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04/10/2020

O Fim de Barata, Sem Lágrimas Nem Festa

 O Fim de Barata, Sem Lágrimas Nem Festa




Em 1997, ainda na tosca Internet brasileira, criei um site com intuito de aprendizado e de divulgar meus trabalhos. Eu tinha ficado quase 15 anos sem escrever, depois de ter jogado fora uma mala de couro cheia de escritos, por pressão da mulher com quem eu tinha acabado de me casar. Esse site, primeiramente intitulado de "Cichetto's W.C", era hospedado pela Geocities, o primeiro serviço de hospedagem grátis de sites do mundo. Esse projeto mudou de nome mais umas duas vezes, até que em 1999, quando mudei para Belém, Pará, assustado com o tamanho das "baratas-cascudas" da cidade, e querendo um nome que representasse tudo aquilo que eu almejava, recebeu seu nome definitivo: A Barata. Era comum sites usaram nomes de animais, como "O Elefante", mas eu queria algo diferente. A referência à resistência do inseto e a homenagem ao maior escritor que reconheço, Kafka, completaram o quadro. Junto com o nome veio o slogan "Liberdade de Expressão e Expressão de Liberdade", que também entre outras coisas que criei foi abundantemente copiado.

O projeto foi tomando corpo, e de algo pessoal foi crescendo e tomando forma, e com isso mais e mais seguidores, publicadores e idéias. Foi o primeiro site, possivelmente no mundo, a criar páginas gratuitas para bandas, bem antes do My Space virar uma coqueluche com esse formato. Foram centenas de bandas presentes. Entretanto, o forte de A Barata era a publicação de textos, poesia e prosa: chegamos a ter mais de mil (1000) autores. 




Em 2000, retornando a São Paulo, cheguei a dar entrevista na TV Cultura, no programa de Marcelo Tas, o "Vitrine", e comecei a tramar eventos públicos, editar um fanzine impresso e produzir camisetas. Tudo foi um sucesso. O primeiro "Fest'A Barata", no início de 2002, colocou mais gente que a capacidade da casa, numa sexta feira de Janeiro, mês de férias e um dia em que a cidade quase ficou debaixo d'água. Cinco bandas e uma platéia predominantemente trajada com camisetas do site, que meu amigo Strapola não cansava de produzir.

Em Abril de 2001 consegui o registro do domínio ".com.br", coisa que era impensável para um site independente na época. Até endereços de email atrelados ao site (algumacoisa@abarata.com.br) eu vendia, e o site tinha uma média absurdamente alta, ainda para os dias de hoje (imaginem para a época), de mais de 1000 acessos/dia.  Foi nesse momento que as pessoas começaram a ligar minha pessoa ao site e vice-versa. para meu orgulho deixei de ser Luiz Carlos para me tornar "Barata", a um número cada vez maior de pessoas. Não existe nada mais gratificante do que ter um nome atrelado ao seu trabalho.




(Muitos já estão torcendo o nariz e dizendo: "Ah, esse cara ganhou muita grana, mas estão enganados: como eu disse todas as publicações e serviços eram totalmente grátis. O lucro das camisetas, dos emails eram apenas o suficientes para cobrir os custos de hospedagem e outros, que na época eram bem mais caros que atualmente. Quanto aos festivais, quem já fez algum evento em "parceria" com donos de casas de Rock sabe bem que no fim nosso único lucro é o prazer de fazer. O lucro é sempre deles.)
Entre 2000 e 2005, mesmo com muito trabalho (sempre trabalhei sozinho) e despesas, "A Barata" foi uma referência, especialmente nos meios independentes ligados ao Rock. Acabei por me tornar algo como uma "quase celebridade underground", chegando ao ponto de dar autógrafos quando participava de algum evento, especialmente na época - 2002 a 2005 -, em que fui Manager da banda paulista Patrulha do Espaço. Há discos da banda com assinaturas dos músicos e minha, para meu orgulho, confesso. Muita gente também tratou de copiar a ideia, e assim nasceram muitos sites, uma boa parte com nomes de insetos, como moscas, besouros e outros. Alguns investiram muita grana, mas não duraram mais que um ou dois anos.

Entretanto, a partir da segunda metade da primeira década do terceiro milênio, começaram a aparecer as chamadas redes sociais. Primeiramente o Orkut, depois o Facebook, e com sua voracidade, passaram a roubar para si todas as almas e pensamentos, tratando de pender as pessoas cada vez nas suas garras sequiosas. Com isso, o acesso a sites independentes, aqueles que não entram em jogos políticos, nem pagam ou recebem nada para serem lidos, começou a despencar. A coisa piorou mais ainda após 2013, quando o jogo sujo do "nós contra eles", deflagrado por uma linha ideológica apanhada com as calças na mão cagando no país, e decidiram por acirrar ânimos de uma forma de tentar se blindar. Começaram inimizades, ofensas e parece que o restante dos amigos, muitos deles completamente anônimos até começarem a divulgar seus trabalhos no site, decidiram que o melhor era me colocar na geladeira, para não dizer lugares piores. Um fato: muitos dos autores que, alguns ainda na pré adolescência física e literária em A Barata e uma boa quantidade hoje goza de prestígio nos meios culturais e literários; muitos artistas que eu trouxe comigo, levando para eventos, expondo trabalhos literários e artísticos de toda forma, hoje se esquecem de tudo e preferem ignorar. Nunca pedi glória pelo que fiz, mas reconhecimento cairia bem. 




A ultima "encarnação" de A Barata foi em 2018, quando mudei de cidade, abandonando a cidade que me viu nascer, mas que foi tomada por um cem número de usurpadores, e que, de cosmopolita se tornou uma cidade de ratazanas humanas, com as eventuais exceções, decidi que era preciso manter a chama viva de A Barata. Foram dois meses de trabalho que me renderam um livro onde conto a história e as histórias desse portal, que mesmo com a memória das pessoas que dele participaram tenha apagado há ainda muitos e muitos registros aqui e acolá.

Estou neste momento fazendo esse resumo de 23 anos de história de um projeto que em outros tempos e mentalidades teria me alçado a um patamar merecido - não tenho modéstia desonesta, mas nem vaidade inútil, apenas fatos que falam por mim - para decretar o fim de "A Barata". A partir de 1 de Novembro o site sairá do ar em definitivo, já que não dá mais para ter despesas mensais para que uma ou duas pessoas ao dia o acessem, sem sequer um olá. Fim de um sonho? Não sei se algo que durou tanto tempo ainda pode ser chamado de sonho. A verdade é que findou. Tudo acaba, nós mesmos acabamos. Estou certo que criei história, mas não espero figurar nela, pois quem poderia contar e continuar prefere mesmo ir para outras praias, nadando de braçada num bote furado, e esquece de uma jangada que eu construí e que ajudou muita gente a atravessar mares revoltos. 

Obrigado a todos que me ajudaram e partilharam comigo desses vinte e três anos. 

A Barata, Liberdade de Expressão e Expressão de Liberdade, 1997 - 2020.
Barata Cichetto, 4 de Outubro de 2020

07/05/2020

Luiz Domingues: "Luz, Câmera & Rock'n'Roll"

Luiz Domingues: "Luz, Câmera & Rock'n'Roll"
Barata Cichetto





Acredito que tenha sido em 1977 que conheci Luiz Antônio Domingues. Era ele quem respondia as cartas endereçadas ao "Sarrumor Jovem", revistinha criada pelo Laert Julio, que posteriormente viria ser conhecido como criador da banda Língua de Trapo. Nas cartas que trocamos por algum tempo, Luiz dizia estar estudando contrabaixo e que pretendia montar uma banda. (*) 

De lá para cá muita coisa aconteceu. Laert Julio se transformou em Laert Sarrumor, Luiz saiu do Língua de Trapo e foi tocar em e por outras bandas, como A Chave do Sol, The Key, Pittbulls On Crack e muitos etc. Luiz Antônio Domingues ficou conhecido como Tiguês, apelido que há muito ele execra, e o Rock brasileiro, que conheceu um momento de alguma - não muita - glória nos anos 1980, cedeu lugar a outros gêneros e estilos, e retornou ao gueto onde foi criado, e muitos músicos foram tocar em outros terreiros.

Mas Luiz Domingues nunca cedeu a modismos, e sempre se manteve fiel ao Espírito do Rock. Em 1999 se uniu ao capitão da Patrulha do Espaço, juntamente com - na época dois garotos quase imberbes - Marcello Schevano e Rodrigo Hid, para uma das mais icônicas formações da banda. Foram quatro discos com essa formação, até 2004, quando ele foi convidado pelo guitarrista Xando Zupo para, juntamente com Rodrigo, integrar a banda Pedra.

Foi durante uma boa parte do período da Patrulha do Espaço em que estreitamos nossos laços, viajando a bordo do "Azulão", icônico ônibus da Patrulha do Espaço pilotado pelo Walter Gonçalves, o Alemão, pelas estradas do interior de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Horas e horas de chão, e conversas e histórias pra lá de interessantes. Isso acabou por render uma série de crônicas com o título genérico de "Diário de Bordo", que eram publicadas em meu site A Barata, e depois incorporadas ao meu livro "Patrulha do Espaço no Planeta Rock".

Ao longo do tempo essa amizade sempre se manteve, já que Luiz Domingues é um amigo que sempre apóia todas as boas iniciativas relacionadas ao mundo do Rock, e sendo assim sempre compareceu a muitos dos eventos que criei, entre 2002 e 2015. Sempre com uma educação e nobreza, motivos pelos quais eu lhe conferi o título de "Gentleman do Rock Brasileiro".

Mas não é apenas Rock que Luiz Domingues respira. Literatura e cinema são outras de suas paixões e que agora em 2020 se unem em uma coleção: "Luz; Câmera & Rock'n'Roll". 

Dividido em três volumes, a coleção traz 131 resenhas sobre filmes produzidos direta ou indiretamente com o mote do Rock'n'Roll, numa combinação fortíssima e apaixonante entre Rock e Cinema, que historiadores modernos batizaram de "Rock Movies". "Luz; Câmera & Rock'n'Roll" é uma coleção imprescindível para quem ama Rock e Cinema.

Atualmente, Luiz Domingues participa da banda Kim Kehl & Os Kurandeiros, somando mais um grande trabalho a sua vasta carreira que inclui mais de vinte álbuns lançados no mercado fonográfico brasileiro. Como escritor, mantém três blogs na Internet e colabora com diversos outros, além de colaborações em revistas impressas.

Lançado através da plataforma Clube de Autores em parceira com a Matilda Produções, os três volumes podem ser comprados juntos ou em separado.

Indispensável!

Serviço:
Luz; Câmera & Rock’n’ Roll
(Obra Em Três Volumes)
Autor: Luiz Domingues
Editora: Matilda Produções
Apoio Gráfico: Clube de Autores
Editor: Cristiano Rocha Affonso da Costa
Revisão, Diagramação, Ficha Catalográfica: Alynne Cavalcante
Capa (Criação e Lay-out): Victoria Costa
Foto do Autor: Lincoln Baraccat

Link para Compra: https://bit.ly/2YeYIa9
Blog 1: http://luiz-domingues.blogspot.com

(*) (Comentário factual de Luiz Domingues, posterior à publicação: "Na verdade, eu já estava em uma banda, mesmo ainda a aprender a tocar a duras penas. O Boca do Céu fora fundado em 1976." 
Foi nessa época, pré criação da banda Língua de Trapo, que recebi um convite para uma reunião daquele pessoal em frente ao Teatro Municipal de São Paulo. Fui, mas, encalacrado na minha profunda timidez, fiquei observando de longe, sem coragem de me aproximar, e assim perdi a oportunidade de conhecer aquelas pessoas, o que só ocorreria muitos e muitos anos depois. Comentei essa história há pouco tempo com Laert, e agora com Luiz. Ambos ficaram abismados.

23/10/2019

O Dia em Que Lou Reed Comeu Patti Smith

O Dia em Que Lou Reed Comeu Patti Smith
Barata Cichetto


Foto by Judy-Linn

Parte 1 - O Filme

Há um tempo sem precisão, mas um domingo de manhã, decerto
Em um cinema imundo do Centro, que não era longe, nem perto
Um daqueles em que as putas chupam pintos na poltrona imunda
E em que as bichas cobram o preço por dar o buraco da sua bunda.

E aquele dia poderia ser um dia no parque, um dia quase perfeito
Poderia ser apenas outro dia em que eu sabendo ser homem feito
Acreditei ser apenas uma boa pessoa, curtindo a barra da cidade
Enquanto na porta do cinema putas fodiam por pura necessidade.

O lugar fedia mijo e tinha marcas de unhas no chão de esteira
Camisinhas jogadas sobre o tapete e na tela umidade e sujeira
O filme sem nunca começar e eu segurando meu pau na mão
Enquanto um sujeito na escada gemia segurando o corrimão.

Mandei a puta que sentou na poltrona ao lado se foder de graça
E olhei a tela com as letras desbotadas e reclamei por tal trapaça
Porque tinha o filme um estranho nome ao cinema pornográfico
E "O Dia em Que Lou Reed Comeu Patti Smith" era o tal gráfico.

A bicha que chupava pau na poltrona de trás reclamou da cena
O cara que pagava puta reclamou que aquilo era coisa obscena
E eu mandei todos tomarem no cu e ficarem de bocas fechadas
Mas enquanto Lou Reed metia na Patti as putas ficavam caladas.

Eu era um homem pobre e podia fazer qualquer coisa no escuro
Mas enquanto os ricos pagavam michê às bichas a preço seguro
Patti com os dedos tatuados mijava no rio segurando suas pregas
E Lou dizia “Ah, menina, deixe de falar de anjos e siga as regras”.

Na porta do cinema as meninas putas esperando por seu homem
Poeiras de estrelas por um barato e a morte enquanto consomem
E dos topos dos edifícios se atiram feito aos pássaros amortecidos
Beijando a calçada onde mijam os últimos bêbados adormecidos.

No cinema não tem mais ninguém e na platéia apenas escuridão
Todos foram embora buscar pelas ruas outros pontos de solidão
Acabou o filme, e cortinas sebentas tomaram o lugar do roqueiro
Sozinha no escuro Patti aguarda a chegada do ultimo mensageiro.


Parte 2 - Viciados

O dia ainda era um domingo, não de manhã, mas ainda perfeito
Era noite e eu tinha com das putas da esquina um retrato refeito
"Porque a noite pertence à luxúria, a noite pertence aos amantes"
E eu era Lou Reed procurando Patti Smith em loucos diamantes.

E ela dançando descalça, dando piruetas sob a lâmpada fosca
Projeta sombras nas vidraças das lojas, com sua alegria tosca
Enquanto busco naquelas pernas finas, tortas e mal cuidadas
A satisfação dos desejos no mistério das infâncias arruinadas.

Dançam a bailarina branca debaixo das lâmpadas de sódio
Mas a negra não consegue, com seu coração cheio de ódio
E Patti pergunta aos anjos e Lou às bichas depiladas a razão
E as bailarinas cantam em coro: "Doodoodoo, ai que tesão!"

Pergunto por Rachel e por trás dos óculos brilhantes escuros
O poeta americano responde: "ótimos aqueles tempos duros"
E aos anjos pergunto sobre Patti e de seu eterno namorado
Ao que Banga responde que ela por ele muito tem chorado.

Então eu disse, Patty, transa comigo e ata-me como aos viciados
Que eu esmago tuas mãos enormes com meus pés embriagados
E éramos eu, Lou Reed e Patti Smith. Lou comia Patti, e eu não
E entre eu e o gigante, ela preferia a bailarina, o palhaço e o anão.

Lembro do cinema onde aquele filme pornográfico foi exibido
E no Centro da cidade onde fui crucificado, morto e ofendido
Não tem cinemas pornográficos agora, e nem as putas seminuas
Morreram da mesma morte, mataram as putas, cinemas e as ruas.

Patti agora chora a morte do amigo, e nem mesmo eu a consolo
As mãos enormes sobre o rosto e eu nem posso pegá-la no colo
Ainda era domingo quando ele morreu, mas não um perfeito dia
Era final de semana e afinal de contas era o que ele sempre pedia.

Os satélites podem subir ao céu e eu não posso segurar sua mão
Seres humanos pisaram na Lua deixando marcas em seu coração
E Lou Reed era Jesus e também não morreu pelos meus pecados
E Patti e eu ficamos no mundo para morrer sem ser crucificados.

06/12/2013

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

15/12/2018

"Olhos Vermelhos", ou " I Only Smile Behind The Mirror"

"Olhos Vermelhos", ou " I Only Smile Behind The Mirror"



Rock com violão nunca deu uma boa química! Certo? Isso foi o que sempre acreditei, sempre defendi e sempre... Ah, certo, sempre foi assim. Todas as bandas que tentaram colocar esse instrumento dentro de uma formação de Rock, tiveram resultados entre desastroso e dispensável. A sonoridade do violão, mesmo que eletrificado sempre ficava encoberta, tímida. Pois é. Sempre foi assim. Até final de 2018. Precisamente até o dia 13 de Dezembro, quando foi lançado o disco "Olhos Vermelhos" da banda de Death/Thrash Metal "Psychotic Eyes". Mas, dirão aqueles que adoram rótulos e bandeiras: "Não é Rock, é Metal, porra!" E eu direi: "Quem gosta de rótulo é vidro de maionese". 

A história de "Olhos Vermelhos" começou, ao menos para mim, há cerca de sete anos. Em 2011 eu tinha uma webradio, a "KFK Webradio", e um programa semanal onde, entre músicas e poesias declamadas, fazia entrevistas com integrantes de bandas. Tinha feito várias, inclusive algumas que tinham sido indicadas por Eliton Tomasi, ex-editor da revista "Valhalla" e que passara a prestar serviços de Press Release e Gerenciamento de Carreira a bandas. Eliton me sugeriu que fizesse com a banda Psychotic Eyes, uma banda de Metal Extremo... "Hummm, pensei, eu nem gosto dessa barulheira, esses caras gritam demais, parecem cachorros roucos latindo. E esse som, com uma bateria que parece maquina de costura... Sei não..." Mas, decidi dar uma chance. Marquei com o vocalista e guitarrista Dimitri Brandi e no dia e hora marcadas começamos a conversar e a gravar, ainda por Skype... Um tanto arredio no começo, mas cerca de dez minutos de conversa depois, percebendo o alto nível intelectual do meu interlocutor me rendi. O golpe de misericórdia no meu preconceito com o estilo veio quando ele me disse que a letra de "The Humachine", faixa do então recém lançado disco "I Only Behind The Mask", tinha sido inspirada num livro que eu já tinha lido e cujo autor era muito familiar. O livro era "O Diabólico Cérebro Eletrônico", do escritor americano David Gerrold, que entre outras coisas, fora um dos roteiristas da série "Jornada nas Estrelas". A entrevista era para ser de uma hora, dentro de um programa com duração de duas, mas acabou ficando com quase três, e foi ao ar integralmente. E no final, aquela sensação de que éramos amigos de infância. 

Um detalhe, no entanto, foi marcante naquela entrevista, e reputo como essencial nesse histórico que nos carrega até "Olhos Vermelhos": eu sempre torci o nariz (seria outro e meus preconceitos?) a bandas brasileiras cantando em inglês, e sempre que entrevistava alguma soltava a pergunta: "Por que compor e cantar em inglês, não em nosso querido português?" As respostas eram sempre evasivas e sempre me cheiravam como desculpa. E Dimitri me soltou um sonoro "Não sei! Sempre fiz assim". Honestidade é sempre algo bom, né?! Tempos depois, o compositor da Psychotic Eyes me confessaria que ficara matutando sobre meu questionamento durante muito tempo, e que aquela semente estaria germinando.

Bem, a partir dessa entrevista, a relação entre este escriba, metido a agitador, que tinha também criado uma "Editora" artesanal, por onde lançava seus livros, e o vocalista e guitarrista da Psychotic Eyes, que seguia seu caminho de banda de Death Metal se intensificou. Dimitri se encantou com um poema em um dos livros que eu tinha lançado, e que tinha o título de "Guernica", e me pediu para musicar e incluir no repertório da banda, o que, claro, me deixou muito orgulhoso, mas a ideia acabou não se concretizando, pois, tempos depois a banda perdia um de seus integrantes, o baterista Alexandre Tamarossi, o que ocasionaria uma parada.

Em meados de 2013, eu tinha escrito um poema falando sobre psicoses e na hora de colocar o título me veio "Olhos Psicóticos". Claro que daí a traduzir isso para o inglês, associando ao nome da banda foi um passo natural. Naquele ano eu lancei meu livro "O Poeta e Seus Espelhos", que tinha a contracapa da artista gaúcha Nua Estrela, que futuramente seria a autora da arte de capa de "olhos Vermelhos", e onde constava o tal poema. O lançamento teve a presença de Dimitri Brandi, que quando o leu o tal poema se apaixonou e disse que gostaria de musicar. "É claro!" 

Barata Com Psychotic Eyes, Lendo o poema "Olhos Vermelhos", 27/9/2014
Foto Leandro Almeida
Cerca de um ano depois, em 2014, quando, após mais de dez anos sem organizar festivais de Rock, e agora à frente de uma revista, a "Gatos & Alfaces" que lançava uma coletânea em CD, decidi criar um evento que, como sempre fora o mote, reuniria Rock com Poesia. "Rock In Poetry". O primeiro contato que fiz para escolher as bandas participantes foi, claro, com Dimitri. Numa conversa pelo Messenger, ele agradeceu, mas disse que a banda estava sem baterista e tal. E o que se seguiu foi justamente o embrião de um "ser" que demorou, entre a gestação e trabalho de parto durou quatro anos para vir ao mundo: "Olhos Vermelhos". 

De uma brincadeira de "Então faz um show de Death Metal acústico...", acompanhado dos indefectíveis "kkkks", a uma apresentação no tal festival, onde a apresentação foi "limitada" a uma leitura feita por mim do poema, acompanhado por Dimitri e Douglas, originalmente baixista da banda, nos violões, passando por uma série de dificuldades em se fazer "caber" na estrutura do "Death Metal" um par de violões acompanhando o estilo vocal gutural inerente ao gênero, para ficar só nos problemas mais "simples", chega-se ao momento em que um novo estilo musical foi criado.

Quando da apresentação da Psychotic Eyes no "Rock In Poetry", já inúmeros sites da Europa noticiaram e saudaram, reconhecendo que, sim, ali havia algo de pioneiro no mundo. Ninguém tinha feio nada igual. E, com efeito, as quatro faixas de "Olhos Vermelhos", não tenho a menor dúvida, entrarão para a história do Rock (Certo, senhor chato: entrarão para a história do Metal), como o marco inicial de um novo estilo musical. Da mesma forma que "Rock Around The Clock", "Johnny B. Good" e "Born To Wild" - esta referenciada como precursora do "Metal". Claro que todas essas citações são conjecturais e sem consenso, mas servem neste texto apenas como referencias didáticas e de contexto. Eu só não consigo pensar que rótulo colocar nesse estilo novo de música que a Psychotic Eyes está lançando, inaugurando, criando: deixo isso à turma do vidro de maionese, e aos críticos de música, que os adoram.

A audição de "Olhos Vermelhos" é algo que vai do deliciosamente surpreendente, ao surpreendentemente delicioso. Não tem como ser diferente. Demonstrando toda a destreza e deixando claro suas influencias, Dimitri e Douglas, os dois instrumentistas, esbanjam técnica precisa e emoção. A conversa do violão com vocal gutural, coisa que com certeza não agradará aos mais xiitas fãs do gênero soa de forma tão clara que parece que foram feitos um para o outro. Claro que aos ouvidos não acostumados, tanto do lado dos "metaleros", quanto dos puristas da musica popular brasileira, essa conversa vai parecer herética. E até os menos radicais, em primeira mão devem estranhar, e não creio que realmente seja tão fácil compreender uma mistura que parece tão "alienígena". 

Mas é aí que está a "graça", ou seja, é aí que se encontra toda a genialidade desse trabalho, que, se feita justiça histórica, será reconhecido pelas próximas gerações como o agente deflagrador, talvez de um novo "movimento" cultural musical. Não estou bem certo se sequer a própria banda tem a noção exata do que está criando, embora, pelo nível intelectual que reconheço no vocalista Dimitri creio que sim. Podem até não estarem, proposital e intencionalmente criando algo com intuito de ser um, digamos, divisor de águas, e, pelo atual contexto do Rock (tá certo, do Metal) no mundo, pode ser que nada disso aconteça, mas se não acontecer será não por termos em "Olhos Vermelhos" algo menos que genial, será por fatores de importância menor, mas que por vezes interferem no curso natural que as coisas pioneiras, perfeitas, mas fora do padrão, deveriam seguir, que é o de ter um lugar na história. 

Falando um pouco sobre as quatro faixas de "Olhos Vermelhos".
1 - "Olhos Vermelhos": Logo nos primeiros acordes, a dupla de violonistas deixa bem claras suas influências musicais. A introdução, bem ao estilo "Chico Buarque", de quem Dimitri se confessa altamente influenciado, já nos primeiros momentos chega até a lembrar a introdução de "Geni e o Zepelim", mas logo se percebe outras belas influências, como Paco de Luccia, genial guitarrista espanhol de flamenco falecido em 2014. Entre os "diálogos" entre o tom suave do violão e o vocal "rude" alternando-se com momentos em que se tem a impressão que as cordas irão estourar pela "violência" com que são tocadas em contraponto ao tom mais "sutil" da voz, há trechos em que a letra é apenas declamada. No final, algo que, no primeiro momento que escutei a musica meses antes, me causou uma surpresa extremante emocionante e agradável: o poema "original" terminava com "... olhos psicóticos que a mim renegam." Dimitri, acrescentou uma estrofe que tornou o texto algo muito mais emocionante, dramático, ao cantar:"... Olhos psicóticos... não mais enxergam".
2 - "Dying Grief", tanto quanto as três músicas seguintes já tinham sido gravadas pela banda em discos anteriores. Dying Grief originalmente saiu no "I Only Smile Behind The Mask", e a letra fala sobre a dor da separação pela morte de um ente amado, e a dureza aparente do vocal parece mais um grito de dor, de lamento pela perda. Até que num determinado momento, o violão toma a si a interlocução, como se fosse uma palavra de conforto de um amigo. A voz retoma, dura e desesperada, e a musica até o final, prossegue nesse tom, encerrando com a pergunta que todos os seres humanos fazem em momentos assim: "Why is it so deep? / How long this pain will last? / This dying grief / how long will hurt me?" (Por que isso é tão profundo? / Quanto tempo essa dor vai durar? / Essa dor agonizante / quanto tempo vai me machucar?") 
3 - "Hand Of Fate" fazia parte do primeiro disco, autointitulado da banda lançado em 2002, onde tinha uma introdução bem suave, que poderia prenunciar uma balada. Mas apenas a introdução, já que depois a musica seguia os passos do estilo, com velocidade e força. Em "Olhos Vermelhos" é a faixa com a levada mais "lenta" das quatro, e também sua letra fale sobre perdas. Se em "Dying Grief", era uma perda "física", ou seja, de um ser amado, no caso um pai, em "Hand Of Fate" essas perdas se multiplicam, e vão da perda da fé religiosa a da capacidade de sonhar e da esperança, e por fim a mais cruel de todas, que é a perda total da fé na humanidade. Os versos finais: "Just feel the signs / Don't run / If you're scared." (Apenas sinta os sinais, não corra se estiver com medo). Seria isso "a mão do destino"?
4 - "Life" , outra faixa presente em "I Only Smile Behind The Mask" de 2011, a que fecha "Olhos Vermelhos" começa com uma pegada bem lenta, mas vai tomando rumos rítmicos bem diferentes, por horas lembrando flamenco, em outras "Django" Reinhardt, violonista belga de ascendência cigana  que viveu na primeira metade do século XX. Quanto à letra, é outra que também fala em perda, e desta feita, mais especificamente perdas amorosas, e tem um trecho poético simplesmente emocionante: "forgive the memories of our little death" ("perdoe as memórias da nossa pequena morte").

(Neste ponto, fui obrigado a parar, após analisar o conteúdo das letras de "Olhos Vermelhos". Meu primeiro pensamento, foi a conclusão de que três das quatro versavam sobre um único tema "perda", sob suas mais diversas formas, e fiquei imaginando se isso foi algo proposital na escolha das musicas que comporiam as faixas. É certo que no gênero em que a banda é classificada, o Death Metal, as letras possuem temas relacionados com a morte, que afinal seria a perda maior de um ser humano, mas não creio que, até pelo fato de que a Psyhotic Eyes não prima pela rigidez qualificativa, seja esse o motivo. Depois de tentar, e desistir de entender isso, pensei que a exceção a esse mote seria exatamente meu poema, a base da letra da faixa título, estaria fora disso, já que ali eu falo sobre... Falo sobre outra coisa... Ah é?! Não... Até esse exato momento, nunca pensei sobre meu poema como se estivesse falando de perda, mas afinal percebo que de todas as formas de perda que são cantadas nesse disco, falava eu sem sequer perceber, sobre a pior de todas as perdas que se pode, de fato suportar, que é a perda de si próprio, ao se renegar e não enxergando a própria face no espelho.)

Por fim, estamos num tempo de extremismos, de intolerância e falta de perspectivas até mesmo sobre nossa própria continuidade como espécie. Um tempo em que parece que nada mais, importa ou interessa à humanidade, incluindo aí as artes. E em tempos como esses, em que tudo se esvai com rapidez, em que tudo acaba tão rápido como começou, em que parece que nada pode impedir o fim, artistas com capacidade e coragem de criar algo que possa ser considerado novo, sem com isso renegar ou sonegar todas as experiências vividas por si ou por outros, podem ser de importância fundamental, como é o caso do que foi criado por Dimitri Brandi e Douglas Gatuso em "Olhos Vermelhos". Pode ser pouco para muitos, mas é muito para poucos. Aos menos aos poucos que ainda não perderam a capacidade humana, demasiadamente humana, em transformar o caos em uma estrela radiante, quebrando o espelho e olhando para dentro de si próprios, pois é ali, e em nenhum outro lugar, onde brilha essa estrela.
Barata Com Psychotic Eyes, Lendo o poema "Olhos Vermelhos", 27/9/2014
Foto Rhadas Camponato

Encerrando essa despretensiosa resenha sobre "Olhos Vermelhos", que não foi escrita por um crítico especializado, por nenhum jornalista formado, e por nenhum fã exaltado do mais puro Metal, mas por um escritor, que tem no Rock (no Metal também, viu, carimbador maluco!) e na Poesia, as maiores paixões da vida, e que sente um orgulho monstro em fazer parte, através da letra de uma das canções, desse lançamento histórico - e quando uso essa palavra é no contexto correto, uma informação técnica e uma curiosidade: o disco está disponível apenas para download, não existindo forma física, e pode ser, a exemplo de seu antecessor, pelo "Bandcamp" por qualquer valor que o ouvinte queira pagar, desde zero. E como curiosidade, o fato de que tinha outro poema de minha autoria que seria incluído no disco "Memento Mori", que foi inclusive anunciado anteriormente, mas como, segundo Dimitri as gravações não ficaram de acordo com o padrão desejado, acabou ficando para oportunidades futuras.

Barata Cichetto, Araraquara, 15/12/2018, dois dias após o lançamento oficial de "Olhos Vermelhos".

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- Links - 
Nota da Som do Darma Sobre "Olhos Vermelhos": https://www.facebook.com/notes/psychotic-eyes/olhos-vermelhos-o-primeiro-disco-ac%C3%BAstico-de-death-metal-da-hist%C3%B3ria-%C3%A9-lan%C3%A7ado-n/2180531408626414/
Baixar o CD: https://psychoticeyes.bandcamp.com/
Lyric Video de "Olhos Vermelhos"
Matérias Sobre Psychotic Eyes no Blog Rock In Poetry: https://baratacichetto.blogspot.com/search?q=Psychotic+Eyes
Video da Entrevista da Psychotic Eyes, para o programa Partitura, da TV Local de Sorocaba, com minha participação: https://www.youtube.com/watch?v=25RoRzq8Rw4


- - Faixas -
1 - "Olhos Vermelhos"
2 - "Dying Grief"
3 - " Hand Of Fate"
4 -  "Life"

- Músicos -
Dimitri Brandi - Violão e Voz
Douglas Gatuso - Violão e Voz

- Informações Técnicas -
Gravado, mixado e masterizado no estúdio HBC Records em Guarulhos/SP por Humberto Belozupko.
Capa: Nua Estrela

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- Letras - 

Psychotic Eyes
(Olhos Vermelhos)
(Barata Cichetto / Psychotic Eyes)

Olhos, olhos... Procuro pelos meus olhos no espelho
E os encontro sem brilho, encharcados de vermelho
Aos meus olhos encontro, mas nunca em meu rosto
E parece que até o olhar têm medo do meu desgosto.

Olhos, olhos... E dentro de meu olhar busco a mim
Mas apenas a ausência encontro a buscar tal fim
E até meus olhos, que fogem do meu olhar insano
Sabem que dentro de mim existe algo desumano.

Ah, meus olhos! Onde anda seu antigo resplendor
Exibindo o brilho das flores em todo seu esplendor?
Agora os enxergo opacos, solitários e embaçados
O olhar dos loucos, dos poetas e dos desgraçados.

Ah, olhos meus...  Tremo perante os olhares do terror
Mas ao olhar em meus olhos encontro apenas horror
E entendo que são somente eles que me enxergam
Apenas meus olhos psicóticos que a mim renegam.

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Dying Grief
(Psychotic Eyes)

By my side
Your demise
Speak to me
(is it a fantasy?)
before we come apart

Hear my voice
I'm by your side
Speak to me
before the dying grief
comes to break my heart

I wondered what would happen
and thought I could foresee
But nothing could prepare me
to face this pain and its reality

I remember every moment
we shared in the past
the words I hadn't said
Did I fail to try my best?

I remember how
we shared our life
Speak to me
(it's not a fantasy!)
just one more time.

Hear my weep
the tears I cry
Cry with me
Share this dying grief
the end of your life

Why is it so deep?
How long this pain will last?
This dying grief
how long will hurt me?

Oh
it hurts so much

Dear father I have more words to say
But it's time to let you pass away
Oh my brother, we'll share this day
But now I have no words to say
Dear mother I'll let you sleep
Tomorrow we could share the pain
Oh myself, would I heal someday?

I remember how
we shared our life
Speak to me
just one more time.

Hear my weep
the tears I cry
Cry with me
before the end of life

Why is it so deep?
How long this pain will last?
This dying grief
how long will hurt me?

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The Hand Of Fate
(Psychotic Eyes)

I'm living in demise
Forever and ever
In all my memories
We're back together
I'm priest no more
Listen what i said
I don't need any sign
I lost my faith

There is no god

Staying at my house
Surrounded by death
Waiting the world
To be attacked
In visions
I saw nightmares
Come true
Beneath all mankind
What can i do?

No hope
No war

Just trying
To live together
Until
The signs come true
No war
Against your faith
Your signs
Never betrayed

Waiting in my house
To be attacked
Staying in a world
Covered by death
A vision i see
Nighmare came true
Memories of signs
What should i do?

Don't drink the water
Don't breath the air
Just feel the signs
Don't run
If you're scared.

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Life
(Psychotic Eyes)

I felt asleep, remembering a taste in mouth
my neck felt a thrill, impulsed by memories of your breath
The window is closed, the wind is carrying a leaf
but only in my dreams my life can yet be yours

My life without you
This life cannot be true

Writing a letter witch words could be sing
listening a calling, a distant voice, strangely yours
mistreating my feelings retracing a picture that looks like you
turning my back, facing a face that can be yours

My life without you
This life cannot be true

Remembering a life that only made sense when we were one
recovering a life that only make sad by not having anymore
retracing the walk that only fake memories have placed before
a word I think no more, a word swallowed to never be yours


the word "love"
had ever been ours
the word "love"

My life without you
This life cannot be true

Used brushes and many canvas painting your face
a pen seizing a line, choosing rhymes that could be sing
the feelings are dead, did they have been yours?
looking for a melody playing the same chords

since our love has gone
tears ceased to wet the floor
since you are gone

I felt asleep, remembering a kiss, a taste in mouth
The window is closed, the wind never cease to speak
my neck felt a thrill, forgive the memories of our little death
but only in my dreams our life remained one 'till now.

