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08/03/2020

Destarte

Destarte 
(Pelo aniversário de Elisabete Tim, a artista plástica Nua Estrela, no Dia Internacional da Mulher)
Barata Cichetto




Um dia uma bela estrela quis ficar nua,
E no céu pintou a imagem que era sua.
Criou asas, desenhou a imaginação:
A liberdade é a arte da composição.

Quis um dia a nua ser a pintura,
E da tela saiu uma bela criatura,
Metade estrela, outra mulher, toda arte:
Era Elisabete, a Nua Estrela, destarte.

08/03/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

04/01/2020

Um Conto Sem Crime Nem Castigo

Um Conto Sem Crime Nem Castigo
Barata Cichetto

Guerreiro das Palavras - Nua Estrela


O lugar era enorme, com cerca de umas duzentas cadeiras, daquelas antigas de cinema de bairro, de madeira, todas tomadas por pessoas que tinham livros nas mãos. Era o mesmo título, um volume de poemas. 

Eu, sentado em um banco alto, de madeira, tinha ao lado um rapaz jovem que acompanha e ponteava as leituras com um contrabaixo, o mais maravilhoso dos sons. Seu instrumento tinha apenas duas cordas, as mais graves, no estilo Mark Sandman, do Morphine. 

E eu lia cada poema como se fosse o único e o ultimo. Gritava, gesticulava, enchia os pulmões e às vezes escarrava e cuspia. Uma mesinha ao lado tinha Jack Daniels e dois copos. O rapaz do contrabaixo, sempre de cabeça baixa, se concentrava nas palavras que eu cuspia e berrava, e as emoldurava com as mais belas notas.

Ao final de cada leitura, a plateia toda aplaudia. Eu agradecia e abria outra página do livro. Outro poema. Outro urro. Outro grito.

Era uma festa, sem bolos nem felizes aniversários, mas as pessoas me eram simpáticas e me ouviam. Algumas, no entanto, incomodadas com o teor vagabundo e sacana do meu livro se levantavam e saiam. Outros xingavam e jogavam o livro na minha cara. E eu rosnava. Furioso. Aquilo era a poesia que eu queria.

De repente, as pessoas se dirigiram ao pequeno palco e começaram a me bater com os livros. Eu gritava. E rosnava. E xingava. E, sobretudo, sangrava. Mas não parava de ler, de gritar, de urrar. Eram poemas duros, eu sei. Eram poemas ferozes, eu sei. Eram poemas pornográficos, eu sei. Eram poemas putos, impuros, conservadores, drásticos, eram poemas com todas as cores e eram ao mesmo tempo transparentes. 

Havia palavrões, havia paixão, havia tesão naqueles poemas. Mas quanto eu lia, mais apanhava, era surrado e espancado por todas aquelas pessoas. Estava no chão, estirado, com a boca cheia de sangue, mas ainda soltava meu grunhido, como o de um lobo ferido. Olhei ao lado, e o contrabaixista se levantou e se foi. Fiquei sozinho.

Apanhei durante muito tempo, e quando consegui me erguer estava sozinho. Sangrando, com uma pilha de livros ensanguentados ao meu lado. Escutei um burburinho que vinha do lado de fora, depois vi dois policiais entrando no local. Colocaram-me algemas e me enfiaram numa viatura.

Passei anos numa cela, sendo espancado por presos violentos, traficantes e assassinos. 

Mas nada daquilo foi em vão. Dentro da cela, passava o tempo escrevendo outros poemas e planejando minha vingança.

Quando sai, escrevi outro livro e fui ao mesmo lugar, mas não havia mais ninguém ali, nem para me aplaudir, nem para me espancar. Eu estava sozinho. E mesmo assim li meus poemas como se tivesse uma imensa plateia a me ovacionar. E havia, de fato: uma plateia de invisíveis, de mortos, que do lado de fora se espancava, dando gritos de liberdade a um político.

Texto apresentado no programa Almoxerifado, por Renato Pittas, em 03/01/2020


23/04/2018
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

Também publicado no Facebook em 03/05/2019
https://www.facebook.com/BarataCichettoEscritor/posts/1242643202533080

13/09/2019

Selvageria - Uma Escultura

Selvageria - Uma Escultura
Luiz Carlos Cichetto








Há cerca de duas semanas, precisava atravessar a linha de carga da Rumo, mas como o trem tinha parado, tomei a decisão de contornar pelo fim da composição. O local é bem deserto, e ao andar sobre as pedras onde se assentam os dormentes, deparei com alguns ossos, e ao lado deles um crânio, que me parecia ser de cachorro. Apanhei, e notei que o mesmo deveria estar ali há anos, pois estava completamente limpo e seco. Decidi apanhar e levar para casa.
No dia seguinte com a ideia de procurar um pedaço de madeira, cerca de cinquenta metros do local onde encontrara a tal caveira. Logo de cara, um galho, parcialmente queimado, com uma forma que prontamente identifiquei, como um elefante, com a cabeça erguida e a tromba levantada, como se tivesse gritando de dor. Na hora a associação com as duas peças se fez, e a escultura se materializou na minha cabeça. O tronco, além de queimado tinha sinais que teria sido antes serviço de lar e alimento para alguma comunidade de cupins, o que aumentava mais ainda o conceito de vida e morte.
Trabalhei nos últimos dias preparando o tronco, aplicado óleo queimado para eliminar ainda possíveis cupins e removendo partes soltas de cascas. O crânio foi colocado de molho em uma solução para higienizar. A cada gesto, a cada atitude, minha cabeça viajava sobre as histórias de todas as vidas que tinham um dia habitado aquelas peças e que hoje não mais existiam. Aquele cão, qual seria sua história? Do que teria morrido? Há quanto tempo? Ele poderia ter sido de alguém, que pode ter ficado triste com seu desaparecimento. Um caudal enorme de vidas entrelaçadas, alegrias e dores, todas ali, naquele crânio de cão. 
E o pedaço de madeira? A qual árvore teria feito parte, antes de servir de moradia de cupins vorazes, ter sido cortado e depois queimado? Quanta vida tinha existido naqueles pedaços de coisas mortas que agora eu tinha em minhas mãos? Uma enorme sequencia, decerto. Alguém matou o cão, alguém cortou e incendiou o galho, mesmo que sem qualquer intenção de matar. A selvageria natural.
Preparei tudo com muito respeito a essas vidas, e com o espírito de quem prepara um monumento. O resultado é uma obra de arte? Não sei, não entendo de arte, e nunca tinha feito nenhuma escultura. O máximo que cheguei foi há três anos, incentivado por minha "madrinha" Nua Estrela, pintar algumas coisas.
Por fim, penso agora que isso é alguma espécie de convergência, que me fez unir essas peças, como se estivessem me esperando para juntá-las, e senti uma espécie de conforto filosófico e poético ao concluir. Essas vidas tão dissociadas, ou nem tanto, agora estão interligadas e me soam como um tributo à selvageria natural, parte de toda vida.

13/09/2019

19/01/2016

Luto Por Mim. Luto Por Nós!


Ah, não chorem a morte de seus ídolos. Estão mesmo todos mortos. O câncer que matou Bowie, Lemmy, Dio e tantos outros não chegou até eles de outro planeta, nem de nada de fora deles. Fazia parte deles como suas canções e a cor de seus olhos.

E quanto a nós, artistas da fome, que morremos à míngua, sem apoio, sem direito a um mínimo sequer de conforto, sem às vezes o básico para sobreviver? E quanto a nós, que ainda teimamos em produzir nossa arte a despeito da imensa maioria burra e surda? E quanto a nós, o câncer também nos deitará?

Não é preciso! Estamos mortos há muito tempo, pela obsolência programada pela mídia, pela indústria cultural, pelas mentes corrompidas por migalhas políticas. Somos obsoletos, pois nos dedicamos à nossa arte e fazemos do talento apenas um pequeno ingrediente, e com trabalho produzimos mais e mais. Mais e melhor. Melhor e mais. Sim, escrevemos, fazemos vídeos, compomos, pintamos e bordamos, na maioria das vezes em trabalhos solitários em buracos sem ventilação, em quitinetes minúsculas e porões mal iluminados.

A mídia não nos enxerga, as pessoas não nos enxergam, cegas pelas falsas luzes brilhantes dos holofotes que jogam sobre seus olhos. Acham que são livres, mas são prisioneiros. Prisões sem grades. Acham que estão vivos, mas fedem dentro de sarcófagos de vidro e concreto.

E quanto a nós? Pessoas e artistas como eu, Barata Cichetto, e como Amyr Cantusio Jr., Del Wendell, Nua Estrela e tantos outros? Quanto à nós? Sobra o câncer? O que nos sobra?

E choram a morte dos ídolos.

Não chorem.

Eles estão mortos.

E quanto a nós?

"Qualquer estado, qualquer entidade, qualquer ideologia que não reconhece o valor, a dignidade, os direitos do homem, esse estado é obsoleto" (Rod Serling, no desfecho do episódio).

Luto por mim. Luto por nós! Luto!

03/10/2015

Madame X - À Sombra de Uma Morta-Viva - Release

Madame X - À Sombra de Uma Morta-Viva
Barata Cichetto / Amyr Cantusio Jr.
Opera Rock - 2015



Pela terceira oportunidade, o poeta e artesão de livros Barata Cichetto e o músico e compositor Amyr Cantusio Jr. se unem para criar uma Ópera Rock. A primeira foi em 2010, com "Vitória, ou a Filha de Adão e Eva", que contava a trajetória de uma mulher que, fruto de um estupro, nasceu num bordel e alcançou fama e fortuna. Já a segunda, criada em 2013, era uma distopia que relatava um futuro onde uma ditadura transforma todas as pessoas em seres amorfos, sem identidade ou personalidade, desprezando qualquer traço de individualidade.

Agora, em 2015, esses dois irrequietos criadores lançam mais um trabalho absolutamente inédito, tratando de um tema altamente complexo, no campo da psiquiatria. O enredo é baseado na história de uma mulher francesa de 43 anos que foi acometida por uma rara síndrome de fundo psicológico. Ela acreditava estar morta, não reagia a estímulos exteriores e também que seus órgãos internos estavam em estado de putrefação. Também se dizia sem cérebro, nervos ou entranhas, e era só pele e ossos, mas acreditava que viveria para sempre. O primeiro diagnóstico foi feito pelo médico Jules Cotard, em 1880, e ainda hoje são raros. A paciente foi apenas designada por Mademoiselle X.

Após uma casual descoberta da existência da doença, na Internet, durante mais um ano Barata pesquisou sobre o assunto, buscando se familiarizar e encontrar maiores informações sobre a doença. E quando surgiu a ideia de um novo trabalho conjunto, o tema já estava pronto para ser escrito. Entretanto, desta vez, o processo de trabalho ocorreu de forma diferente: nas anteriores, os textos e conceito eram escritos e entregues a Amyr, que criava as musicas, melodias e efeitos sonoros. Mas agora muitos dos temas instrumentais foram criados antes, ou durante o processo de escrita, o que culminou com um trabalho mais encorpado e coeso. Além disso, o tema central, que é a Síndrome de Cotard, é bastante familiar ao músico, que também é psicanalista.

Outro fator convergente na criação de "Madame X - À Sombra de Uma Morta-Viva", foi que, logo no início dos trabalhos de criação, Barata encontra pelo Facebook com a cantora e poeta mineira Liz Franco e a convida para participar. A principio seria uma opera onde todos os textos seriam apenas recitados, mas Liz passou a criar as melodias e cantar os temas a ela consagrados, interpretando magistralmente a personagem principal. Dois outros, em dueto, também contou com sua participação.

Ademais, nesse trabalho, também conta com a participação do guitarrista da banda Poolsar Adilson Oliveira, e do artista transmídia e mestre em arte Edgar Franco. Os quadros usados nas bases da arte de capa, são da artista gaúcha Nua Estrela.

Ao contar a história de Madame X, com diálogos inspirados nos relatos documentos do caso, os autores esperam que o ouvinte/leitor, consiga não apenas penetrar no universo de um cotardizado, uma síndrome rara e pouco difundida, mas também refletir sobre o modelo de vida atual, numa era onde a humanidade, escrava da tecnologia e do desejo por bens materiais, se desfaz perigosamente de todos os sentidos e sentimentos que representam de fato a existência humana, cada vez mais dependente de drogas de todas as formas, numa fuga de si mesmos. Sem chegar a lugar nenhum, a não serem transformados em mortos-vivos.

Ficha Técnica

Luiz Carlos Barata Cichetto: Concepção, Letras, Arte e Direção Geral
Amyr Cantusio Jr.: Sintetizadores, Organ, Piano, Vocal, Baixo, Bateria, Composição e Orquestrações.

Participação:
Liz Franco: Voz e Melodia em Madame X e Ultima Ratio; voz em Entrevista Com Uma Morta e Dulias:; Adilson Oliveira, Guitarra em Rock Festiva; Edgar Franco: Voz em Eletrochoque; Nua Estrela, Quadros da capa e encarte.

Gravado no Studio Alpha III, Campinas, SP, em Setembro/Outubro 2015

Faixas:
1. Overture
2. Madame X
3. Nihilistic Delusions
4. Dr. Cotard
5. Entrevista Com Uma Morta
6. Intermezzo
7. Rock Festival (Vermes Rock Band)
8. Thanatophilia
9. Eletrochoque
10. Dulias
11. Trepanação
12. Furor Curandis
13. Ultima Ratio
14. Grand Finale

Formato: CD
Duração Total:
Encarte 24 Páginas
Tamanho DVD (13 X 19 cm)
Informações: (11) 9 6358-9727