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12/01/2020

Notebook

Notebook 
Barata Cichetto



Ah, eu, que sou poeta, sou artista, mas nada famoso,
Um falso profeta, anarquista puro e um tanto teimoso,
Apenas um latino americano e sem parentes no banco,
Um tanto míope, o outro cego, e de uma perna manco.

Queria ser bonito, com muito dinheiro e pau gigante,
E comer a buceta das vacas, e até o rabo do elefante,
Mas sou apenas um idoso, poeta barbudo do interior,
Querendo foder mulheres sem pensar no dia anterior.

Eu podia ser ladrão ou até mesmo ser político anão,
Roubando e matando, e até cortar um dedo da mão,
Mas quero apenas foder gostoso do jeito que imagina,
Sem imaginar que é perigoso gostar de chupar vagina.

Penso ser escritor, mas sou ator de filme de segunda,
E enquanto penso imagino o tamanho da sua bunda,
Então bato punheta no banheiro olhando o Facebook,
Pensando naquelas tetas desfilando no meu notebook.

02/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

04/01/2020

Um Conto Sem Crime Nem Castigo

Um Conto Sem Crime Nem Castigo
Barata Cichetto

Guerreiro das Palavras - Nua Estrela


O lugar era enorme, com cerca de umas duzentas cadeiras, daquelas antigas de cinema de bairro, de madeira, todas tomadas por pessoas que tinham livros nas mãos. Era o mesmo título, um volume de poemas. 

Eu, sentado em um banco alto, de madeira, tinha ao lado um rapaz jovem que acompanha e ponteava as leituras com um contrabaixo, o mais maravilhoso dos sons. Seu instrumento tinha apenas duas cordas, as mais graves, no estilo Mark Sandman, do Morphine. 

E eu lia cada poema como se fosse o único e o ultimo. Gritava, gesticulava, enchia os pulmões e às vezes escarrava e cuspia. Uma mesinha ao lado tinha Jack Daniels e dois copos. O rapaz do contrabaixo, sempre de cabeça baixa, se concentrava nas palavras que eu cuspia e berrava, e as emoldurava com as mais belas notas.

Ao final de cada leitura, a plateia toda aplaudia. Eu agradecia e abria outra página do livro. Outro poema. Outro urro. Outro grito.

Era uma festa, sem bolos nem felizes aniversários, mas as pessoas me eram simpáticas e me ouviam. Algumas, no entanto, incomodadas com o teor vagabundo e sacana do meu livro se levantavam e saiam. Outros xingavam e jogavam o livro na minha cara. E eu rosnava. Furioso. Aquilo era a poesia que eu queria.

De repente, as pessoas se dirigiram ao pequeno palco e começaram a me bater com os livros. Eu gritava. E rosnava. E xingava. E, sobretudo, sangrava. Mas não parava de ler, de gritar, de urrar. Eram poemas duros, eu sei. Eram poemas ferozes, eu sei. Eram poemas pornográficos, eu sei. Eram poemas putos, impuros, conservadores, drásticos, eram poemas com todas as cores e eram ao mesmo tempo transparentes. 

Havia palavrões, havia paixão, havia tesão naqueles poemas. Mas quanto eu lia, mais apanhava, era surrado e espancado por todas aquelas pessoas. Estava no chão, estirado, com a boca cheia de sangue, mas ainda soltava meu grunhido, como o de um lobo ferido. Olhei ao lado, e o contrabaixista se levantou e se foi. Fiquei sozinho.

Apanhei durante muito tempo, e quando consegui me erguer estava sozinho. Sangrando, com uma pilha de livros ensanguentados ao meu lado. Escutei um burburinho que vinha do lado de fora, depois vi dois policiais entrando no local. Colocaram-me algemas e me enfiaram numa viatura.

Passei anos numa cela, sendo espancado por presos violentos, traficantes e assassinos. 

Mas nada daquilo foi em vão. Dentro da cela, passava o tempo escrevendo outros poemas e planejando minha vingança.

