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08/08/2019

Ah, Se Eu Fosse Igual...

Ah, Se Eu Fosse Igual...
Barata Cichetto

Não fosse idiota podia ser tão famoso quanto Paulo e suas filhas,
E ser uma estrela da poesia, feito Alice em Paris das Maravilhas.
Ou se não fosse tolo, quem sabe seria tão conhecido como Piva,
Daí eu estaria morto, mas ao menos minha poesia estaria viva.

Não fosse eu um pai seria apenas um filho, mesmo que da puta,
E seria astro da literatura falando sobre a dureza da minha luta.
Pelas feiras literárias eu seria chupado por um par de proscritos,
E as editoras pagariam adiantado pelos romances nunca escritos.

Se eu fosse um tanto esperto estaria em Paraty igual a um artista,
Circulando de chapéu e gravata borboleta entre a elite comunista.
Eu nem lembraria o que tinha dito, mas leriam minhas memórias,
E o que tinha escrito todos pensariam ser parte de suas histórias.

Fosse um malandro, desses que colocam "Poeta" antes do nome,
Eu daria entrevistas na televisão e explicaria o meu sobrenome.
Comeria um par de putas vesgas, e eu seria famoso até o jantar,
Onde poriam minha cabeça na bandeja depois de me acorrentar.

Ah, se eu não fosse tão otário seria tão bom quanto a Medeiros,
E esconderia meus versos mortos debaixo de dois travesseiros.
 Seria chamado de "Bukowski de Araraquara" ou outro truque,
E exibiria o pau em público e postaria na página do Facebook.

Se fosse esperto eu seria como o Diego, ou até como o Morais,
E contaria uma história triste com sórdidos contornos morais.
Enfim, fosse eu diferente do que sou, poderia ser um alguém,
Mas não seria o que sou, e no final seria apenas um ninguém.

07/08/2019


19/10/2018

Roberto Piva: O Século XXI Lhe Deu Razão

Roberto Piva: O Século XXI Lhe Deu Razão
Barata Cichetto

O século XXI lhe deu razão; com seus coletivos egoístas, e seus egoístas coletivos; seus seletivos anarquistas, e seus anarquistas seletivos; seus computadores baratos, e seus celulares caros; seus ditadores de esmola, e seus educadores sem escola; seu analfabetismo político, e seus políticos analfabetos; suas mulheres plastificadas, e seus machos simplificados; suas crianças fascistas, e seus bebês tecnológicos; sua fome gourmetizada, e sua violência glamourizada. 
O século XXI lhe deu razão, com seu excesso de tesão, e sua falta de desejo; seus pode-tudo, e seus nada-pode; sua moral ressentida, e sua imoralidade consentida; seu fanatismo ideológico, e seu onanismo lógico; seus ódios escarrados, e seus ócios cuspidos; seus cupidos tecnológicos, seus bêbados ideológicos; seus zoológicos humanos, e seus humanos lógicos; seus cérebros de silício, e suas alças de silicone; seus drones, e suas câmeras de seguranças. 
O século XXI lhe deu toda a razão, com seus idiotas poéticos, e seus poetas agiotas; suas águas coloridas, e seus filmes sem enredos; seus medos de tudo, e seus segredos de nada; seus escritores de Twitter, seus pensadores de Whatsapp; seus filósofos de Instagram, e seus Youtubers; suas hashtags, e seus emoticons; seus notebooks, seus facebooks, e seus smartphones.
O século XXI lhe deu razão, com sua morbidez feérica, e sua rapidez cadavérica; seus quinze minutos de fama, e seus dois minutos de cama; suas cobras de isopor, e seus lagartos de papel; sua falta de poesia, e sua afasia; seu progresso sem ordem, e sua desordem ordenada; sua devassidão clériga, e sua imensidão estreita; seus rocks sem roll; seu futebol sem gol, e seus blues sem cor.
O século XXI que lhe deu razão, com suas palavras ressignificadas, suas mulheres empoderadas, e suas tolices toleradas; suas intolerâncias generalizadas, e suas prepotências potencializadas; suas cotas de felicidade, suas botas de faculdade, e suas roupas de facilidade; sua pornografia sem tesão, e sua pornográfica razão; seu politicamente correto, e sua política incorreta; seu pensamento engessado, e sua burrice premiada. 
E o século XXII também lhe dará razão, Roberto Piva.

Barata Cichetto, do século passado, no século presente; e sem futuro.

17/10/2018

29/10/2017

Sim, Piva, Eu Direi As Palavras Mais Terríveis Esta Noite

Sim, Piva, Eu Direi As Palavras Mais Terríveis Esta Noite
Barata Cichetto

Ao contrário de Piva, eu quero esta noite dizer as palavras mais terríveis que puder. E as que não puder também. Lançar a maldição mais hedionda, a ofensa mais profunda, a blasfêmia mais profana. Quero dizer palavras terríveis, temíveis, horríveis. A ponto de te fazer vomitar, a ponto de te fazer cagar nas calças, molhar as calcinhas, por ódio, tesão, horror, vontade. Quero dizer palavras tão terríveis, que ninguém ousou dizer. Que nem Arqúiloco, poeta-soldado grego, que causou o suicídio do sogro ao ler seus poemas, ousou pensar. Sim, quero dizê-las, em alto e bom som, para que todos os cachorros da rua escutem, para que meu pai, do outro da sala se mate, para que minha mãe na cozinha deixe a comida queimar, para que meus filhos comunistas lamentem, e para que minha mulher interrompa seu sono à base de remédios. Quero dizer as palavras mais terríveis, que nenhum sacerdote, em sua sacristia profana, jamais ousou orar, e que nenhum deus, em seus momentos de maior ira, cogitou, e que nenhum filósofo tergiversou. Quero dizer as palavras mais terríveis, que sequer uma criança, na sua mais tenra e infinita maldade brincou. Quero dizer as palavras mais orgânicas, mais orgásticas que nem Safo, ou nenhuma deusa lésbica grega ou romana disse, nem a seus mais secretos amantes, as palavras mais horrorosas, que sequer aqueles que tanto me odeiam são capazes de pensar. Dizer em um volume mais alto que toca uma banda de metal, as palavras mais danosas, que possam a alguém machucar. Quero dizer, quero dizer que as palavras que quero dizer, sejam as mais hediondas, que nem Augusto conseguiu versejar, que nem Nero conseguiu incendiar, que nem Calígula conseguiu enomear. Quero falar as palavras que sejam mais terríveis, que nenhuma jura amorosa foi capaz de ser, que nenhuma mulher foi capaz de dizer, e nenhum homem foi capaz de escutar. As palavras mais medonhas, que nem mesmo aqueles que sonham com o futuro poderão aguentar. Falar as palavras mais sinceras, que nenhum traidor foi capaz de contar, que nenhum traído foi capaz de ouvir. Quero falar, com minha língua ferina, todas as palavras terríveis que eu puder pensar. E não imaginem que poderei por acaso pedir perdão pelas palavras terríveis que quero falar esta noite, que perdão é palavrão, palavra de baixo calão, que não sei soletrar. Quero dizer todas as palavras terríveis que ainda nem constam de dicionários, que sequer foram inventadas. Todas. Quero inventar palavras terríveis esta noite. Inventar palavras na noite terrível. Quero dizer palavras terríveis incríveis. Daquelas que nem sua imaginação possa reconhecer. Quero dizer todas as palavras que eu possa conhecer. Quero dizer palavras terríveis, capazes de te cegar. De te enxergar. Tão terríveis que possam te ouvir. Te deixar muda. Te mudar. E quero, porque quero e pronto, falar as palavras horríveis para escandalizar a diva. Quero dizer as palavras mais terríveis que nem Piva foi capaz de dizer. E que nenhum outro poeta foi capaz de versar. E se essas minhas palavras não lhe forem tão terríveis, a ponto de te chocar, a ponto de lhe causar o desejo de suicídio, escute-as como quem escuta palavras de amor. Ou pedidos de socorro!

26/10/2017

03/08/2015

Eu Não Direi as Palavras Mais Terríveis Esta Noite

Eu Não Direi as Palavras Mais Terríveis Esta Noite
Barata Cichetto



Eu não direi as palavras mais terríveis esta noite. Piva já disse. E só fiquei sabendo ontem a noite. Um livro caiu da estante. Não, não era do Roberto, mas um livro qualquer, de culinária, sei lá. Decerto um desses livros que a gente tem e nem lembra por que tem. Mas o fato desse livro cair na minha cabeça, por algum motivo me fez lembrar de Roberto Piva, que também era um maldito desgraçado. E como todo maldito desgraçado como eu, gosta de dizer palavras terríveis, principalmente a noite. Confesso: nunca tinha lido o Piva, nunca mesmo. Mas era chato dizer que não, afinal, somos ambos malditos. Mas tudo bem, ele nunca leu Barata Cichetto, que sou eu. Então, não tem desculpas a serem dadas ou pedidas. Portanto, não direi palavras terríveis esta noite. Não direi palavra alguma. Ficarei em silêncio mortal em respeito às palavras mortas. A terrível mortandade de palavras, por censura ou desconhecimento. Palavras fuziladas no paredão da ignorância, por um exército de eunucos, mentes dominadas e deformadas em escolas do crime e faculdades criminosas. Estarei em silêncio esta noite. Talvez finalmente leia algumas outras coisas de Piva, talvez leia alguma coisa de algum poeta morto. E talvez não leia nada. Minha leitura fará silêncio diante de tanta coisa terrível que é escrita. Silêncio em meus olhos, silêncio em minha mente. Somente. E também não escutarei nada no rádio, não verei nada em lugar nenhum. Só há coisas terríveis em todos os lugares. Pessoas terríveis, adultos e crianças terríveis. Então não direi nada, não escreverei ou lerei. Estarei morto hoje a noite. Quem sabe assim leiam minhas palavras terríveis como li as de Piva ontem a noite apenas, depois de quinze anos após sua terrível morte. Sem palavras terríveis hoje a noite, por favor.