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15/08/2018

Resenha de Disco: "High Level Low Profile" - CA$CH

Resenha de Disco:
"High Level Low Profile"
CA$CH

Ano: 2018
Gravadora: Rock Artisan
Músicos:
Marcello Schevano - Vocais/Guitarra/Teclados
Ricardo Schevano - Baixo
Rolando Castello Jr. - Bateria
Faixas:
High Level
God
Earth Spinning Backwards
Big Paul's Basement
Flesh
 
Houve uma época em que os chamados "power trios" de Rock, mais por intenção de juntar três dos melhores baixistas, guitarristas e bateristas, e possivelmente menos por juntar muita grana, enchiam o mundo do Rock de trabalhos geniais. Assim aconteceu com bandas como Cream, Beck, Boggert & Appice, West, Bruce & Laing e outros históricos e emblemáticos, como a Jimmi Hendrix Experience. Isso foi há muito tempo, quando a maioria dos chamados "rockers" da atualidade sequer tinha nascido. Agora, na segunda década do século XXI, a união de três músicos fora de série não tem mais o mesmo apelo, e quando tem, é por pura questão de mercado.

Acontece que quando a gente conhece um trabalho, como o da "Ca$ch", ótima sacada com os nomes dos integrantes, o batera Rolando Castello Junior, uma autêntica lenda do Rock Latino Americano, que dispensa maiores apresentações, e o multinstrumentista e cantor Marcello Schevano e seu irmão Ricardo Schevano, um baixista absurdamente acima da média, a coisa se torna um pouco mais complicada. Rolando, decerto o maior baterista brasileiro, e influenciou uma verdade legião de bateras Brasil afora (e possivelmente fora dele, mesmo que não reconheçam) e Marcello já tocaram juntos na formação da Patrulha do Espaço que se reuniu em 99 e durou até 2004 e Ricardo é o mestre do ritmo na banda Baranga, desde sua formação, onde toca com outro fera das baquetas, o Paulão, um dos confessos discípulos do mestre Junior.

Por algum motivo, que a banda pode explicar, todas as letras de "High Level Low Profile" são em inglês. Já escutei milhares de explicações sobre as razões pelas quais uma banda formada por brasileiros, no Brasil, compõe em inglês, e nenhuma delas me deixou totalmente satisfeito, mas nesse caso específico, pensei: "dane-se, que isso é Rock'n'Roll, baby!". Então, "let's Rock!". A sonoridade ficou perfeita, e é isso o que, no final, importa.

O disco começa com a batida característica de Rolando, na faixa "High Level", extremamente pesada e rápida, de cujo refrão "High level, low profile", foi tirado o nome do disco. Os solos de guitarra de Marcello ponteiam a musica, que já mostra bem o que iremos encontrar nesse disco.

A segunda faixa do disco, "God", começa com um teclado dando a impressão que estaremos à beira de uma canção daquelas características com Rock Progressivo setentista, mas depois de poucos minutos, a coisa começa a mudar, e o que parecia ser, simplesmente não é. A pegada se torna mais forte e mais pesada, com o baixo do Ricardo se destacando soberbamente. O ritmo vai ficando cada vez mais rápido e mais tenso, com a letra sendo quase urrada pelo vocalista. Difícil não lembrar de Black Sabbath nas suas seções mais pesadas. Entretanto, o desenrolar dessa faixa, de mais de nove minutos, reserva muitas surpresas. Todas elas maravilhosas. Quando a quebradeira parece ir até o final, com a guitarra solando sobre um ritmo alucinante, entra um piano ponteando um vocal em tom quase suplicante. E ai vem o ponto alto, com o teclado voando sobre uma cama rítmica feroz e densa, que faz a gente prender a respiração, só esperando o êxtase.

Depois disso, só a gente dando uma parada, né?! Respirar um pouco, beber uma água, um café, uma cerveja, qualquer coisa assim. Levantei com o intuito de respirar, mas aí acabou a energia elétrica do bairro. Acho que nem a hidrelétrica da região aguentou tanta energia.

Meia hora depois, retomo a audição, que, aliás, é a quarta ou quinta de hoje, poucas horas depois de ser chamado pelo carteiro ao portão com o pacote contendo esse disco. "Earth Spinning Backwards" é quase uma balada, que lembrou bem as músicas da formação de 1999, que além de Rolando e Marcello, tinham ainda outros dois músicos excepcionais, o baixista Luiz Domingues e o guitarrista Rodrigo Hid. Formação essa que pude acompanhar bem de perto, durante cerca de três anos, pelas estradas e palcos do Brasil.

A quarta faixa, "Big Paul's Basement", é um Rock bem básico, embora tanto pesadinho, e a letra faz referência, com certeza a certo porão do Paulão, uma referência que decerto os músicos de Rock de São Paulo, e os fãs mais aficcionados irão entender. Uma faixa sem grandes novidades, nem virtuosismos, mas competente e, enfim, como diz o refrão: "always rock'n'roll in Big Paul's Basement".

A quinta e última faixa desse disco, que além de me tirar o fôlego, fez cair a energia elétrica na cidade é: "Flesh", que já na primeira audição se tornou a minha predileta do disco. A coesão entre os músicos, o ritmo preciso entre os instrumentos e o amálgama com a letra, tornam essa música, em minha opinião, um clássico do Rock pesado. Uma levada que lembra em alguns momentos Uriah Heep, em outras Grand Funk Railroad, e inúmeras bandas de Rock Progressivo. O trecho onde há um solo de teclado, sobre a base rítmica é esplêndido e remete aos bons tempos do Prog Italiano. Uma preciosidade que merece ser escutada centenas, milhares de vezes.

O disco foi lançado recentemente, dia 6 de Agosto, data em que se lembra da explosão da bomba atômica sobre Hiroshima. E fico pensando sobre o fato de que os sujeitos que criaram o Rock, ou ao menos os que fizeram dele o que se tornou a maior expressão cultural e artística, no sentido de popularidade, do mundo. Então, uma data como essa, não poderia ser mais bem escolhida para o lançamento desse disco. Espero apenas que aconteçam apresentações ao vivo dessa banda, e que venham muitos outros discos.

A ressalva, na minha nota de avaliação fica por conta do "quero mais", ou seja, apenas cinco faixas? A gente queria no mínimo dez. Fora isso, estou certo de que o público roqueiro, especialmente os fãs de uma música mais elaborada e feita com profissionalismo irão simplesmente ficar apaixonados. Esperemos que, ao contrário do que sempre acontece, prestigiem, comprando o disco e indo aos shows.

Escrito por Barata Cichetto, um admirador do trabalho e um amigo de longa data do genial Rolando Castello Junior, e desses irmãos prodígios, Marcello e Ricardo, sobre um exemplar ofertado pelo amigo, em Araraquara, Morada do Sol, em 15 de Agosto de 2018.


Read more: http://abarata.com.br/musica_reviews_detalhe.asp?codigo=1153#ixzz5OHTaJKTq

11/04/2018

Os Dez Melhores Discos de Cada Década


Os Dez Melhores Discos de ROCK DE CADA DÉCADA
Luiz Carlos Barata Cichetto
Especial Para o Jukebox
2013


Década de 50

Introdução:

É creditado ao disc-jockey Alan Freed a criação do termo “Rock and Roll” ainda em 1951, quando começou a tocar um tipo “multirracial de música” misturando diferentes estilos musicais da época. Há quem afirme, entretanto, que o “gênero” nasceu ainda no final dos anos 1949. Há muitas divergências sobre a época correta, e até mesmo quais seria os estilos que foram miscigenados e deram origem ao ROCK. É certo que, em maiores ou menores doses, o Jazz, o Blues, o Country  transaram entre si para que fosse gerada essa criança.

Há também dúvidas também sobre qual deva ser considerada a primeira gravação, mas a maior parte dos estudiosos  parece concordar que é "Rocket 88", de Jackie Brenston e os Delta Cats, lançada pela Sun.  Quatro anos depois, em 1955, "Rock Around the Clock" de Bill Haley veio a se tornar a primeira canção de Rock and Roll a chegar ao topo da parada

A proposta desta série de artigos do Jukebox, foi a de escolher dez discos de cada década do ROCK, aqueles que, na visão pessoal de cada um de nós seriam os representativos da década. Os critérios, obviamente, são pessoais e não há nestas listas nenhum tipo de fator objetivo, como o disco que vendeu mais, ou o disco mais perfeito tecnicamente. É pessoal, mas pode ser facilmente transferível? Discutível? Desde que dentro do terreno do respeito à opinião particular.

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1 -Bill Haley (and His Comets) - Shake, Rattle and Roll
(1955)
Gravadora: CD Horizon
A1 - Shake, Rattle and Roll  02:32
A2 - A.B.C. Boogie 02:30
A3 - (We're Gonna) Rock Around the Clock 02:30
A4 - Thirteen Women (And Only One Man in Town) 02:55
B1 - Dim, Dim the Lights (I Want Some Atmosphere) 02:33
B2 - Happy Baby 02:37
B3 - Birth of the Boogie 02:17
B4 - Mambo Rock 02:39

Considerado o primeiro disco a ir ao topo das paradas trazendo um tal de Rock and Roll, na verdade esse disco é considerado o marco zero do Rock.  A explosão de “Rock Around The Clock” se deveu particularmente ao fato de ser parte da trilha sonora do filme Blackboard Jungle (Sementes da Violência), de Richard Brooks, que tratava sobre violência juvenil. Portanto, pela sua importância histórica, esse disco não poderia ficar de fora.

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2 - Carl Perkins - Whole Lotta Shakin'
(1958)
Lançamento: 03-11-1958
Gravadora: Columbia
A1 - Whole Lotta Shakin' Goin' On -  - 02:56
A2 - Tutti-Frutti -  - 02:02
A3 - Shake, Rattle and Roll -  - 03:24
A4 - Sittin' on Top of the World -  - 02:06
A5 - Ready Teddy -  - 02:00
A6 - Long Tall Sally -  - 02:55
B1 - That's All Right -  - 03:26
B2 - Where the Rio de Rosa Flows -  - 03:02
B3 - Good Rockin' Tonight -  - 02:19
B4 - I Got a Woman -  - 03:10
B5 - Hey, Good Lookin' -  - 02:40
B6 - Jenny, Jenny - 02:08

Carl Perkins era de família muito pobre e em 1956,  compôs  a música "Blue Suede Shoes". Produzida por Sam Phillips, a canção venderia milhões de cópias, mas quando ainda  no auge da fama da música, se envolveu num acidente de carro gravíssimo. E enquanto se recuperava, o então quase desconhecido Elvis Presley lançou sua própria versão da música, que se transformou em estrondoso sucesso. Esse fato ofuscou para sempre a carreira de Perkins. Esse disco, entretanto traz as canções que seriam as mais emblemáticas da história do Rock e durante muitas décadas seriam exaustivamente gravadas e tocadas pela maior parte dos artistas do ROCK.


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3 - Buddy Holly  - The "Chirping" Crickets)
(1957)
A1 - "Oh, Boy!" (Sonny West, Bill Tilghman, Norman Petty) – 2:07
A2 - "Not Fade Away" (Buddy Holly, Petty) – 2:21
A3 - "You've Got Love" (Roy Orbison, Johnny Wilson, Petty) – 2:05
A4 - "Maybe Baby" (Holly, Petty) – 2:01
A5 - "It's Too Late" (Chuck Willis) – 2:22
A6 - "Tell Me How" (Holly, Jerry Allison, Petty) – 1:58
B1 - "That'll Be the Day" (Holly, Allison, Petty) – 2:14 (May 27, 1957 Brunswick version)
B2 - "I'm Looking for Someone to Love" (Holly, Petty) – 1:56
B3 - "An Empty Cup (And a Broken Date)" (Orbison, Petty) – 2:11
B4 - "Send Me Some Lovin'" (John Marascalco, Leo Price) – 2:33
B5 - "Last Night" (Joe B. Mauldin, Petty) – 1:53
B6 - "Rock Me My Baby" (Shorty Long, Susan Heather) – 1:47

Álbum de estréia e único disco gravado Buddy Holly, acompanhado da banda The Crickets. Com certeza Buddy Holly é uma das maiores referências na história do Rock, mesmo que sua curta carreira tenha durado apenas pouco mais de um ano, encerrada em um acidente aéreo em 1959, conhecido como "O Dia em que a Música Morreu", no qual morreu também o cantor Ritchie Valens. De uma simplicidade extrema, esse disco demonstra o talento de cantor e exímio guitarrista de Holly, e é reconhecido abertamente com influência fundamental bandas e artistas como The Beatles, The Rolling Stones, Eric Clapton,  Bob Dylan e Don McLean, por exemplo.

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4 - Jerry Lee Lewis - Jerry Lee Lewis
[1958]
A1 - Don't Be Cruel  2:00
A2 - Goodnight Irene  2:52
A3 - Put Me Down  2:06
A4 - It All Depends  2:57
A5 - Ubangi Stomp  1:44
A6 - Crazy Arms  2:41
B1 - Jambalaya  1:57
B2 - Fools Like Me  2:48
B3 - High School Confidential  2:27
B4 - When the Saints Go Marching In  2:06
B5 - Matchbox  1:40
B6 - It'll Be Me  2:12

Disco de estréia de Jerry Lee Lewis, lançado através da Sun Records em 1958. Uma curiosa mistura de estilos variados, desde as totalmente “Country” como "It All Depends" e "Fools Like Me", até as totalmente roqueiras como "Put Me Down", "Matchbox", "Don't Be Cruel" e "High School Confidential", entremeado por baladas e até mesmo canções Gospel. Nesse disco, Jerry Lee já exibe a marca que o consagraria: o jeito de cantar o característico piano “martelado”. Um disco essencial aos interessados pela história do Rock.

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5 - Chuck Berry - After School Session
(1957)
Gravadora: Chess
A1 - School Day (Ring Ring Goes the Bell)  2:42
A2 - Deep Feeling  2:19
A3 - Too Much Monkey Business  2:55
A4 - Wee Wee Hours  3:04
A5 - Roly Poly  2:50
A6 - No Money Down  2:58
B1 - Brown Eyed Handsome Man  2:17
B2 - Berry Pickin'  2:31
B3 - Together We Will Always Be  2:36
B4 - Havana Moon  3:07
B5 - Down Bound Train  2:50
B6 - Drifting Heart  2:46

Muita gente, incluindo eu mesmo, referencia o nome de Chuck Berry como o inventor do Rock and Roll. Claro que, em função do gênero ser  uma mistura explosiva de ritmos, e principalmente por ser o produto de um contexto de época, do pós-guerra nos EUA. Mas que ele é um dos pioneiros no estilo, não por ter "inventado a mistura", mas por tê-la feito funcionar. Unanimemente considerado um dos maiores guitarristas de todos os tempos, Berry imprimiu ao Rock uma marca própria, característica, que sobrevive, mesmo que nas entrelinhas, até os dias correntes.
"After School Session" é o primeiro álbum de estúdio de Chuck Berry, lançado em maio de 1957 pela Chess Records, gravadora que lançou quase que todos os discos dele. A canção "Roll Over Beethoven",  lançada como compacto simples anteriormente, um dos maiores sucessos e regravada por vários outros artistas, inclusive The Beatles, curiosamente não foi incluída nesse disco.

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6 – Gene Vincent – Gene Vincent & The Blues Caps
(1957)
Gravadora: Capitol

A1 - Red Blue Jeans and a Ponytail  02:15
A2 - Hold Me, Hug Me, Rock Me  02:15
A3 - Unchained Melody  02:38
A4 - You Told a Fib  02:21
A5 - Catman  02:18
A6 - You Better Believe  02:01
B1 - Cruisin'  02:13
B2 - Double Talkin' Baby  02:12
B3 - Blues Stay Away from Me  02:16
B4 - Pink Thunderbird  02:32
B5 - I Sure Miss You  02:38
B6 - Pretty Pretty Baby  02:27

Segundo álbum de Gene Vincent. Uma experiência inusitada para a época em que foi lançado: as guitarras e os vocais de apoio estão na parte traseira e apenas a voz de Gene firme na frente, a maior parte do tempo. Neste disco, como no anterior, o ritmo e a técnica impostos por Gene é algo impressionante. Energia pura. Decerto o vocal de Gene Vincent influenciou muita gente. A curiosidade desse disco, fica por conta da gravação de "Unchained Melody", que muito tempo depois encheria o coração (e o saco) de muita gente, como trilha sonora do filme "Ghost", na versão da dupla The Righteous Brothers. Gene Vincent pode não ser apontado como o melhor vocalista de Rock de todos os tempos, mas decerto será sempre considerado como um dos mais furiosos. Este disco é um registro enérgico e selvagem de uma época, exemplo da diversidade e sonoridade inerentes ao ROCK.
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7 - Johnny Burnette and the Rock 'n Roll Trio - Johnny Burnette and the Rock 'n Roll Trio
(1956)
Gravadora: Coral Records
A1 - Honey Hush -  
A2 - Lonesome Train -  
A3 - Sweet Love on My Mind -  
A4 - Rock Billy Boogie -  
A5 - Lonesome Tears in My Eyes -  
A6 - All by Myself -  
B1 - The Train Kept A Rollin -  
B2 - I Just Found Out -  
B3 - Your Baby Blue Eyes -  
B4 - Chains of Love -  
B5 - I Love You So -  
B6 - Drinkin' Wine, Spo-Dee-O-Dee, Drinkin' Wine

"Johnny Burnette and the Rock 'n Roll Trio" é o álbum de estréia do trio homônimo, lançado em dezembro de 1956. O disco é na verdade uma coletânea de compactos lançados anteriormente pela banda, formada por Johnny Burnette, seu irmão Dorsey Burnette e um amigo, Paul Burlison, no começo dos anos 50. Alguns estudiosos os creditam como criadores da palavra "Rockabilly". Esse disco tem um valor histórico inestimável: um vocalista berrando enlouquecido, com um som simples que lembra Elvis, mas ao mesmo tempo uma das coisas mais  nervosas que se tinha escutado na época. Outro fato faz desse disco um dos mais importantes da história do Rock: na gravação da faixa "The Train Kept A Rollin'" pode ser escutado um solo de distorção de guitarra. Segundo se sabe, o efeito foi um acidente, quando uma válvula do amplificador do guitarrista Paul Burlison se soltou durante o transporte para o estúdio. A partir daí, Burlison intencionalmente o repetiu em outros desempenhos. Essa música foi regravada com pelo The Yardbirds nos anos 60 e pelo Aerosmith nos anos 70.  Já "Honey Hush", outra faixa desse discaço foi regravada pela banda Foghat nos anos setenta. Johnny Burnette and the Rock 'n Roll Trio" é um disco essencial em qualquer discografia de Rock!

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8 -Johnny Cash - Johnny Cash With His Hot and Blue Guitar!
(1957)
Gravadora: Sun Records
A1 - The Rock Island Line  2:08
A2 - I Heard That Lonesome Whistle  2:21
A3 - Country Boy  1:48
A4 - If the Good Lord's Willing  1:37
A5 - Cry, Cry, Cry  2:25
A6 - Remember Me  1:56
B1 - So Doggone Lonesome  2:33
B2 - I Was There When It Happened  2:13
B3 - I Walk the Line  2:42
B4 - The Wreck of the Old '97  1:42
B5 - Folsom Prison Blues  2:47
B6 - Doin' My Time  2:33

"Johnny Cash with His Hot and Blue Guitar", álbum de estreia do cantor Johnny Cash foi lançado em 1957 pela Sun Records. O disco contém quatro faixas que tinham sido lançadas anteriormente em compacto e tinham feito enorme sucesso comercial. Conhecido como "O Homem da Camisa Preta", ou o "Homem de Preto", Johnny Cash foi conterrâneo e contemporâneo de Elvis Presley. Com sua voz extremamente grave, entoando uma mistura de Country com Rockabilly, Johnny Cash foi o precursor, o pioneiro de muitas coisas dentro do Rock, como o uso de preto, algo que chocou muitas pessoas na época e o fato de ter sido o primeiro a fazer um show dentro de um presídio. Canções como "I Walk The Line" e "Folsom Prison Blues" são as mais representativas da carreira de cerca de cinquenta anos de Cash. De fato, a carreira dele, pelo ponto de vista comercial só não foi melhor sucedida em função de suas relações amorosas e por ter sido ofuscada ou preterido em favor de Elvis. Em termos musicais, esse disco talvez não esteja a altura de figurar numa lista que contempla os dez melhores da década, mas foi relacionado por ser o disco que marca a estréia de Johnny Cash, sendo portanto uma questão de justiça.

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9 -Little Richard - Here's Little Richard
(1957)
Gravadora: Specialty Records
A1 - Tutti Frutti  2:24
A2 - True Fine Mama  2:41
A3 - Can't Believe You Wanna Leave  2:23
A4 - Ready Teddy  2:07
A5 - Baby  2:03
A6 - Slippin' and Slidin'  2:38
B1 -  Long Tall Sally  2:07
B2 -  Miss Ann  2:15
B3 -  Oh Why?  2:06
B4 -  Rip It Up  2:22
B5 -  Jenny Jenny  2:00
B6 -  She's Got It  2:25

“Here's Little Richard“ é o primeiro disco de Richard Wayne Penniman, conhecido por Little Richard, lançado pela Specialty Records em março de 1957. No ano anterior, Richard tinha colocado seis musicas entre as “Top 40”. O álbum tem as gravações de alguns dos maiores clássicos da história do ROCK como "Long Tall Sally", "Tutti Frutti" , "Lucille", "Keep A Knockin" (cuja introdução de bateria o Led Zeppelin copiou na música "Rock & Roll"). Little Richard cresceu ouvindo cantores de gospel e isto influenciou sobremaneira seu modo de cantar. Na adolescência aprendeu a tocar piano e se tornaria um dos pioneiros do Rock criando um estilo único com sua música agressiva, vibrante e intensa, tocada freneticamente ao piano. Esse disco, outra das pedras fundamentais do Rock, aliado a figura excêntrica, bissexual, frenética de Little Richard decerto transformou o estilo, sendo que a partir desse disco e seu criador, os caminhos para a loucura plena, as performances escandalosas e a dança erotizada estavam abertos.

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10 - Screamin' Jay Hawkins - I Put a Spell on You
(1958)
Gravadora: Okeh/Epic
A1 - You Made Me Love You -   1:59
A2 - I Put a Spell on You  2:24
A3 - Alligator Wine  3:01
A4 - Little Demon  2:21
A5 - There's Something Wrong With You  2:18
A6 - Orange-Colored Sky  2:49
B1 - Yellow Coat  2:23
B2 - (Take Me Back to My) Boots and Saddle  2:39
B3 - Hong Kong  2:18
B4 - Person to Person  2:06
B5 - Frenzy  2:09
B6 - I Love Paris  2:21

"I Put a Spell on You" é o primeiro álbum da carreira de Screamin' Jay Hawkins. Uma mistura de Rhythm & Blues e Rock & Roll e.. culto vudu haitiano. A música título é considerada entre as que moldaram o estilo do ROCK, tendo sido regravada ao longo dos tempos por centenas de artistas. Originalmente composta como uma balada, "I Put a Spell on You" já na gravação, toda a banda estava sob o o efeito de substâncias alucinógenas e Hawkins gritou, grunhiu e murmurou pela música inteira, tendo como resultado algo rústico e gutural.  No entanto, depois de reclamações que a musica continha conteúdo de apelo sexual, a gravadora lançou outra versão, sem grunhidos e gemidos, o que não impediu que a musica fosse banida das rádios em algumas regiões. No palco,  Hawkins criou um personagem que se apresentava com roupas douradas e pele de leopardo, além de acessórios voodoo, como um crânio cravado em uma vara e cobras de borracha. O fato é que, esse disco e todo que o envolve, acabou fazendo escola. Aquela coisa de se dizer: será que existiria King Diamond se não tivesse existido Screamin' Jay Hawkins? E pergunto: por que, depois de ter feito tudo isso, de ter provocado e ousado tanto ele é praticamente um desconhecido, tendo vivido quase no anonimato até o fim da vida? Seus 55 filhos sabem a resposta?

5/12/2013


Década de 60


Se os anos cinquenta foram o baldrame, o alicerce, com o concreto, formado pelo amálgama de Rithm'n'Blues, Jazz, Country  sendo jogado no solo formando de fato as bases sólidas do Rock, os sessenta foram sem dúvida alguma os pilares de sustentação de toda essa estrutura. A partir logo dos primeiros anos, com o surgimento das bandas mais importantes como The Beatles, Rolling Stones, The Who, essa década viu ainda nascer todos os maiores estandartes do gênero, como Led Zeppelin, Deep Purple, Yes, Pink Floyd, etc., etc..

Muitas pessoas que tem acompanhado a lista que eu e Dum de Lucca estamos publicado no Jukebox afirmam que o maior problema que teríamos ao elaborar a lista referente aos melhores discos (EM NOSSA OPINIÃO) seria com relação aos anos setenta, pelo numero de discos "clássicos". Mas garanto que se, nos lançamentos não estão tais lançamentos, ao menos não os discos que até hoje estão nas "paradas", estão nessa década todos os primeiros lançamentos das bandas mais emblemáticas do Rock.

E se na década de cinquenta, foram poucos, porque o Rock ainda se debatia feito um bebê ainda na maternidade, na seguinte ele era uma criança, rebelde, precoce, experimentando tudo o que é novo - e tudo é novo para uma criança. Essa criança começou a testar de tudo, testar os limites do mundo, se alimentar de coisas sólidas e ricas, misturar segredos, sensações, regras e normas. Deixou a maternidade americana do norte e se bandeou para o outro lado do oceano, para as terras da rainha e lá, criança peralta correu livre.
Por outro lado, a década de sessenta viu acontecerem os festivais, enormes, gigantescos, cheios de sonhos. Foi nessa década que  aconteceram os festivais Monterey Pop, Ilha de Wright e Woodstock. E foi ela que viu nascer e morrer crianças prodígios como Janis Joplin, Hendrix e The Beatles e dentro de um contexto histórico mais amplo, o Rock passou a ter um papel fundamental como contraponto à guerra do Vietnã, que assustava mais uma vez o mundo. O papel social do Rock, digamos assim, estava declarado e as mudanças em todos os níveis foram estabelecidas. Moda, costumes, pensamento, experiências mentais, rompimento de padrões... Tudo isso passou a ter outras formas, normas e condutas a partir dali.

Trabalho duro, então, teremos pela frente agora, em escolher dez discos dessa década...

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1 - The Rolling Stones  - 12 X 5
Lançamento: 17/10/1964
Gravadora: London

FAIXAS
A1- Around and Around - 3:00
A2 - Confessin' the Blues - 2:45
A3 - Empty Heart - 2:35
A4 -  Time Is on My Side - 2:50
A5 -  Good Times, Bad Times - 2:28
A6 -  It's All Over Now - 3:20
B1 -  2120 South Michigan Avenue - 2:08
B2 -  Under the Boardwalk - 2:45
B3 -  Congradulations - 2:25
B4 -  Grown Up Wrong - 2:04
B5 -  If You Need Me - 2:00
B6 -  Susie Q - 1:59

The Rolling Stones foi formada em Julho de 1962, e é uma das bandas mais antigas ainda em atividade. 12 X 5 é o segundo álbum da banda e foi lançado em 1964 na esteira do enorme sucesso de sua estréia "The Rolling Stones" no Reino Unido. Nos EUA foi lançado com o nome de "England's Newest Hit Makers". O álbum tem um repertório calcado em covers de clássicos do Rythm and blues americano, foi o trampolim da turnê americana, sucedendo-se à  dos Beatles na conhecida como Invasão Britânica Contém quatro composições da ainda principiante dupla Mick Jagger / Keith Richards. O título vem de 12 músicas por cinco músicos.

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2 -  The Kinks - Kinks
Lançamento: 02/10/1964
Gravadora: Pye (UK), Reprise (USA)

FAIXAS
A1 - Beautiful Delilah  2:07
A2 - So Mystifying  2:53
A3 - Just Can't Go to Sleep  1:58
A4 - Long Tall Shorty   2:50
A5 - I Took My Baby Home  1:48
A6 - I'm a Lover Not a Fighter  2:03
A7 - You Really Got Me  2:13
B1 - Cadillac   2:44
B2 - Bald Headed Woman  2:41
B3 - Revenge  1:29
B4 - Too Much Monkey Business  2:16
B5 - I've Been Driving on Bald Mountain  2:01
B6 - Stop Your Sobbing  2:06
B7 - Got Love If You Want It  3:46

Lançado duas semanas antes de "12 X5" dos Rolling Stones, "Kinks", que foi ançado nos EUA como You Really Got Me, é o o álbum de estréia da bandas. Sem o mesmo brilhantismo dos discos posteriores  "Something Else by The Kinks", "The Kinks Are the Village Green Preservation Society" e "Arthur or the Decline and Fall of the British Empire", por exemplo, é um disco com a cara dos anos 60, sem muita produção ou invenção e é considerado um dos simbolos da tal Invasao Britânica. Algumas regravações, como "Beautiful Delilah", de Chuck Berry e "Cadillac" de Bo Didley e a maior parte do repertório de composião dos irmãos Davies, Ray e Dave, como um dos maiores clássicos da banda,  "You Really Got Me" . Segundo contou Dave Davies contou mais tarde, o som da guitarra, distorcido mais do que o normal, não foi casual: ele furou o alto-falante com um lápis e espetou algumas agulhas de costura, com a intenção de conseguir uma sonoridade única que nenhum guitarrista conseguia reproduzir na época. Outro destaque do disco é a instrumental "Revenge".

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3 – The Sonic – Here Are The Sonics!!!
Lançamento: 03/1965
Gravadora: Etiquette Records

FAIXAS
A1 - The Witch  2:37
A2 - Do You Love Me  2:16
A3 - Roll Over Beethoven  2:47
A4 - Boss Hoss  2:22
A5 - Dirty Robber  2:01
A6 - Have Love Will Travel  2:38
B1 - Psycho  2:14
B2 - Money  1:58
B3 - Walkin' the Dog -   2:40
B4 - Nighttime Is the Right Time  2:57
B5 - Strychnine  2:13
B6 - Good Golly Miss Molly  2:05

A banda The Sonics foi formada em 1962, mas sua estréia, com “Here Are The Sonics!!!” só aconteceu em 1965. Embora a década tenha sido dominada pelo som de bandas como Beatles, Stones e The Who, e pela psicodelia, e os hippies com sua filosofia de “Paz e Amor” , surgiram nessa época bandas que atualmente são denominadas como  “Garage Rock”, que faziam um rock direto, cru e  muito agressivo,  que não compactuavam com essa filosofia. A imensa maioria dessas bandas permanceu desconhecida, se mantendo no “undergroud”,  mas influenciando sobremaneira o surgimento do Punk anos mais tarde. A base principal eram o Blues e o Rockabilly.

Dessas bandas, uma das mais importantes decerto foi The Sonics, a que mais ousou, sujando propositamente o som, estourando caixas, usavam guitarras em volume altíssimo e se faziam soa agressivos, sobretudo com a quase ausência de teclados e uma bateria ensurdecedor, soando como um canhão de guerra.  Releituras de compositores já clássicos como Chuck Berry, Little Richard e Ray Charles eram desvirtuadas, transformadas, arregaçadas. As musicas ganhavam mais peso, aceleração, com a versão de "Good Golly Miss Molly", totalmente selvagem e  "Night Time Is the Right Time" de Ray Charles, que  ganha vocais berrados e arranhados. e mesmo nas composições próprias, como "The Witch" e "Psycho", o The Sonics impõe um ritmo forte,  com guitarras ruidosas e vocais violentos e em alguns casos, um saxofone totalmente ensandecido..

E é por essas e outras que considero “Here Are The Sonics!!!” um dos lançamentos mais importantes da década, essencial para a compreensão do que aconteceu no Rock nas décadas seguintes, em movimentos como o Punk e o Grunge.


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4 -  THE 13TH FLOOR ELEVATORS - THE PSYCHEDELIC SOUNDS OF THE 13TH FLOOR ELEVATORS
Lançamento: 17/10/1966
Gravadora: International Artists

FAIXAS
A1 - You're Gonna Miss Me - 2:24
A2 - Roller Coaster - 5:00
A3 - Splash 1 (Now I'm Home) - 3:50
A4 - Reverberation (Doubt) - 2:46
A5 - Don't Fall Down - 3:00
B1 -  Fire Engine - 3:22
B2 -  Thru the Rhythm - 3:05
B3 -  You Don't Know (How Young You Are) - 2:38
B4 -  Kingdom of Heaven - 3:05
B5 -  Monkey Island - 2:38
B6 -  Tried to Hide - 2:43

A 13th Floor Elevators,durou menos de quarto anos e lançou quarto discos, sendo um ao vivo. “The Psychedelic Sounds of the 13th Floor Elevators” é seu álbum de estréia da banda e foi lançado em 17 de outubro de 1966.  A banda foi formada pelo guitarrista excêntrico Roky Erickson e pelo o estudante de psicologia Tommy Hall com seu “Jarro Amplificado”, em 1965 e terminou em 1968. Foi uma das mais influentes bandas da época, com uma mistura de elementos como folk, garage, blues e psicodelia. Um jarro amplificado era um instrumento de destaque na banda.  Podemos afirmar sem exagero, que o disco foi o precursor do acid rock. A criatividade de Roky, posteriormente afetado por esquizofrenia é impressionante, demonstrada em faixas como  “Reverberation”, “Roller Coaster”, “Tried to Hide”, fascinantes e hipnóticas, embora, numa primeira audição, talvez não agrade os ouvidos menos atentos e abertos. A capa com clara referência a efeitos de drogas e os textos no encarte do disco causaram problemas com as autoridades americanas, que prenderam os integrantes do grupo.  O discoé citado como o primeiro a usar no título o termo  "psicodélico", como referência referindo ao tipo de música contida do disco.

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5 - CREAM - DISRAELI GEARS [1967]
Lançamento: 02/11/1967 (Reino Unido), 09/12/1967 (Estados Unidos)
Gravadora: Reaction (Reino Unido), Atco (Estados Unidos)

FAIXAS
A1 - Strange Brew  2:49
A2 - Sunshine of Your Love  4:12
A3 - World of Pain  3:05
A5 - Blue Condition  3:32
B1 - Tales of Brave Ulysses  2:49
B2 - Swlabr  2:34
B3 - We're Going Wrong  3:29
B4 - Outside Woman Blues  2:27
B5 - Take It Back  3:08
B6 - Mother's Lament  2:01

Disraeli Gears é o segundo álbum da banda inglesa Cream. Muitos críticos são de opinião de que a banda, formada por três dos melhores músicos de Rock da época: Eric Clapton, Ginger Baker e Jack Bruce, tenha sido um dos maiores expoentes do Rock Pesado daquela época. Para compreender o que isso significa, precisamos entender o contexto histórico e a disponibilidade técnica da época.  E isso pode ser percebido claramente no disco de estréia, embora para esse segundo álbum o Cream tenha adicionado elementos de psicodelia ao seu som. E é isso que faz desse um disco espetacular. A força inerente à banda é filtrada e refinada com elementos psicodélicos. O título do álbum é baseado em uma piada interna da banda, sobre bicicletas e o nome do primeiro-ministro britânico Benjamin Disraeli.  "Sunshine Of Your Love" e “Swlabr” tornaram-se clássicos absolutos.

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6 - PINK FLOYD - THE PIPER AT THE GATES OF DAWN
Lançamento: 05/08/1967
Gravadora: Columbia/EMI (RU), Tower/Capitol (Estados Unidos)

FAIXAS
A1 - Astronomy Domine - 4:12
A2 - Lucifer Sam - 3:07
A3 - Matilda Mother  3:08
A4 - Flaming - - 2:46
A5 - Pow R. Toc H. - 4:26
A6 - Take Up Thy Stethoscope and Walk - 3:05
B1 - Interstellar Overdrive - 9:41
B2 - The Gnome - 2:13
B3 - Chapter 24 - 3:42
B4 - Scarecrow -2:11
B5 - Bike - 3:21

“The Piper at the Gates of Dawn” é o álbum de estréia da banda britânica Pink Floyd e o único feito sob a liderança de Syd Barrett. As faixas, predominantemente escritas por Barrett, são inteiramente surreais,  fazendo referência ao folclore, como em "The Gnome", e letras poéticas, numa mistura eclética de música, desde vanguardista, "Interstellar Overdrive", até canções assobiáveis como "The Scarecrow", que é inspirada nas Fenlands, região rural ao norte de Cambridge, cidade de Barrett, Waters e Gilmour. O disco vai ao limite no uso de novas tecnologias, como o constante de espaçamento no estéreo, edição de fita, efeitos de eco e teclados.  Um fato interessante sobre esse disco é que ele foi gravado simultaneamente ao aclamado Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band dos Beatles, no estúdio da Abbey Road, e os integrantes das bandas frequentemente se encontravam no corredor e conversavam sobre influencias musicais. O título do álbum é baseado no conto infantil O Vento nos Salgueiros, de Kenneth Grahame, onde o Rato e a Toupeira, enquanto procuram um animal perdido, têm uma experiência religiosa.  Um disco que estará sempre em qualquer lista de qualquer época. Atemporal, seminal. Clássico. Eterno!

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7 - The Beach Boys - Pet Sounds
Lançamento: 16 de maio de 1966
Gravadora: Capitol

FAIXAS:
A1 - "Wouldn't It Be Nice"  – 2:22
A2 - "You Still Believe In Me" – 2:30
A3 - "That's Not Me" – 2:27
A4 - "Don't Talk (Put Your Head On My Shoulder)" – 2:51
A5 - "I'm Waiting For The Day" – 3:03
A6 - "Let's Go Away for Awhile" (Wilson) – 2:18
A7 - "Sloop John B" – 2:56
B1 - "God Only Knows" – 2:49
B2 - "I Know There's An Answer"  – 3:08
B3 - "Here Today" – 2:52
B4 - "I Just Wasn't Made For These Times" – 3:11
B5 -"Pet Sounds" (Wilson)– 2:20
B6 -"Caroline, No" – 2:52

A maioria das pessoas conhece The  Beach Boys como uma banda de Surf Music, com aquelas baladas instrumentais de filmes sobre praia. Mas essa banda, formada nos Estados Unidos bem no inicio dos anos 1960 foi, antes mesmo dos ingleses do The Beatles e Pink Floyd, a precursora da vanguarda do Rock, utilizando-se de novas tecnologia e da inclusão de instrumentos estranhos ao universo do Rock, como sinos de bicicleta, órgãos, cravos, flautas, teremim, e apitos para cães, junto com instrumentos mais comuns. “The Pet Sounds” é considerado dos primeiros álbuns de Art Rock, ou seja, rock em forma de arte no sentido adjetivo da palavra. Mais de setenta músicos participaram desse disco.

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8 -  The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
Lançamento: 01/06/1967
Gravadora:  Parlophone (GB) / Capitol (Estados Unidos)

FAIXAS
A1 - "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" - 2:02
A2 - "With a Little Help from My Friends" - 2:44
A3 - "Lucy in the Sky With Diamonds" - 3:28
A4 - "Getting Better" - 2:47
A5 - "Fixing a Hole" - 2:36
A6 - "She's Leaving Home" - 3:35
A7 - "Being for the Benefit of Mr. Kite!" - 2:37
B1 - "Within You Without You" - 5:05
B2 - "When I'm Sixty-Four" - 2:37
B3 - "Lovely Rita" - 2:42
B4 - "Good Morning Good Morning" - 2:41
B5 - "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)" - 1:18
B6 - "A Day in the Life" - 5:33

No final de 1966, os Beatles estavam cansados de turnês. A última, que tinha terminado em agosto, havia sido um tanto problemática em função das declarações de John Lennon sobre serem mais populares que Jesus Cristo.  A decisão foi que a banda deixaria de excursionar e se dedicaria mais aos trabalhos de estúdio. Eles estavam se familiarizando com novos instrumentos e tecnologias. Além disso, existia uma rivalidade antiga com os norte-americanos do Beach Boys, que tinham também naquele ano realizado  o revolucionário, no sentido de experimentalismo e sofisticação “Pet Sounds”. A idéia era de Paul McCartney era fazer um álbum conceitual, como se os Beatles fossem realmente a Banda de Sgt. Pepper's . Cheio de experimentações, o álbum, produzido por George Martin, é um precursor de técnicas de gravação e composição. Foi o primeiro disco gravado em oito canais, com dois consoles de quatro canais e incorporou técnicas muito inovadoras no mundo da música. Em treze canções ampliaram os conceitos, agregando instrumentos hindus, orquestrações, gravações tocadas ao contrário e sons de animais. Rock, music hall, baladas, jazz e até música oriental se misturam em Sgt. Pepper. Um dado importante é de que na mesma época e estúdio, o Abbey Road, outra banda gravava seu primeiro disco, o Pink Floyd e era comum os músicos das duas bandas se encontrarem, o que suscita em muita gente o pensamento de que muitas idéias musicais de Syd Barrett e sua turma teriam sido apropriadas por Lennon e a dele.  Agora, se houve isso, alguma influência Floydiana ou foi causado pela rivalidade com os Beach Boys, pouco importa, pois esse disco é,  simplesmente, um marco fundamental na história do Rock.  A partir daquele momento, ele deixava a infância de brincadeiras e irresponsabilidades para entrar numa fase de adolescência livre e criativa.

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9  - JIMI HENDRIX  EXPERIENCE - ELECTRIC LADYLAND
Lançamento: 25/10/1968
Gravadora: Reprise (EUA), Track (Reino Unido

FAIXAS
A1 - And the Gods Made Love  1:22
A2 - Have You Ever Been (To Electric Ladyland)  2:09
A3 - Crosstown Traffic  2:26
A4 - Voodoo Chile  14:58
B1 - Little Miss Strange  2:52
B2 - Long Hot Summer Night  3:27
B3 - Come On (Let The Good Times Roll)  4:10
B4 - Gypsy Eyes  3:45
B5 - Burning of the Midnight Lamp  3:40
C1 - Rainy Day, Dream Away  3:40
C2 - 1983...(A Merman I Should Turn to Be)  13:09
D1 - Still Raining, Still Dreaming  4:26
D2 - House Burning Down -   4:32
D3 - All Along the Watchtower  4:01
D4 - Voodoo Child (Slight Return)  5:11

James Marshall tinha por nome de nascimento Johnny Allen, da família Hendrix; e nasceu em Seattle, 27 de novembro de 1942 e morreu m Londres em 1970.  E os poucos anos que durou sua carreira, menos de cinco anos, foram o suficiente para transformá-lo numa das maiores referências do mundo do Rock.

E “Electric Ladyland”, terceiro e último álbum de estúdio da The Jimi Hendrix Experience,  é o auge da genialidade de Jimi Hendrix demonstrando nesse disco todas as suas facetas  como guitarrista. Um caldeirão de estilos e gêneros, do soul à psicodelia, passando pelo blues elétrico, dão asas ao perfeccionismo do guitarrista.  Sobre as capas desse disco, a idéia de Hendrix era uma fotos feita por. por Linda Eastman (falecida esposa de Paul McCartney e herdeira da Kodak/Eastmancolor), rodeada de crianças, mas seu pedido foi ignorado. Em vez disso, foi usada a foto de seu rosto, borrada em vermelho e amarelo. A versão inglesa, que gerou controvérsias e posteriormente foi proibida pelos herdeiros, mostra 19 mulheres nuas num fundo preto.
Algumas curiosidades: Hendrix tocou: Baixo nas músicas "Have You Ever Been (To Electric Ladyland)", "Long Hot Summer Night", "Gypsy Eyes", "Rainy Day, Dream Away", "House Burning Down" e "All Along the Watchtower" e um instrumento chamdo Kazoo, feito com um pente e um pedaço de papel, em "Crosstown Traffic"; Um isqueiro foi usado como "bottleneck" no solo de "All Along the Watchtower".
A parte a imagem de irresponsável, exagerado festeiro, mulherengo, que morreu afogado no próprio vômito etc, Hendrix foi um artista anos-luz a frente dos demais, levando a guitarra a limites nunca antes transpostos. E até hoje esses limites estão esperando para serem quebrados.

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10 - FRANK ZAPPA & THE MOTHERS OF INVENTION - FREAK OUT!
Lançamento: 27/06/1966
Gravadora: Verve/MGM

A1 - Hungry Freaks, Daddy 3:27
A2 - I Ain't Got No Heart 2:30
A3 - Who Are the Brain Police? 3:22
A4 - Go Cry on Somebody Else's Shoulder 3:31
A5 - Motherly Love 2:45
A6 - How Could I Be Such a Fool 2:12
B1 - Wowie Zowie 2:45
B2 - You Didn't Try to Call Me 3:17
B3 - Any Way the Wind Blows 2:52
B4 - I'm Not Satisfied 2:37
B5 - You're Probably Wondering Why I'm Here 3:37
C1 - Trouble Every Day 6:16
C2 - Help, I'm a Rock (Suite in Three Movements) 8:37
- - 1st Movement: Okay to Tap Dance
- - 2nd Movement: In Memoriam, Edgar Varese'
- - 3rd Movement: It Can't Happen Here -  
D - The Return of the Son of Monster Magnet 12:17
- - I. Ritual Dance of the Child-Killer
- - II. Nullis Pretii (No Commercial Potential)

Frank Vincent Zappa (1940/1993) foi antes de tudo um criador incansável, um vanguardista insano e um musico soberbo. Adjetivos para definir Franka Zappa ainda teriam que ser inventados. Em uma carreira de mais de trinta anos, sua obra musical estendeu-se por todas as vertentes do rock, além do fusion, jazz, música eletrônica, música concreta e música clássica. Além disso, também foi o realizador de longas-metragens e videoclipes e desenhou capas dos mais de sessenta discos gravados em vida, fora uma imensa quantidade de material que deixou gravado e que vem sido lançado por seus herdeiros.

E “Freak Out!” é o álbum de estréia de Frank Zappa e da sua banda, The Mothers of Invention, lançado em 1966 e um dos primeiros álbuns duplos da história e o primeiro álbum conceitual do rock. Nesse disco Zappa avacalha com os valores políticos da América e até mesmo com a chamada contra-cultura da época. A irreverência, as críticas ásperas e a ironia eram suas maiores características. 

Visceral, cru, genial, esse disco influenciou muito no que se fez em termos de Rock nos anos seguintes e a genialidade de seus trabalhos reside no fato de que  Zappa era um musico que levava seu trabalho a sério e às ultimas conseqüências, estudava a fundo, testava todos os limites musicais e era muito exigente com toda a sua banda.  A partir do estardalhaço causado por esse disco, Zappa  passou a ser admirado e respeitado não apenas dentro do mundo do Rock, mas também por maestros e jazzistas, tamanho seu talento.

“Freak Out!” é um registro histórico e, na verdade,  embora num primeiro momento tivesse sido taxado de estranho demais e, portanto inacessível. Na gravação participaram quase cem músicos, de todas as tendências musicais. É um disco essencial para a compreensão não apenas da obra de Zappa, mas que deve ser cultuado como uma das obras mais criativas do Século XX.

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Comentário Final:
A lista base inicial que compus chegou a mais de trinta discos. Algumas bandas e artistas continham dois ou três. O critério mais justo que me pareceu foi primeiro deixar apenas um de cada e depois selecionar, dentro de cerca de vinte que sobraram, os dez que compõe essa lista. Os critérios não foram apenas a qualidade musical, mas o significado dentro do contexto histórico. De uma década com tanta importância é realmente muito difícil elaborar os "melhores", mesmo porque o sentimento de injustiça perante um ou outro ainda permanece. Sempre irá permanecer, mesmo que a lista seja de mil, não de apenas dez.

12/11/2013


Década de 70


Introdução:

Muita gente ficou preocupada sobre os nomes que ocupariam um TOP 10 da década de setenta. Disseram que seria a  mais problemática de todas, pelo excesso de clássicos, etc. Que seria praticamente impossível listarmos apenas 10 discos de Rock dessa época. Bem, preciso abertamente contrariar a maioria, pois a mim pelo menos a mais complicada, pelo excesso de qualidade, lamentando ter deixado muita coisa de fora, foi justamente a anterior, da década de sessenta. A dos “seventies” é complicada? Humm, dependendo do ponto de vista, não. Ao menos para mim, não! De fato foi até agora a mais simples de fazer, pois ela já estava praticamente pronta na minha cabeça. Foi só alinhar algumas informações, eliminar alguns títulos e pronto. Sei que muitos também irão estranhar alguns dos títulos em detrimento de outros. Afinal a década é tida como aquela com maior numero de clássicos do Rock. E é ai que está o problema: um “clássico” nem sempre é o melhor, nem sempre é o mais representativo. Colocar os discos mais manjados da década é fácil, mas, quando a gente se pergunta sobre o porquê, a resposta nem sempre é clara e objetiva. Sei que minha lista terá discos que muita gente irá torcer a cara, mas, como sempre deixamos claro a cada uma: é puramente pessoal. E, portanto os motivos que nos levam a colocar um e não outro também são.


1 - Grand Funk Railroad - Survival
Lançamento: Abril, 1971
Gravadora: Capitol

Faixas
"Country Road" - 4:22
"All You've Got Is Money" - 5:16
"Comfort Me" - 6:48
"Feelin' Alright" (Dave Mason) - 4:27
"I Want Freedom" - 6:19
"I Can Feel Him In The Morning" (Don Brewer, Farner) - 7:15
"Gimme Shelter" (Mick Jagger, Keith Richards) - 6:29

Survival é o quarto disco da carreira dessa banda americana, formada em 1968, em Flint, Michigan.  Na capa, os três integrantes da banda “trajados” de homens das cavernas dá o tom do que encontramos na parte interna, ou seja, na musica: Sobrevivência.A crítica americana descia o pau na banda, e eles precisavam provam que estavam vivos, sobrevivendo apesar dela. Essa minha interpretação pode ser “comprovada pela contracapa do LP, que trazia um texto assinado pelo produtor Terry, falando sobre o nascimento de um bebê durante um show da banda, afirmando que a tal criança teria sido batizada de “Grand Funk Railroad”. Uma metáfora clara, criada pela genialidade criativa de Terry Knight. Nascimento, renascimento, sobrevivência...A versão para “Gimme Shelter” dos Stones, para mim  é simplesmente magnífica, definitiva. O produtor, Terry Knight impõe sua marca não indelével no trabalho da banda e, por ser um grande fã de Beatles, impõe nesse disco sua sonoridade característica. Ele obrigou o baterista Don Brewer a gravar com toalhas sobre as peles da bateria, fazendo com que a mesma soasse mais abafada e suave, como a de Ringo Starr. A primeira prensagem do vinil trazia fotos individuais dos integrantes do grupo, idênticas as do Álbum Branco.... O CD, lançado em 2004 tem 5 bonus tracks.

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2 - LED ZEPPELIN – (LED ZEPPELIN IV)
Lançamento: 08 de Novembro de 1971
Gravadora: Atlantic Records
Produção:  Jimmy Page, Robert Plant e Peter Grant

Faixas
A1    Black Dog  4:55
A2    Rock and Roll  3:40
A3    The Battle of Evermore  5:38
A4    Stairway to Heaven  7:55
B1    Misty Mountain Hop  4:39
B2    Four Sticks  4:49
B3    Going to California  3:36
B4    When the Levee Breaks  7:08

O quarto disco do Led Zeppelin não tem nome, nem identificação nenhuma na capa. Sequer o nome da banda. Acredito que não preciso discorrer sobre os motivos pelos quais esse disco está entre os 10, nos anos 70. Então prefiro contar umas historinhas sobre ele.  A primeira edição desse disco no Brasil foi absurdamente deturpada: a capa era simples, tinha o nome da banda impresso, a ficha técnica no verso e um selo amarelo horroroso na frente escrito: “Incluindo Stairway To Heaven”. Sem a arte do eremita no interior ou a letra... E falando em “Stairway...”: essa musica é um plágio integral da musica “Taurus” da banda Spirit, lançada em 1968. Apesar disso, um disco histórico, da capa ao conteúdo, a começar pela abertura, uma das dobradinhas mais sensacionais do Rock:”Black Dog”/“Rock and Roll”.

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3 - BLACK SABBATH - BLACK SABBATH
Lançamento: 13/02/1970
Gravadora: Vertigo (Reino Unido), Warner Brothers (EUA), Essential/Castle, Sanctuary

A1 - Black Sabbath  6:21
A2 - The Wizard  4:24
A3 - Behind the Wall of Sleep  3:38
A4 - N.I.B.  6:06
B1 - Evil Woman (Don't Play Your Games With Me)  3:25
B2 - Sleeping Village  3:46
B3 - Warning  10:32

Disco de estréia do Black Sabbath lançado em Fevereiro de 1970 no Reino Unido e em 01 de Junho de 1970 nos Estados Unidos. Dependendo da versão,  os nomes das músicas aparecem diferentes. A versão européia tem "Evil Woman" como primeira faixa do lado B, enquanto a versão americana tem "Wicked World". A versão remasterizada de 1996 tem as duas.  “Black Sabbath” foi gravado em apenas 8 horas, numa mesa de 24 canais e com um orçamento de apenas $1.200.  Um disco revolucionário, misturando blues, jazz, rock’n’roll em um som totalmente inovador e com peso absurdo para os padrões da época, marcando para sempre a história da música. Tony Iommi usava uma afinação mais grave que o usual, pois tinha que tocar com as cordas mais frouxas devido ao problema com seus dedos, advindo desse fato uma marca característica do peso marcante do Black Sabbath.  Muitos consideram esse disco como o pioneiro no heavy metal, outros o precursor do gótico (com a musica título), outros consideram o modelo maior de hard rock... E isso acontece porque esse disco é atemporal, de uma qualidade musical impressionante. Enfim, clássico dos clássicos.

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4 - DAVID BOWIE - THE RISE AND FALL OF ZIGGY STARDUST AND THE SPIDERS FROM MARS
Lançamento: 06-06-1972
Gravadora: RCA

A1 - Five Years  4:42
A2 - Soul Love  3:34
A3 - Moonage Daydream  4:40
A4 - Starman  4:10
A5 - It Ain't Easy  2:58
B1 - Lady Stardust  3:22
B2 - Star  2:47
B3 - Hang On to Yourself  2:40
B4 - Ziggy Stardust  3:13
B5 - Suffragette City -   3:25
B6 - Rock 'n' Roll Suicide  2:58

"The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars" (conhecido apenas por “Ziggy Stardust”) é o quinto disco do musico, ator, mimico e muitos etceteras.  David Bowie. O álbum narra a ascensão e queda de Ziggy Stardust, um alienígena que vem à Terra para anunciar o fim da humanidade em cinco anos e que, encantado com nosso planeta, decide ficar, virando um grande astro do rock, com sua banda ‘Spiders From Mars’.  Mas com o passar do tempo, experimenta todos os tipos de exageros característicos dos “rockstars” da época e, arruinado, acaba se matando. Ziggy Stardust fez de Bowie uma estrela da noite para o dia e sua genialidade e carisma, além da aparência andrógina, são atribuídos por muita gente ao fato de que talvez ele seja mesmo um extraterrestre. Um messias moderno? Um extraterrestre? Dr. Frankenstein? Um Gepeto, que constrói brinquedos sofisticados? Um personagem inventado? Quem é David Bowie, afinal? Talvez nem ele mesmo saiba responder. Mas o fato é que esse disco foi o responsável pela existência de uma multidão de artistas influenciados. Seriam todos descendentes de Ziggy?Dentre as Aranhas de Marte, Mick Ronson e o futuro baixista do Uriah Heep Trevor Bolder, que faleceu recentemente.

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5 - Slade - Alive
Lançamento: 24/03/1972
Gravadora:   Polydor (UK/US)

FAIXAS
A1 - "Hear Me Calling" - 5:46
A2 - "In Like a Shot from My Gun" - 3:33
A3 - "Darling Be Home Soon" - 5:43
A4 - "Know Who You Are" - 3:37
B1 - "Keep on Rocking" - 6:29
B2 - "Get Down and Get With It" - 5:33
B3 - "Born to Be Wild" - 8:12

Muita gente vai estranhar a inclusão desse disco, numa lista de 10 melhores da década, afinal Slade é considerado uma banda pouco técnica, pop demais, fruto do datado e esquisitíssimo Glam Rock, que alcançou várias vezes os topos de paradas de sucesso, o que para muitos é sinal de má qualidade. Além do mais, “Slade Alive” é um disco mal produzido,  gravado ao vivo com uma platéia tão pequena que dá quase para se entender as conversas... Enfim, a muitos é uma heresia eu considerar um disco, cheio de berros, arrotos, sons de motocicletas e outras peculiaridades, em detrimento de outros discos “mais importantes”.  Mas algumas razões o colocam em minha lista. A primeira delas é que foi o primeiro disco de Rock que escutei e comprei.  De fato essa é a maior delas, mas até hoje, milhares de discos escutados depois, ainda me impressiona a energia constante nesse disco. A energia, a crueza, a sujeira, a precariedade,  a selvageria...ainda me arranca arrepios e vontade de sair pulando. Que mais esperar de um disco de 1972? As versões de “Darling Be Home Soon” e “Darling Be Home” são arrasadoras. Agora, o que de fato pega: um dos maiores clássicos do Rock “Born To Be Wild”, tocada por quase toda banda que se preze, tem, em minha opinião, uma das versões mais cruas e selvagens da história. Enfi, “Slade Alive” pode não ser o melhor disco da história do Rock, mas decerto é um dos que mais se aproximam do espírito selvagem que nos primórdios criou o rock’n’Roll. E foi meu primeiro disco...

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6 - Lou Reed - Rock'n'Roll Animal
Lançamento: 02/1974
Gravadora: RCA

FAIXAS
A1 - "Intro/Sweet Jane" (Steve Hunter, Reed) – 7:55
A2 - "Heroin" – 13:05
B1 - "White Light/White Heat" – 5:15
B2 - "Lady Day" – 4:00
B3 - "Rock 'n' Roll" – 10:17

Gravadoras tem estranhos comportamentos, dirão alguns. Gravadoras são hostis, daninhas, formadas apenas por gente que só pensa em dinheiro. Executivos de gravadoras não entendem nada de música e não tem noção de arte. Ah, sim, todas essas alternativas estão corretas, nesse caso.  Em 1973, Lou Reed se lançou na "Rock 'n' Roll Animal Tour", que foi sucesso de critica e publico, e onde Lou teve seguramente sua melhor banda de apoio de todos os tempos (o Metallica não conta...rs), com dois fantásticos guitarristas, Dick Wagner e Steve Hunter. Finda a turnê, a gravadora resolve lançar em disco, mas divide em dois álbuns diferentes: “Rock’n’Roll Animal” e “Lou Reed Live”, lançado um ano depois. O resultado: dois dos melhores discos ao vivo da história do Rock. E que poderia ser o melhor disco ao vivo da história não fosse a idéia genial da gravadora em dividi-los. A energia no palco que Lou Reed sempre detonou, os solos de Hunter, a cozinha soando perfeita e precisa, foram captadas de forma soberba. Um daqueles discos que só de ouvir a gente fecha os olhos e se imagina ali, no meio da platéia, erguendo os braços e cantando junto. Um detalhe: quando relançado em CD, em 2001, o disco ganhou duas faixas a mais: "How do you think it feels" e "Caroline Says I".

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7 - Pink Floyd - The Dark Side Of The Moon
Lançamento:  March 1973
Gravadora: Harvest, Capitol

FAIXAS
A1 - "Speak to Me" - 1:30
A2 - "Breathe"  - 2:43
A3 - "On the Run" - 3:36
A4 - "Time" / "Breathe" (Reprise) - 7:01
A5 - "The Great Gig in the Sky" - 4:36
B1 - "Money"- 6:22
B2 - "Us and Them"- 7:46
B3 - "Any Colour You Like" - 3:25
B4 - "Brain Damage" - 3:48
B5 - "Eclipse" - 2:03

Eu deveria deixar esse disco para o final da lista, pois esse disco está não apenas na lista de os 10 melhores discos da década de 70, como de todas as décadas, não apenas do Rock, mas da música em geral. Sempre afirmo o seguinte: a história da música moderna pode ser dividida em duas partes: uma antes de “Dark Side...”, outra depois. Exagero? Não creio, pois essa opinião não é apenas minha, mas que é compartilhada com mais alguns milhões de pessoas no mundo. Falar cobre esse disco, sobre as circunstâncias sobre como feito, o que há por trás ou pela frente, a mística toda a respeito dele é completamente desnecessário, pois já foi dito, escrito, falado por centenas de pessoas. Há cerca de um ano, desafiado a um outro projeto, chamado “Um Disco, Uma Ilha”, onde eu tinha que escolher apena um disco para levar a uma ilha deserta, me obrigou a fazer uma lista imensa e ir eliminando discos.Tracei conceitos e fatores de eliminação, e no final o escolhido foi “Dark Side..” com uma soma de critérios: um disco que escuto há quarenta anos e ainda o faço com prazer e descoberta; um disco que escuto em qualquer hora e sob qualquer emoção; um disco que escuto em qualquer equipamento, em qualquer circunstância... Enfim, um casamento de quase quarenta anos mas que ainda desperta desejo, prazer, ternura, descoberta... Tesão...

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8 - Patti Smith – Horses
Lançamento: Novembro de 1975
Gravadora: Arista Records

FAIXAS:
A1 - "Gloria"
Part I -  "In Excelsis Deo"
Part II -  "Gloria" – 5:57
A2 - "Redondo Beach" – 3:26
A3 - "Birdland" – 9:15
A4 - "Free Money" – 3:52
B1 - "Kimberly" – 4:27
B2 - "Break It Up" – 4:04
B3 - "Land" - - 9:25
Part I: "Horses"
Part II: "Land of a Thousand Dances"
Part III: "La Mer(de)"
B4 - "Elegie" – 2:57

"Horses" é o primeiro disco de Patricia Lee Smith. A "Poetisa do Punk", como gostam alguns. Mas quem realmente foi e é Patti Smith? A precursora do movimento Punk norte-americano? A feminista? A intelectual? Aquela que namorou a bicha do Robert Mapplethorpe, que morreu de AIDS em 1989, e que posava para ele em fotos altamente "indecentes"? A filha de um ateu com uma Testemunha de Jeová? A garota largou os estudos aos dezesseis anos para trabalhar numa fábrica? Que teve um filho e entregou para adoção? A que ainda jovem foi a Paris fazer exibições de rua e performances artísticas? A mulher que teve inumeros amantes famosos, como Jim Carroll e Tom Verlaine? A artista versátil que pintou, escreveu e fez recitais - frequentemente junto ao St. Mark's Poetry Project? Que atuou em Teatro, que sobreviveu escrevendo artigos sobre rock em revistas? Ou seria a que compôs canções junto com Allen Lanier do Blue Öyster Cult, incluindo "Career of Evil", entre outras? Ou seria ainda a artista irrequieta e revolucionária que gravou seu primeiro compacto em 1974, do qual constavam  de um lado "Piss Factory" que falava sobre sua angustia como funcionaria de uma fábrica mesclando "Iluminações" do poeta francês Rimbaud, e do outro uma versão de "Hey Joe" subvertida com um trecho falado sobre a herdeira fugitiva Patty Hearst, herdeira de um império jornalístico? Ou ainda uma mulher que adora seus animais? Quem é Patti Smith? Ah, Patti Smith é tudo isso ai... e muito mais.. Patti Smith é tudo... E, sendo tudo, seu disco de estréia precisa estar entre os melhores da década, do século, do milênio... Alguma dúvida?

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9 - Uriah Heep - The Magician's Birthday
Lançamento: 11/1972
Gravadora: Bronze (UK), Mercury (USA)

FAIXAS:
A1 - "Sunrise" - 4:04
A2 - "Spider Woman"- 2:25
A3 - "Blind Eye" - 3:33
A4 - "Echoes In The Dark" - 4:48
A5 - "Rain" - 3:59
B1 - "Sweet Lorraine" - 4:13
B2 - "Tales" - 4:09
B3 - "The Magician's Birthday" -10:21

Dentro de um espaço de cerca de dois anos, o Uriah Heep lançou quatro dos melhores discos da década: "Demons and Wizards" (1972) "Sweet Freedom" (1973) e "Uriah Heep Live" (1973), além deste "Magician's Birthday", 1972. Então fica realmente difícil escolher qual dessas pérolas entra em minha lista. Por razões pessoais, a escolha recairia sobre "Live", por ser o segundo disco que comprei, mas como usei esse critério para o "Slade", iria parecer egoísmo demais. No mais os outros dois discos são obras primas do Rock, mas como tenho por critério também não colocar mais de um disco de uma banda na lista, foi obrigado a escolher um. E a escolha ficou com "Magician's". Em 1972, Ken Hensley tinha escrito um conto com esse nome e foi ele a inspiração principal desse disco, que tem as baladas mais belas e poéticas da história do Rock. Grande parte delas são belos poemas musicados, como por exemplo, “Tales”, “Echoes In The Dark” e “Rain”. Uriah Heep é uma banda que sabe como poucas fazer baladas que não soam como chatas, melosas e pegajosas e em mais de quarenta anos de estrada e dezenas de formações diferentes consegue manter a qualidade e a unidade. Na lista, entra “Magician’s Birthday”, mas qualquer outro desses discos, como da maior parte dos discos gravados pelo UH na década merece estar presente.

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10 - Jethro Tull - Thick As a Brick
Lançamento: 3/3/1972
Gravadora:  Reino Unido: Island Records / Estados Unidos: Reprise Records

FAIXAS
A - "Thick as a Brick" (Part I) – 22:45
B - "Thick as a Brick" (Part II)) – 21:05

“Aqualung” é considerado um dos melhores discos do Rock e o melhor do Jethro Tull.  Entretanto, sem nenhum demérito, vejo nele apenas um disco comum. Com letras instigantes, sim. Com uma rica construção musical, sim. Com temas fortes como a religião, fazendo dele um disco instigante e intrigante, sim. Mas é um disco que, em comparação com o seu sucessor, este “Thick as a Brick” é simplesmente um disco com belas e bem arranjadas canções. Isso porque “Thick...” é um disco com uma história contada musicalmente de uma forma inusitada para a época, instigante, revolucionário e... Divertido. Uma espécie de quebra-cabeças musical, onde várias peças aparentemente disformes e sem sentido se encaixam perfeitamente. Sim, um quebra-cabeça, que bem poderia ter sido o brinquedo favorito de um garoto gênio  "Gerald Bostock", ou "Little Milton", que “assina” a co-autoria com  Ian Anderson no disco. Um épico escrito por um precoce garoto inglês que fala sobre os desafios de envelhecer. Ainda hoje muitos acreditam que na verdade Gerald Bostock era uma pessoa real, e que o garoto fictício tenha sido o verdadeiro compositor das músicas.  A capa original do LP era um falso jornal, uma paródia aos tablóides locais, trazendo notícias, contos, propagandas, etc.  Anos depois, o Jethro Tull lançou “Too Old To Rock na Roll, Too Young To Die”… E mais recentemente, em 2012, Ian lançou um disco onde tentava responder o “que aconteceu a Gerald Bostock”. E a resposta foi clara: estava velho demais para o Rock and Roll…  Mas “Thick As a Brick” , por estar a frente de qualquer tempo, jamais envelhecerá.

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Comentário Final:
A década de setenta foi a do Progressivo, do surgimento do Punk e da Discotheque. A profusão de discos lançados (muitas bandas lançavam dois discos por ano) realmente fez dessa, a década mais produtiva do Rock. Se a dos 50 foi a do nascimento, com o Rock ainda um bebê e na dos 60 uma criança correndo livre e solta, com uma ânsia de aprendizado e criatividade, a de 70 é a adolescência, onde tudo se questiona, onde tudo precisa ser colocado para fora. Uma espécie de preparação à fase adulta...  E adultos são chatos na maioria das vezes... E que venham os anos 80.

19/11/2013


Década de 80

Introdução:

Em termos de economia, a década de 80 é considerada a "Década Perdida", particularmente no Brasil, com relação à estagnação econômica. Quanto à cultura, particularmente ao Rock, que o que nos interessa agora, por acá, o Rock In Rio e a explosão das bandas Pós-Punk e do emergente Metal, transformaram o Rock num produto. Muitas bandas surgiram e outras se firmaram. Mas nenhuma, absolutamente, atingiu a posição ocupada pela música pop (bem pop, aliás). A questão é cultural, mas isso é uma discussão para outra hora e lugar. Por hora nos cabe relacionar os 10 discos de Rock da década. E se, como pincelei no ultimo texto, a década de cinquenta conheceu o nascimento, com um Rock infantil, ingênuo e de descobertas, a de sessenta foi a da infância e pré-adolescência, com a fase da rebeldia contra os "pais" e a dos setenta encontrou o Rock na fase mais criativa de qualquer ser ou coisa, que é a adolescência, com o rompimento dos valores, novas experiências e novos caminhos. Mas e a de oitenta? Essa década, com o Rock entrando na sua fase adulta, por volta dos trinta anos de idade, com toda a chatice que é peculiar. Casamentos, filhos, mudanças de comportamento, cortar o cabelo, por exemplo. Ou buscar a maquiagem que possa trazer àqueles que ficaram de fora, um sentimento de sobrevivente. E foi exatamente assim que aconteceu com o Rock. Se a New Wave of British Heavy Metal (N.W.O.B.H.M.) trouxe mais peso e atitudes drásticas, lançando sobre as cabeças uma musica mais furiosa, surgida na Inglaterra com bandas símbolo como o Iron Maiden, foi exportado para os EUA com atitudes e músicas menos furiosas e com mais cabelos, enormes e encaracolados, surgindo daí o Metal Farofa. A década que começou com a morte de John Lennon, sintomaticamente mostrando que tinha mesmo acabado um período de sonhos, e agora o Rock era um negócio lucrativo, que exigia novidades em cima de novidades. E assim surgiram, ainda no final dos setenta, uma infinidade de rótulos e sub-rótulos, produtos e subprodutos. Mas é claro que o Rock ainda mantinha sua essência, e independente de tudo isso, se manteve vivo e com novas gerações, aquelas de pessoas que nasceram junto com ele, ainda nos anos cinquenta. As décadas de sessenta e setenta tem, em meu entender, semelhanças estéticas, mas as mudanças em estilo, desde as letras até as harmonias, são muito claras nessa década.
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1. Joy Division - Closer - 1980
Lançamento: Reino Unido 18/07/1980
Gravadora: Factory Records

FAIXAS:
Lado A
1. "Atrocity Exhibition"
"Isolation"
"Passover"
"Colony"
"A Means to an End"
Lado B
"Heart and Soul"
"Twenty Four Hours"
"The Eternal"
"Decades"

Closer é o segundo e último álbum banda britânica Joy Division e é efetivamente um dos discos mais importantes da década, e quiçá da história do Rock. Um divisor de águas. Na segunda metade da década anterior, a mesma Inglaterra tinha visto o nascimento do Punk, que rapidamente se esgotou como movimento musical e social. Entretanto durou o suficiente para, digamos, mudar as coisas de lugar e o ponto de vista passou a depender da vista do ponto... Confuso isso? Talvez, mas achei a melhor forma de definir a existência da Joy Division. A questão não era o ponto de vista, mas a vista do ponto. E isso fez de Ian Curtis um dos maiores e mas atormentados (todos são?) gênios da musica. Uma musica forte, pungente, visceral, cheia de imagens poéticas que, longe da psicodelia e do Progressivo, metiam o dedo na ferida da solidão, do desamor, da culpa pela infidelidade, conceitos que ainda carregam muita gente ao cemitério ou, no mínimo aos balcões de bar e consultórios de psiquiatras. A geração dos oitenta tem estigmas fortes, pois foi aquela que deixou de acreditar nas flores no cabelo e que o mundo poderia ser salvo com concertos de Rock, sexo e drogas. O mundo era sombrio e cruel e Ian Curtis sabia disso, sentia isso o tempo inteiro. E "Closer" é a bíblia dessa geração e influenciou gente do mundo inteiro, não apenas com o jeito de cantar, de compor, de se expressar no palco. E uma coisa garanto: se não tivesse existido Joy Division, jamais teria existido Legião Urbana 

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2. The Cult - Electric - 1987

A primeira vez que escutei esse disco o fiz meio na marra. Um amigo, fã da banda me mostrou embora sabendo que eu não gostava muito dela. Achava The Cult uma banda meio coisa nenhuma, sem identidade. Mas de pois de uma primeira audição fui correndo comprar a fita cassete (K7 como queiram), que lixou e estourou em duas ou três semanas. De uma banda onde predominava um estilo meio Gótico, "Eletric" era surpreendente. E continuei a ouvir esse disco, depois em LP, depois em CD, depois em MP3, depois no Youtube, e a cada audição uma impressão, pois é assim que acontece com os grandes discos. A voz de Ian Astbury soa como um rugido na maior parte das faixas, particularmente nas mais pesadas. Para mim, a importância desse disco é justamente o rito de passagem, não apenas da banda mas em geral, entre o Gótico e o retorno ao Rock pesado. E junto com "Closer" do Joy Division, formam duas das pontas que fecham o quadrado da década.

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3. John Lennon - Double Fantasy  - 1980
Lançamento: 17/11/1980
Gravadora: Geffen, Capitol

FAIXAS:
1 - "(Just Like) Starting Over" (John Lennon) – 3:56
2 - "Kiss Kiss Kiss" (Yoko Ono) – 2:41
3 - "Cleanup Time" (John Lennon) – 2:58
4 - "Give Me Something" (Yoko Ono) – 1:35
5 - "I'm Losing You" (John Lennon) – 3:57
6 - "I'm Moving On" (Yoko Ono) – 2:20
7 - "Beautiful Boy (Darling Boy)" (John Lennon) – 4:02
8 - "Watching the Wheels" (John Lennon) – 4:00
9 - "Yes I'm Your Angel" (Yoko Ono) – 3:08
10 - "Woman" (John Lennon) – 3:32
11 - "Beautiful Boys" (Yoko Ono) – 2:55
12 - "Dear Yoko" (John Lennon) – 2:34
13 - "Every Man Has A Woman Who Loves Him" (Yoko Ono) – 4:02
14 - "Hard Times Are Over" (Yoko Ono) – 3:20

John Lennon era um beatle, um "cavalo marinho", um poeta... enfim, John Lennon era John Lennon. Yoko, Yoko era Yoko, uma pseudo artista milionária japonesa. Mas os dois juntos fizeram muito estardalhaço muito mais pelas atitudes polêmicas do que propriamente pela musica. Afinal, acredito que ninguém suporte os "experimentos" sonoros da Senhora Lennon. Acho que nem ele mesmo suportava, mas... Marido apaixonado é foda! Mas Lennon fez composições maravilhosas, sim, como nos discos "Imagine" e "Plastic Ono Band". Mas não nesse disco, cheio de clichês e a insuportável Yoko querendo aparecer mais que o marido. E então, acham que eu fiquei maluco, estou certo. Desço o pau nos artistas, arregaço o disco e coloco-o na lista dos dez melhores da década. Exato! E eu não estou maluco, não. O motivo pelo qual esse disco consta desta lista é pelas circunstâncias históricas que o cercam, desde o fato de Lennon ter ficado cinco anos sem gravar e ter retornado para seu derradeiro trabalho. Feito, o disco vendendo bem, John de volta aos holofotes, "Woman" se transformando no hino dos que enxergavam, ou fingiam enxergar, o valor das mulheres. Tudo certo, com o casal morando no prédio mais caro de New York, New York de Sinatra e Lou Reed... Até que um dia, um fã enlouquecido - se é que foi isso mesmo - com um disco debaixo do braço pede um autógrafo, ganha, e depois aperta o gatilho da arma, deixando o corpo de Lennon estirado no chão. Ainda nem tinha terminado o primeiro ano da década e parece que o tempo e ventos que sempre mudam cobraram seu preço. Beatles tinha acabado há exatos 10 anos, e parece que era preciso que o nome mais forte daquela banda precisava sumir para dar espaço aos novos tempos que os ventos traziam, como o Gótico, a New Wave... Portanto, "Dupla Fantasia" parecia estar fadado a ser o marco, a linha divisória, a prova material daquilo que ele mesmo tinha dito; "The dream is over". Acabava ali o sonho, e o pesadelo seria cantado de outra forma, com outras vozes, outros ritmos. Daí a importância histórica desse disco.

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4. Judas Priest - British Steel - 1980
Lançamento: 14/04/1980
Gravadora: CBS, Epic Records
Produção Tom Allom

FAIXAS:
1. "Rapid Fire"
2. "Metal Gods"
3. "Breaking the Law"
4. "Grinder"
5. "United"
6. "You Don't Have to Be Old to Be Wise"
7. "Living After Midnight"
8. "The Rage"
9. "Steeler" 

British Steel é o sexto álbum da banda britânica Judas Priest e coloca a banda como uma das principais precursoras do N.W.O.B.H.M., (New Wave Of British Heavy Metal). Judas Priest e Black Sabbath são contemporâneos e conterrâneos, de Birmingham na Inglaterra, e juntas fizeram a história do Rock pesado. Esse disco é o que possui o maior numero de clássicos da banda e é uma das mais claras visões sobre o que foi a "Nova Onda de Heavy Metal Britânico". Um disco que tem: "Rapid Fire", "Metal Gods", "Breaking the Law" e "Living After Midnight" poderia ficar de fora de uma relação dos melhores discos da década em que foi lançado?

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5. Metallica - Kill 'Em All - 1983

Os sempre inconformados americanos precisavam dar o troco na Nova Onda do Metal Britânico, e além de bandas devidamente pasteurizados para o padrão e gosto americano, foram surgindo bandas realmente de qualidade no cenário dos EUA. Uma delas, formada em 1981 foi o Metallica, que já naquele ano lançava um dos discos mais pesados da história: "Kill'Em All".  A musica do Metallica é composta de tempos rápidos e musicalidade agressiva,  e juntamente com Slayer, Megadeth e Anthrax formou o que ficou conhecido como os "Big Four" do thrash metal.  "Kill'Em All", que teria o título provisório de "Metal Up Your Ass", vetado pela gravadora é pesado, rápido, conclusivo e convulsivo. O disco que faria com que grande parte dos moleques do mundo civilizado (eu disse civilizado) desejasse tocar tão rápido e forte quando James Hetfield. A outra metade queria fazer o mesmo que o baterista Lars Ulrich. Fundamental.

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6. Dio - Holly Diver – 1983

Ronnie James Dio foi decerto um dos maiores cantores do Rock de todos os tempos, acho que pouca gente discorda disso. Portanto, colocar seu álbum de estréia em carreira solo, ou como ele, sempre munido de uma extrema humildade queria, da banda Dio, como um dos dez melhores discos da década chega a ser redundante de tão óbvio. "Holy Diver" contem os maiores clássicos da carreira desse musico americano, após uma passagem que rendeu três discos à frente do Black Sabbath. Se o disco do Metallica é "fundamental", "Holy Diver" é essencial, e  com os citados acima, "Eletric" e "Closer" , o terceiro ponto do quadrado dos anos oitenta.

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7. Black Sabbath - Heaven and Hell  - 1980

No final de 1979 Ozzy Osbourne tinha saído pela segunda vez do Black Sabbath e Dio tinha sido defenestrado pelo esquisitíssimo Ritchie Blackmore, do Rainbow, porque este queria um vocalista, de preferência inglês, que cantasse coisas mais comerciais.  E Dio e o Black Sabbath se encontraram e se apaixonaram. E se casaram em 1980 com esse "Heaven and Hell" por testemunha e aliança. A entrada do vocalista americano transformou a musica da banda inglesa, desde a influencia no som mais pesado até as letras, quase todas escritas por ele, com temas que sempre lhe foram caros: castelo, dragões, misticismo. Musicalmente, esse disco parece mais um disco solo de Dio, ou da banda Dio como queiram, do que propriamente um disco do Black Sabbath, mas acho que é isso que faz dele algo que é além de fundamental e essencial, sensacional.

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8. Lou Reed - Growing Up in Public - 1980

Aparentemente em 1980 Lou Reed estava cansado de muitas de suas loucuras numa carreira que começara 22 anos antes e que tinha deflagrado efetivamente com o Velvet Underground e posteriormente numa carreira solo de discos ao vivo que mostravam a face outsider, underground, urbana desse que foi um dos maiores poetas que o Rock conheceu. Em "Growing Up in Public" Lou parece menos furioso, menos raivoso e mais comportado. A capa, com um foto dele, de cabelos "normais", curtos e escuros, e uma camisa simples, dão um ar de bom mocismo. As musicas também, são mais cadenciadas, sem aquela pujança que era característica do Lewis Allan Reed dos anos sessenta e setenta. Um dos discos que uso como exemplo da minha colocação inicial, sobre o Rock ter, com a chegada da idade adulta, se transformado em um cidadão de respeito. Respeito? Cidadão? Lou Reed? Ah, sim... Por esse álbum marcar uma nova fase de Lou Reed, que foi, por atitudes, musicas e vida, o maior roqueiro da história, merece constar como os dez dos oitenta.
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9. Motorhead - Rock 'n' Roll - 1987

Nono álbum da banda Motorhead e primeira gravação com a formação do grupo como quarteto composto por Lemmy, Philthy Animal, Würzel e Phil Campbell, que durou de 1987 a 1992. Particularmente ainda prefiro o Motorhead como power trio, por achar que a banda soa mais crua. Esse é um disco clássico e característico da banda. E qualquer disco deles poder ser tranquilamente colocado em qualquer lista de melhores. Motorhead não faz discos ruins. Uma curiosidade:  Um sermão falso feito por Michael Palin aparece no fim da canção "Stone Deaf In The USA", que encerrava o lado do álbum nas edições em vinil e cassete. O disco abriu as portas dos EUA para o Motorhead, tanto que após seu lançamento a banda toda se mudou para Los Angeles.

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10. The Rolling Stones - Dirty Work

Depois de uma série de lançamentos equivocados, como "Tatoo You" composto apenas com sobras de estúdio de discos anteriores e discos fraquíssimos como "Emotional Rescue", onde a banda se enfiou até mesmo no gênero "discotheque", Os Rolling Stones voltaram à velha forma e lançaram um disco que nada mais é do que aquilo que eles fazer de melhor: apenas Rock and Roll ("bu I like it). Além de contar pela ultima vez com a participação do pianista Ian Stuart, que morreria logo após a gravação e antes do lançamento do disco, "Dirty Work" traz também a de Jimmy Page, na faixa “One Hit (to The Body)’’. E fechamos com este, o quadrado fundamental dos discos da década de oitenta.

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Comentário Final:
"Hey, anos oitenta, charrete que perdeu o condutor, melancolia e promessas de amor"... Raul Seixas


Década de 90


Falar que sabíamos, tanto eu e Dum de Lucca, quanto os próprios leitores do Jukebox, que a partir dos anos 1980, escolher dez "melhores" discos seria cada vez mais complicado, seria redundância. Qualquer ser humano na face da Terra, ao menos qualquer um que goste e conheça um pouco da história do Rock é capaz de dizer isso. A abundância, o excesso, o demais (sendo essas palavras no sentido positivo), das décadas anteriores deu lugar a escassez e ao excesso e demais, desta vez com as palavras no sentido negativo. As grandes bandas, as chamadas "clássicas", pareciam estar cansadas, velhas e exaustas, com lançamentos na maioria das vezes insossos ou no mínimo com pouca criatividade. Muitas tinham acabado, como o Led Zeppelin, outras se arrastavam, como o Deep Purple e o Black Sabbath, com formações equivocadas e reuniões caça-níqueis. E, se a profusão de rótulos, subvertentes (no sentido de subverter o sentido do Rock que pressupunha o inverso), a partir do Punk tinha dividido o Rock em embalagens muito bem produzidas, produtos de consumo de massa, para atingir nichos intermináveis, com a ultima década do século XX tomou ares absurdos. Centenas de rótulos foram estampados em camisetas, discos e principalmente na mente das pessoas. E foi assim que surgiram "marcas" como Metal Neoclássico, Visual Kei, Pop Punk, Nu Metal, Brit Pop... E o mais odiento de todos: Indie. Foi a década do início do "boom" da Internet, e as gravadoras, preocupadas com a possibilidade de perderem suas vacas do leite de ouro, investiram massivamente em produtos descartáveis, de consumo fácil e rápido. Se o Metal dos anos oitenta tinha mostrado a força do visual, através de penteados enormes e letras chulas e toscas, o Rock em geral dos anos 1990 tinha apelos bem mais imediatos: o sexo fácil e inócuo e o visual rebelde desleixado... Tudo de acordo como mandam os santos mandamentos da mídia. Portanto, não estranhem comentários bem mais curtos e "emocionais", como bem citou uma leitora, num dos textos anteriores.

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1 - Pink Floyd - The Division Bell - 1994

Décimo quarto e último álbum do Pink Floyd. Depois do controvertido The Final Cut (1983), que era de fato um disco solo de Roger Waters tocado pelo Pink Floyd, como bem informa a capa e o quase dispensável -  se é que existe algum disco do Pink Floyd dispensável - A Momentary Lapse of Reason (1987), a dupla formada pelo guitarrista David Gilmour e pelo tecladista Richard Wright foi a principal responsável pelas composições que tem como tema principal a falta de comunicação, além de outras questões como o isolamento e conflitos pessoais. Depois dos desentendimentos e uma tentativa de golpe dada por Waters após sua saída da banda, os três músicos remanescentes chamaram o produtor Bob Ezrin e o engenheiro de som Andy Jackson, além do saxofonista Dick Parry, que já tinha trabalhado com a banda no clássico dos clássicos "The Dark Side Of The Moon".  O baixista é Guy Pratt, namorado da filha de Wright. Não é o melhor disco do Pink Floyd, embora tente repetir o clima de expressões de seu álbum mais famoso, mas é ultimo disco da banda e por isso merece estar nesta lista.  "What Do You Want from Me"  e "High Hopes"  se tornaram clássicos absolutos.

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2 - Lou Reed - Perfect Night: Live in London - 1998

A discografia de Lou Reed tem inúmeras coisas surpreendentes, mas nada surpreende mais que seus discos ao vivo. Se "Rock'n'Roll  Animal" juntamente com "Lou Reed Live" são os melhores discos ao vivo da história do Rock, este, gravado durante o "Meltdown '97 Festival" em Londres, mostra um Lou Reed mais cadenciado, com versões mais "light", embora fortes. O disco soa intimista, clássico e empostado. No ano anterior ele havia lançado outro ao vivo, chamado "Live in Concert". A faixa de abertura "I'll Be Your Mirror", originalmente cantada por Nico, na era Velvet Underground tem uma guitarra acústica belíssima na abertura e a ultima: "Dirty Blvd", um peso que não está exatamente no instrumental, mas na voz furiosa de Mr. Reed.

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3 - David Bowie - Outside - 1995

Que David Robert Jones é um dos artistas mais criativos dos últimos cem anos pouca gente duvida. Músico, ator, mímico, compositor e produtor musical, David Bowie gerou os mais belos, criativos e, porque não dizer, geniais discos da história não apenas do Rock, mas da musica em geral. Bowie passeia com desenvoltura  e classe por todos os gêneros, flerta com todas as tendências, todas as classes e sexos. Bowie sempre tem uma carta nas mangas bufantes, Bowie sempre tem um passo de dança, um refrão, uma nota, um toque diferente a dar. E não seria diferente com esse álbum conceitual: Outside, de 95. Depois de lançar álbuns com a Tin Machine, o retorno aos discos solo com "Black Tie White Noise" e do experimental "Buddha of Suburbia", David Bowie entra de sola na década de 90 com um disco experimental, uma obra conceitual que conta a história de um assassinato, através dos diários de um detetive, Nathan Adler. Nesse trabalho, o retorno de uma parceria antiga com Brian Eno, que criou obras fantásticas. Um disco que na primeira audição pode parecer um pouco chato e confesso: a primeira vez que escutei achei isso mesmo, mas que com o tempo e com maior atenção às nuances musicais, as climatizações, essa sensação se dissipa, dando lugar a uma viagem ao musical sem precedentes. E se há nesta lista o melhor da década, com certeza é este.

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4 - Patti Smith - Gone Again – 1996

Conforme citado e recitado anteriormente, jamais poderia deixar de colocar um disco de Patti Smith em qualquer lista. E a ativista, poeta, cantora, compositora e principalmente mulher, Patti está em todas as minhas listagens desde o final dos anos 1970. E garanto que algumas são realmente inconfessáveis. Mas...  Depois de um isolamento que se seguiu à morte de seu marido,  Fred "Sonic" Smith, ex-guitarrista da legendária banda MC5, vítima de um ataque cardíaco em 1994, e do irmão, Todd, no ano de 1994, e encorajada por John Cale e Allen Ginsberg a procurar ajuda médica, Patti saiu em turnê com Bob Dylan em dezembro de 1995. No inicio do ano seguinte, começou a gravação desse disco visceral, como sempre, e que incluía a canção "About a Boy", um tributo a Kurt Cobain, embora tivesse ficado mais enfurecida do que triste a respeito de seu suicídio. O disco é ao mesmo tempo melancólico e furioso, com a voz rasgante e agora mais grave que antes de Patti bradando, lamentando e consolando ao mesmo tempo. A capa já avisa o que estará lá dentro: de cabeça baixa, como se estivesse chorando e triste, cabelos desalinhados, num tom sépia. Acho que esse disco é a cara dos anos noventa, que me perdoem  (ou não) a turma da alegria.

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5 - Dio - Angry Machines - 1996

Procurando uma imagem para ilustrar a matéria, cai no Wikipedia, no verbete sobre o esse que é o sétimo álbum da banda "Dio":   "É o segundo e último de estúdio gravado com Tracy G, que foi demitido alguns anos mais tarde. Vale a pena lembrar que esse é considerado o pior álbum de Dio." Esse é o problema desse site: quer ser uma enciclopédia e aceita esse tipo de definição "técnica". "Considerado" pelo autor do texto, decerto. Que Tracy G. é ruim de doer como guitarrista não há duvida, mas as composições e a voz de Dio salvam qualquer disco de ser ruim. E eu não "considero" esse disco ruim, muito contrário. "Institutional Man" e "Big Sister", por exemplo, são pérolas. A voz de Ronnie soa firme como sempre. Enfim, pode não ser "considerado" o melhor disco dele, mas, dentro do apresentado na década, eu "considero" tranquilamente um dos dez que merecem ser referenciados.

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6 - Motorhead - 1916

"Lemmy is God", 1916 é a volta do filho pródigo. E "God" não faz discos ruins. Só isso!

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7 - Steve Howe - Portraits of Bob Dylan - 1999

Legal, eu confesso! Odeio o Yes! Acho a banda mais chata do planeta. E por conseguinte detesto todos os seus membros. E confesso mais: só fui escutar esse disco uns dez anos depois de lançado, pelos motivos explicados. A primeira reação foi de espanto. Espanto em saber que um dos guitarristas mais chatos de uma das bandas mais... Tá, eu páro! Vou falar desse disco. O álbum “Portraits of Bob Dylan”, lançado em 1999, é o nono da discografia de Steve Howe, que também tocou em outra banda mais chata ainda... o Asia (Azia?)... Steve Howe é tão fã de Dylan que seu filho, o baterista desse álbum, se chama Dylan Howe. A proposta foi  juntar músicos amigos e convidados para fazer versões de musicas de Dylan. E a pluralidade dessas vozes é que transforma esse disco em algo delicioso de escutar, uma viagem dylanesca bem mais agradável do que ouvir a voz (chata) de Bob Dylan, em canções absolutamente maravilhosas. Os destaques ficam por conta da deliciosa voz de Annie Haslam (Renaissance) que dá vida nova a uma música belíssima mas manjadíssima: "It’s All Over Now, Baby Blue", a voz forte de Keith West com "Lay Lady Lay" e Allan Clark, vocalista dos Hollies, em "Don’t Think Twice, It’s All Right". O próprio Howe canta: "Just Like a Woman", sem comprometer, mas sem maiores surpresas. Um disco para ser escutado com atenção e respeito até mesmo por caras chatos como eu, que detestam o Yes.

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8 - Radiohead - OK Computer - 1997
Sabem que musica me vem à cabeça quando falam em anos 90? Ah, adivinhou! "No Surprises". Certo, o Rock nesses anos se manteve graças à dores de cotovelo, frustrações, lamentos e instrumental um pouco certinho e bem produzido demais para o Rock. E esse disco mostra tudo isso. Até backing vocals chorosos. Enfim "No Surprises". E se eu tenho que relacionar os discos de uma década, no caso a  de 90, então por que não colocar o que tem a musica tema? Ah tá, mas as duas primeiras faixas: "Airbag" e "Paranoid Android" até que tem algumas boas "surprises".

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9 - My Bloody Valentine - Loveless - 1991

Quando o Dum de Lucca me chamou para participar desse projeto, embora tenha ficado entusiasmado com a idéia, fiquei com receio, em função das épocas mais recentes. Eu fiquei mais velho, mais chato e mais seletivo... Mais ranzinza, talvez. Mas, imaginem o que é crescer ouvindo Led Zeppelin Pink Floyd e outros direto na fonte e depois chegar a épocas tão pouco criativas como essas. Pensei: ah, não vou ter que escutar de novo aquelas coisas sem criatividade dos anos 90... Mas lembrei de algo que realmente, mesmo na época, me chamou muito a atenção, justamente pelos experimentalismos, tecnologia e referencias que esse disco possui. Segundo informações, "Loveless" demorou mais de dois anos para ser gravado, usou 19 estúdios diferentes, um sem numero de engenheiros de som e uma quantia de mais de 250 mil libras, o que quase faliu a gravadora Creation Records. O vocalista e guitarrista Kevin Shields compôs todas as musicas e dominou todo o processo de gravação; procurando alcançar um som particular, com o uso de várias técnicas como guitarras com tremolo, sample de batidas de bateria e vocais obscuros. O resultado é bem inusitado e criativo para a época. Talvez esse disco marque o fim da época do experimental, com a curva da criatividade fazendo uma descendente.

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10 - Nirvana - Nevermind - 1991

Então, chegamos ao final de mais uma lista. E uma duvida me assola: listas são sempre pessoais e, por conseguinte, vão não ao gosto do freguês, no caso o leitor, mas gosto do dono da padaria, no caso especifico o autor. E então, devo colocar nessa lista um disco que não gosto, de uma banda que detesto, levando em consideração que esse disco, de uma forma ou de outra mudou o cenário, abrir flancos e derrubou estigmas?  Sim, claro que devo. E por esse motivo, embora não gostando nem um pouco de Nirvana e de seu astro covarde suicida, muito menos desse disco o coloco nesta lista... Em ultimo lugar, entretanto. E como não gosto, não vou ficar aqui vomitando impropérios a  Kobain e companhia limitada, com suas camisas de flanela. Esse disco tem importância histórica dentro do contexto do Rock. E ponto!

4/12/2013


Década de 2001 a 2013


A maior dificuldade que encontrei, particularmente, na elaboração destas listas, foi o temor da injustiça, não proposital, mas por eventualmente por não ter conhecimento de um determinado e importante disco. A quantidade de bandas e artistas aumentou muito desde a década de 90. Se na década de 70 tínhamos dois, ou até mais, discos de uma única banda lançados no mesmo ano, o que dificulta por um lado e ajuda pelo outro, a partir do último decênio do século XX, diminuiu sensivelmente  a quantidade de lançamentos, mas aumentou o numero de bandas. E isso faz com que, mesmo alguém ligado em todas as coisas do Rock, possa ter deixado de lado algum lançamento. Ademais, desde o fim dos anos 1990, com o chamado “boom” da Internet, e com as facilidades tecnológicas em gravar um disco, fez surgir milhares de bandas instantâneas, naquilo que Andy Warhol chamou de “fama de 15 minutos”. A substituição do conteúdo pela imagem, já desenhado na década anterior, tomou conta do, mas não apenas dele, Rock.  Entretanto, se nem tudo são flores de plásticos nos primeiros anos do século XXI, também nem tudo é merda. Nem tudo fede ou, pior que feder, nem tudo é inodoro. Neste ponto, mudamos o projeto inicial de ter 7 listas de 10 títulos, uma de cada década, para aglutinarmos os quatro anos desta que começou em 2010. Talvez o correto teria sido colocar 14 discos, mas da minha parte decidi manter nos mesmos 10, já que mais do que isso, nesses tempos insossos seria forçar a natureza (ao menos a minha).

1 - Swans - The Seer (2012)

Cisnes são criaturas de extrema beleza,  de aspecto majestoso, mas também são conhecidos por um temperamento horrível. E segundo Michael Gira criador da banda, ainda em 1982, era o que melhor definia seu som. Com relação a este "The Seer", lançado em 2012, o segundo depois do retorno da banda em 2010, é um disco gigantesco. Não apenas por ter praticamente duas horas de música, dividido em dois CDs, mas pela qualidade e criatividade presentes.  Cheio de elementos “estranhos” e experimentalismos,. "The Seer” não é um disco de digestão tranquila. Música intensa, distorção, riffs repetidos “ad “nauseam”, faixas de grande duração, vocais hipnóticos. Expressão musical num esquema caótico, por horas até mesmo dolorosa, de que transportam o ouvinte à uma dimensão histérica, frenética e subversiva. A uma realidade desconexa, onde a ligação com nossa pobre realidade estéril parece não fazer sentido. Catarse. Não é um disco para mentes fracas ou ouvidos acostumados com a mesmice que impera nessa era de transição, onde sabemos que existem apenas dois caminhos: ou a mudança real de nossos pensamentos, ou a pura e completa aniquilação da raça humana. E a isso chamo realmente de Apocalipse. E "The Seer", do Swans é sua melhor trilha sonora... Seria o "swan song"?


2 - Lou Reed - Animal Serenade (2004)
Desde a década de 60 até esta em que vivemos, existe uma presença constante quanto fazemos listas: a de Lou Reed. E este Animal Serenade, é mesmo como seu título informa: uma “serenata animal”. Se “Rock’n’Roll Animal”, o melhor disco ao vivo de todos os tempos, mostrava Mr Reed como uma fera á solta, cuspindo o sangue  e as vísceras de uma sociedade podre, onde a ferocidade das letras e a distorção da guitarra de Steve Hunter dava o tom sinistro e cruel, o trabalho acústico de Fernando Saunders, que participou de discos de uma porrada de artistas do Rock e já tinha também tocado com Lou em “The Raven”, mostra o Maior Poeta do Rock, mais calmo, talvez fruto da experiência como mestre em Tai Chi Chuan, ou talvez pela idade. Canções clássicas, antes elétricas e paranóicas ganham arranjos acústicos e  todo um clima da “serenata” nesse disco gravado ao vivo em Los Angeles no Wiltern Theatre em 2003. Lou conversa com os músicos, com a platéia e é como se estivesse chegado à sua casa para um bate-papo. Ameno, tranqüilo. Delicioso de escutar. A critica desceu porrada nesse disco, talvez por não compreender determinados estágios que artistas passam, talvez por sempre esperar de Lou Reed uma outra cuspida na cara. De fato, não foi Lou Reed quem mudou nesse disco, mas o mundo ao seu redor.


3 – RAdiohead -  IN RAINBOWS (2007)
Comenta-se que o Radiohead não faz nunca dois discos iguais..  Ao menos não no conceito de estilo e forma. Mas há algo de comum nos lançamentos: a voz fantasmagórica, sobrenatural do vocalista Thom Yorke. E se em "OK Computer"  primava pelo estilo de Rock Alternativo, este tem uma influencia mais forte da musica eletrônica, sem deixar a melancolia e o intimismo característico da banda. Um disco belíssimo, agradável de se ouvir, principalmente se você tiver ao lado uma bela garrafa de Whisky legitimamente escocês. Nada de "Whiskey" americano. Se é que me entendem.


4 - Queens Of The Stone Age - Songs For The Deaf (2002)
A banda californiana Queens Of Stone Age é conhecida como um dos maiores propagadores do estilo conhecido como Stoner Rock e pela sua constante mudança de integrantes. O único membro original da banda é o vocalista e guitarrista Josh Homme.Mas deveria ser conhecida pela sua capacidade de fazer bons discos, discos simples e competentes, discos onde o que importa é o peso e o carisma de cada faixa. Neste lançamento, a banda contou com a presença do arroz de festa Dave Grohl, na bateria. Um ótimo disco, que merece o status de um dos melhores da década.

5 - Coldplay - Viva la Vida or Death and All His Friends (2008)
Coldplay efetivamente não é das bandas que posso dizer: “Oh, que grande banda”, mas quando um disco tem na capa uma o famoso quadro sobre a revolução francesa (uma pintura de Eugène Delacroix, intitulado “A Liberdade Guiando o Povo”), com uma pichação em cima, em espanhol, escrita: “Viva La Vida”, as coisas começam a mudar de figura. E quando se sabe que o disco tem a produção de um dos mais geniais produtores da história do Rock, Brian Eno, responsável por obras primas como os três álbuns da chamada "Trilogia de Berlim" (ou "Trilogia eletrônica") de David Bowie: Low, Heroes e Lodger. Só isso já valeria a pena citar esse disco, mas ele é realmente muito bom, com letras versando sobre os eternos temas vida, morte e guerra, além de uma musicalidade extrema, onde cada faixa tem uma surpresa, uma espécie de “descoberta”. Desde a faixa titulo, que tem a participação de uma orquestra. Passando por musicas mais “cool” e temas mais pesados. Belo disco, bela produção.


6 - Muse - Black Holes and Revelations (2006)
Muse, banda inglesa formada em 1994, faz uma musica realmente instigante. Criativa é o mínimo que podemos dizer. Um mistura de vários gêneros musicais, indo do Rock mais básico, indo até o eletrônico e com uma bela passagem pela musica erudita. Há musicas para todos os gostos musicais. Temas que lembram outras bandas e outros  que não se parecem com nada que já foi feito. E neste "Black Holes and Revelations", um titulo já por sí próprio instigante, a criatividade fala alto, tanto nos temas, que falam sobre política, ficção cientifica, com letras abordando temas tão variados como corrupção, invasão alienígena, teorias de conspiração e as indefectíveis canções de amor. Um disco para ser ouvido várias vezes, percebendo-se a cada audição nuances diferentes, detalhes intrínsecos. O trabalho de capa lembra as belas capas criadas pela Hipgnosis para o Pink Floyd.

7 - Lou Reed & Metallica - Lulu (2011)
Confesso que este é o momento que mais esperei desde quando comecei a fazer estas listas, à convite de Dum de Lucca. Um momento esperado por fazer uma justiça. O momento esperado de deflagrar uma vingança. E meu senso de justiça é proporcional ao senso apurado com relação à história do Rock. Um senso alimentado por quatro décadas de Rock, escutando, lendo, conhecendo os meandros, os intestinos e os pulmões. Um senso que me diz, sem nenhuma dúvida, que existiu um poeta maior no Rock, na musica contemporânea, um poeta que soube, através do escarro e do escárnio elevar o Rock ao nível de cultura suprema. E esse poeta atendeu, até o não perfeito dia 27 de Outubro de 2013, por Lewis Allan Reed.  E onde está a necessidade de justiça, se isso a maior parte das pessoas concorda? E onde está a necessidade de vingança? Essas necessidades estão no fato de que esse disco, que foi execrado pela chamada “midia especializada”, que foi achincalhado pelos estúpidos fanáticos pelo Metallica, com direito a brincadeiras ofensivas em redes sociais, que foi praticamente ignorado pela maioria das pessoas, é simplesmente uma obra prima.  Uma obra prima, que como a maior parte delas, está além de seu  tempo e, portanto, ignorada no lapso de tempo em que é colocada a publico.
James Hetfield mal era nascido quando Lou Reed já cantava e compunha pelos buracos fétidos de Nova Iorque. Os integrantes do Metallica ouviram muito os urros de Lou muito antes de empunharem suas primeiras guitarras. E garanto, que todos os fãs estúpidos que espernearam desde o momento em que ficaram sabendo do projeto “Lulu” não tem o menor conhecimento da história do Rock e não tem, sobremaneira, sequer a decência de admitir. Se nesse disco, o Metallica soa na maioria das vezes apenas como a banda de apoio de Lou Reed, melhor para eles. Se nesse disco, Lou soa as vezes apenas como um mero vocalista de uma banda de Metal, melhor para eles, a banda, também. Afinal, quantos artistas do mundo, além de David Bowie, podem ter a honra de partilhar um trabalho com o maior roqueiro de todos os tempos? Isso deveria ser motivo de orgulho a qualquer banda e a qualquer fã. Para a banda, declaradamente é, pois Hetfield  já declarou ser fã do velho Lou., mas seus fãs, embotados, parecem não compreender isso. Pior para eles.
Mas, se fossem apenas os fãs do Metallica, e alguns até do próprio roqueiro nova-iorquino a torcer o nariz, ignorar esse disco, não seria problema, mas o fato de que “Lulu”, apesar de todo o esforço da gravadora, lançando-o em diversas mídias, incluindo ai em LP com direito a um pôster, por exemplo, ter sido ignorado é que torna séria a coisa. Como pode uma obra dessas, com todos os componentes para se tornar cultuada, aclamada e glorificada ser colocada no limbo? A única explicação: o mundo atual, onde o que importa é a plasticidade das imagens, a rapidez em tudo, não é mais um mundo onde artistas feito Lou Reed possam sobreviver. Aquele mundo acabou. 
“Lulu” é uma obra prima, uma das maiores deste século. E espero que ainda nele, seja colocado em seu devido e merecido lugar. Aí, sim, a justiça será feita e minha vingança estará completa.


8 - David Bowie - The Next Day (2013)
Há vinte anos, desde 1993 com “Black Tie White Noise”, que David Bowie não lançava um disco.  Falar sobre a persona de Bowie, de sua genialidade, de sua aparência, de sua propalada bissexualidade, sobre sua capacidade também como produtor, ator, mímico e etc. é totalmente desnecessário e seria ocupar o tempo do leitor de forma pouco auspiciosa. O autor de si próprio, o ator que representa a si mesmo num palco que ocupa todo o planeta, são as mais claras definições desse artista, este sim que poderia reinvidicar o titulo de “The Artist”, não aquela coisa efêmera do Prince. A influência, em todos aspectos desse musico que é de fato um extraterrestre, é clara e notória. Então, um único disco lançado nas ultimas duas décadas tendo como protagonista David Bowie, precisa estar obrigatoriamente na presente listagem.


9 - Judas Priest - Nostradamus (2008)
O Judas Priest é uma da FAB Four do Heavy Metal mundial, juntamente com Black Sabbath, Iron Maiden e Motörhead, lançou discos pesados, com temáticas simples, em contextos e conceitos obrigatórios dentro do gênero. Calcado especialmente na figura de Rob Halford, seguramente um dos maiores cantores de Rock até hoje, o Judas  lançou discos memoráveis, essenciais a qualquer discografia básica de todos os apreciadores do gênero. Desde “Rocka Rolla”, ainda em 1974, até Angel of Retribution (2005), passando por Jugulator (97)  e British Steel (80), a banda lançou os maiores pilares do Metal, mas era necessária uma grande obra, conceitual, concisa, forte, com uma temática diferente tradicional. Enfim, o Judas Priest carecia de uma obra definitiva. Não que os discos citados, entre os outros, sejam discos ruins ou não esteja definitivamente na história do Rock, mas, musicalmente a banda precisava de algo que demonstrasse não ser apenas uma banda de Metal, com temática peculiar. Uma obra definitiva que a colocasse nos patamares mais altos da Música. E assim aconteceu, como numa profecia, com “Nostradamus”. Um disco que alia o peso tradicional do Judas, com harmonias e arranjos perfeitos a vocais que em algumas musicas lembram os grandes cantores de ópera. Nesse disco Halford mostra que é muito mais que apenas um vocalista de Rock, e a banda inteira soa mais que apenas uma banda de Rock, embora  das maiores, soa como uma orquestra.


10 - System Of A Down - Mezmerize / Hypnotize (2005)
Então, de fato, minha lista acaba por ter também 11 discos, pois nomear um desses dois e deixar o outro de fora seria incoerente, pois se tratam de fato um disco único dividido em dois lançamentos. O SOAD tem um papel fundamental no Rock do terceiro milênio, desde a origem de seus integrantes, filhos de armênios radicados nos EUA, e que por força dessa origem colocam nas suas  letras conceitos políticos e sociais fortes e uma musica repleta de instrumentos “estranhos”, guitarra barítona, mandolins elétricos, cítaras, violões de doze cordas entre outros. A banda faz um som pesado, pungente, que foge dos padrões mais clássicos do estilo. O vocal de Serj Tankian tem força natural , sem pose e sem forçação de barra. E estes dois discos merecem estar numa prateleira especial com o rótulo, “Os mais representativos do inicio do século XXI”

Bem, chegamos ao final desta série, onde procuramos abordar, em pontos de vista totalmente pessoais, os melhores lançamentos de Rock dos quase setenta anos do gênero. Claro que muitas opiniões serão encaradas com desconfiança, claro que muitos comentários feitos poderão ser considerados sem sentido, mas o objetivo destas listas não é o de fazer sentido, mas apenas demonstrar a visão pessoal de cada um de nós. As criticas e as sugestões sempre serão consideradas e espero que ao menos para algumas pessoas, minhas escolhas possam ser consideradas didaticamente, como guia de audição.

E espero que, no futuro, meu anfitrião, o grande jornalista musical Dum de Lucca, pessoa a quem dedico grande respeito e admiração, venha novamente a convidar-me a participar do “Jukebox”.  Grato a todos pelo carinho, pelas opiniões e pela atenção. Nos vemos pelas estradas do Rock!

11/12/2013