Quando sai, escrevi outro livro e fui ao mesmo lugar, mas não havia mais ninguém ali, nem para me aplaudir, nem para me espancar. Eu estava sozinho. E mesmo assim li meus poemas como se tivesse uma imensa plateia a me ovacionar. E havia, de fato: uma plateia de invisíveis, de mortos, que do lado de fora se espancava, dando gritos de liberdade a um político.

Texto apresentado no programa Almoxerifado, por Renato Pittas, em 03/01/2020


23/04/2018
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

Também publicado no Facebook em 03/05/2019
https://www.facebook.com/BarataCichettoEscritor/posts/1242643202533080

02/01/2020

Solemnia

Solemnia
Barata Cichetto


Arte: Alicia Rihko

Solenes palavras. - Disse o poeta que era um bufão.
Ouvindo ao longe a chegada de um enorme furacão.
Longe, longe, longe. - Ainda bufou um general guardião.
E que soltem as feras! - Gritou o carniceiro da prisão.
Mas o poeta era de longe, e avançou contra a multidão:
Nunca, em tempo algum. - Bradou com a fúria de legião,
Infringindo um golpe fatal na garganta do imundo rufião.
Agora era livre a princesa, e morto o rei da escravidão.
Soland era a nobre, e o sol se fez dentro da escuridão.

Vês, nobre princesa, o imenso mundo a sua disposição.
E enrodilhou-se o poeta aos pés da musa com afeição:
Rogo-lhe que liberte-me, senhora - Disse com aflição.
Basta que me ame, bardo de valor, e terás a libertação.
A princesa disse terna, como se entoasse a uma canção,
Sacudindo a saia estampada e se entregando de coração.

02/01/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados.

30/12/2019

E Se A Palavra "Amor" Desaparecesse?

E Se A Palavra "Amor" Desaparecesse?
Barata Cichetto



Imaginem se a palavra "amor" e todas as suas variações como substantivo masculino, tanto com na conjugação em todos os tempos do verbo transitivo direto e pronominal "amar", simplesmente desaparecessem? O que seria? Simplesmente o mundo entraria em colapso? Cairia em uma guerra apocalíptica? Ou simplesmente as pessoas seriam mais honestas e sinceras com as outras, e especialmente consigo próprias? Sem podem dizer "Eu te amo" as pessoas procurariam com atos e fatos demonstrar o quanto tem sentimentos como respeito, carinho, admiração, cumplicidade, etc, para com outra e outras. Sem poder falar em "amor" precisariam serem honestos com o sexo e fazerem dele apenas o que é. E usariam mais outras palavras como "querer", "fazer", "ser". Enfim, a extinção da palavra "amor" e suas vertentes, traria o verdadeiro sentido de "amor". E quem sabe extinguiria outra palavra: "hipocrisia".

30/12/2012

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

27/12/2019

Meus Baratos Amigos

Meus Baratos Amigos
Barata Cichetto

Foto: Liz Franco (MG)

Tenho amigos que não moram em casas bem decoradas,
E que não têm diplomas, nem tem fardas condecoradas.
Tenho amigos que sequer moram ou são donos de casas,
Mas pessoas que como eu, são donos das próprias asas.

Tenho amigos que não tem dinheiro e nem herança,
Que não tem coisa alguma, a não ser sua esperança.
E tenho amigos e que são de muitas cores diferentes,
Pessoas que como eu são cristalinas e transparentes.

Tenho amigos que não tem dentes, sequer uma dentadura,
Desdentados que não mordem e nem assopram a ditadura.
Há amigos com que conto e outros que não sabem contar,
Gente feito eu, analfabetos e imperfeitos, sem se importar.

Tenho amigos que não tem desejos e nem vontades,
Que não tem vaidade nenhuma e me dizem verdades.
E amigos que são poesia e outros são apenas poetas,
Pessoas humanas feito eu, imperfeitas e incompletas.

04/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados