórdida de prefeitos preocupados em mudar nomes de monumentos. Inauguremos ruas com nomes de putas, de bichas e de poetas. Mas não ruas com nomes de Mario de Andrade, mas que inauguremos ruas com nome de Jorge Bandeira e Barata Cichetto. Ruas em Manaus, ruas em São Paulo. E a ponte Manaus-Barata é larga, poderia chamar Ponte Barata Bandeira. Hahahaha. Uma salva de risos ao distinto publico presente. Cortem a fita, disse o prefeito eleito por maioria de um. Cortem a cabeça desses putos depois. A putaria é nossa poesia e a poesia nossa putaria. Putanhamos e poetamos. Somos sórdidos. Mórbidos e espichados no trapiche da existência. Resistência sem dogmas. Em Manaus há um hotel chamado Da Vinci. Obras de arte nas paredes. E o que mais? Em Manaus Syd Barret, Lou Reed e David Bowie comem bolinho de tambaqui na Ponta Negra. Bolinho de Tambaqui. E na minha viagem, estamos eu, Bandeira, Genecy e Alessandra tomando umas e falando sobre Rock e Arte. Bebemos guaraná, presumo. Bandeira lê um de seus cordéis. "Rockordel" na minha mão. Alessandra aplaude. Genecy com seu jeito sério, ainda esboça um sorriso de Lou Reed. Ao fundo, Patti Smith agita suas mãos enormes, Lemmy trajado de cangaceiro empunha seu baixo e o Pink Floyd tocando em um volume ensurdecedor mata os peixes do Rio Solimões. Estamos todos ali, amigos por definição, irmãos por pensamento. E dançamos todos sobre as águas barrentas. Alessandra dança nua com os pés sobre uma pedra sagrada. Mas então, como quem sofre um surto, desperto e grito. Todos os ossos do corpo doendo. A boca doendo... Ah, ia esquecendo, preciso de uma dentadura. Postiça. Dor de dentes maldita. Arranca tudo, disse eu ao dentista. Assim não mordo! Sou um tordo. Pega um rodo e puxa a água. Dos meus olhos. Usa a vassoura para limpar minha sujeira. Ah, meu amigo Bandeira, quanta besteira falamos numa noite sem eira.  Nem beira. Rock In Poetry Fuck'n'Roll a tout le monde! A tous mis amis.

23/07/2016

Foto: Vivi Acácio - Modelo: Alessandra Gomes


27/05/2018

Deus Está Nu - Prefácio a Peregrinações de Isaías ao Redor de Si Mesmo, de Jorge Bandeira

Deus Está Nu
Prefácio ao livro Peregrinações de Isaías ao Redor de Si Mesmo, de Jorge Bandeira
Barata Cichetto

"Somente se a nudez profética se concretizar teremos chance de termos um novo amanhã."

A nudez humana sempre foi polêmica. Desde tempos remotos, em que, calcada em conceitos religiosos propositalmente mal interpretados, foi atrelada à ideia do pecado, da luxúria, e até mesmo da maldade. A serpente do Paraíso teria feito o primeiro casal do mundo sentir vergonha por estar nu. Teria. E a partir daí toda nudez passou a ser castigada. Perseguida. Banida. Confinada aos ambientes privados. E às revistas e filmes onde sempre foi tratada de acordo com interesses de mercado, sempre apelando à ideia do voyeurismo, do espiar no buraco da fechadura do quarto ao lado. E assim, dentro das roupas da marca Hipocrisia, a humanidade tem se sustentado.

Mas onde entra Deus nessa história? É justamente, em meu entender, que está o principal sofisma impetrado por Jorge Bandeira em "Peregrinações de Isaías ao Redor de Si Mesmo".  Mas a aparente refutação sofística é também silogismo sofístico. Ou seja, mediante a argumentação de Isaías, que quer defender algo falso e confundir o contraditor, num primeiro momento afirmando que conheceu Deus e que ele estava vestido com "manto esvoaçante que deixava antever uma visão indefinida entre o corpo nu e uma pele feita de alva coloração", há a pura conotação de que Deus está, de fato, nu.

Desfeita a confusão, proposital, o que resta ao leitor é uma verdadeira oração, um mantra à nudez humana, como forma de libertação verdadeira do ser humano. E não essa liberdade propalada pelos cantos e pelas ruas, mas que de fato se revela como prisão. A chamada liberdade sexual se revelou nisso, uma prisão, onde as pessoas são escravizadas a desejos nem sempre puros, mas de interesses externos. E assim retornamos aos primórdios da era da nudez como pecado maior, ensejado todas as formas de abominação. E ao contrário do que muito se afirma, não caminhamos adiante nas nossas liberdades individuais, não andamos para frente em nenhum sentido moral. Muito pelo contrário. A nudez, exposta de todas as formas na Internet é ainda, e mais ainda, tratada como pecado, como maldição, como crime. E por isso forjada pelos interessados em fomentar as pequenas subversões para angariar mais e mais poder. 

O caminho é mesmo o proposto por "Peregrinações...", em que Isaías, uma espécie de alter-ego de Jorge Bandeira, nos propõe. Precisamos nos despir não apenas de roupas para atingir a nudez. Precisamos nos despir não apenas de pudores. Precisamos nos despir de nossos próprios conceitos de Deus e de Liberdade, para atingir o que seria a ataraxia da humanidade, a nudez plena do espírito. E não apenas as roupas precisam ser feitas de "substâncias nuas", como nosso próprio caráter, nossos objetivos e dogmas. Nossas vestes atuais, tecidas com dogmas, ideologias e pensamentos estão sujas, imundas. Precisamos, sim, aniquilar, queimas essas vestes e ressurgir enquanto espécie, nus. Talvez nesse momento, nos defrontemos com um Deus que de fato não conhecíamos, escondido dentro de vestes sagradas inóspitas. É possível que no momento em que despojados também de nossas vestes, que tanto nos impedem de enxergar nossa própria nudez, encontrar o verdadeiro Deus. E com certeza ele se nos mostrará completamente nu!

7/10/2015

15/05/2018

Prefácio para "O Funcionamento da Morte", de Jorge Bandeira

Prefácio para "O Funcionamento da Morte", de Jorge Bandeira, Editor'A Barata Artesanal,

A morte, que nos salva, que nos alivia, surpreende e maltrata. A morte, maldita e bendita, puta bandida de ancas largas e buceta gostosa. A morte, criatura sem pele e sem alma, sem pudor nem rima certa ou com rima forçada com a sorte. Morte não rima com sorte, nem com porte. Não rima com nada.

Uma índia de pele azul, roxa ou amarela, escondida debaixo da minha cama enquanto eu fodo gostoso e penso que sou rei. A morte com sua "bucetavagina" e seu "anuscu", como escreve Jorge Caveira Bandeira. A morte que não pede licença, mal educada feito um traficante de haxixi ou uma bicha vestida de preto.

Coragem, é o que é preciso para ler "O Funcionamento da Morte". E é preciso fôlego também. Um texto para ser lido de apenas um fôlego, sem pausas, sem tempo para fumar um cigarro, sequer respirar. Não há virgulas nem pontos, apenas o final. Como convém à morte.

Fascinante, belo, maldito. Soco no estômago ou na alma de quem acredita em alma. Porrada na cabeça de quem tem. Medusa. Golpe de misericórdia, fatal, final. Leia, releia, pense e queime. Do pó ao pó, inconsciente de sua maldição sobre a Terra, o ser humano carrega sua carcaça imunda e pensa ser rei. Leia, releia, pense e ... Morra!

Luiz Carlos Barata Cichetto, Artesão de Livros, Verão de 2014

27/01/2016

Prefácio ao Livro "Manual do Adultério Moderno", Por Jorge Bandeira

Pervertidos de Todo o Mundo, Uni-vos!
Jorge Bandeira
 

Um Manual do Adultério Moderno com todas as características de obra inacabada, como se a gozada fosse interrompida no ápice da foda. A explicação seria biológica e não literária, pois as manifestações corporais tem limite, ao contrário das invenções e inovações de cunho litero-poético, e neste libelo pornográfico existe uma confraria de hereges e profanos de não mais se esgotar no tempo e no espaço, vitimados pelo maravilho fluxo de consciência de Luiz Carlos Barata Cichetto. Sade está tocando uma punheta no túmulo agora. São informações sexuais estapafúrdias, mas estranhamente possíveis, pois as neuroses humanas são infindáveis, são dinâmicas e o que é melhor, não são como as teias falsas da política: são todas verdadeiras e sem titubeios, não há rabo preso aqui, tudo se fode e é fodido. Um vodu da putaria desregrada, um ritual linguístico onde a língua penetra em todos os buracos do corpo humano, de animais, plantas e o caralho que exista em toda a imaginação planetária. Vômito e substâncias em profusão. São jatos aleatórios que se agrupam dentro de uma lógica sexual, ou um caos erótico, exorcismo sádico engendrado pelo poder de uma palavra criatura, palavra criada pela cabeça pensante e antenada de Luis Carlos Barata Cichetto, o representante oficial do Marquês de Sade para o Século XXI. O resto são migalhas que Barata rejeita neste mundo de escapadas ao convencional ululante, como diria outro pervertido odiado, o senhor Nelson Rodrigues. E haja putaria, pois a putaria é como um manifesto subterrâneo da alma humana que está aprisionada em todos e todas, ninguém assume, mas todos querem ou fazem na primeira oportunidade das madrugadas, nas fugas da vigília alheia. Homo Putaes Sapiens e não se fala mais nisso. O que é engraçado nisso tudo, apesar da seriedade do tema em questão, é que Barata também é sinônimo de Buceta (vide o dicionário do palavrão do Glauco Matoso!). A chave para se entender esta literatura, este ensaio sincero de um homem que tem a música e os livros em sua imensa cabeça de glande, ops, grande pensador contemporâneo é ativar no ato da leitura estes comandos que são fragmentados por pontos como se fossem um coito de cada vez, o que por si só já mataria qualquer um de exaustão sexual, uma overdose de sexo, com frases ditas como ejaculações e fluidos sexuais que nos desafiariam ao limite de nosso corpo. Prepare seu Viagra homens, batam muita siririca, mulheres, gays e lésbicas deleitem-se com o banquete de prazeres incontidos, e tudo isso com as bênçãos do Papa Francisco. Eis o que seria este livro de comilanças escrito pelo Barata. São frases diretas, citações de livros e músicas, tudo isso mapeado e colocado em nota de pontapé, com todo cuidado, pois aqui se pode ler até de camisinha para não se fuder mais adiante, ao longo de suas páginas, pois a pica do Kid Bengala ainda vive! O risco ao se ler também é evidente, o leitor trava uma batalha com seus impulsos mais recendidos, no universo destas palavras-nervo, uma nervura de corpo esponjoso como uma piroca que vai crescendo a cada página que se vira, em cada sofreguidão que o corpo e a cabeça absorvem do que está ali impresso para sempre. A nervura da mente não mente, despeja suas paranoias infindáveis, são como aqueles antigos filmes de putaria chamuscados pelo tempo e que agora o computador retrabalha para ficarem colorizados, vívidos, como se a putaria avançasse neste momento a cada um dos leitores, feito um jogo paciente de montar um quebra-cabeça da pica e da buceta, onde o último pedaço, a derradeira fatia que seria o gozo essencial, é deixado de lado, pois a foda não se completa tão facilmente por aqui. Ponto. As músicas viram orgias e zoofilias, elas estão aqui a serviço da putaria, espasmos se foram descomprimidos pelo Barata, imagine a cena como se o culhão do Robert Plant sem cueca espocasse a calça apertada num show do Led Zeppelin enquanto ele canta Stairway to Heaven e o Page aloprava naquele inesquecível solo de guitarra. É isso que é o Manual do Adultério Moderno, uma literatura onde nada se esconde, tudo, explicitamente, é mostrado ao leitor. Não aprecie com moderação. Viagre-se até explodir sua pica ou escancare a buceta e o cu até não mais aguentar de prazer. Tudo aqui está a serviço da putaria, dos fantasmas de pau duro, das bucetas incendiárias, dos cus piscantes de todo mundo, nesta confraria de Rabelais, nas galas ejaculadas de Pasolini assassinado, nas perversões lindas de Pauline Reage (História de O), nas confissões de Gaetane (História do I), este é um libelo de toda literatura erótica e pornográfica que você, leitor e leitora, já ousaram ler e fazer. Tente fazer algo do que estas páginas indicam e serás feliz, ou pelo menos vai ter um prazer, e prazer e gozo é o que há neste mundo fudido e mal pago. A gente aqui é fudido, mas goza junto. O sêmen da alucinação carrega pensamentos que se encontram e desencontram ao longo desta obra, numa espécie de urgência literária, de alguém que ou fode ou se fode. E ainda bem que o senhor Barata deu um basta nisso, ninguém pode fugir do sexo, ele é elemento perigoso e de utilidade pública, como as putas que equilibram a vida social, afinal, todo cristão tem tesão. Aqui toda a palavra foi possuída e nem me venha com exorcismo da palavra, deixe o Ç ir tomando no cu porque ele gosta. Deixe a letra A assim mesmo, bem aberta para levar vara. Deixe o B parecer estas tetas que você sente vontade de apertar. O alfabeto que forma este texto do senhor Barata é esta putaria mesmo. É como se o Zé Celso, bem velho agora, tivesse o último pedido atendido pelo gênio da lâmpada e fosse enrabar o dicionarista Antônio Houaiss. Isso é este livro. Eis a compulsão da palavra. As palavras também são estupradas, e elas gostam de fuder e de serem fudidas por aqui. Aqui o Rio Negro vira uma foda amazônica, Alice no País das Maravilhas vira Alice Cooper depois de experimentar o cogumelo da lagarta azul ou o chá de ayahuasca servido pelo Chapeleiro Louco de nome Syd Barrett. Eu não sei mais nem o que dizer depois de ler tudo isso numa cusparada só, vou para por aqui e tentar comer alguém, ou ser comido. Como diria o saudoso poeta pornográfico Marcileudo Barros: das coisas mais santas e sagradas deste mundo, eu gosto mesmo é de fuder.
    Jorge Bandeira
    Manaus, Setembro de 2015

22/01/2016

O Cordel Em Ritmo de Rock de Jorge Bandeira


A primeira vez que tomei contato com um texto do escritor, professor e diretor de teatro Jorge Bandeira, foi procurando textos na Internet sobre o líder-fundador do Pink Floyd Syd Barrett.

Um primoroso texto, escrito em parágrafo único, com uma "viagem" psicodélica que versava sobre Karine, a namorada naturista do musico inglês, que cuja foto nua ao fundo era a capa do seu primeiro disco solo.

O primoroso texto, publicado num site sobre naturismo e dedicado "a um floydiano chamado Genecy", me chamou tanto a atenção que deixei marcado nos favoritos do meu navegador e vez ou outra voltava e o relia, percebendo a nuance das cores apresentada, e os detalhes desnudados, literalmente. Isso foi por volta de 2010.

Alguns meses depois, quando eu escrevia alguns textos polêmicos no site de Rock Whiplash, travei amizade com Genecy Souza, que logo percebi ser um sujeito de refinado gosto por musica e dono de um bom senso a toda prova. O nome, um pouco estranho me bateu quase que de imediato, como a quem o texto do Bandeira era dedicado.  Era o próprio.

Por intermédio dele, fui apresentado (da forma como alguém é apresentado a outro alguém em uma rede social) ao Jorge.  Nascia ali uma amizade, uma parceira enorme que incluiu a edição de dois livros por parte da Editor'A Barata Artesanal, e a participação como  colaborador em todos os seis números de uma revista independente que eu criei no final de 2013e que durou 2 anos.

A marca de Jorge, além de outros textos, era justamente esses textos, em literatura de cordel, contando a história de ídolos do Rock e da musica em geral. Os seis primeiros cordéis foram publicados na revista, os demais criados especialmente para este livro.

Literatura de cordel é tida como algo menor, ao menos por aqueles acostumados à "grande" literatura urbana, como algo ligado à algo puramente "brasileiro", sem estrangeirismos. Então, ao misturar o mundo do Rock com o mundo da literatura de Cordel, Jorge Bandeira cria uma salada cultural  sem similares, com o sabor acre da literatura predominante no nordeste e norte brasileiros, com o sabor, digamos amargo do Rock. O resultado? Apreciem.

Luiz Carlos Barata Cichetto, Escritor e Artesão de Livros, 2016.

13/07/2012

O Amigo Naturista e o Criador do Pink Floyd


O Amigo Naturista e o Criador do Pink Floyd
(Acerca de Um Texto de Jorge Bandeira)
Luiz Carlos Barata Cichetto


Há cerca de um ano pretendia escrever um texto sobre Syd Barrett para a Revist'A Barata. Considero Roger "Syd" Barrett um dos maiores gênios não apenas do Rock, mas de toda a música contemporânea, e sai pelas páginas virtuais em busca de mais informações e imagens. Queria escrever algo um tanto diferente, não apenas uma outra biografia, afinal ninguém merece ler outra biografia de Pink Floyd ou de seus membros. Depois de muitas páginas lidas e abandonadas por não oferecerem nenhuma informação diferente, nada que eu ainda não soubesse, entrei num blog por intermédio de uma busca no Google e o título do texto logo de cara me chamou a atenção: "Namorada Naturista de Syd Barrett, o Criador do Pink Floyd". Decerto estaria ali um enfoque diferente. E estava mesmo! Comecei a ler o texto, ilustrado fartamente com as fotos do ensaio feito por Syd para o álbum "The Madcap Laughs", com uma linda mulher nua, sempre de costas, exibindo um corpo maravilhoso. O contraste do olhar perdido e por horas penetrante de Syd com aquela bela mulher suscitava inúmeras alucinações, viagens, interpretações. E foi assim que Jorge Bandeira, o autor do texto de forma genial tratou: uma viagem transcendental para dentro da mente de Syd Barrett, com os olhos fixos no Naturismo de Karinne. Escrito na primeira pessoa, Jorge mistura ficção com realidade, viagem com sonho e nos desenha com tintas psicodélicas um quadro completamente natural traçando por horas um paralelo entre o Naturismo e a mente “nua” de Syd Barrett. 

Acabei por desistir de meu intento, pois jamais poderia ser tão preciso e louco a ponto de produzir um texto tão cheio de imagens e interpretações quanto aquele. Desisti, ao menos naquele momento, e a acabei publicando apenas uma frase com algumas fotos... A partir daí retornei inúmeras vezes ao blog e reli o texto do Jorge, cada vez mais apaixonado por Karinne e pelas imagens criadas feito instantâneos por ele. Deixei uma mensagem no blog, nunca  respondida, e achei que o autor houvesse abandonado, que tivesse pirado, desistido.. Sei lá, tanta gente começa coisas na Internet e desaparece... Mas aquilo ficou martelando na minha cabeça. Aquela visão era muito forte. Aquele quadro pintado por Jorge Bandeira tinha cores intensas demais. Um dia, poucos meses depois, o reflexo de uma antena parabólica numa parede, num ponto de ônibus deserto me alçou novamente à condição de poeta e comecei a escrever um poema enorme: "A Sombra de Objetos Inexistentes": "Apenas lunáticos enxergam o lado escuro da Lua, mas quem percebe a sombra de objetos inexistentes?...". Uma resposta, ou contraponto ao que os remanescentes do Pink Floyd tentaram mostrar com "The Dark Side Of The Moon", pretensa homenagem a Syd Barrett. "Um domingo de sol desses, eu levo minha sombra para visitar um parque qualquer, carregando em meu embornal um par de sanduíches de carne de elefante efervescente." Minhas claras referências estavam pululando, pulando, pulverizando minha mente. "Pink Floyd rolando em um velho disco negro de vinil enquanto Syd Barrett ignora o corpo nu de Karinne e eu desejo ao seu."... Este trecho, particularmente brotou inspirado na jornada naturista de Bandeira. E no final do poema: "Syd Barrett é um São Jorge moderno domando com sua lança psicodélica, um elefante efervescente de olhos de cristal.". Depois de pronto o poema, gravei uma narração e fiz um vídeo onde misturo cenas de antigos vídeos pornôs, minha narração e a musica do Pink Floyd da era Barrett. O poema foi lançado em meu ultimo livro de poemas "Cohena Vive!" 

Algum tempo depois, Syd e o Elefante Efervescente apareciam em meus sonhos e finalmente meu texto sobre ele saiu: "E nem Karine suportou comer bolachas passadas por debaixo da porta, colocou a roupa e desapareceu. (...). E Barrett respirou fundo, cavou um buraco bem fundo dentro de sua própria mente, e feito um coelho assustado ficou quieto, calado, deixando que pensassem que era a loucura o que o afastara do mundo." Sentia que tinha pago meu tributo a Syd. Eu o desnudara. E também estava nu.

A alemã Nico era uma paixão desde a época, nos anos 70 que me descobri a trupe de Lou Reed e John Cale. E decidi escrever alguns textos sobre eles. O primeiro, dedicado á ela, foi publicado no Whiplash e entre as pessoas que comentaram, uma pessoa de nome Genecy Souza, de Manaus. Acabamos por criar uma amizade e ele acabou sendo a primeira pessoa a comprar minha autobiografia. Adicionado ao Facebook hora ou outra trocávamos algumas palavras. Mas há uns dias, decidi ler o texto do Bandeira novamente e ao reler, percebi que o mesmo tinha sido dedicado "a um floydiano de nome Genecy". Não poderia ser coincidência, pois o “blog” era de alguém de Manaus, tal e qual meu amigo de nome incomum. Perguntei-lhe sobre o texto, ele confirmou e também falou sobre a amizade de mais de 25 com o autor, e do orgulho de ter tão maravilhoso texto dedicado à sua pessoa. E então, hoje ao acordar recebo um pedido de amizade virtual de Jorge Bandeira. Horas depois conversávamos via Internet sobre esse texto e principalmente sobre o assunto que mais interessa a ele, "uma pessoa que acredita que o Naturismo é a solução para muitos problemas da humanidade." 

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A Namorada Naturista de Syd Barrett, o Criador do Pink Floyd
(A Um Floydiano de Nome Genecy.)

Jorge Bandeira (*)
(Reprodução autorizada pelo Autor)

