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04/10/2020

O Fim de Barata, Sem Lágrimas Nem Festa

 O Fim de Barata, Sem Lágrimas Nem Festa




Em 1997, ainda na tosca Internet brasileira, criei um site com intuito de aprendizado e de divulgar meus trabalhos. Eu tinha ficado quase 15 anos sem escrever, depois de ter jogado fora uma mala de couro cheia de escritos, por pressão da mulher com quem eu tinha acabado de me casar. Esse site, primeiramente intitulado de "Cichetto's W.C", era hospedado pela Geocities, o primeiro serviço de hospedagem grátis de sites do mundo. Esse projeto mudou de nome mais umas duas vezes, até que em 1999, quando mudei para Belém, Pará, assustado com o tamanho das "baratas-cascudas" da cidade, e querendo um nome que representasse tudo aquilo que eu almejava, recebeu seu nome definitivo: A Barata. Era comum sites usaram nomes de animais, como "O Elefante", mas eu queria algo diferente. A referência à resistência do inseto e a homenagem ao maior escritor que reconheço, Kafka, completaram o quadro. Junto com o nome veio o slogan "Liberdade de Expressão e Expressão de Liberdade", que também entre outras coisas que criei foi abundantemente copiado.

O projeto foi tomando corpo, e de algo pessoal foi crescendo e tomando forma, e com isso mais e mais seguidores, publicadores e idéias. Foi o primeiro site, possivelmente no mundo, a criar páginas gratuitas para bandas, bem antes do My Space virar uma coqueluche com esse formato. Foram centenas de bandas presentes. Entretanto, o forte de A Barata era a publicação de textos, poesia e prosa: chegamos a ter mais de mil (1000) autores. 




Em 2000, retornando a São Paulo, cheguei a dar entrevista na TV Cultura, no programa de Marcelo Tas, o "Vitrine", e comecei a tramar eventos públicos, editar um fanzine impresso e produzir camisetas. Tudo foi um sucesso. O primeiro "Fest'A Barata", no início de 2002, colocou mais gente que a capacidade da casa, numa sexta feira de Janeiro, mês de férias e um dia em que a cidade quase ficou debaixo d'água. Cinco bandas e uma platéia predominantemente trajada com camisetas do site, que meu amigo Strapola não cansava de produzir.

Em Abril de 2001 consegui o registro do domínio ".com.br", coisa que era impensável para um site independente na época. Até endereços de email atrelados ao site (algumacoisa@abarata.com.br) eu vendia, e o site tinha uma média absurdamente alta, ainda para os dias de hoje (imaginem para a época), de mais de 1000 acessos/dia.  Foi nesse momento que as pessoas começaram a ligar minha pessoa ao site e vice-versa. para meu orgulho deixei de ser Luiz Carlos para me tornar "Barata", a um número cada vez maior de pessoas. Não existe nada mais gratificante do que ter um nome atrelado ao seu trabalho.




(Muitos já estão torcendo o nariz e dizendo: "Ah, esse cara ganhou muita grana, mas estão enganados: como eu disse todas as publicações e serviços eram totalmente grátis. O lucro das camisetas, dos emails eram apenas o suficientes para cobrir os custos de hospedagem e outros, que na época eram bem mais caros que atualmente. Quanto aos festivais, quem já fez algum evento em "parceria" com donos de casas de Rock sabe bem que no fim nosso único lucro é o prazer de fazer. O lucro é sempre deles.)
Entre 2000 e 2005, mesmo com muito trabalho (sempre trabalhei sozinho) e despesas, "A Barata" foi uma referência, especialmente nos meios independentes ligados ao Rock. Acabei por me tornar algo como uma "quase celebridade underground", chegando ao ponto de dar autógrafos quando participava de algum evento, especialmente na época - 2002 a 2005 -, em que fui Manager da banda paulista Patrulha do Espaço. Há discos da banda com assinaturas dos músicos e minha, para meu orgulho, confesso. Muita gente também tratou de copiar a ideia, e assim nasceram muitos sites, uma boa parte com nomes de insetos, como moscas, besouros e outros. Alguns investiram muita grana, mas não duraram mais que um ou dois anos.

Entretanto, a partir da segunda metade da primeira década do terceiro milênio, começaram a aparecer as chamadas redes sociais. Primeiramente o Orkut, depois o Facebook, e com sua voracidade, passaram a roubar para si todas as almas e pensamentos, tratando de pender as pessoas cada vez nas suas garras sequiosas. Com isso, o acesso a sites independentes, aqueles que não entram em jogos políticos, nem pagam ou recebem nada para serem lidos, começou a despencar. A coisa piorou mais ainda após 2013, quando o jogo sujo do "nós contra eles", deflagrado por uma linha ideológica apanhada com as calças na mão cagando no país, e decidiram por acirrar ânimos de uma forma de tentar se blindar. Começaram inimizades, ofensas e parece que o restante dos amigos, muitos deles completamente anônimos até começarem a divulgar seus trabalhos no site, decidiram que o melhor era me colocar na geladeira, para não dizer lugares piores. Um fato: muitos dos autores que, alguns ainda na pré adolescência física e literária em A Barata e uma boa quantidade hoje goza de prestígio nos meios culturais e literários; muitos artistas que eu trouxe comigo, levando para eventos, expondo trabalhos literários e artísticos de toda forma, hoje se esquecem de tudo e preferem ignorar. Nunca pedi glória pelo que fiz, mas reconhecimento cairia bem. 




A ultima "encarnação" de A Barata foi em 2018, quando mudei de cidade, abandonando a cidade que me viu nascer, mas que foi tomada por um cem número de usurpadores, e que, de cosmopolita se tornou uma cidade de ratazanas humanas, com as eventuais exceções, decidi que era preciso manter a chama viva de A Barata. Foram dois meses de trabalho que me renderam um livro onde conto a história e as histórias desse portal, que mesmo com a memória das pessoas que dele participaram tenha apagado há ainda muitos e muitos registros aqui e acolá.

Estou neste momento fazendo esse resumo de 23 anos de história de um projeto que em outros tempos e mentalidades teria me alçado a um patamar merecido - não tenho modéstia desonesta, mas nem vaidade inútil, apenas fatos que falam por mim - para decretar o fim de "A Barata". A partir de 1 de Novembro o site sairá do ar em definitivo, já que não dá mais para ter despesas mensais para que uma ou duas pessoas ao dia o acessem, sem sequer um olá. Fim de um sonho? Não sei se algo que durou tanto tempo ainda pode ser chamado de sonho. A verdade é que findou. Tudo acaba, nós mesmos acabamos. Estou certo que criei história, mas não espero figurar nela, pois quem poderia contar e continuar prefere mesmo ir para outras praias, nadando de braçada num bote furado, e esquece de uma jangada que eu construí e que ajudou muita gente a atravessar mares revoltos. 

Obrigado a todos que me ajudaram e partilharam comigo desses vinte e três anos. 

A Barata, Liberdade de Expressão e Expressão de Liberdade, 1997 - 2020.
Barata Cichetto, 4 de Outubro de 2020

07/05/2020

Herdeiros

Herdeiros
Barata Cichetto



Quantos poemas ainda serão escritos até que a morte esteja consumada
E quantas mortes ainda serão necessárias até que a poesia seja exumada?
Há muito que estou morto, há tempos que não enxergo o meu reflexo
Tanto tempo que nem lembro e tanto que nem consigo estar perplexo.

A poesia morreu quando eu nasci e renascerá depois da minha morte
Ah, mas que sujeito idiota eu sou, que nem posso contar com a sorte
E se minhas rimas se repetem entre o morrer e ganhar grana alguma
É porque não encontro as palavras certas, então repito qualquer uma.

Quantos poemas tolos ainda hei de escrever antes que possa morrer?
Lamentos nulos, réplicas tolas, antes que a morte venha me socorrer
Mas e então, o que dirão meus filhos diante de minha carcaça velada?
Decerto algo a respeito de após o velório beberem uma cerveja gelada.

Mas e se acaso alguma recompensa advir da sanha de poeta maldito
Tratarão de pegar a senha da conta corrente e tudo que não foi dito
E então eu que nunca fui bom o suficiente, um pornográfico santo
Serei coberto com farda de imortal como se aquilo fosse um manto.

E é meu desejo e meu testamento escrito em letras de computador
Que importância alguma lhes seja entregue pelo fruto da minha dor
Pois riam enquanto minhas carnes eram trituradas e moídas sem dó
E agora, perante a imortalidade, minha herança é apenas o meu pó.

Sento em um banco da praça destruída e cheia de merda de pombos
Apanho meu caderno e conto sobre minhas escadas e meus tombos
E por não ter sobrenome de poeta português pomposo por herança
Guardo minha angustia na carteira, junto com as notas de cobrança.

Ah, meus filhos, quanta confusão existe nas suas mentes encardidas
Quantas mentiras lhes foram contadas, quantas verdades escondidas
E eu que sem louvor ensinei a não crerem em tudo aquilo que lêem
Agora peço com fervor que não leiam apenas aquilo em que crêem.

E se um dia, nos espaços em branco entre palavras que eu não escrevi
E no silêncio daquelas que eu não disse e das mortes que eu sobrevivi
Perceberem gritos de dor e pedidos de socorro, não é a sua imaginação
Pois será ali que eu estarei, imortal e lúcido, manchando sua reputação.

07/02/2014
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

06/05/2020

A Morte da Palavra

A Morte da Palavra
Barata Cichetto



As palavras são soldados enfileirados, o poema um exército forte.
O General é o Poeta, de estrelas no peito e o sentimento de morte.

Palavras entrincheiradas, tiros na cabeça, e uma guerra maldita.
Soldados marchando e cantando seguindo uma canção inaudita,
A risca as ordens de comando do General e sua bandeira em riste,
E partem à batalha perdida, assobiando uma doce balada triste.

Palavras recrutadas á força, entrincheiradas, armas em punho,
Tiros são palavras nas bocas das espingardas, de duro cunho.

O General passa em revista as tropas, posição de sentido,
Palavras perfiladas em linha reta, nunca tinham mentido.
Grita a ordem do dia e os soldados lhe batem continências,
E lhe somem da boca as palavras, ordens são contingências.

Então disse o Soldado-Palavra ao Comando:
- Agora deixe de guerras que estou amando.

E a palavra traidora condenada ao fuzilamento, corte marcial,
Um julgamento injusto, tribunal de exceção, juramento parcial,
Com único disparo executada sob o silêncio da surda multidão,
A morte certa e o pelotão de fuzilamento sempre de prontidão.

E morrem as palavras, e morre a boca morta!
- Deixe de guerra, General, a Palavra está morta.

31/10/2011
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

03/05/2020

Feira Livre da Poesia

Feira Livre da Poesia
Barata Cichetto



Poesia não é feira e não precisa de hipocrisia,
E não é pastel, nem caldo de cana, burguesia.
O feirante acorda cedo, enquanto o poeta dorme,
Então fiquem o feirante rico e o poeta com fome.

Fede a burguesia, disse o Poeta, fede até a feira,
Também fede Barata, aquele sem eira nem beira.
E o que fede não cheira a Rosas e nem tem Casa,
Mas o que o poeta tem não é reinado, é uma asa.

Grita o feirante chamando a distinta freguesia.
E se não é tomate, nem alface, o que é Poesia?
Acabou a feira e os restos estão à sua disposição,
Então que comam o mendigo, o poeta e o ancião.

Tomates moles, restos de alface, cessam os gritos,
Agora dormem os feirantes, os pobres e os aflitos.
E acordam os poetas, pois ainda são bem poucos,
Gritando "Poesia!" igual os feirantes, e os loucos.

10/05/2013
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

01/05/2020

Hordas

Hordas
Barata Cichetto



Fui atacado por hordas de fanáticos sem piedade
Agora quando desfilo a dor pelas ruas da cidade
Arrasto uma perna, sangue pingando pelas esquinas
Pus escorre da minha alma, jorra ódio das retinas.

Fui atacado por hordas de prostitutas sem desejo
Agora quando destilo minha impotência a outro beijo
Sou apedrejado por anjos eunucos saídos do esgoto
Ainda escorre sangue da ferida e pus do meu escroto.

Fui atacado por hordas de santos cegos de cabeças brancas
Em minha ferida colocaram sal, nas portas puseram trancas
Agora quando minha existência oscila sob a ponta de agulhas
Sinto apenas olhos cegos de ódio soltando chamas e fagulhas.

Fui atacado por hordas de crianças matreiras e ensandecidas
Agora quando clamo por inocência encontro freiras emudecidas
Puxando a perna, com o sangue ainda escorrendo pelos lábios
Clamo por justiça, mas não encontro nem deuses e nem sábios.

8/11/2006

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

27/04/2020

Toda Poesia Que Eu Pude Carregar - O Testamento

Toda Poesia Que Eu Pude Carregar - O Testamento



Neste amo de 2020, posso considerar que completei minha existência como poeta, quiçá como escritor. Comecei a escrever por volta de 1972 ou 73, e em 1981 publiquei meu primeiro livro de poesia em mimeógrafo. Depois de ter toda minha obra se transformar em papel picado e 1982, por conta de uma pessoa enciumada e passar 15 anos praticamente sem escrever nada a não ser dedicados poemas amorosos que nunca foram lidos, completo agora sem nenhuma pompa nem honra meu ofício.

Desde o princípio, a sabotagem e o dar de ombros por parte de pessoas a quem busquei o mínimo de apoio se fizeram presentes, e me deixaram sempre do lado de fora da porta. Como exemplo cito os donos da chamada Geração Mimeógrafo, que desde meados dos anos 1970 ignoraram minhas cartas contendo poemas, e se recusaram a publicar. Muitos deles estão por aí, enfeitando feiras literárias com suas camisetas de cheguevara, suas bolsasdelona e seus veganismoscarnívoros.

E agora, no meio dessa pandemia fabricada, um experimento social que vem tendo os resultados previstos graças ao instinto grotesco e vaidoso da maioria da humanidade, reúno e organizo em volumes minha obra poética com intenção de colocar numa plataforma de publicação, não com o intuito de amealhar qualquer ganho, mas apenas para ter o prazer pessoal em ver tudo ali, pronto para a impressão. O título genérico desse trabalho é "Toda Poesia Que Eu Pude Carregar", e será composto de quatro tomos, sendo que os três primeiros de poesia rimada e escrita em versos mais ou menos metrificados e o último com minha poesia em crônica - ou crônica poética.

Serão mais de 2.000 páginas, com textos resgatados desde 1978 até 2020, e considero essa publicação como uma espécie de Testamento, sem considerar como legítimo nenhum herdeiro a ele, já que os que podem ser considerados "herdeiros legais", não tem qualquer direito a ele, pois que me abandonaram há muito, e nunca contribuíram ou participaram nem com a migalha de sua leitura para que eu chegasse aonde cheguei. Tudo foi fruto do meu próprio sangue&suor&lágrimas, e nem um reles e mísero centavo, caso tenham um mínimo de caráter, lhes pode ser lucro.

Encerro assim, já que não existe mais tempo para a poesia. No mundo que sobrar, e que foi cuidadosamente planejado pelos seus donos, não existirá um só ser ou lugar onde caberá a poesia. Ficam, portanto, nesses calhamaços, o registro da minha existência.  

Grato a todos e todas.

Luiz Carlos Giraçol Cichetto, aka Barata, Outono 2020.

26/04/2020

A Poesia, a Razão e a Loucura

A Poesia, a Razão e a Loucura
Barata Cichetto




Ando pensando que existe o caminho certo
Que não passa pelo caminhos da salvação
E se ando num caminho é porque não é reto
Mas foge da estrada da dor, rua do coração.

Poesia não é o destino, e o destino não é poesia
E se não existe o caminho definido escrito à mão
Ainda nos resta aquilo que empresta algo ao dia
E além de drogas e amores, a poesia e sua razão.

Ninguém sente falta do que não enxerga e ouve
E nem sente saudades de algo que nunca houve
Palavras simples de poeta de última instância
Que foi amordaçado ainda durante a infância.

Há um poeta dentro de todos, e poesia dentro de poucos
Afinal temos todos um tanto de médicos, outro de loucos
Há muito mais doentes do que médicos na modernidade
E nem poesia nem remédios podem curar a humanidade.

09/07/2017

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

Dia do Horror

Dia do Horror
Barata Cichetto




Pense em um dia com sabor de mortadela
Que lhe digo que cores tem uma aquarela
É o dia das bruxas, dos porcos e dos loucos
Mas um dia torto em que muitos são poucos.

E que dia é, que nunca começa nem continua?
Um dia que é noite e onde a menina anda nua
Dentro dessa escuridão caminhando às cegas
Que lhe abre as coxas, e rasga-lhe as pregas?

Então pense em um dia com sabor de esterco
Com soldados marchando e fechando o cerco
Que lhe mostro a cicatriz de cigarro na perna
E estendo a mão em busca da criança eterna.

Que dia é agora, que parece ontem ou amanhã?
Dia de filhos desaparecidos no inicio da manhã
E de amigos que se curvaram perante o horror
Em que dia estamos, senão no do dia do terror?

01/11/2017
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados




11/04/2020

A Lenda do Poeta Sem Cabeça

A Lenda do Poeta Sem Cabeça
Barata Cichetto



Fui encontrado morto ontem pela manhã.
Pensei que não morreria antes de amanhã,
Mas debaixo dos meus próprios escombros
Tinha um corpo sem cabeça e sem ombros.

E meus filhos foram chamados para o reconhecimento
Do meu corpo que fedia atrapalhando o esquecimento,
Mas alegaram não reconhecer nada daquilo que viam,
Pois afinal nenhum bem daquela morte lhes proviam.

Então a polícia foi chamada, e a delegacia acionada,
Mas nenhuma culpa àquele defunto foi adicionada,
E mesmo assim, diante daquilo que nunca foi exposto,
Colocaram atrás das grades a fotografia do meu rosto.

E agora eu era um morto a erguer-se da sepultura,
Sem cabeça e até que anoiteça cuspindo na cultura.
E no baile macabro, dancei sem parar a noite inteira,
Certo que minha era a ultima festa, orgia derradeira.

24/10/2015
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

10/04/2020

"Aquele Que Mente Também Rouba"

"Aquele Que Mente Também Rouba"
Barata Cichetto



Fuja dos medrosos, tanto quanto dos mentirosos
Pois que tanto o medo e a mentira são perigosos.

O covarde é um mentiroso e o inverso é verdadeiro
E mentir é a arma de qualquer perverso traiçoeiro.

Maior que a mentira do ladrão é o roubo do mentiroso
E maior que a falsidade do perdão, perdoar o falacioso.

10/07/2017
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

02/04/2020

Curral

Curral
Barata Cichetto



Eu te quero, minha cara égua maltratada,
Tratar a tua sina como precisa ser tratada,
E alisar a tua crina com a baba vomitada.

Ouvir o teu relincho depois do comichão,
Te deitar no pasto, na pista e no colchão,
E te comer de quatro, com patas no chão.

Eu te quero, potra selvagem da estrebaria,
Te chamar de outra, minha pura montaria,
E te foder no estábulo, cheirando porcaria.

03/12/2019


01/04/2020

Alguns e Outros

Alguns e Outros
Barata Cichetto



Fui chamado de Poeta por alguns que odeiam a poesia
E de Profeta por outros que me rodeiam com hipocrisia.

Fui chamado de Irmão por alguns que estão distantes
E de Estranho por outros que derrubaram as estantes.

Fui chamado de Tarado por algumas que eram putas
E de Bicha por outras que do dinheiro fazem as lutas.

Fui chamado de Criminoso por outros matadores de Arte
E de Pai por alguns que ficaram com minha melhor parte.

Fui chamado de Mercenário por uns que compram almas
E de Pobre por outros que vendem a mãe e batem palmas.

Fui chamado de Mentiroso por uns que enganam a nação
E de Artista por outros que mentem em troca de satisfação.

Fui chamado de Lixo por alguns que fedem igual carniça
E de Porco por outros que rolam na imundice da preguiça.

Fui chamado de Morto por alguns comerciantes da morte
E de Engraçado por outros comediantes da própria sorte.

02/07/2017
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados


30/03/2020

Tempos Grossos 2

Tempos Grossos 2
Barata Cichetto

Selfie By Barata Cichetto


Penitenciárias cheias de inocentes
E as praças repletas de culpados
Nas igrejas choram os descrentes
E nas escolas marcham os soldados.

Nesses grossos tempos cheios de dor
Choram as crianças de armas na mão
Criminosos beijam a mão do ditador
E a saída é escura, e o único portão.

O crime que lhes compensa é o crime feito
Pelo amigo do peito, o amante do prefeito
E a morte justificada pela ideologia padrão
Enquanto eu aguardo um tiro no paredão.

Cegos estão surdos, surdos estão mudos
E todos caminham mortos em segundos
Agitam as bandeiras e comem a própria merda
E nesses tempos grossos morte é o que se herda.

25/01/2018
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

17/03/2020

Livro Aberto

Livro Aberto
Barata Cichetto



Ontem eu ejaculei na tua alma imortal,
Um líquido quente, humano e imoral.
E feito a um livro de Sade te li inteira,
Ejaculando mel na tua boca alcoviteira.

Ainda ontem penetrei tuas entranhas,
Que eram tão pervertidas e estranhas.
E na tua boca enfiei língua e palavras,
Quentes feito a desejos, pães e lavras.

Ontem abri as pernas da tua ignorância,
E gozei feito louco com tua abundância.
Me esfreguei na tua mente feito nefasto,
Tendo orgasmos de um touro no pasto.

Ainda ontem engoli tuas palavras salgadas,
Virei do teu livro várias páginas rasgadas,
Cuspindo nos dedos um escarro libidinoso,
E lendo cada frase como um poema gososo.

Ainda ontem rolávamos na cama do hotel,
Feito páginas de livros de poesia de bordel,
Éramos tantas histórias se amando sem dor,
Que foi inevitável um orgasmo provocador.

Ontem gozei no teu rosto como amante,
O gozo feliz de quem acha um diamante.
Um tanto poeta, outro simples jardineiro,
Do meio das tuas pernas colhi o canteiro,

Ainda ontem éramos um par de vadios,
Sem culpas ou arrependimentos tardios,
E nossas palavras eram todas de infamia,
Boquirrotos tortos, e repletos de insânia.

Ontem rompi o hímen da tua verdade,
Tudo foi tão bom quanto à felicidade.
Hoje eu ainda te conto sobre o que vivi,
E mostro um livro que ainda não escrevi.

18/03/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

13/03/2020

Novecentos e Noventa e Nove

Novecentos e Noventa e Nove
Barata Cichetto



Ontem calculei o final da minha saga, feito um conquistador,
Que nada além de desertos e de desgraças foi o despertador.
Termino aos sessenta o que comecei aos quinze sem piedade,
Concluindo que em mim existe algo muito além da maldade.

Carreguei quase mil, nas costas magras de um quase aborto,
E foram tantos poemas que pelo peso me sinto quase morto.
Novecentos e noventa e nove é um bom número para se parar,
E em dois mil e dezenove, nada mais da poesia tenho a esperar.

Aos meus filhos, que esperam de mim que eu seja esquecido,
Digo apenas que fui sem ser, e também fui sem nunca ter ido,
E também às megeras que dela se fartaram sem matar sua fome,
Apenas falo, porque falo é meu pinto e nunca foi o meu nome.

Sem eira nem beira pode um homem, mesmo um poeta, viver,
Mas sem esperança, neste mundo, nada pode ousar sobreviver.
E não espero que leiam o que foi escrito, ou que vivam por mim
Pois eu vivi outras vidas e agora todas elas chegaram ao seu fim.

28/04/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

11/03/2020

Filosofia de Pés Sujos


"Filosofia de Pés Sujos" não é um livro de filosofia, é de poesia. "Filosofia de Pés Sujos" não é um livro de poesia, é de filosofia. É poesia filosófica, filosofia poética e o que mais pensar que é. São dísticos (poemas rimados de duas estrófes e um único verso, que tratam basicamente da filosofia que engendrei, não nos bancos de faculdades, mas andando e me fodendo pelas ruas, e nos livros comprados basicamente em sebos. É uma filosofia pura e puta, totalmente livre de dogmas e ideologias. Ali, meu pensamento não tem fronteiras nem censura. É para poucos, como bem escreveu o meu amigo Eduardo Amaro, que escreveu a apresentação do livro, que estará a venda a partir de 1 de Abril pela plataforma UICLAP.
Barata Cichetto, Universidade da Vida, onde o diploma é a certidão de óbito,
Fotos: C. Tarakonas


















08/03/2020

Destarte

Destarte 
(Pelo aniversário de Elisabete Tim, a artista plástica Nua Estrela, no Dia Internacional da Mulher)
Barata Cichetto




Um dia uma bela estrela quis ficar nua,
E no céu pintou a imagem que era sua.
Criou asas, desenhou a imaginação:
A liberdade é a arte da composição.

Quis um dia a nua ser a pintura,
E da tela saiu uma bela criatura,
Metade estrela, outra mulher, toda arte:
Era Elisabete, a Nua Estrela, destarte.

08/03/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

07/03/2020

Cospe ou Engole?

Cospe ou Engole?
Barata Cichetto



Eu engulo no cálice da tua inconstância
Um liquido amargo da oval redundância.
Trago comigo um cigarro de gosto amargo,
E bebo até cair, antes de causar um estrago.

Acendo no meio das tuas pernas o paieiro,
Um paiol de pólvora teu desejo derradeiro.
Fecho os olhos e vejo teus lábios enrugados,
E quando beijo é por desejos não explicados.

São teus medos que me causam furor, bela,
Ou os segredos que não mostras na janela?
Descobri o fogo numa jornada atemporal,
E agora sou o relâmpago do seu temporal.

Ainda espero na cama tua impávida nudez,
E derreto na chama da tua inválida viuvez.
Mostro meu pênis inflado por pura safadeza,
Depois engulo seco o desejo junto à tristeza.

07/03/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

04/03/2020

O Que Aprendi Com Ex-Mulheres

O Que Aprendi Com Ex-Mulheres
Barata Cichetto



Com as minhas ex mulheres
Aprendi a ser bom homem:
Enquanto eu lavo talheres,
As infelizes ainda dormem.

E com uma que era santa,
Aprendi a ser homem fiel:
Enquanto eu fazia a janta,
A criatura comia no motel.

Com a outra, a autêntica carola,
Aprendi a ser um homem elegante:
Enquanto eu carregava a sacola,
A pura se esfregava com o amante.

E com outra, professora de adultos,
Aprendi a ser homem de religião:
Enquanto eu trabalhava nos cultos,
Na cama ela ensinava uma legião.

E teve outra com muito dinheiro,
Que de homem aprendi ser poeta:
Enquanto eu limpava o banheiro,
A ricaça se sujava com um atleta.

E não pensem que foi só desgraça,
Que fui homem de puta também:
Enquanto me dava o rabo de graça,
A buceta não cobrava de ninguém.

Aprendi muito com todas elas,
A ser um homem não machista:
Sei perfeitamente lavar panelas,
Enquanto elas lambem o fascista.

E a elas afirmo que sou muito grato,
Aprendi a ser homem de alto valor,
A colocar comida no próprio prato,
E nunca reclamar quando faz calor.

07/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

02/03/2020

Qual é a Diferença?

Qual é a Diferença?
Barata Cichetto



Sou homem da rua, matemático, somo e subtraio,
Conto até cem e divido por dois, mas nunca traio.
Ando descalço, tenho pés sujos, e multiplico a dor,
Dois e dois são quatro, duplicando o multiplicador.

Diferença não faço, diferente só aquilo que restou,
E se a conta não bate é que sua caneta não prestou.
O primus interpares é um numero primo indigente,
Então qual a diferença entre o igual e o diferente?

Radical e radicando, duas vezes quatro igual a oito,
E a raiz quadrada de um é o resultado do seu coito.
Sou o impar, número bastardo elevado ao extremo,
E se existe um deus, é apenas um número supremo.

Tenho em mim uma diferença feita apenas de fatos,
Então calcule o tamanho dos pés, nunca dos sapatos.
Conclua o valor do meu pau em relação à sua vagina,
O resultado da conta nem sempre é o que se imagina.

Meça a distância, calcule a rota, compre a passagem,
E deixe o motorista carregar o peso da sua bagagem.
Calcule o quadrado dos catetos, some à hipotenusa,
Num teorema sem nexo nem sexo, que ninguém usa.

Tire a prova dos nove, faça a prova real, fique sentada,
Enquanto a matemática do tempo lhe dá uma dentada.
Não faça a conta, apenas faça de conta que quer sofrer,
E esqueça o caderno em cima da cama antes de morrer.

02/03/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados