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31/10/2018

Revelações Segundo Barata, Capítulo 1, Versículo 2

Revelações Segundo Barata, Capítulo 1, Versículo 2
Barata Cichetto


Um dia eu também fui um crente. Acreditei em todos os tipos de deuses; dos de barro aos de louça, dos de madeira aos de plástico; dos feitos de cristal aos de metal; afinal, eu era um crente total. Um dia acreditei em todos os tipos de deusas; das de carne às de papel, das de pano às de plástico; das de celuloide às de fantasia; e até mesmo nas que tinham forma virtual ou intelectual.; afinal era um amante imortal Acreditei em deuses e deusas de todos os nomes, de todas cores, de todos os tipos; de todas raças, de todas as culturas, e de todas estaturas. E tinha crença na noite e no dia, no pão e no circo, e em amores e eternidade também; e muito além, no a quem e no amém, afinal eu era um crente, e crentes apenas acreditam no que não têm. Um dia eu fui de todos, a todos e por todos esses deuses e deusas; e fui a tanta igreja, a tanto puteiro, tanto cinema e a tanto bar, que já nem sabia mais onde eu tinha que estar. E de católico a cafetão, de protestante a ladrão, de apostólico a patrão, e de caótico a traficante, fui tanta coisa, que nem sabia mais quem eu tinha que ser. E foram tantas crenças, tanta certeza, tanta esperteza, tantas palavras, e tantas juras, que nenhuma fé eu poderia deixar de ter, e nenhuma verdade poderia desconhecer. De poeta dos deuses a profeta das deusas, fui apenas um pateta, ateu, que prometeu o fogo, e no jogo se fodeu. E fui acreditando em deusas e deuses de tantas religiões, legiões, cores e úteros, que a única forma desses deuses e deusas continuarem a existir era eu deixar de acreditar em suas existências. Ou eles continuavam a existir ou eu. E talvez  hoje esses deuses e deusas sejam crentes em mim, e talvez ainda continuem a existir dentro da crença de alguém.

25/10/2018

28/10/2018

Barata Avatar

Barata Avatar
Barata Cichetto

Corram para as colinas, apertem os cintos, fujam enquanto podem, que Barata está vivo, e está na cidade. E Barata é uma péssima companhia, é bom que todos saibam de antemão. Uma má companhia a idiotas, agiotas; falsos profetas e poetas de letra bonita. Uma má influência às senhoras mal comidas, às mendigas mal dormidas, e às megeras pervertidas. Tranquem em casa suas famílias, prendam suas filhas, Barata está na cidade! Cerquem suas ilhas, soltem os cachorros e guardem as galinhas dentro do armário: Barata está cidade! Cuidado, é perigoso esse homem; ele e sua mania de fazer poesia como quem te mostra um espelho, ele e sua mania de falar o que pensa, sobre o vermelho, sobre o verde, e pessoas incolores, suas dores e seus sabores. Chamem o pelotão, enforquem-no em praça pública, para que sirva de exemplo à aldeia. Fujam, que Barata não é flor que se cheire, não gosta de tomar banho, peida fedido e fala palavrão; sujeito subversivo, que insiste em estar vivo. Corram, que Barata é um perigo. Joguem-no na linha do trem, moam seus ossos, quebrem suas pernas, para que não possa andar, e seus dedos para que não possa escrever. Arranquem sua língua, para que não possa falar. Espalhem cartazes de procurado vivo ou morto pelos muros, pelas pontes e pelos postes. Ofereçam recompensa, ao que pensa que pode matar. Chamem o prefeito, algo tem que ser feito, e de algum jeito, para deter esse sujeito, o tal de Barata, imperfeito; poeta perigoso, idoso, inescrupuloso, odioso. E ele está na cidade! Barata é bicho escroto, feito praga de gafanhoto, escriba canhoto; fujam dele, como fogem do Capiroto. Fechem os puteiros, acertem os ponteiros, chamem os porteiros; fechem as portas, escondam as mortas, acertem as tortas, que Barata está na cidade! Desliguem a eletricidade, escondam a felicidade, e abram nova vala no cemitério, que Barata é um caso sério; e ele está entrando na cidade, sem cavalo, nem esporas, sem estrela no peito, sem chicote nem foice, mas armado até os dentes que ainda lhe restam. Ele usa dentadura, abre fechadura e sorri mostrando a ferradura. Suspendam o churrasco, chamem o carrasco e tragam a corda. Pendurem-no na árvore mais alta, que ele não faz falta. Barata não é gente, pensa diferente, é descrente, indecente; um doente; de tanto pensar. Coloquem-no na jaula, suspendam as aulas, Barata chegou! E diz que veio para ficar. Chamem a polícia, acionem a milícia, Barata não pode passar! Mas cuidado, que ele anda amado e é perigoso; e escreve tanto, que até pensa que é escritor, mas é apenas avatar, difícil de matar. Não ouçam o que ele fala, não leiam o que ele escreve, que, aliás, de nada serve.

01/10/2018

26/10/2018

Não Tenham Piedade de Mim!


Não Tenham Piedade de Mim!
Barata Cichetto

"Senhor, tende piedade de mim!", pedem as senhoras católicas de joelhos calejados e mãos postas; tende piedade de mim, grita a perversa enquanto lhe atravesso o útero; tende piedade de mim, implora o mendigo quando quer do cigarro que acabei de comprar; tende piedade de mim, grita o comunista; tende piedade de mim, berra o fascista; tende piedade de mim, chora o artista; tende piedade de mim, implora o masoquista; tende piedade de mim, rogam minha mãe, meu pai e meus filhos; tende piedade de mim, oram o padre, a freira, o satanista e até a puta da esquina; tende piedade de mim, pede o poeta com seus versos ridículos sobre amores e flores; tende piedade de mim, pede o doceiro, o açougueiro e o cozinheiro com facas na mão; tende piedade de mim, pede o batedor de punheta e até o cachorro da sarjeta; tende piedade de mim, implora minha mulher, minha amante e as três concubinas de cada uma delas; tende piedade de mim, pede o locutor da rádio, o pastor da igreja pentecostal e até o ator de fundo de quintal; tende piedade de mim, pede o sujeito que rouba minha carteira; tende piedade de mim, implora a aborteira; tende piedade de mim, implora o banqueiro, o traficante e o senador; tende piedade de mim, implora o coveiro, e até o defunto; tende piedade, tende piedade de nós. Todos pedem por piedade. E até o carrasco de machado na mão, e o ditador democraticamente eleito, querem a piedade daqueles que sacrificam. Não tenham piedade de mim!

23/10/2018

23/10/2018

A Poesia Está Fedendo!

A Poesia Está Fedendo!
(Ao amigo Joka Faria)
Pintura: Barata Cichetto, "085 - A Leitora ", 2017 - Tinta látex sobre papel Paraná

Ora, pois, que sejamos sinceros: a poesia morreu. Inanição. Há muito deixaram de alimentá-la. À parte alguns poucos que bradam, que pedem para que não a deixemos morrer, ela é apenas uma carcaça moribunda, fedendo e estorvando na calçada. Sim, sejamos sinceros. Pense bem consigo: quando leu, ou melhor quando abordou pela ultima vez a poesia. Abordou, sim, ou seja, chegou perto, tocou, sentiu, perguntou do que se tratava, aonde ia, coisas assim.  Quando foi que comprou, e leu, um livro de poesia? Seja sincero. Não com a sinceridade da poesia, mas com a sinceridade da medicina. Ler poesia em Facebook é o mesmo que falar sobre as vantagens da virgindade num puteiro, sobre as virtudes da honestidade no congresso. Falam sobre livros de poesia, poetas boquirrotos brandindo seus últimos lançamentos por editoras que lhe arrancam o os olhos da cara e as pregas do rabo para terem o prazer vaidoso de ter seu nome numa capa colorida. Gatos mijam sobre livros de poesia, pombos cagam. Não há mais poetas, apenas escrivinhadores de palavrinhas bonitinhas para impressionar a garota que o sujeito ou a sujeita quer comer na balada, com a cara cheia de energético e uísque falsificado. Esqueçam a poesia. Se querem escrever alguma coisa, arrumem emprego num escritório de contabilidade, façam um livro de receitas veganas ou sobre como encontraram uma monja despida aos pés do monte karnal. O século vinte e um, que deu razão a Piva, um dos últimos poetas verdadeiros, matou a poesia. Poesia não rima com tecnologia, tela de computador com fundo azul, feito esta onde escrevo essa verborrágica vomitória sobre a morte da poesia. Ora pois, sejamos sinceros, deixemos que a poesia descanse em paz, já que neste mundo não há lugar onde ela possa respirar. Desliguem os aparelhos, pisem na mangueira. A poesia está morta. Viva a Poesia! Calem-se!

23/10/2018

Tempos do Caralho

Tempos do Caralho
Barata Cichetto
Pintura: Barata Cichetto: "032 - Selfie Sem Vergonha", látex sobre papel Paraná

Tempos bicudos, tempos rotundos, tempos grossos, rabos abanando cachorros, pássaros sem cor, mudos e vagabundos; a política, não a poesia, disse o charlatão; a poesia moribunda inunda de sangue o mar; sangra, se afoga, revoga a lei, do Universo; meu verso, meu inverso: acionem o reverso; liguem os motores de proa, minha prosa, mote e glosa; o barco bêbado, encharcado de rum; tempestade a estibordo, grita o marinheiro, o comandante grita: todos a bordo, ratos correm pelo convés e um pirata com a faca entredentes tem sangue nos olhos; tábuas rangem estridentes, bandeiras rasgadas, usadas como papel higiênico, epidêmico, endêmico, sistêmico; viés satânico no horizonte; abandonem o navio, grita o marinheiro no alto do caralho do navio; lua de sangue, mar de lama, mulheres e crianças aos botes, comunistas ao mar, políticos aos tubarões, barões empalados, portos distantes, furacão a bombordo, todos a bordo; chamem Rimbaud, o capitão, o barco bêbado atravessa a tormenta, chamem Messalina para a diversão; o balanço aumenta meu enjoo, alimenta meu nojo, marinheiros tomam rum e quebram as garrafas no tombadilho, e o estribilho é uma letra de funk: estão todos mortos, são apenas esqueletos que dançam, como num velho desenho animado; a água inunda os camarotes; ricos e ratos e gatos, salve-se quem puder; a orquestra toca a canção de despedida, o barco afunda, água salgada à altura da bunda. Iceberg, Zuckerberg e outros bergs gritam que não são culpados: gente demais na embarcação; e ainda há um poeta, com um canivete na mão, entalhando na madeira podre do barco suas ultimas palavras, um verso torto, que irá boiar, como o ultimo pedaço podre de poesia, até que a água salgada desfaça o verso e a madeira: não há mais poesia possível num mundo que se afoga no seu próprio vômito.

23/10/2018

22/10/2018

Eu Vovô

Eu Vovô
Barata Cichetto
Pintura: Barata Cichetto, "Oral" 2016 - Látex Sobre Papel Paraná

Vovô viu a uva. Eu vi a vulva. Eu vovô viu a vulva. E chamou de uva. E chupou. E eu vovô viu vovó. E nela uma uva. E a chupou até o caroço. Da uva. Da vovó. E a vulva da vovó é uma uva. Que eu vovô quer chupar. Eu vovô viu a uva. E vovó vulva quer fumar. Vovô uva, Eu, quer vulva. Vovó vulva quer fumar. Vovô viu algum cigarro? Pra vovó chupar? Vovô saiu na chuva. Pra vovó vulva fumar. Vovó ficou viúva. E agora parou de fumar. 

20/10/2018

Ciao, Bella!

Ciao, Bella!
Barata Cichetto
Pintura: "Virgin Bell", Barata Cichetto, 2017, Tinta Látex Sobre Papelão

Eu fui poeta. E fui por ter sido, e fui por ido. E eu fui, sem ir a lugar nenhum, em nenhum compêndio, nenhum prêmio, nenhum concurso, nenhuma editora. E fui poeta, fui por sido, fui por ter ido, aonde ninguém quis chegar. Quem sabe Piva chegou. E chegou longe. Mas em sua época ir longe era ir até o Teatro Municipal, ou à Biblioteca Mário de Andrade, e ter livros editados por editores undergrounds. Aos sessenta Piva já tinha chegado, aonde eu nunca cheguei, nem chegarei. Eu nem sei por que. Qual foi meu erro? Qual meu acerto. Olho com tristeza publicações e vejo nomes de conhecidos, pessoas que chegaram, ao menos em algum lugar. Eu sai do meu. Acho que não quero mesmo chegar. Fui escorraçado por família, amigos e parentes. Sobraram meia dúzia, se muito, a ainda bater nas minhas costas, e dois ou três comprar meus livros que eu mesmo faço, já que nenhuma editora quer publicar. Estou conformado de ter sido sem nunca ir, de ir sem nunca ter sido. São Paulo não quis minha poesia, Araraquara não quer minha poesia, o Inferno não quer minha poesia, nenhum deus ou deusa quis minha poesia.  O que fazer com as pilhas de papel, com as centenas de arquivos de computador? Quem sabe sentar numa praça e ler aos pombos, que decerto me cagariam na cabeça.

22/10/2018