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27/01/2020

Íncubo

Íncubo
Barata Cichetto



Quero entrar pela tua janela feito um anjo safado,
Pendurar no cabide as minhas asas e ficar pelado.
Andar pelo quarto quieto, nas pontas dos dedos,
Vendo sombras vivas que habitam teus segredos.

Vou-te olhar deitada sob o branco clarão da lua,
Enquanto dorme pintada de estrelas, bela e nua.
Pegar uma cadeira e me sentar junto a teu leito,
E sem te tocar, fazer amor como nunca foi feito.

De manhã, quando pela mesma janela entrar o sol,
Partirei te deixando coberta apenas com um lençol,
E anjo vadio, irei aos deuses confessar meus desejos,
Enquanto acorda serena, embriagada de meus beijos.

Nunca saberá de mim, duvidará da própria sanidade,
Mas dentro de si sempre haverá o fruto da eternidade,
E quando eu à Terra retornar, feito um homem carnal,
Nos amaremos até chegar a última noite do juízo final.

14/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto

22/01/2020

Um Fingidor Fugido do Inferno

Um Fingidor Fugido do Inferno
Barata Cichetto



Sou daqueles que fingem, nem que apenas um momento,
Estar louco, sentir o orgasmo ou ter qualquer sentimento.
Daqueles que sempre desmentem que o fingir não é sentir,
Apenas por defeito ou por efeito de meu direito de mentir.

Sou daqueles que sentem muito, mas nunca sentem nada,
Aguardando do outro lado quando o cavalo desce escada.
Que jamais aceitaria o perdão em seu último dia mundial,
E que trocam uma confeitaria por um pedaço de pão de sal.

Sou dos que morrem sem gritar, chorando na escuridão,
No silêncio profundo dos intestinos sombrios da solidão.
Daqueles que sofrem o que podem, sem pedir desculpas,
Acreditando que pedido de perdão é confissão de culpas.

Sou dos que não chegam ao Inferno por tédio e covardia,
Mas que fugiu do Paraíso antes de ser preso por rebeldia.
Daqueles que morrem todas as manhãs depois do café,
Fingindo que existir é uma mentira ou apenas ato de fé.

19/09/2019
©Luiz Carlos Cichetto

18/01/2020

Neil Peart

Neil Peart
Barata Cichetto

Photo: Ben DeSoto, Houston Chronicle

Com a morte de Neil Peart fico me perguntando: onde estão indo todos? Não acredito nem em Céu nem em Inferno, mas sinto que todos estão indo a algum lugar. A Natureza não é injusta, o deus Tempo não é injusto. Falando apenas dos mais recentes: para onde foram Lemmy, Dio, Lou, Bowie e agora Neil?. Goodbye, The Professor! Obrigado ao deus Tempo por me permitir compartilhar da mesma era que esse gênio. Sinto-me grato por ter sido agraciado por estar presente neste inóspito planeta ao mesmo tempo que esses que se foram. Não tenho ideia de para onde foram, mas gostaria de ir ao mesmo lugar.

10/01/2019


12/01/2020

Notebook

Notebook 
Barata Cichetto



Ah, eu, que sou poeta, sou artista, mas nada famoso,
Um falso profeta, anarquista puro e um tanto teimoso,
Apenas um latino americano e sem parentes no banco,
Um tanto míope, o outro cego, e de uma perna manco.

Queria ser bonito, com muito dinheiro e pau gigante,
E comer a buceta das vacas, e até o rabo do elefante,
Mas sou apenas um idoso, poeta barbudo do interior,
Querendo foder mulheres sem pensar no dia anterior.

Eu podia ser ladrão ou até mesmo ser político anão,
Roubando e matando, e até cortar um dedo da mão,
Mas quero apenas foder gostoso do jeito que imagina,
Sem imaginar que é perigoso gostar de chupar vagina.

Penso ser escritor, mas sou ator de filme de segunda,
E enquanto penso imagino o tamanho da sua bunda,
Então bato punheta no banheiro olhando o Facebook,
Pensando naquelas tetas desfilando no meu notebook.

02/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

04/01/2020

Um Conto Sem Crime Nem Castigo

Um Conto Sem Crime Nem Castigo
Barata Cichetto

Guerreiro das Palavras - Nua Estrela


O lugar era enorme, com cerca de umas duzentas cadeiras, daquelas antigas de cinema de bairro, de madeira, todas tomadas por pessoas que tinham livros nas mãos. Era o mesmo título, um volume de poemas. 

Eu, sentado em um banco alto, de madeira, tinha ao lado um rapaz jovem que acompanha e ponteava as leituras com um contrabaixo, o mais maravilhoso dos sons. Seu instrumento tinha apenas duas cordas, as mais graves, no estilo Mark Sandman, do Morphine. 

E eu lia cada poema como se fosse o único e o ultimo. Gritava, gesticulava, enchia os pulmões e às vezes escarrava e cuspia. Uma mesinha ao lado tinha Jack Daniels e dois copos. O rapaz do contrabaixo, sempre de cabeça baixa, se concentrava nas palavras que eu cuspia e berrava, e as emoldurava com as mais belas notas.

Ao final de cada leitura, a plateia toda aplaudia. Eu agradecia e abria outra página do livro. Outro poema. Outro urro. Outro grito.

Era uma festa, sem bolos nem felizes aniversários, mas as pessoas me eram simpáticas e me ouviam. Algumas, no entanto, incomodadas com o teor vagabundo e sacana do meu livro se levantavam e saiam. Outros xingavam e jogavam o livro na minha cara. E eu rosnava. Furioso. Aquilo era a poesia que eu queria.

De repente, as pessoas se dirigiram ao pequeno palco e começaram a me bater com os livros. Eu gritava. E rosnava. E xingava. E, sobretudo, sangrava. Mas não parava de ler, de gritar, de urrar. Eram poemas duros, eu sei. Eram poemas ferozes, eu sei. Eram poemas pornográficos, eu sei. Eram poemas putos, impuros, conservadores, drásticos, eram poemas com todas as cores e eram ao mesmo tempo transparentes. 

Havia palavrões, havia paixão, havia tesão naqueles poemas. Mas quanto eu lia, mais apanhava, era surrado e espancado por todas aquelas pessoas. Estava no chão, estirado, com a boca cheia de sangue, mas ainda soltava meu grunhido, como o de um lobo ferido. Olhei ao lado, e o contrabaixista se levantou e se foi. Fiquei sozinho.

Apanhei durante muito tempo, e quando consegui me erguer estava sozinho. Sangrando, com uma pilha de livros ensanguentados ao meu lado. Escutei um burburinho que vinha do lado de fora, depois vi dois policiais entrando no local. Colocaram-me algemas e me enfiaram numa viatura.

Passei anos numa cela, sendo espancado por presos violentos, traficantes e assassinos. 

Mas nada daquilo foi em vão. Dentro da cela, passava o tempo escrevendo outros poemas e planejando minha vingança.

Quando sai, escrevi outro livro e fui ao mesmo lugar, mas não havia mais ninguém ali, nem para me aplaudir, nem para me espancar. Eu estava sozinho. E mesmo assim li meus poemas como se tivesse uma imensa plateia a me ovacionar. E havia, de fato: uma plateia de invisíveis, de mortos, que do lado de fora se espancava, dando gritos de liberdade a um político.

Texto apresentado no programa Almoxerifado, por Renato Pittas, em 03/01/2020


23/04/2018
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

Também publicado no Facebook em 03/05/2019
https://www.facebook.com/BarataCichettoEscritor/posts/1242643202533080

02/01/2020

Solemnia

Solemnia
Barata Cichetto


Arte: Alicia Rihko

Solenes palavras. - Disse o poeta que era um bufão.
Ouvindo ao longe a chegada de um enorme furacão.
Longe, longe, longe. - Ainda bufou um general guardião.
E que soltem as feras! - Gritou o carniceiro da prisão.
Mas o poeta era de longe, e avançou contra a multidão:
Nunca, em tempo algum. - Bradou com a fúria de legião,
Infringindo um golpe fatal na garganta do imundo rufião.
Agora era livre a princesa, e morto o rei da escravidão.
Soland era a nobre, e o sol se fez dentro da escuridão.

Vês, nobre princesa, o imenso mundo a sua disposição.
E enrodilhou-se o poeta aos pés da musa com afeição:
Rogo-lhe que liberte-me, senhora - Disse com aflição.
Basta que me ame, bardo de valor, e terás a libertação.
A princesa disse terna, como se entoasse a uma canção,
Sacudindo a saia estampada e se entregando de coração.

02/01/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados.