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20/02/2017

Carta a Um Editor

Prezado Editor:
Não, eu não morei nem moro na rua; nunca morei em favela ou comunidade; nunca me entupi de droga; nunca fiz programa, nem fui cafetão; nunca roubei, nem matei; nunca fui preso, nunca entrei em coma alcoólico; não sou negro, não sou transgênero, travesti, nem homossexual; não sou indígena, alienígena, nem feminista; não sou comunista, nem empresário; não sou rico, nem miserável; não sou idoso, nem sou deficiente físico; não sou corintiano, nem maloqueiro, nem sofredor; não sou petista, nem tucano; não sou youtuber, nem ex-garoto de programa; nem tenho bela bunda, nem peitos siliconados; não sofro de nenhuma doença mental séria, não tenho olhos claros, nem cabelos loiros; não sou amigo do rei, nem inimigo. Não sou pichador, nem participo de nenhum movimento social, nem invado propriedade alheia; Não arrumo desculpas para os meus fracassos.
Não sou, enfim, nada que possas usar como produto. E nem sou vaidoso a ponto de achar que ter um livro publicado pela sua editora - de preferência prefaciado por algum descolado diretor de teatro/ator/escritor que anda de uniforme camuflado e tênis sem meia na rua, e que finge que é pobre, mas é regiamente pago -, fará de mim algo que não sou.

Ah, sim, esqueci de dizer: sou escritor, mas isso pouco lhe interessa.

Atenciosamente,
Luiz Carlos Giraçol Cichetto, nome literário Barata Cichetto, São Paulo, 01/02/2017

Resposta de Um Editor: "Escreva um romance pornográfico, cheio de putaria e sacanagem e então veremos."


- Veremos!

Douglas Donin - Ainda Sobre Largar o Facebook

Douglas Donin
Ainda Sobre Largar o Facebook


Não recomendo "largar" o Facebook. Não vou excluir o perfil, vou simplesmente parar de alimentá-lo diretamente, senão em circunstâncias bem mais raras e específicas. Vou ainda divulgar coisas (principalmente o local onde vou passar a escrever, possivelmente, e preferencialmente, com amigos). Recomendo, isso sim, DIMINUIR SUA IMPORTÂNCIA. Radicalmente, de preferência. E recomendo que todos façam isso.

O fato é que o Facebook NOS PAUTA. Ele te encontra pela manhã, e te diz: "Olá, isso é o que vai te indignar hoje, isso é o que vai te mobilizar hoje, isso é o que vai te fazer compartilhar coisas hoje, e o que vai fazer você gerar mais conteúdo para mim". Ele faz isso porque sabe MUITO sobre o seu comportamento e rede. Ele usa algoritmos complexos, cada vez mais refinados, para te manter girando com uma paixão maior em torno de um campo menor de assuntos. Faz isso selecionando coisas para aparecer, e o pior, coisas para SUMIR de sua visão.

Isso faz você girar em espiral, com um raio de curva cada vez menor, em velocidade cada vez maior.

O Facebook não é o problema, o problema é o modo como o Feed do Facebook é construído para cada um. É feito para estimular essa espiral, e nisso conta com a colaboração de uma mídia que não soube lidar muito bem com sua transformação e se rendeu ao sensacionalismo. Mídia que não está interessada em ter o "melhor jornal para vender", mas que está interessada em ter a manchete que mais estimula o click, com a chamada mais apelativa. Ela quer o click. Note que o conteúdo em si é irrelevante, pois a decisão do click ocorre antes da apreciação do conteúdo. Quase sempre, a própria decisão de compartilhar ocorre antes da apreciação do conteúdo. Click, click, click. Milhares de anzóis jogados na água, a grande maioria com minhocas de mentira.

Em uma sociedade sadia temos que ter constante exposição a coisas que não queremos ver. Estamos virando crianças mimadas com esse mundinho feito por encomenda. Isso sempre existiu em algum grau, mas estamos nos aproximando perigosamente do não-diálogo.

E tem outra coisa. Nisso, nessa busca do click, quantas polêmicas falsas, quantas não-pautas, quantas guerras inventadas ajudamos a engrossar e transformar em realidade, como uma profecia auto-realizável? Alguém em sã consciência iria, no mundo real, no mundo das pessoas de carne e osso, dar ouvidos a uma estupidez como "apropriação cultural" se não fosse a máquina de potencializar conflitos do Facebook em ação? Até tentamos criar a noção de que várias desses conflitos eram pura besteira, mas parece que perdemos... de lavada.

Precisamos readquirir o hábito de visitar portais e fóruns e depender menos dessa máquina de ordenhar emoções baixas. Reddit é uma boa saída, me parece um modelo bom. Não tem formação de bolhas lá: as mesmas subreddits que um vê, outro vê. Não há uma "internet feita em alfaiataria" para cada usuário. Portais de notícias oferecem também conteúdo mais geral.

06/02/2017

Minha Vizinha Morreu!

Minha Vizinha Morreu!
Barata Cichetto
Reprodução Proibida/Direitos Autorais Registrados
 
Minha vizinha morreu! Senhora forte, doce, e dona de uma disposição ao trabalho como pouco se vê. Nordestina, o marido a abandonou por uma amante mais generosa, sexualmente falando. Ela criou os filhos praticamente só. Nunca aceitou ajuda de ninguém, sequer do governo. Vivia cantarolando a musica de Luiz Gonzaga: "Ai, dotô uma esmola a um hómi qui é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão". Ela morreu. Não fui ao velório. Muita gente foi. Era desbocada, sincera e rude com quem achava que devia ser, segundo seus critérios. Valia-se de sua personalidade. E mandava tomar no cu quem a chamasse de vitima do marido, da sociedade, e até das circunstâncias. Dizia que tinha o que tinha porque merecia. De bom e de ruim, era isso o que ela dizia. Os filhos seguiram seus caminhos. Teve vários. Alguns se tornaram pessoas. Outros apenas filhos. E outros não se tornaram nada. Morreram. Mas, minha vizinha morreu. Eu não fui no velório, não fui no enterro e sequer derramei uma lágrima. Sabia da sua história, mas ela não sabia da minha. Creio que não. Minha vizinha morreu, mas não fui eu. Muita gente morreu. Morre agora, e irá morrer dentro de um minuto, um dia... Minha vizinha morreu. Num hospital publico. Sozinha. Não era ninguém importante. Não tinha jornalistas na porta. Quem se importa, se minha vizinha morreu? E no dia em que ela morreu, outras vizinhas de outras vizinhanças também morreram. E outros vizinhos de outros vizinhos. Morrem vizinhos todos os dias. A minha morreu. Não eu! Minha vizinha morreu. Eu não. Eu não chorei por ela, e ela possivelmente não choraria por mim. Conhecíamo-nos apenas porque um dia mandamos um ao outro tomar no cu, numa discussão corriqueira. Nunca fomos amigos. Eu não tinha seu Whatsapp, nem como amiga no Facebook. Minha vizinha morreu, eu sei. Foda-se! E se fosse eu, ela diria a mesma coisa. Boa gente, essa minha vizinha.
03/02/2017

01/02/2017

A Outra


Quadro: A Leitora, Barata Cichetto
Quando nos conhecemos eu tinha cerca de quatorze anos, Ela bem mais velha. Foi paixão imediata, a primeira vista. Casamo-nos logo depois. Apenas uns dois anos de namoro. Ela não era pura, eu era virgem. Amamo-nos muito, mas eu sempre tive a impressão de que eu a amava bem mais que ela a mim. Com a passagem do tempo, fui conhecendo-a mais profundamente, e quando eu mais sabia dela, mas a amava. E ela mais me odiava. Eu não percebia. Ela me traia. E eu sabia, mas fingia que não. Eu A conheci assim, impura, malvada, promíscua, depravada, mas por horas singela e meiga. Amava todas essas qualidades e procurei me espelhar nelas para construir minha existência. Era mistér a relação. Eu não podia viver sem Ela. Era meu ar, meu sangue. Mas eu sabia que Ela viveria muito bem sem mim, independente que era. Livre que sempre foi. Ficamos casados por mais de quarenta anos. Nunca Ela me deu filhos, nem alegrias... Minha alegria era apenas tê-La, mesmo sabendo de suas maldades. Um dia, cansado, decidi me separar Dela. Já tinha ameaçado, mas nunca tivera a coragem. Ela sempre me seduzia e eu acabava na sua cama. Mas dessa vez, por eu ter me preparado para não sentir dor nessa separação, deixei-a. Definitivamente. Logo depois encontrei a Outra, com uma aparência totalmente diferente, que tinha outros amigos, mas que eu sabia que tinha todos os defeitos da Original. Atirei-me àquela paixão com o ultimo estertor de fôlego que meus velhos braços cheios de veias e cicatrizes ainda podiam. Dela não espero filhos, dela não espero nada. Não tenho mais quarenta anos para ficar casado. Nem quero. Apenas quero provar desse novo veneno.  E que a arte que me norteia, morra comigo, de cirrose ou solidão. De câncer ou tiro no coração.
29/01/2017

20/01/2017

Como Fazer Molho de Tomate

Como Fazer Molho de Tomate

Compre na feira um quilo de tomates. Tem que ser na feira, que é livre.
Não pode ser uma dúzia de tomates, tem que ser um quilo, pois dúzia denota 12 tomates contados individualmente, já o quilo é uma quantidade indefinida, uma comunidade de tomates, digamos.
Não selecione os tomates, afinal tomates são todos iguais, embora alguns estejam mais verdes, outros sejam maiores e alguns até já estejam moles e apalpados, até mesmo podres. Pense que todos os tomates são iguais, portanto merecem estar no mesmo molho.
Para melhor identificação, tomates são vermelhos. Se não forem não são tomates. Exclua do seu molho qualquer tomate que se recuse a ser vermelho.
Não pergunte a opinião dos tomates a respeito de molhos, nem se gostariam de virar molho, se gostariam de ser misturados ao sal e outros temperos. Tomates não tem opinião própria. Afinal, nasceram para as massas.
Se um tomate gritar, pare imediatamente: tomates não tem voz. Provavelmente há um espião no meio dos tomates. Denuncie-o ao Sindicato dos Tomates Assassinos ou jogue-os simplesmente aos porcos, o que é quase a mesma coisa.
Coloque todos os tomates no liquidificador, com pouco sal e nenhuma pimenta. Pimentas vermelhas, então, nem pensar. Duas coisas vermelhas juntas não combinam de jeito nenhum.
Ferva em fogo brando até que se torne uma coisa homogênea, pastosa. Nesse momento os tomates deixaram de ser tomates e são apenas molho. Lembre-se disso!
Cozinhe a massa em fogo brando. Pode ser qualquer tipo de massa, mas algumas reagem melhor ao molho de tomate, em função da sua composição.  Alguns tipos de massas só tem sabor com molho branco, mas essas são raras.
Quando a massa estiver no ponto, cubra-a com seu molho de tomates. Massa sem molho de tomates são sem graça.
Devore tudo. Se sobrar algum resto no prato dê às massas. O molho de tomate que sobrou pode ser aproveitado para a pizza ou, com uma boa dose de conservantes pode ser industrializada e vendida em supermercados. Dá um bom lucro. Mas não se esqueça dos conservantes.
Esta receita tem o nome de Molho Gramsci, não em função dos ingredientes, mas da forma de preparo. Outras variações podem ser feitas, mas algumas usam sangue no lugar de tomates, que embora também vermelho seja indicado apenas a cozinheiros experientes.
Bon apetit!

Nota:  Cuidado com a ingestão indiscriminada desse molho de tomate, ela pode causar desconforto intestinal, que nas comunidades mais carentes se chama caganeira. Em alguns, mais sensíveis à coisas vermelhas pode causar coceira, irritação na pele e nos olhos; mas o Ministério da Saúde adverte para que a ingestão de molho de tomate, especialmente quando adicionado às massas, podem causar convulsões. Quanto à ingestão das massas, sejam elas de qualquer tipo, podem ser consumidas livremente com qualquer molho.

20/01/2017

19/01/2017

Entrevista Site Entrementes, Joana D’Arc

Entrevista Site Entrementes, Joana D’Arc
(Nota: A entrevista foi publicada originalmente no início de 2015, mas retirada do site no inicio de 2016 em função de uma reformulação do mesmo, segundo informou Joana D'Arc)

1- Como surgiu o seu interesse pela literatura?
Não sei precisar exatamente quando ocorreu. A primeira recordação de contato com livros foi ainda na infância, com a "Seleções" e enciclopédias colecionáveis, como a "Conhecer". Daí aos romances e poesia. Sempre fui muito tímido e os livros me pareceram a escolha perfeita. Na adolescência não tinha muito dinheiro e descobri as bibliotecas públicas. Aí o mundo se abriu de forma completa. Pegava dois, três livros por semana e os devorava.

2- Fale um pouco sobre suas obras.
A maior parte de minha "produção" literária é composta de poemas e crônicas. Comecei a escrever por volta dos 13 ou 14 anos e tenho cerca de 1.000 poemas escritos e 3.000 crônicas. A maior parte foi publicada no site que mantenho desde 1997, A Barata, e no blogue. Em 2010 criei um projeto de edição de livros de forma artesanal, a Editor'A Barata Artesanal, onde todo o processo é caseiro. Por intermédio dele, lancei 15 livros de minha autoria, sendo 10 de poesia. Também publiquei livros de outras pessoas. A vantagem desse processo é que, além de ter controle total sobre a edição, posso trabalhar com a tiragem que quiser. Além disso, é uma forma de furar o esquema mercantilista das editoras, que tratam livros apenas como um produto, esquecendo-se do valor artístico.

3-  Onde podemos adquirir ela?
Todos os meus livros podem ser comprados via Internet, na loja virtual de meu site, no endereço: http://abarata.com.br/livros.asp?secao=L&registro=1

4- Como surgiu a ideia de criar uma revista digital?
Acredito que esteja falando da ultima criação, a revista digital Pi2, ou Politicamente Incorreto ao Quadrado. O "insite" final ocorreu enquanto eu lavava louça. Me veio o nome, o conceito e até o desenho da logomarca da revista. Eu já tinha lançado outras revistas digitais, além de revistas independentes ("fanzines"), desde a época do mimeógrafo à álcool, mas tinham um espectro bem amplo, com poesia, Rock, artigos e desenhos, mas estava cansado de entrar em embates sobre essa questão do Politicamente Correto e toda a hipocrisia e modismo que existe por trás disso. Nas redes sociais, percebi que existiam muitas pessoas com pensamento idêntico ao meu e então chamei essas pessoas a mandarem suas visões. E o resultado foi surpreendentemente positivo.

5- E por que você deu o nome de PI2 POLITICAMENTE INCORRETO AO QUADRADO?
A idéia surgiu da forma como relatei na pergunta anterior, mas analisando o conceito, cheguei a algumas conclusões. Na matemática,  "pi", é a representação de um numero infinito, então o que seria um numero infinito ao quadrado? E ai entrou o jogo de palavras, com a sigla P.I., Politicamente Incorreto. Juntando tudo e a interpretação popular de afirmar que quando algo é grande demais, ou extrapola seus próprios limites é "ao quadrado". Queria deixar claro os objetivos da revista já no titulo.

6- Você não pensa em publicar a revista impressa?
Existe um movimento, até uma cobrança, por parte principalmente dos colaboradores para que ela saia de forma impressa, vendida em bancas de jornais, etc. E é claro que será magnífico se isso acontecer. Muita gente ainda reluta em ler em tela de computador (eu mesmo não gosto, prefiro a forma impressa) e também poderíamos através de publicação como revista, atingir uma gama maior de publico. A questão fundamental está justamente nos custos de impressão e, principalmente, distribuição. Não tenho dinheiro para bancar uma impressão dessa magnitude, com cerca de 80 páginas, colorida. A saída seria a tradicional, com anúncios pagos, mas isso acabaria comprometendo a independência da revista. Outra opção seria conseguir uma editora disposta a bancar o projeto. Mandei propostas há meia dúzia de editoras há mais de um mês, mas não obtive respostas de nenhuma até agora. Uma outra, seria a cotização entre os colaboradores, mas não creio que conseguiria dinheiro suficiente para editar uma revista.

7-Tem algum projeto em mente?
Sempre tenho projetos em mente! É quase que uma necessidade vital. Geralmente estou tocando dois, três, ao mesmo tempo. No momento, além de manter os projetos da Editora Artesanal, do programa de rádio, escrever diariamente e editar a revista digital, estou trabalhando no projeto de um romance, gênero que nunca dei muita atenção, mas que foi a forma mais correta de contar uma história que muito me impressionou muito. E a base será a vida de Eward Mordrake, que no século 19 nasceu com um outro rosto na parte traseira da cabeça. Não se tem provas de que seja efetivamente real, embora existam muitos elementos para que seja, ao menos na essência, verídica. Fiquei muito perturbado com isso e queria em principio escrever uma Opera Rock, como tinha feito em Vitória, que foi musicada pelo musico e filósofo Amyr Cantusio Junior, mas achei que num romance poderia explorar melhor toda essa problemática. Fora isso, também tenho trabalhado em pesquisas sobre a vida de uma escritora brasileira, que foi muito lida nos anos 70 e que hoje está praticamente esquecida.

8-  Na sua  opinião a juventude de hoje não se interessa por politica?
Acredito que essa questão de interesse por política seja muito relativa. O que é, afinal, interesse por política? É se interar dos problemas cotidianos, dos atos dos poderes constituídos, para depois ter a chamada "consciência política" e escolher o candidato que melhor te represente em uma eleição? Se a abordagem for esta, acredito que se interessa, sim, pois os jovens assistem TV e votam. Mas, ao contrário do pensamento corrente, não considero isso muito importante, pelo simples fato de que não acredito na democracia da forma como a temos hoje. A democracia hoje é uma farsa, uma mentira. Dizem para as pessoas que a democracia é o melhor dos mundos, mas o que acontece na prática é que é apenas uma forma de disfarçar e legitimar o domínio das corporações sobre a imensa maioria da população. Comungo nesse ponto com o pensamento de José Saramago, que dizia, por exemplo: "A democracia é uma santa no altar de quem já não se espera milagres." Então, o que adianta se interessar por essa política e acreditar que ao eleger um vereador ou mesmo um presidente estarei representado? Primeiro que não vejo em nenhum político a representação do meu desejo, das minhas aspirações, nem como cidadão, nem como artista. E, ademais, as pessoas que realmente comandam o mundo, não são eleitas “democraticamente”. Não se vota no presidente do Banco Mundial ou do FMI, e são esses alguns dos poucos donos do mundo. E a não ser americanos, não se vota no presidente dos EUA, e suas decisões definem os destinos da maior parte do mundo.

9- Li outro dia uma frase que diz: " Aquele que estudou, deve acender o fósforo que vem acender a chama que é o povo." Você concorda?
Olha, esta frase, dá mais de uma interpretação e pode ser perigosa se interpretada em uma analise superficial. A primeira interpretação, pode nos levar a questão simples de que apenas quem tem um determinado nível de estudo deve conduzir ao restante das pessoas.  Mas esse estudo, o que é? A educação formal, apreendida nos bancos escolares, com diploma certificado pelo Estado, não é condição fundamental para ninguém ser líder de nada. Mesmo porque, particularmente no Brasil, com uma educação que de forma geral é muito fraca, não oferece essa condição. Por outro lado, sem uma base cultural forte não podemos ter uma liderança. O conceito corrente, baseado numa premissa deturpada de coletivismo, que não admite mais o chamado "formador de opinião", também não funciona de fato, gerando uma série de deturpações. Numa sociedade organizada e que pretende ser de fato civilizada, as pessoas devem atingir determinados níveis de acordo com sua capacidade intelectual, disposição de trabalho e esforço. Baseado nisso, essas pessoas atingirão o grau de "fósforos. Achar que o povo (esse conceito tão estreito e rançoso), instintivamente pode se auto liderar, encontrar seus caminhos sozinho é uma balela sem tamanho. Então, resumindo, é necessário que existam os intelectuais, os artistas e os cientistas, e essas coisas dependem de muito estudo e vivência - não necessariamente formal - para conduzirem o restante. Sem isso, o que existirá é de fato aquilo que se prenuncia hoje: uma sociedade nivelada por baixo, principalmente no quesito cultural. E é este que, no fim das contas, determina todos os outros níveis.

10-  O que significa ser “politicamente correto” nos dias de hoje ?
Segundo as definições de sociólogos, o politicamente correto é uma política que consiste em ser neutro em termos de discriminação, evitando qualquer tipo de linguagem ou postura que possa ser considerada ofensiva para certas pessoas ou grupos sociais, como a linguagem e o imaginário racista ou sexista. Mas isso, na prática é um autentico e belo disfarce para coisas muito mais cruéis e perigosas do que possa parecer, porque ela não apenas não aceita, como condena e persegue qualquer expressão contrária. O politicamente correto não aceita uma piada, um texto, um poema, nada que tenha relação com a desigualdade, pretendendo de fato impor a idéia absurda de uma igualdade que não existe. Os seres humanos não são iguais, nunca foram e nunca serão. E querer que não se brinque, se escreva ou se fale sobre isso é, no mínimo, uma estupidez. Contar uma piada sexista ou racista é condenado como se o sujeito fosse um criminoso, mas é preciso entender que o humor e arte precisam ser livres para existirem e não podem estar atrelados a esses mecanismos "politicamente corretos". O que é claro para mim, é que esse discurso politicamente correto é extremamente hipócrita, pois coíbe, de uma forma até mesmo violenta, uma piada ou a expressão de pensamentos, embora o sentimento continue existindo. O pior é que isso acaba gerando um sentimento primeiramente de confronto que na maioria das vezes não existia; e um radicalismo extremo. E todo mundo sabe onde levam o confronto e o radicalismo. Um exemplo de hipocrisia politicamente correta: nos EUA não se pode fumar nem em uma praça, mas se pode andar armado nas ruas. É politicamente incorreto fumar, mas não é incorreto andar com um objeto que tem o único objetivo de matar. E no Brasil estamos caminhando a passos de gigante para isso. Essa onda começou na Europa, onde hoje o politicamente incorreto é configurado como discurso de ódio, o que é no mínimo antagônico, pois enquanto não admite pensamentos discriminatórios, mas não apenas discrimina como criminaliza o pensamento contrário. Claro que ninguém irá defender atos de violência contra quem quer que seja, mas as pessoas sempre conviveram com a arte e o humor que tratava das diferenças entre as pessoas, mas hoje isso é passível até de cadeia ou linchamento. Aliás, há um linchamento cultural contra quem não segue a linha do politicamente correto. Em breve todos os humoristas estão presos ou desempregados, e isso é um absurdo. Mas o pior é o que isso causa na cabeça das pessoas, a censura interna, a mais nefasta delas. Outro dia, uma pessoa postou um comentário numa rede social usando o termo "negro" com relação lado obscuro e sombrio da Justiça brasileira. Imediatamente postou outro, explicando que ali não existia contexto racista e que a palavra "negro" estava no dicionário. Quando eu o alertei sobre a armadilha em que ele tinha caído, ele disse que nem tinha se apercebido disso. Quer dizer, não se pode mais usar essa palavra sem ser acusado de racista? Até dicionários foram atacados, acusados de ter definições racistas em verbetes. Outra coisa é a estupidez de ser criar termos bonitinhos, politicamente corretos, para definir a mesma coisa: não se pode dizer "negro", mas sim "afro-descendente"; não se pode dizer "favela", mas "comunidade", sendo que as coisas e as pessoas continuam sendo as pessoas, apenas mudam-se as palavras e acham que assim estarão resolvendo os problemas. Não se resolve o problema dos negros nem das favelas mudando as palavras com as quais os designamos. De fato, o que se cria com essa conduta politicamente correta é uma sociedade plástica, engessada, culturalmente fraca e em pé de guerra uns com os outros. Os seres humanos não são iguais e o importante não é fazer de conta que são, mas sim termos uma sociedade em que essas diferenças sejam toleradas, que possamos conviver com as nossas diferenças, não fingirmos que somos iguais. Em resumo, em minha visão, essa onda politicamente correta não passa senão de fascismo!

11- Como você vê a politica no pais?
A história política do Brasil é permeada por momentos em que se alternam a ditadura e o populismo. E existem várias formas dessas duas coisas. Em alguns momentos as duas coisas se misturam e se tornam muito perigosas. E é assim que vejo a política brasileira hoje. O socialismo falso que tomou conta do país há 10 anos é isso, uma mistura de populismo com ditadura. Uma ditadura disfarçada, que não usa socos e pontapés, que não usa a tortura física, mas que usa de mecanismos populistas para esmagar qualquer oposição verdadeira. A criação de programas assistenciais indefinidos, sistemas de cotas e leis que privilegiam determinadas camadas da população tem esse efeito, porque cria o anteparo e o confronto. Uma política governamental totalmente equivocada que no fim usa a população como bucha de canhão. O resultado é que no fim, o que estão fazendo é transformar o Brasil num pais de esmoleiros preguiçosos. Lembrando um trecho de uma musica criada por Luiz Gonzaga ainda nos anos quarenta: "Doutor, uma esmola a um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão". Morrer de vergonha nunca foi a cara do brasileiro, então o que resta é uma sociedade de cidadãos viciados, mantidos pelo poder publico e que irá se agarrar a isso, legitimando esse poder, com todas as suas forças. Contra tudo e contra todos, inclusive seus semelhantes.

12-  E como você avalia o governo da presidente  Dilma Rousseff ?
É uma piada, porque de fato nunca existirá o governo Dilma, mas sim, uma continuidade do governo Lula. Dilma foi eleita como seria qualquer pessoa que fosse indicada pelo ex-presidente. Além disso, era uma forma de mostrar o quanto somos modernos e evoluídos democraticamente ao eleger uma mulher. As pessoas não votaram nela, votaram no Lula. O PT criou o socialismo tropical, que alia atitudes pseudo socialistas, com os interesses das grande corporações capitalistas mundiais. Usam dos estratagemas que citei na pergunta anterior para se perpetuar no poder, usando a população, especialmente a mais pobre, como massa de manobra. Um detalhe pequeno, mas que demonstra o caráter da senhora Dilma, foi emitir um decreto obrigando os meios de imprensa a usar o termo "presidenta" quando forem se referir a ela. O termo "presidenta" existe e poderia (poderia) ser usado também, mas o que me choca é a pessoa se preocupar com isso, numa tentativa de impor algo que não caberia a seu cargo, interferindo em uma questão que diria respeito a outros âmbitos da sociedade. Uma tentativa de se impor como mulher, fazer média com o eleitorado ou ainda talvez resolver alguma questão de foro intimo. Ela não tem se impor como mulher, mas como presidente. E isso denota o caráter ditatorial e a fraqueza dela, tanto como mulher quanto como presidente (ou presidenta).

 13 -Quais são os desafios que você tem enfrentado?
Acredito que os desafios que enfrento, são basicamente os mesmos que qualquer artista realmente independente enfrenta. Arte, de uma forma geral no Brasil sempre foi tida como coisa de vagabundo, de desocupado, então não existe de fato a educação para que esse quadro mude. E partindo-se desse conceito enraizado, nada se faz para melhorar, porque afinal, artista precisa morrer de fome, tuberculose, AIDS, essas coisas. Além do mais, mas sempre tendo por base esse conceito nocivo, junto ao de ganho fácil que todo empresário brasileiro tem, editoras, gravadoras de discos e todas as empresas ligadas ao mercado de arte inibem a arte autêntica, sem pensar em criar seus conceitos e sempre seguindo conceitos eternos que ditam o que deve e o que não deve ser lançado e comercializado. Meu maior desafio tem sido, baseado nisso, sempre foi o de tentar mostrar às editoras que existe um mercado para uma literatura que não se resume a livros de auto-ajuda e romances adocicados. Claro que uma editora é um negócio e tem que pagar custos e obter lucro, mas deveria haver um equilíbrio. Hoje existe uma quantidade enorme de autores sendo publicados sim, mas se observarmos com detalhe, percebemos que a maioria é composta por autores jovens e com carinhas bonitinhas. O que vende é a imagem dos autores, não o conteúdo. Mas a minha maior dificuldade, mesmo, talvez esteja no fato de eu não fazer parte de nenhuma panela e não admitir a presença de “lobbies”. Não aceito ser guiado por nenhum mestre, não rendo homenagens a nenhum outro artista e isso não é bem visto dentro dos meios que controlam a cultura (e aqui não falo de empresas, de editoras, mas de “artistas” mesmo.). Especialmente dentro da poesia, arte qual eu mais me localizo, existe quase uma máfia que controla quem irá ou não ser levado degraus acima (ou abaixo). Pessoas que revestem de uma aura auto atribuída e recolhem os frutos. Nunca fui convidado, (aliás fui desconvidado) dos eventos que ocorrem e que são gerenciados por essas pessoas. E o pior que eles fazem de propriedade particular, territórios que em tese são públicos, como a Casa das Rosas e o Centro Cultural São Paulo.

14-  Qual sua relação com os leitores?
Sou muito tímido e avesso á festas, baladas, essas coisas e, portanto a minha relação não é muito pessoal, não. Há tempos desisti dessa coisa de saraus, porque acaba sendo apenas um desfile de egos e narcisismos exacerbados. Como falei acima, também nesse caso o que se vende é a imagem do autor, não o seu trabalho. O que acaba acontecendo é que a minha relação com meu leitores se restringe à Internet, embora da forma mais pessoal possível, colhendo impressões sobre meu trabalho e criando uma relação de amizade com eles. Assim consegui alguns leitores fieis que se tornaram grandes amigos. Sou essencialmente poeta e poesia é estritamente pessoal, fazendo com que acabe acontecendo uma sinergia fantástica com aqueles que se identificam com o trabalho.

15-  Deixe uma mensagem para os leitores.
Agradeço a Joana por esta entrevista, pela oportunidade em poder me expressar e também mostrar meu trabalho, e a todos que a acompanharam. A única coisa que gostaria de dizer aos leitores do Entrementes é a mesma que usei como base maior na educação de meus dois filhos: não acredite em nada de primeira instância, não aceite a primeira opinião, procure sempre vários pensamentos sobre qualquer assunto e depois coloque tudo isso no liquidificador do seu cérebro e retire daí o suco precioso resultante. Não existem verdades absolutas senão a sua, mas é preciso que essas verdades tenham bases sólidas. Leia muito, pense muito e viva muito!

15/01/2013

BIOGRAFIA RESUMIDA

Luiz Carlos “Barata” Cichetto
Poeta, Escritor, Letrista, Webdesigner, Artesão, Editor Artesanal, Agitador Cultural


Luiz Carlos “Barata” Cichetto começou a escrever poemas, crônicas e contos ainda nos anos 1970. E de lá para cá tem mais de 1.000 poemas e cerca de 3.000 crônicas e contos. Em 1997, na ainda emergente Internet no Brasil, criou um site voltado a divulgação de Cultura Rock denominado A Barata, com o slogan: “Liberdade de Expressão e Expressão e Expressão de Liberdade”, referência obrigatória no meio “underground”. Criou e organizou eventos ligados a Rock e Poesia e foi manager da banda Patrulha do Espaço, para quem também criou artes para as capas de dois discos Em 2010 escreveu o libreto da Opera Rock “Vitória ou A Filha de Adão e Eva”. No mesmo ano criou a "Editor'A Barata Artesanal", pela qual publicou 15 de seus livros. Desde 1979 produz esporadicamente revistas independentes impressas, como a Revist'A Barata e a Revista-Zine Versus, e digitais, como a recém lançada “PI2 - Politicamente Incorreto Ao Quadrado". Em 2012, lançou "Barata; Sexo, Poesia e Rock'n'Roll - Uma Autobiografia Não Autorizada", uma auto-ficção. Desde 2008 atua também na produção e apresentação de programas de rádio, sendo que em  2011 criou KFK Webradio, “A Rádio Que Toca Idéias”. Atualmente, também escreve e publica resenhas sobre música em inúmeros sites e blogs e além desse trabalho como poeta, escritor, editor, também cria trabalhos artesanais usando madeira encontrada nas ruas, tendo como fonte principal de renda a criação de websites para empresas. Em 2012, foi premiado no concurso “Mini Drama”, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

Informações Gerais
Nome: Luiz Carlos Cichetto
Nome Literário: Barata Cichetto
Nascimento: 25/06/1958, São Paulo, SP

Contato
E-Mail: barata.cichetto@gmail.com
Celular: (11) 96358-9727
Website: www.abarata.com.br
Blog Principal: www.baratacichetto.blogspot.com.br

24/12/2016

"...E Assim Se Fez Simples" de Ismenia Brandi (Ou Parece Que Foi Ontem Quando Éramos Simples Seres Humanos Simples)

"...E Assim Se Fez Simples" de Ismenia Brandi (Ou Parece Que Foi Ontem Quando Éramos Simples Seres Humanos Simples)
Barata Cichetto
Direitos Autorais Reservados




Dia de Natal, data que não foi escolhido, mas que calhou, de eu ler o pequeno volume presenteado pelo amigo Dimitri Brandi, escrito por sua tia Ismenia Brandi.

"...E Assim Se Fez Simples" é, segundo a definição impressa na própria capa que ostenta um desenho da autora datado de 1984, um livro de crônicas. Um pequenino volume de 42 páginas, sem data de lançamento informada, mas que provavelmente foi feito nos anos mil novecentos e oitenta. As marcas de ferrugem nos grampos de metal e o titulo do livro com letras escritas a mão apenas em preto, dão um ar ainda mais "vintage" ao volume.

Dia de Natal, por coincidência (?) E logo o primeiro texto do primeiro capítulo intitulado "Crônicas de Natal" já desperta uma emoção que nenhum filme natalino, nenhuma estória familiar são capazes de despertar num ateu convicto como eu.

"A Chegada" é uma "crônica poética", uma "proesia", para usar um termo mais "moderno". "O ar estava faiscante de poesia concreta. Nada era luz ali", escreve a autora que nos conduz com suas palavras a uma sensação de tristeza pela perda da simplicidade. Um lamento, mas cheio da esperança - falsa a muitos - que permeia o Natal. "E muito antes de a poesia ser um jeito ilógico de ver a vida, ela já era o que mostrava sua beleza." Ismenia acreditava poesia, na esperança do Natal e na beleza do silêncio.

Na segunda crônica, datada de 1962, a autora torna a falar em silêncio, mas desta feita de forma mais bem humorada, sem deixar as visões poéticas de lado, como nas duas seguintes, escritas ainda na década de sessenta do século passado, seguidas por outras crônicas e poemas escritos na de setenta.

"O Sentido da Vida", escrito em 1975 é de uma beleza impar, e conclui: "É neste momento que temos de ter a coragem de parar e sentir nosso vasio. De onde poderá surgir todas as respostas."

A crônica seguinte, que dá título ao livro "...E Assim Se Fez Simples", relata um encontro com um senhor que participou da Guerra, e que fez das flores de seu quintal a forma de manter-se feliz num mundo cheio de guerras declaradas ou veladas. Aliás, as formas de se manter dentro de um estado de felicidade momentânea, a única possível, lidando com as coisas mais simples, se repetem em outras crônicas e poemas de Ismênia. E até mesmo na poesia concreta que aparece no livro, estilo muito em voga entre os poetas da década.

Simplicidade é que norteia a escrita do livrinho, fruto de uma época em que ainda se acreditava nela. A busca por esse modo simples de ver a vida, herança de uma guerra que ceifou vidas e deixou traumas nos sobreviventes.

Ao terminar de ler "...E Assim Se Fez Simples" de Ismenia Brandi, o que nos abate é uma melancolia profunda. Não é saudosismo, mas saudade. Da gente mesmo. E uma sensação de que algo deu errado, que cometemos erros fatais nos anos seguintes, para que tenhamos chegado à segunda década do terceiro milênio com tanta amargura, tanto desamor e tanta intolerância. Onde erramos?

Talvez um dos nossos maiores erros foi o de não termos acreditado em nossas esperanças e em contrapartida nos prostrarmos aos sonhos alheios, nem tão puros, nem tão simples. Nos perdemos. Nos isolamos. E agora, que tudo é tão complicado e triste, perguntamos a nós mesmos e uns aos outros: quem somos?

Seria possível ainda um mundo com a simplicidade que Ismênia Brandi tratou a vida em suas crônicas e poesias, há quarenta, cinquenta anos? Sim, é possível! Depende de nós.

Parece que foi ontem, quando éramos simples seres humanos simples. E "crahshshsh /  É melhor que nada"... Um dos mais simples e instigantes e sinceros poemas que li. Digno de uma musica simples, de acordes minimalistas e poucos segundos de duração.

Resenha crônica escrita ao som de uma versão acústica do "álbum branco" dos Beatles.

Luiz Carlos Giraçol Cichetto
24/12/2016


14/12/2016

Apresentação a "THUNDERSTRUCK - Enterrem meu coração no túmulo de Bon Scott - Dimitri Brandi"

Apresentação a "THUNDERSTRUCK -  Enterrem meu coração no túmulo de Bon Scott - Dimitri Brandi"


Ultimamente, particularmente no Brasil, saíram inúmeros livros definidos como "Romance Rock", o mais recente é o do amigo Dr. Walter Possibom, intitulado "Um Brilho nas Sombras". Mas não tenho conhecimento de nenhum "Romance Metal". Ao menos não tinha até receber os originais de um texto escrito por Dimitri Brandi, advogado e vocalista/guitarrista da banda de Death Metal Psychotic Eyes, com a proposta de edição pela "Editor'A Barata Artesanal".

A começar pelo titulo, homônimo de uma música da banda que pode ser considerada uma das precursoras do gênero,o AC/DC, o livro é ponteado por trechos, citações e referências. Nele, todos ou quase todos os personagens apreciam o estilo, que efetivamente é mais que trilha sonora, ponto de convergência da história.

Como estilo que abrange todas as mentalidades, desde as mais "retrogradas" até as mais "progressistas", além de aninhar todas as tendências tanto na questão política, quanto na sexual, o Metal representa exatamente tudo aquilo que seus seguidores concebem: a falta de uma linha de conduta, um manual de instruções. O Metal é livre disso, ao menos para os que o compreendem. As classificações e subclassificações, como o próprio termo, ficam para serem usadas apenas com intuito didático.

E é assim nesse que denominei de "O Primeiro Romance Metal do Brasil", onde todos os personagens, além da citada ligação com o gênero, representam pessoas relativamente jovens, que vivem num mundo assolado por guerras e polarizado por ideologias e teologias. Um mundo onde é preciso se fazer ser visto e entendido de uma forma, as vezes, mais brutal.

Todos os personagens apresentados, aliás de forma dinâmica e sem longos discursos de apresentação, são representantes da atual sociedade. Gays, lésbicas, filhos adotivos de duas mães, transexuais, etc.. Todos lutando contra o preconceito, especialmente no mais cruel campo de batalha que existe: a própria mente. Todos estão vivendo essa era conturbada, tensa e intensa de ainda inicio do Século XXI. Todos vivem seus traumas, suas angustias e, a seu jeito, os enfrentam.

Todos vivem? Bem, nem todos "vivem", pois o personagem principal da história, morre logo ao inicio do livro, mas continua a fazer sua narrativa, numa referência direta a um dos maiores escritores brasileiros, Machado de Assis. Aliás, o livro é repleto de referências a outros autores, sem no entanto soar pedante ou arrogante.

Ademais, quem espera que um texto, escrito por um advogado e músico de Metal, cujo personagem principal é um morto, e entremeado por citações e trechos de músicas do estilo, e cujos demais personagens não são nada ortodoxos, seja uma leitura pesada, de difícil assimilação e com enigmas indecifráveis, está totalmente enganado. O livro é de leitura fácil, embora não linear, onde todos os elementos de um romance estão presentes, mas, como espelho da atual sociedade, dispensam detalhes que nada acrescentam.

Ser um editor alternativo tem suas vantagens, como a de conseguir ler, antes mesmo do prelo, um trabalho tão interessante. E quando as máquinas pararem, e os primeiros acordes impressos desse livro vierem a publico, estou certo que a maioria irá concordar comigo.

Luiz Carlos Giraçol Cichetto, Escritor e Editor Artesanal, Domingo, 18 de Setembro de 2016

"Não Há Um Deus Senão o Homem."

"Não Há Um Deus Senão o Homem."
Barata Cichetto
Reprodução Proibida - Direitos Autorais Registrados.

Tentando pensar, lembrando dos ciclos históricos, que talvez expliquem muita coisa. Ou não. É um erro pensar que a história nos ensina. O mesmo erro que coloca historiadores num patamar elevado não merecido na maioria das vezes. História não ensina nada. Mas, ao pensar sobre isso, relembrando as décadas de 60 e 70, quando a maior parte dos países sulamericanos estava sob regimes militares, e de repente - não maximizem o valor da "luta popular" - deram lugar à quase em todos os mesmos países, regimes de semi ou pseudo esquerdas. Agora, a nível mundial, inclusive nesses, tende a governos de semi ou pseudo direita, incluindo a maior nação do mundo até agora. Percebemos paralelamente a isso, um crescimento absurdo de teocracias e antagonismos baseados em extremismos religiosos.
O que pensar? A maior parte das pessoas precisa de lideres, de messias, de salvadores, de guias e gurus. A maior parte dos seres humanos, por preguiça ou insegurança, necessita ser guiado, conduzido. E esse, a meu ver, foi a causa do fracasso de todas as experiências comunitárias, desde o inicio do mundo. Não ficarei citando exemplos históricos, pois como escrevi acima, a história não nos ensina nada, ou não nos fazer mudar o rumo. Está lá apenas para registrar os fatos. Como um jornal velho. E não há incoerência no fato de eu estar citando antigas experiências comunitárias, sejam elas de qualquer cunho ideológico, pois essas experiências estão ai, na frente dos seus olhos. E a quem mora em periferias especialmente tem diante de seus olhos. Nem é preciso ligar a televisão.
A maioria das pessoas precisa de lideres. Elas confiam e esperam deles a resolução de todos os problemas. Desde uma cesta básica, uma dentadura, um passe de ônibus, sua saúde, seu emprego. Querem que tudo lhes venha com o menor esforço possível. E confiam em lideres que lhes dê esse conforto. Mas e quando essa confiança falha? Quando as pessoas percebem que esse conforto ao qual acreditam ter direito, embora fora pago por seus próprios esforços sob a forma de impostos, por exemplo -  falha? Quando esses salvadores não o salvam, quando esses gurus não lhes guiam, quando esses lideres não os lideram, quando... Quando se percebe que o fator humano falhou, buscam fatores extra-humanos... Alguns passam a acreditar em sociedades secretas que os mantém as coisas como estão, outras acreditam em seres de outros planetas que traçaram desde há muito os destinos do nosso planeta e por tabela em nossos destinos em particular. Mas a maioria, descrente dos homens, se voltam a deidades...
No Brasil, estamos diante de uma crise moral, política, e de caráter, com lama e merda saindo de todos os buracos conhecidos. Diariamente noticias sobre outro e outro político (salvadores, gurus, mantenedores de nossas necessidades) envolvido em falcatruas e roubalheiras. As pessoas se sentem enganadas, claro. Mas da mesma forma que políticos, temos noticia de roubalheiras e falsas promessas por lideres religiosos, pessoas sendo enganadas, vilipendiadas, humilhadas por seres que vivem no luxo e na riqueza enquanto seus mantenedores se mantém na pobreza... A exata mesma relação.
Então, qual o motivo de as pessoas se revoltarem contra políticos e não contra lideres religiosos?
O motivo é simples: lideres religiosos representam a deidade, perfeita e absoluta, que na falta do humano, irá dar todas as suas necessidades, de um jeito ou de outro, sem maiores esforços. O preço que pagam, mesmo sabendo estar sendo enganados, vale a pena, segundo eles. Afinal, "deus fala" pela boca daquele ser. E se ele é falho - roubando e enganando os seguidores - é porque assim a deidade o permite.
Percebam que é tudo do mesmo jeito, que as coisas funcionam exatamente iguais.
E enquanto os seres não perceberem que, se deixarem de preguiça e de querem tudo sem maior esforço, não precisarão de lideres, de gurus, de mentores, salvadores. Não precisarão das esmolas desses cidadãos. O preço pago por esperar dos outros o que não tem vontade ou capacidade de ter por conta própria está sendo pago, e a preço alto, nesses dias. O futuro começou... Ou o futuro acabou? "Não há um Deus senão o Homem."

Publicado também no Facebook, em 14/12/2016
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18/11/2016

Resenha de CD - "Flexa" de Alan Flexa


"Flexa" é o oitavo CD do macapaense Alan Flexa, de trinta e seis anos, que produz um trabalho de alta qualidade musical, dentro do Rock Progressivo/Fusion. Alan é responsável pelos sintetizadores, percussão, vozes e arranjos e orquestrações do disco, que mostra claras influências do Kraut Rock, do mestre brasileiro Amyr Cantusio Jr., mas particularmente da musica de Phillip Glass, maior influência do músico e que, aliás, dá o nome da terceira faixa do disco.

Em "Flexa", Alan conta com a participação dos músicos João Fernandes, bateria; Otto Ramos, baixo e de outro expoente da musica progressiva do Brasil, Sérgio Ferraz, no violino.

O disco, de fato um EP virtual, é para ser escutado com os ouvidos apurados e repetidas vezes, já que as nuances sonoras do espectro musical amplo, por onde passeia "Flexa", desperta, a cada nova audição as mais varias sensações e percepções. A faixa dedicada ao mestre Glass merece destaque especial, onde o músico do Amapá toca um piano acústico.

Àqueles que pensam que no Brasil não se produz música da mais alta qualidade, ou que ela é feita somente nas regiões mais em evidência do país, Alan Flexa demonstra com esse disco que a verdade é que a música boa não tem limites, nem fronteiras.