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24/05/2019

Genny e a Iron Butterfly

Genny e a Iron Butterfly
(Da Série: Sonhos de Um Roqueiro Politicamente Incorreto Aposentado)
Luiz Carlos Cichetto

Era uma senhora um tanto idosa, obesa e dadivosa ou, como diziam os antigos, uma puta velha e gorda. Nos anos 1960 foi hippie em San Francisco, nos 70 punk em Londres, nos 80 pós-punk na Tchecoslováquia, e quando chegaram os 90, esquelética e quase morta virou gótica na Bela Vista. Nos 2000 foi metaleira de coturno e pulseira de couro com pontas de plástico cromado; depois não foi mais nada, pois já não tinha mais nada para ser, a não ela mesma.

O seu nome era Genny, mas era com ípsilon e dois enes, pois não queria ser confundida com a outra, em quem jogaram bosta e pedra, pois nela ninguém jogava nada. E seu nome era Genny e podia ser Geni se ela quisesse, pois já fora chamada de "Bola de Sebo" pelo escritor francês Guy, e de "Geni" por um sambista comunista carioca, e por "Garota" por uma banda de metal anarquista.

E seu nome era Genny e podia ser Genny enquanto fosse, e ela queria era ser artista, pintar quadro vanguardista, escrever texto anarquista e namorar escritor capitalista, mas mesmo que fosse e que fizesse, ainda era Genny, dos tempos das casas de lâmpadas vermelhas na porta, dos tempos das revistas e dos em que ela era chamada de puta, não garota de programa; dos tempos em que era chamada de gorda e não de obesa, e dos tempos em que se respeitava não pelas palavras que se usavam, mas pelos atos e sentimentos que se tinham.

Aposentada de seu trabalho de caridade em prol dos necessitados, Genny queria a paz, e descansar suas histórias numa bucólica cadeira de balanço, quando apareceu uma enorme borboleta de ferro, sob as nuvens flutuando, e de lá desceu um general de cinco estrelas no peito e uma enfiada no rabo, e disse que toda a cidade se preparasse que ele a destruiria tão lentamente quanto à execução de In-a-Gadda-da-Vida, a não ser que aquela gorda lhe servisse. E então a cidade apavorada se quedou desmoralizada, e decidiu em reunião da militância que apenas ela, Genny, poderia lhes salvar.

E partiu então em cantoria, caminhando, cantando e seguindo a canção chata, a multidão de desocupados com o rabo entre as pernas, à porta de Genny. O padre chegou de joelhos, e o prefeito lhe trouxe um coelho, que ela não aceitou por que não falava, e muito menos a levaria ao país das maravilhas. Ela mandou o padre levantar e o prefeito enfiar o coelho no rabo, mas a multidão lhe pediu com tanta tristeza que até ela até acreditou que era verdade, e que apesar de sua idade, poderia ainda para alguma coisa servir.

Então partiu Genny, a frente da manifestação, seguida de feministas de sovacos peludos, machistas de sacos depilados e alienígenas trans de orelhas roxas peludas e costeletas de Elvis Presley, em direção da enorme Butterfly de Ferro, onde esperava o general cantando o refrão de In-a-Gadda-da-Vida em mandarim. Assim que viu Genny, o homem parou de cantar, se enfiou na sua nave e desapareceu dizendo: essa dama é a Genny, e eu queria era a Geni, e se não pode ser Geni, então estão todos ferrados, que vou destruir essa porra toda. E a multidão canta: essa gorda é a Genny, mas a outra era Geni. Essa é feita pra apanhar, a outra de cuspira. Essa dá de dez pra um, maldita Genny!. E o general, sem querer saber de conversa, ainda falou: e será da forma mais cruel, pois vão ter que escutar In-a-Gadda-da-Vida cantada em dupla pelo Chico Buarque junto com o Gilberto Gil, cantando em dialeto africano.

E foi assim, que nossa querida Genny, que não podia mais ouvir a multidão pedir que ela desse a todo mundo, pediu que lhe jogassem pedra, lhe jogassem bosta e que depois fosse todo mundo para a puta que pariu. E ela assim pediu, e aí dormiu, sonhando que transava com Caetano Veloso embaixo da Torre Eiffel e ele lhe dizia: "óu não!", e a chamava de "Tigresa".

25/05/2019

15/12/2018

"Olhos Vermelhos", ou " I Only Smile Behind The Mirror"

"Olhos Vermelhos", ou " I Only Smile Behind The Mirror"



Rock com violão nunca deu uma boa química! Certo? Isso foi o que sempre acreditei, sempre defendi e sempre... Ah, certo, sempre foi assim. Todas as bandas que tentaram colocar esse instrumento dentro de uma formação de Rock, tiveram resultados entre desastroso e dispensável. A sonoridade do violão, mesmo que eletrificado sempre ficava encoberta, tímida. Pois é. Sempre foi assim. Até final de 2018. Precisamente até o dia 13 de Dezembro, quando foi lançado o disco "Olhos Vermelhos" da banda de Death/Thrash Metal "Psychotic Eyes". Mas, dirão aqueles que adoram rótulos e bandeiras: "Não é Rock, é Metal, porra!" E eu direi: "Quem gosta de rótulo é vidro de maionese". 

A história de "Olhos Vermelhos" começou, ao menos para mim, há cerca de sete anos. Em 2011 eu tinha uma webradio, a "KFK Webradio", e um programa semanal onde, entre músicas e poesias declamadas, fazia entrevistas com integrantes de bandas. Tinha feito várias, inclusive algumas que tinham sido indicadas por Eliton Tomasi, ex-editor da revista "Valhalla" e que passara a prestar serviços de Press Release e Gerenciamento de Carreira a bandas. Eliton me sugeriu que fizesse com a banda Psychotic Eyes, uma banda de Metal Extremo... "Hummm, pensei, eu nem gosto dessa barulheira, esses caras gritam demais, parecem cachorros roucos latindo. E esse som, com uma bateria que parece maquina de costura... Sei não..." Mas, decidi dar uma chance. Marquei com o vocalista e guitarrista Dimitri Brandi e no dia e hora marcadas começamos a conversar e a gravar, ainda por Skype... Um tanto arredio no começo, mas cerca de dez minutos de conversa depois, percebendo o alto nível intelectual do meu interlocutor me rendi. O golpe de misericórdia no meu preconceito com o estilo veio quando ele me disse que a letra de "The Humachine", faixa do então recém lançado disco "I Only Behind The Mask", tinha sido inspirada num livro que eu já tinha lido e cujo autor era muito familiar. O livro era "O Diabólico Cérebro Eletrônico", do escritor americano David Gerrold, que entre outras coisas, fora um dos roteiristas da série "Jornada nas Estrelas". A entrevista era para ser de uma hora, dentro de um programa com duração de duas, mas acabou ficando com quase três, e foi ao ar integralmente. E no final, aquela sensação de que éramos amigos de infância. 

Um detalhe, no entanto, foi marcante naquela entrevista, e reputo como essencial nesse histórico que nos carrega até "Olhos Vermelhos": eu sempre torci o nariz (seria outro e meus preconceitos?) a bandas brasileiras cantando em inglês, e sempre que entrevistava alguma soltava a pergunta: "Por que compor e cantar em inglês, não em nosso querido português?" As respostas eram sempre evasivas e sempre me cheiravam como desculpa. E Dimitri me soltou um sonoro "Não sei! Sempre fiz assim". Honestidade é sempre algo bom, né?! Tempos depois, o compositor da Psychotic Eyes me confessaria que ficara matutando sobre meu questionamento durante muito tempo, e que aquela semente estaria germinando.

Bem, a partir dessa entrevista, a relação entre este escriba, metido a agitador, que tinha também criado uma "Editora" artesanal, por onde lançava seus livros, e o vocalista e guitarrista da Psychotic Eyes, que seguia seu caminho de banda de Death Metal se intensificou. Dimitri se encantou com um poema em um dos livros que eu tinha lançado, e que tinha o título de "Guernica", e me pediu para musicar e incluir no repertório da banda, o que, claro, me deixou muito orgulhoso, mas a ideia acabou não se concretizando, pois, tempos depois a banda perdia um de seus integrantes, o baterista Alexandre Tamarossi, o que ocasionaria uma parada.

Em meados de 2013, eu tinha escrito um poema falando sobre psicoses e na hora de colocar o título me veio "Olhos Psicóticos". Claro que daí a traduzir isso para o inglês, associando ao nome da banda foi um passo natural. Naquele ano eu lancei meu livro "O Poeta e Seus Espelhos", que tinha a contracapa da artista gaúcha Nua Estrela, que futuramente seria a autora da arte de capa de "olhos Vermelhos", e onde constava o tal poema. O lançamento teve a presença de Dimitri Brandi, que quando o leu o tal poema se apaixonou e disse que gostaria de musicar. "É claro!" 