Eu estava tentando superar aqueles pesadelos que me perseguiam após a saída da banda, o que nem mesmo eu desconfiava. Não esperava ter ido ao fundo do poço sem som algum, sem letras, sem acordes, sem viagens ao meu interior. Os caras não tinham o que inventar, uma estranha sintonia desconectada, talvez pelo uso de certas substâncias que muito me alegraram e que até hoje consomem meus sonhos mais apreciados. A insistência de Roger e David, agora, seria para que eu entrasse naquele estúdio e registrasse algo para a minha alma. Eles sabiam que o elefante efervescente poderia ser domado para este circo da indústria de discos. Neste período conheci Karinne. Ela era nudista, mas me corrigia sempre quando a chamava assim, dizia que o certo era naturista, e que a nudez no caso dela era um complemento perfeito para sua arte, no final de 1967 essencialmente colocada nos palcos e na feitura de livros artesanais de poemas. Karinne adorava ficar nua, e em princípio achei aquilo meio que um exibicionismo gratuito, sem um foco específico. Roger e David, quando entravam em meu apartamento e a encontravam nua ficavam cabisbaixos, mas não demorou muito para que se acostumassem com a nudez de Karinne. Eu ficava nu, mas só quando estávamos sós, e chegamos a fazer um ensaio fotográfico juntos, este que vocês estão vendo ilustrando este relato. Ficamos pouco tempo juntos, talvez em virtude de minhas iluminações, que cegavam a todos, ou dos momentos de reclusão interior, quando ficava incomunicável por longo tempo. Nos separamos depois que a prendi neste recinto e passei a alimentá-la com biscoitos, e ficou Karinne nua com seus biscoitos apetitosos. Ela reclamou e foi embora, para não voltar mais. A nudez e a arte dela deixaram resquícios, porém. Muito tempo depois cheguei a ver vários ensaios do Pink Floyd utilizando-se da nudez de forma artística e dinâmica. Um bonito trabalho é aquele das mulheres nuas com as costas pintadas na beira de uma piscina, tendo como motivos algumas capas do Pink Floyd. O próprio Roger usou uma capa com uma mulher nua pedindo carona,usando somente uma mochila nas costas. Karinne é a co-responsável por estas obras, tenho a certeza, mesmo que o ego inflado e Roger e David não admitam, Karinne está lá! O louco Syd não esqueceu mesmo daquela naturista, as fotos um tanto desbotadas daquela sessão memorável não me deixam mentir, Karinne era muito talentosa, além de possuir uma sensibilidade para esta coisa de movimento do corpo. No piso de taco e tecido aveludado daquele recinto esta menina-mulher nua perpetuou sua arte. Digo isso, pois Roger e David tanto insistiram que acabei por lançar (eles fizeram a parte burocrática com a gravadora!) dois álbuns, “Barrett” e “Madcap Laught”. A capa do primeiro tinha a pintura de uns insetos que matei com a bravura de um Dom Quixote e no Louco que ri, o segundo, as fotos de Karinne nua foram incluídas no encarte (a da capa só aparecia eu e um jarro). Karinne nua, sentada num banco alto, um tamborete, no canto do aposento, como se estivesse agüentando a parede para que não caísse sobre nós e nos esmagasse, e eu de mendigo louco, descabelado, um hippie mesmo, um ser feito de psicodelia tentando, com minha bicicleta, deixar uma limonada de bebê para minha querida tia gigôlo. Coisa da vida, e da morte. 

Eu falava de Karinne, aquela nudista que passeava pela casa e que não lavava roupas. As dela não precisava, pois ficava nua o dia todo, e as minhas porque ficavam podres mesmo, não fazia questão de que as lavasse. Pedia a Karinne que esquecesse o fogão, a escova e o sabão em pó. Que cuidasse só da arte, pois a vida é passageira, e a arte é um infinito profundo, interplanetário, descomunal. Existia entre nós uma comunhão de propósitos, Karinne nua com seus poemas e coreografias, Barrett com uma música verdadeira, nua. Ao ver a natural nudez de Karinne imaginava em meus sonhos artificiais aqueles índios das florestas selvagens, inóspitas, prendendo Tarzã por usar aquela tanga ridícula. Índios nus que usavam aqueles alteradores de consciência, de percepção, que usei e abusei, tornando-me um diamante louco, como querem David e Roger. Minha lapidação, porém, foi feita por algo que os índios nus não conheciam, não foi o peiote, não foi a mescalina, não foi o yage, não foram os cogumelos, não foi erva alguma, foi um composto criado em laboratório por um certo Hoffmann. Louco, Sem Diamante. Foi como fiquei, (L)ouco, (S)em (D)iamante, e o que seria pior, sem aquela agradável nudez naturista de Karinne, minha companheira de quarto naqueles dias e noites londrinos de eternas viagens ao redor de mim mesmo. Agora penso no jarro, escuro, com aquelas flores claras, de um amarelo pálido, e Karinne indo na outra direção de minha vida. Meu olhar interroga um possível interlocutor, como se perguntasse a ele se nunca viu aquilo, uma mulher nua e um jarro num meio de uma sala vazia. Nua, Karinne desponta da penumbra no recinto fechado, neste quadrado em que me encontro, onde ratos imperam, onde o único livro é um grosso exemplar do Ulisses, de James Joyce. David e Roger hoje estão muito ricos, Mason não sei por onde anda ou o que faz, e o Richard daqui há pouco deve me acompanhar, quando eu conseguir sair deste local, deste quarto interminável. Coisas da vida, e da morte. Karinne nua percorre minha mente, ela anda desenvolta, com muita calma e elegância. Os gnomos do quarto acabaram por quebrar o jarro com suas brincadeiras insanas, tempos depois. As flores do jarro não resistiram por muito tempo e também murcharam, como secaram os meus neurônios. Só restou em minha mente a nudez representativa da paz interior de Karinne, e fico até hoje divagando se tudo ocorresse diferente, como outro. Outrora. Talvez se eu ficasse com Karinne, como um casal, por exemplo, John e Yoko, não teria feito um disco com a capa de nós dois nus, dois nus e um jarro de flores desbotadas. Quem o saberá? 

O meu vertiginoso pensamento percorre os espaços vazios e amplos daquele recinto, e sinto mais uma vez que Karinne passeia nua aqui, eu não estou só. A nudez dela cheira a alfazema do campo, um perfume agradável, um odor de pele como não se tem ao usar uma roupa, qualquer que seja a vestimenta. Karinne, do alto de seu espírito completa e totalmente naturista dizia que quem veste uma vestimenta veste a mentira, quem usa vestimenta, a veste e mente. Um trocadilho que me deixa encucado até hoje. A música poderia ser nua? Como alcançar um som que nos faça feliz, sem usar nada além do som e de nosso corpo despido? Eu não consegui esta façanha, e Karinne por causa deste vácuo na minha produção, não retornou ao quarto dos biscoitos e do jarro escuro. Roger poderia me dar a resposta, mas ele está muito ocupado contando seu dinheiro e fazendo ópera na selva, na companhia daqueles indios nus, ou que ficavam nus. David está fora de cogitação, está com uma tremenda barriga proeminente e quase careca, e fisicamente ficou um tanto quanto parecido comigo, perdeu sua força junto com suas medeichas que caíram pelo caminho tortuoso do tempo e das intrigas e pelejas pelo potencial de uma marca, de um nome de banda. Trivialidades. Sem a nudez de Karinne confesso que fiquei meio perdido, foi como se faltasse uma peça fundamental da roupa de minha mente, e eu chorei esta ausência, a nua mulher menina que eu vi e senti, a menina mulher nua que me fez acostumar com a naturalidade de um corpo nu, desta Eva desgarrada do Éden, que fugiu de Deus e da serpente, e que deve estar em busca de um raro Adão dos séculos vindouros. Sei que entre olhar dois olhos que não se enxergam por entre uma cabeleira despenteada e uma mulher nua, seu olhar dará preferência àquelas protuberâncias que fazem a festa dos olhos gulosos de muitos e de muitas... Saiba porém que a dona destes atributos, naqueles anos de psicodelia chamava-se Karinne, e que tinha em sua nudez uma força além da limitação destes olhares curiosos e famintos pelo nada. Seu corpo nu almejava somente a nudez, natural, e nada mais.

(*) Jorge Bandeira é escritor, autor do livro de poemas Bela Cruedade, Diretor de Teatro e Cantor da banda "Alma Nômade".

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- Video de "À Sombra de Objetos Inexistentes" - http://www.abarata.com.br/videos_detalhe.asp?codigo=1513
- Syd Barrett e o Elefante Efeverscente:  http://whiplash.net/materias/biografias/153733-sydbarrett.html