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07/06/2019

Nenhum Lugar Haverá a Ver

Nenhum Lugar Haverá a Ver
(Homenagem Crítica à Araraquara do Acadêmico Ignacio de Loyola Brandão)
Luiz Carlos Cichetto
Foto: Barata Cichetto, Araraquara, 2018

Tinha ficado tão quente que os pássaros morriam torrados em pleno voo ou ficavam grudados no asfalto derretido ao pousarem. As guias das ruas saltavam do meio fio feito pipocas de uma panela sem tampa; rabos incendiados corriam de cachorros e cabelos viravam tochas. 

As rochas inchavam e as gordas eram transformadas em poças de gordura onde crianças nadavam como numa tarde depois de um temporal. As nuvens subiam e escorriam como se fossem o lençol do sol, e tudo parecia torto e morto, queimado e inchado, e mais nada poderia ser feito, por nenhum sujeito, e nenhum prefeito foi candidato a ter ser retrato exposto, em Agosto, na Morada do Sol.

Zero é igual a nada, ou o nada é igual à zero? E entra na Academia o general escritor, de fardão ou camisola de dormir, e antes de sumir, ainda acena à multidão na Praça da Matriz, que por um triz não solta a serpente do porão. E do portão, a meretriz da Brasil, de fogo nos dentes, ainda perde clientes, por falta de sol
.
A situação deu desculpas, a oposição apontou as culpas, enquanto a cidade morria, derretia e escorria, debaixo do sol. E não tinha demônio de efeito, nem anjo perfeito que pudesse conter. Consertaram os defeitos, soltaram os sujeitos; aclamaram corruptos putos e chamaram as putas às lutas, mas mesmo assim, tudo parecia apenas fazer crescer a fúria. E com a injuria da cúria, chamaram os padres, os pastores, e os eleitores de senhores. E as senhoras das horas, presas damas das camas e represas damas, eram chamadas à guerra.

E tudo o que acontecia, diziam, era culpa do patrão, o empresário ladrão, que tinha o padrão de desculpa de ter sempre a mão, o vereador, amigo do ditador, cunhado do estivador, primo mais distante do conquistador. E tudo era obra, maldiziam, daquele que cobra, por seu dever, de achar direito, o que é desfeito sem se ver. O pau que bateu em Brito bate em cabrito, e Edson sabe ser vil. E se ninguém sabe e ninguém viu, alguém comeu e depois sumiu.

E tudo era caos e desordem, por ordem de quem, decreto de ninguém, decerto de alguém, mas que podia ser bem do além, mesmo que fosse aquém do bem, ou do mal. Mesmo uma estátua de sal, um ser anormal, ou bem igual, a qualquer ser. 

Assim já não tinha mais carros, parados com seus pneus derretidos e seus motores fundidos; as locomotivas derreteram e seus vagões feridos; sem rumo e sem destino. E assim não tinha mais tempo, com relógios com ponteiros grudados, travados na meia noite, ou meio dia. E já não se sabia se era noite ou se podia amanhecer. E o envelhecer, ninguém viria a conhecer.

E já não se podia subir e nem descer, surgir ou crescer, já que tudo não era mais nada, a não ser calor. E qualquer valor nada mais tinha, porque nada mais vinha de lugar algum, pois não tinha mais lugar nenhum. Em nenhum lugar. Nenhum lugar havia a ver.

07/06/2019