Barata Com Psychotic Eyes, Lendo o poema "Olhos Vermelhos", 27/9/2014
Foto Leandro Almeida
Cerca de um ano depois, em 2014, quando, após mais de dez anos sem organizar festivais de Rock, e agora à frente de uma revista, a "Gatos & Alfaces" que lançava uma coletânea em CD, decidi criar um evento que, como sempre fora o mote, reuniria Rock com Poesia. "Rock In Poetry". O primeiro contato que fiz para escolher as bandas participantes foi, claro, com Dimitri. Numa conversa pelo Messenger, ele agradeceu, mas disse que a banda estava sem baterista e tal. E o que se seguiu foi justamente o embrião de um "ser" que demorou, entre a gestação e trabalho de parto durou quatro anos para vir ao mundo: "Olhos Vermelhos". 

De uma brincadeira de "Então faz um show de Death Metal acústico...", acompanhado dos indefectíveis "kkkks", a uma apresentação no tal festival, onde a apresentação foi "limitada" a uma leitura feita por mim do poema, acompanhado por Dimitri e Douglas, originalmente baixista da banda, nos violões, passando por uma série de dificuldades em se fazer "caber" na estrutura do "Death Metal" um par de violões acompanhando o estilo vocal gutural inerente ao gênero, para ficar só nos problemas mais "simples", chega-se ao momento em que um novo estilo musical foi criado.

Quando da apresentação da Psychotic Eyes no "Rock In Poetry", já inúmeros sites da Europa noticiaram e saudaram, reconhecendo que, sim, ali havia algo de pioneiro no mundo. Ninguém tinha feio nada igual. E, com efeito, as quatro faixas de "Olhos Vermelhos", não tenho a menor dúvida, entrarão para a história do Rock (Certo, senhor chato: entrarão para a história do Metal), como o marco inicial de um novo estilo musical. Da mesma forma que "Rock Around The Clock", "Johnny B. Good" e "Born To Wild" - esta referenciada como precursora do "Metal". Claro que todas essas citações são conjecturais e sem consenso, mas servem neste texto apenas como referencias didáticas e de contexto. Eu só não consigo pensar que rótulo colocar nesse estilo novo de música que a Psychotic Eyes está lançando, inaugurando, criando: deixo isso à turma do vidro de maionese, e aos críticos de música, que os adoram.

A audição de "Olhos Vermelhos" é algo que vai do deliciosamente surpreendente, ao surpreendentemente delicioso. Não tem como ser diferente. Demonstrando toda a destreza e deixando claro suas influencias, Dimitri e Douglas, os dois instrumentistas, esbanjam técnica precisa e emoção. A conversa do violão com vocal gutural, coisa que com certeza não agradará aos mais xiitas fãs do gênero soa de forma tão clara que parece que foram feitos um para o outro. Claro que aos ouvidos não acostumados, tanto do lado dos "metaleros", quanto dos puristas da musica popular brasileira, essa conversa vai parecer herética. E até os menos radicais, em primeira mão devem estranhar, e não creio que realmente seja tão fácil compreender uma mistura que parece tão "alienígena". 

Mas é aí que está a "graça", ou seja, é aí que se encontra toda a genialidade desse trabalho, que, se feita justiça histórica, será reconhecido pelas próximas gerações como o agente deflagrador, talvez de um novo "movimento" cultural musical. Não estou bem certo se sequer a própria banda tem a noção exata do que está criando, embora, pelo nível intelectual que reconheço no vocalista Dimitri creio que sim. Podem até não estarem, proposital e intencionalmente criando algo com intuito de ser um, digamos, divisor de águas, e, pelo atual contexto do Rock (tá certo, do Metal) no mundo, pode ser que nada disso aconteça, mas se não acontecer será não por termos em "Olhos Vermelhos" algo menos que genial, será por fatores de importância menor, mas que por vezes interferem no curso natural que as coisas pioneiras, perfeitas, mas fora do padrão, deveriam seguir, que é o de ter um lugar na história. 

Falando um pouco sobre as quatro faixas de "Olhos Vermelhos".
1 - "Olhos Vermelhos": Logo nos primeiros acordes, a dupla de violonistas deixa bem claras suas influências musicais. A introdução, bem ao estilo "Chico Buarque", de quem Dimitri se confessa altamente influenciado, já nos primeiros momentos chega até a lembrar a introdução de "Geni e o Zepelim", mas logo se percebe outras belas influências, como Paco de Luccia, genial guitarrista espanhol de flamenco falecido em 2014. Entre os "diálogos" entre o tom suave do violão e o vocal "rude" alternando-se com momentos em que se tem a impressão que as cordas irão estourar pela "violência" com que são tocadas em contraponto ao tom mais "sutil" da voz, há trechos em que a letra é apenas declamada. No final, algo que, no primeiro momento que escutei a musica meses antes, me causou uma surpresa extremante emocionante e agradável: o poema "original" terminava com "... olhos psicóticos que a mim renegam." Dimitri, acrescentou uma estrofe que tornou o texto algo muito mais emocionante, dramático, ao cantar:"... Olhos psicóticos... não mais enxergam".
2 - "Dying Grief", tanto quanto as três músicas seguintes já tinham sido gravadas pela banda em discos anteriores. Dying Grief originalmente saiu no "I Only Smile Behind The Mask", e a letra fala sobre a dor da separação pela morte de um ente amado, e a dureza aparente do vocal parece mais um grito de dor, de lamento pela perda. Até que num determinado momento, o violão toma a si a interlocução, como se fosse uma palavra de conforto de um amigo. A voz retoma, dura e desesperada, e a musica até o final, prossegue nesse tom, encerrando com a pergunta que todos os seres humanos fazem em momentos assim: "Why is it so deep? / How long this pain will last? / This dying grief / how long will hurt me?" (Por que isso é tão profundo? / Quanto tempo essa dor vai durar? / Essa dor agonizante / quanto tempo vai me machucar?") 
3 - "Hand Of Fate" fazia parte do primeiro disco, autointitulado da banda lançado em 2002, onde tinha uma introdução bem suave, que poderia prenunciar uma balada. Mas apenas a introdução, já que depois a musica seguia os passos do estilo, com velocidade e força. Em "Olhos Vermelhos" é a faixa com a levada mais "lenta" das quatro, e também sua letra fale sobre perdas. Se em "Dying Grief", era uma perda "física", ou seja, de um ser amado, no caso um pai, em "Hand Of Fate" essas perdas se multiplicam, e vão da perda da fé religiosa a da capacidade de sonhar e da esperança, e por fim a mais cruel de todas, que é a perda total da fé na humanidade. Os versos finais: "Just feel the signs / Don't run / If you're scared." (Apenas sinta os sinais, não corra se estiver com medo). Seria isso "a mão do destino"?
4 - "Life" , outra faixa presente em "I Only Smile Behind The Mask" de 2011, a que fecha "Olhos Vermelhos" começa com uma pegada bem lenta, mas vai tomando rumos rítmicos bem diferentes, por horas lembrando flamenco, em outras "Django" Reinhardt, violonista belga de ascendência cigana  que viveu na primeira metade do século XX. Quanto à letra, é outra que também fala em perda, e desta feita, mais especificamente perdas amorosas, e tem um trecho poético simplesmente emocionante: "forgive the memories of our little death" ("perdoe as memórias da nossa pequena morte").

(Neste ponto, fui obrigado a parar, após analisar o conteúdo das letras de "Olhos Vermelhos". Meu primeiro pensamento, foi a conclusão de que três das quatro versavam sobre um único tema "perda", sob suas mais diversas formas, e fiquei imaginando se isso foi algo proposital na escolha das musicas que comporiam as faixas. É certo que no gênero em que a banda é classificada, o Death Metal, as letras possuem temas relacionados com a morte, que afinal seria a perda maior de um ser humano, mas não creio que, até pelo fato de que a Psyhotic Eyes não prima pela rigidez qualificativa, seja esse o motivo. Depois de tentar, e desistir de entender isso, pensei que a exceção a esse mote seria exatamente meu poema, a base da letra da faixa título, estaria fora disso, já que ali eu falo sobre... Falo sobre outra coisa... Ah é?! Não... Até esse exato momento, nunca pensei sobre meu poema como se estivesse falando de perda, mas afinal percebo que de todas as formas de perda que são cantadas nesse disco, falava eu sem sequer perceber, sobre a pior de todas as perdas que se pode, de fato suportar, que é a perda de si próprio, ao se renegar e não enxergando a própria face no espelho.)

Por fim, estamos num tempo de extremismos, de intolerância e falta de perspectivas até mesmo sobre nossa própria continuidade como espécie. Um tempo em que parece que nada mais, importa ou interessa à humanidade, incluindo aí as artes. E em tempos como esses, em que tudo se esvai com rapidez, em que tudo acaba tão rápido como começou, em que parece que nada pode impedir o fim, artistas com capacidade e coragem de criar algo que possa ser considerado novo, sem com isso renegar ou sonegar todas as experiências vividas por si ou por outros, podem ser de importância fundamental, como é o caso do que foi criado por Dimitri Brandi e Douglas Gatuso em "Olhos Vermelhos". Pode ser pouco para muitos, mas é muito para poucos. Aos menos aos poucos que ainda não perderam a capacidade humana, demasiadamente humana, em transformar o caos em uma estrela radiante, quebrando o espelho e olhando para dentro de si próprios, pois é ali, e em nenhum outro lugar, onde brilha essa estrela.
Barata Com Psychotic Eyes, Lendo o poema "Olhos Vermelhos", 27/9/2014
Foto Rhadas Camponato

Encerrando essa despretensiosa resenha sobre "Olhos Vermelhos", que não foi escrita por um crítico especializado, por nenhum jornalista formado, e por nenhum fã exaltado do mais puro Metal, mas por um escritor, que tem no Rock (no Metal também, viu, carimbador maluco!) e na Poesia, as maiores paixões da vida, e que sente um orgulho monstro em fazer parte, através da letra de uma das canções, desse lançamento histórico - e quando uso essa palavra é no contexto correto, uma informação técnica e uma curiosidade: o disco está disponível apenas para download, não existindo forma física, e pode ser, a exemplo de seu antecessor, pelo "Bandcamp" por qualquer valor que o ouvinte queira pagar, desde zero. E como curiosidade, o fato de que tinha outro poema de minha autoria que seria incluído no disco "Memento Mori", que foi inclusive anunciado anteriormente, mas como, segundo Dimitri as gravações não ficaram de acordo com o padrão desejado, acabou ficando para oportunidades futuras.

Barata Cichetto, Araraquara, 15/12/2018, dois dias após o lançamento oficial de "Olhos Vermelhos".

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- Links - 
Nota da Som do Darma Sobre "Olhos Vermelhos": https://www.facebook.com/notes/psychotic-eyes/olhos-vermelhos-o-primeiro-disco-ac%C3%BAstico-de-death-metal-da-hist%C3%B3ria-%C3%A9-lan%C3%A7ado-n/2180531408626414/
Baixar o CD: https://psychoticeyes.bandcamp.com/
Lyric Video de "Olhos Vermelhos"
Matérias Sobre Psychotic Eyes no Blog Rock In Poetry: https://baratacichetto.blogspot.com/search?q=Psychotic+Eyes
Video da Entrevista da Psychotic Eyes, para o programa Partitura, da TV Local de Sorocaba, com minha participação: https://www.youtube.com/watch?v=25RoRzq8Rw4


- - Faixas -
1 - "Olhos Vermelhos"
2 - "Dying Grief"
3 - " Hand Of Fate"
4 -  "Life"

- Músicos -
Dimitri Brandi - Violão e Voz
Douglas Gatuso - Violão e Voz

- Informações Técnicas -
Gravado, mixado e masterizado no estúdio HBC Records em Guarulhos/SP por Humberto Belozupko.
Capa: Nua Estrela

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- Letras - 

Psychotic Eyes
(Olhos Vermelhos)
(Barata Cichetto / Psychotic Eyes)

Olhos, olhos... Procuro pelos meus olhos no espelho
E os encontro sem brilho, encharcados de vermelho
Aos meus olhos encontro, mas nunca em meu rosto
E parece que até o olhar têm medo do meu desgosto.

Olhos, olhos... E dentro de meu olhar busco a mim
Mas apenas a ausência encontro a buscar tal fim
E até meus olhos, que fogem do meu olhar insano
Sabem que dentro de mim existe algo desumano.

Ah, meus olhos! Onde anda seu antigo resplendor
Exibindo o brilho das flores em todo seu esplendor?
Agora os enxergo opacos, solitários e embaçados
O olhar dos loucos, dos poetas e dos desgraçados.

Ah, olhos meus...  Tremo perante os olhares do terror
Mas ao olhar em meus olhos encontro apenas horror
E entendo que são somente eles que me enxergam
Apenas meus olhos psicóticos que a mim renegam.

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Dying Grief
(Psychotic Eyes)

By my side
Your demise
Speak to me
(is it a fantasy?)
before we come apart

Hear my voice
I'm by your side
Speak to me
before the dying grief
comes to break my heart

I wondered what would happen
and thought I could foresee
But nothing could prepare me
to face this pain and its reality

I remember every moment
we shared in the past
the words I hadn't said
Did I fail to try my best?

I remember how
we shared our life
Speak to me
(it's not a fantasy!)
just one more time.

Hear my weep
the tears I cry
Cry with me
Share this dying grief
the end of your life

Why is it so deep?
How long this pain will last?
This dying grief
how long will hurt me?

Oh
it hurts so much

Dear father I have more words to say
But it's time to let you pass away
Oh my brother, we'll share this day
But now I have no words to say
Dear mother I'll let you sleep
Tomorrow we could share the pain
Oh myself, would I heal someday?

I remember how
we shared our life
Speak to me
just one more time.

Hear my weep
the tears I cry
Cry with me
before the end of life

Why is it so deep?
How long this pain will last?
This dying grief
how long will hurt me?

---

The Hand Of Fate
(Psychotic Eyes)

I'm living in demise
Forever and ever
In all my memories
We're back together
I'm priest no more
Listen what i said
I don't need any sign
I lost my faith

There is no god

Staying at my house
Surrounded by death
Waiting the world
To be attacked
In visions
I saw nightmares
Come true
Beneath all mankind
What can i do?

No hope
No war

Just trying
To live together
Until
The signs come true
No war
Against your faith
Your signs
Never betrayed

Waiting in my house
To be attacked
Staying in a world
Covered by death
A vision i see
Nighmare came true
Memories of signs
What should i do?

Don't drink the water
Don't breath the air
Just feel the signs
Don't run
If you're scared.

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Life
(Psychotic Eyes)

I felt asleep, remembering a taste in mouth
my neck felt a thrill, impulsed by memories of your breath
The window is closed, the wind is carrying a leaf
but only in my dreams my life can yet be yours

My life without you
This life cannot be true

Writing a letter witch words could be sing
listening a calling, a distant voice, strangely yours
mistreating my feelings retracing a picture that looks like you
turning my back, facing a face that can be yours

My life without you
This life cannot be true

Remembering a life that only made sense when we were one
recovering a life that only make sad by not having anymore
retracing the walk that only fake memories have placed before
a word I think no more, a word swallowed to never be yours


the word "love"
had ever been ours
the word "love"

My life without you
This life cannot be true

Used brushes and many canvas painting your face
a pen seizing a line, choosing rhymes that could be sing
the feelings are dead, did they have been yours?
looking for a melody playing the same chords

since our love has gone
tears ceased to wet the floor
since you are gone

I felt asleep, remembering a kiss, a taste in mouth
The window is closed, the wind never cease to speak
my neck felt a thrill, forgive the memories of our little death
but only in my dreams our life remained one 'till now.

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29/04/2018

Psychotic Eyes

Psychotic Eyes
Barata Cichetto

Olhos, olhos... Procuro pelos meus olhos no espelho
E os encontro sem brilho, encharcados de vermelho
Aos meus olhos encontro, mas nunca em meu rosto
E parece que até o olhar têm medo do meu desgosto.

Olhos, olhos... E dentro de meu olhar busco a mim
Mas apenas a ausência encontro a buscar tal fim
E até meus olhos, que fogem do meu olhar insano
Sabem que dentro de mim existe algo desumano.

Ah, meus olhos! Onde anda seu antigo resplendor
Exibindo o brilho das flores em todo seu esplendor?
Agora os enxergo opacos, solitários e embaçados
O olhar dos loucos, dos poetas e dos desgraçados.

Ah, olhos meus...  Tremo perante os olhares do terror
Mas ao olhar em meus olhos encontro apenas horror
E entendo que são somente eles que me enxergam
Apenas meus olhos psicóticos que a mim renegam.

18/05/2013

23/02/2015

Barata Cichetto & Psychotic Eyes


"Olhos Vermelhos" será o título do álbum de death metal acústico que o Psychotic Eyes lança em Junho
Esse será o terceiro álbum da carreira da banda e o primeiro da história com essa proposta musical

No final de 2014 a banda paulista de death metal progressivo Psychotic Eyes escreveu um novo capítulo na história do metal. A banda tinha perdido seu baterista e recebeu um convite para fazer um show importante. Como não queriam perder a oportunidade, tiveram a ideia de realizar um show acústico, sem bateria: death metal tocado com dois violões e vocais guturais!

O que parecia improvável tornou-se histórico! Nunca antes foi registrado um show de death metal acústico como o realizado pelo grupo na Galeria Olido em São Paulo. O espírito vanguardista do Psychotic Eyes ganhou projeção na mídia do mundo todo.  

O resultado final ficou tão bom que entrar em estúdio e registrar algumas músicas nesse formato acabou tornando-se inevitável.

"Olhos Vermelhos" foi então o título que Dimitri Brandi (vocal/violões) e Douglas Gatuso (vocal/violões) escolheram para aquele que será o terceiro álbum oficial do Psychotic Eyes - mesmo sendo inteiramente acústico - e também o primeiro  trabalho de death metal acústico da história!

"Olhos Vermelhos" já está sendo gravado no estúdio HBC Records em Guarulhos/SP com produção de Humberto Belozupko. O disco reunirá duas faixas inéditas, "Olhos Vermelhos"  e "Memento Mori"- baseados em poemas de Luiz Carlos Barata Cichetto. Também farão parte do álbum, em novos arranjos, "The Hand of Fate" - música presente no álbum de estreia do Psychotic Eyes autointitulado - além de "Life" e "Dying Grief", ambas do segundo álbum de estúdio, "I Only Smile Behind The Mask" (2011).

"As gravações estão sensacionais, o material vai ficar fantástico", diz eufórico Dimitri Brandi. "Só estão demorando mais do que o previsto, pois gravar death metal no violão está se mostrando uma tarefa muito mais difícil do que o esperado. Como o violão é um instrumento acústico, tudo o que fazemos é captado pelo microfone. Um guitarrista e um baixista acostumados a "descer o braço" nas cordas apanham um pouco, pois produzimos muitos ruídos cavernosos que não soam bem na gravação. Isso tem feito o processo demorar um pouco mais do que seria uma gravação com instrumentos elétricos, mas o resultado está ficando surpreendente".

"Olhos Vermelhos" do Psychotic Eyes será lançado em Junho. Detalhes sobre formatos e plataformas de distribuição serão divulgados em breve.

Mais Informações:
www.psychoticeyes.com
www.twitter.com/psychoticeyes
www.facebook.com/psychoticeyes
www.youtube.com/psychoticeyesbrazil

08/05/2012

Psychotic Eyes: Rompendo Fronteiras

Psychotic Eyes: I Only Smile Behind The Mask



Transformar em arte a atual caótica sociedade parece ser a proposta básica das bandas de Metal, principalmente dentro dos subgêneros mais extremos, como o "Death".  Então, temas como o medo, o terror, a corrupção, a desigualdade social, a morte, entre outras, tomam a forma de músicas cruas, geralmente com harmonias muitas vezes pseudo intelectualizadas, mas que disfarçam e mascaram um desejo, não de mudar esse estado de coisas, mas sim, usá-los em proveito próprio. 

Mas não é absolutamente o caso da Psychotic Eyes, banda criada em 1999 por Dimitri Brandi (Vocal e Guitarra), Alexandre Tamarossi (Bateria), Valdemar Ferrari (Guitarras) e Leandro Araújo (Baixo). Desde a época de sua formação, a banda sempre buscou algo inovador e sólido, com bases musicais que começam na complexa base do Rock Progressivo, passam pela apurada técnica inerente ao Jazz e acrescem o ritmo da música brasileira. O resultado é um Death/Thrash Metal com uma qualidade acima da média, principalmente se nesse resultado isolemos apenas as bandas criadas dentro do território brasileiro, mas mesmo que extrapolemos nossas fronteiras, ainda assim é um trabalho extremamente criativo e inovador dentro do cenário não apenas do Metal, como do Rock e da musica da atualidade.

Mesmo fazendo uso em alguns clichês do gênero, como o vocal gutural e a bateria soando como um bate estaca em alguns momentos, a Psychotic Eyes consegue estar acima deles. Bem acima, aliás. E o diferencial dessa banda começa no texto de seu release, muito bem escrito e deixando bem claras as intenções e potencialidades dos músicos e demais envolvidos no projeto. "Disse o poeta: o Death Metal é a aquarela em preto e branco mais completa para transformar em arte todos os 'predicados' da sociedade contemporânea". Uma definição ortodoxa do gênero ao qual a banda embora pertença claramente, não permite que seja usada como amarra criativa, armadilha perigosa que muitos artistas sempre caem. 

Atitude correta, decerto, bem como a de estabelecer como característica própria o flerte com a literatura, transformando a cultura adquirida pelos integrantes numa riquíssima sopa cultural. A literatura marca presença na logo na faixa de abertura. “Throwing Into Chaos” cuja letra foi escrita pelo poeta Adriano Villa, responsável pelas letras do renomado projeto “Hamlet”.

Já a segunda música, "Welcome Fatality", é brutal e visceral, com marcas características do Death Metal, mas com uma linha de bateria que demonstra uma habilidade e técnica acima da média, além de algo que me chamou bastante a atenção, com o vocal em si, oscilando entre aquele gutural característico com uma voz mais "normal" e com as frases declamadas no final em português, e que terminam com "Percebo com clareza que a maldade é o anverso da esperança". Versos magníficos, mas que acabam por me colocar dentro daquela eterna pergunta, que até agora não obtive uma resposta satisfatória: porque as bandas brasileiras não cantam em português?

Em seguida, “Dying Grief”, em que, segundo o release, o vocalista Dimitri narra os sentimentos quando da morte do pai. Agora a faixa “Life” é realmente a primeira grande surpresa do álbum, pois é quase uma balada que fala sobre amores perdidos... Algo que poderia parecer inusitado a qualquer banda do estilo, mas que vem de encontro à proposta da Psychotic Eyes, de buscar algo além das fronteiras, além do que ficar presos a um estilo fechado.

Um outro excelente destaque de "Only Smile Behind the Mask" é “The Humachine” que tem letra baseada no livro "O Diabólico Cérebro Eletrônico" do escritor americano David Gerrold, que entre outras coisa escreveu roteiros para "Jornada nas Estrelas",  e marca a participação do mestre em artes, artista multimídia e pesquisador Edgar Franco que adicionou diálogos pós-humanos à faixa, que é com certeza a melhor e a mais bem produzida do disco. Algo para se escutar, duas, três vezes, captando todas as nuances e emoções sugeridas.

Mas é claro que uma banda surpreendente e ousada guardaria algo ainda mais ousado e surpreendente para o final. “The Girl”, um épico, que é segundo Dimitri é uma "desconstrução do clássico de Chico Buarque, “Geni e o Zepelim”, contando a mesma história de uma forma totalmente diferente. Aliás, a "versão" de Chico Buarque também se pode dizer que era também uma "desconstução", pois foi baseada num conto do escritor francês Guy de Maupassant chamado "Bola de Sebo". Então, até mesmo esse fato, que provavelmente era de conhecimento deles, acaba por fazer da musica uma desconstrução de uma desconstrução sobre a qual o próprio escritor francês poderia escrever uma outra desconstrução, acaso ainda vivesse. 

E como o "produto" de um artista não se encerra nele próprio, mas nos fatos e atitudes que o geraram e que dele foram gerados, além também de que não adianta uma artista produzir uma obra prima e deixar guardada no porão, " I Only Smile Behind The Mask" foi lançado apenas virtualmente e pode ser baixado integralmente e gratuitamente através dos endereços da banda na Internet "fica ao fã a decisão de pagar ou não pela música", informa a área de "download" do site oficial. Uma atitude corretíssima em tempos em que todos lamentam a diminuição de ganhos, mas poucos se dispõem a criar alternativas criativas que rompam as barreiras das formas tradicionais de sustentação.

Aliás, quero finalizar este texto, justamente com um gancho de Star Trek, já que citamos David Gerrold e sintetizar numa reconstrução da frase da própria Psychotic Eyes, "arte não tem fronteiras, muito menos econômicas."

E antes que algum "Metal" radical esperneie e estrebuche, afirmando que eu não entendo de Metal, e aqueles discursos radicais inerentes: escutem "I Only Smile Behind The Mask" do Psychotic Eyes e aprendam de uma vez por todas que qualquer tipo de criação precisa de liberdade para transformar e se transformar. E crescer. 



I Only Smile Behind The Mask
Psychotic Eyes
2011

Faixas:
1- Throwing Into Chaos
2- Welcome Fatality
3- Dying Grief
4- Life
5- I Only Smile Behind The Mask
6- The Humachine
7- The Girl

Músicos:
Dimitri Brandi (Vocal/Guitarra)
Alexandre Tamarossi (Bateria)
Douglas Gatuso (Baixo)

Discografia:
Psychotic Eyes (2007)
I Only Smile Behind The Mask 

Internet:
www.psychoticeyes.com (Site Oficial)