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09/07/2019

Carta de Um Velho Safado a Uma Barata de Bar

Carta de Um Velho Safado a Uma Barata de Bar
(Um Tributo a Charles Bukowski)
Luiz Carlos Cichetto


Olá, querida barata:

Estou lhe mandando a presente afim de lhe contar o quanto foi importante o nosso encontro de ontem á noite, quando eu tinha bebido demais, fumado de mais e amado de menos.
Sabes, querida barata, que aquele bar onde nos encontramos carrega por aquelas imundas e gordurentas mesas e balcão, histórias que apenas as baratas e a sarjeta da rua em frente conhecem.
Minha cabeça dói, amiga barata e acaso a sua também doa ao mexer suas antenas, não ligue, em poucas horas ou depois de outro porre, passa.
Hoje, escondida pelas frestas ao lado da pia imunda da cozinha do bar, certamente não lembrarás mais de mim e sei que outros bêbados solitários encontrarão em suas antenas, os ombros que precisam.
Têm horas que penso que sou igual a uma barata, mais porque nós humanos lhes achamos imundas e doentias, menos porque respeitamos sua capacidade de sobrevivência; mais porque as tememos, menos porque as respeitamos por sua capacidade de alimentar de absolutamente qualquer coisa, enquanto precisamos comer em bares e plantar e esperar.
Querida amiga, a solidão humana é coisa que apenas as baratas compreendem e sei que quando escutastes sobre minha solidão gargalhaste de um jeito a querer dizer "Estou certa disto!".
Sabes, amiga barata de balcão de bar, sou apenas um velho safado, nem carteiro nem poeta, apenas arremedo de escritor. Mas como escritor escrevo e como o carteiro entregava cartas ao poeta, lhe entrego esta, certo de que com o mesmo respeito que o poeta tratava o carteiro e suas cartas, tratarás a mim e minha carta.
E, amiga barata, sou apenas um velho safado, carteiro da ilusão, da angústia e da solidão. Sabes, querida amiga que encontrei naquele balcão fedorento e gordurento, queria lhe agradecer por escutar minhas queixas e minhas mágoas, por ficares ali, parada, quieta, escutando cada palavra que a embriagues me impunha, me trazia á boca e eram pronunciadas com dificuldade.
Obrigado por ficar ali, apenas mexendo suas antenas, sem censura nem pudor. Queria lhe agradecer por bebericar minha bebida em goles tão pequenos, por andar de um lado ao outro do balcão tomando conta de mim, quanto a bebida me fazia dormir; por andar nas bordas do meu copo tomando conta dele, porque afinal quem beberia num copo em que uma barata andara?
Queria lhe agradecer porque quando finalmente minhas pernas responderam aos impulsos do cérebro embriagado e responderam mesmo que trôpegas aos passos, também correstes de volta a sua fresta junto a pia da cozinha do bar, de um jeito a me dizer "Bom dia!".
Queria saber, querida barata de bar cujo nome - igual a de tantas putas com as quais dormi - desconheço, sobre o que achastes daquele livro que eu portava e que passeastes pelas páginas abertas, um pouco invejosa porque não falava de ti, mas de moscas de bar. Grande injustiça aquela, realmente! É é por isso que decidi lhe mandar esta carta e espero que a leia antes que o dono do bar descubra teu esconderijo, logo ao lado da pia da cozinha, onde ontem á noite não me deste um beijo de bom dia!
Sei que por sua coloração - e eu andei estudando sua espécie do mesmo que jeito que estudas a minha - também és uma veja velha barata safada. Aliás, porque me refiro a você no feminino, se nem sei seu sexo? Mas realmente não importa que sexo um amigo tenha ou se é uma barata ou outro ser, mesmo que humano. O que sei é que pensas, porque mexes as antenas o mesmo jeito que eu quando penso, balanço os braços. E sei mais ainda, que fantástica amiga serias por ter três pares de braços (ou seriam três pares de pernas?).
Não ligues, não, ás queixas deste que lhe manda esta carta, sou apenas um bêbado, um velho safado em busca de uma paixão perdida. E uma paixão eterna e etérea, a paixão pela vida, perdida - a paixão ou a vida - em um tempo em que eu não era nem velho nem safado, nem bêbado sequer era. Aliás o que eu era era um não ser, mesmo que um ser humano, enquanto sempre fostes e serás uma barata de bar.
Não mostres, minha cara, esta carta a outras baratas e principalmente a outros seres humanos porque, principalmente estes, hão de dizer que além de um velho safado, sou um velho louco, conversando com baratas. Certamente irão dizer que a bebida e a solidão embotaram minha mente a ponto de ter delírios e, embora digam que não, irão incluir minha carta em um fabulário geral do delírio cotidiano. Guardes segredo, amiga. Mas não o segredo dos padres, mas o segredo das adúlteras.
Quando quiseres, abandonas a fresta próxima a pia nojenta e gordurenta do bar onde a conheci e chegues a minha morada. Ali terás o abrigo em uma fresta próxima de minha cama, onde meus pesadelos acompanham as noites em que não durmo embriagado. Terás ali papel e bebida, que é tudo o que precisam um escritor e uma barata. Serás então minha confidente de todas as noites, sem que eu precise beber debruçado num imundo balcão de bar afim de poder me escutar.

5/11/2001

04/03/2019

Eu Estou Esperando Por Meu Homem (O Dia Em Que Lou Reed Conheceu Charles Bukowski)

Eu Estou Esperando Por Meu Homem
(O Dia Em Que Lou Reed Conheceu Charles Bukowski)
Barata Cichetto

Sou um homem branco, cantor e compositor. Uso óculos escuros de caminhoneiro e botas e jaqueta de couro preto e bem gastos. Estou parado em frente a um prédio em San Pedro, na Califórnia, e nem sei como vim parar aqui. Só sei que estou esperando por meu homem, me sentindo doente e sujo, mais morto do que vivo. Eu estou esperando pelo meu homem.

Sou de New York, entretanto. E lá, meu homem era apenas um amigo traficante, mas em San Pedro espero por outro homem. E ele é também outra espécie de traficante. Seu produto é bom e com ele eu chego a ficar alto por dias seguidos. Ele é um escritor, trafica palavras, que na verdade são cápsulas que envolvem as mais puras e loucas sensações. O meu barato é heroína, o barato dele também, mas de outro tipo: aquelas heróinas que ficam na calçada cobrando michê. De certa forma também sou tão traficante quanto ele, também, mas minha droga é embalada em notas musicais. Como disse, sou cantor e compositor. Já usei e abusei de heroínas de todos os tipos.

Estou parado na frente desse prédio e toco a campainha. Uma morena alta, com olhos de cavalo e cabelos que parecem uma peruca mal feita atende. O nome dela é Rachel, ela conta, e percebo que é uma bicha daquelas que sempre canto em minhas musicas. Ela é um homem, mas não é meu homem, e quer ser minha mulher. É bonita a desgraçada, e quando se vira para que eu a siga, sem dizer uma única palavra, eu olho para sua bunda, que parece bem gostosa. Eu a sigo para dentro da casa, sempre de olho na bunda, e quando chegamos ao meio da sala, o homem que eu estava esperando se levanta da cadeira, sem deixar cair a cerveja e vai ao meu encontro, me abraçando como seu eu fosse um antigo amigo, ou alguém que fosse lhe pagar uma bebida. Ele parece um viciado em corridas de cavalos bêbado.

- Nenhuma bunda vale cinquenta pratas. - Diz ele.
- Sou um homem branco e uso óculos escuros e botas e jaquetas de couro. - Disse eu. - E nunca pago nem um dólar por um rabo de mulher.
- Rachel não é mulher. Ah, ela não é nada. Ou melhor, Rachel é tudo. Tudo o que ela quiser ser.
- Sou bissexual na maioria das vezes, menos quando rola uma daquelas festas em que ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo. Sou de New York, e lá é o lugar onde todo mundo é o que e quem quiser. Eu sou cantor e compositor, ando na barra pesada, e, portanto sei o que digo.
- Tudo isso aqui é um filme ruim, cara. Aliás, um filme ruim, feito por atores péssimos. A gente sempre representa, e mal. Então qual é o problema? 

Era uma manhã de domingo, e eu tinha passado a manhã bebendo sangria num parque, cheio de crianças remelentas por perto. Detesto crianças remelentas, detesto parques e detesto sangria.  Foi então que decidi ir a algum lugar melhor, e de repente estava na sala de um homem, cujo rosto era familiar, ao menos de longe. E na minha frente uma mulher que era quase um homem, ou um homem que era uma quase mulher, parecia que queria me dar a bunda ou me comer, não sei bem. Eu estava esperando meu homem, era só o que sabia. Só não sabia se era a tal Rachel, ou se era o outro cara.

Rachel se levantou, o homem também se levantou. Rachel se apoiou nos braços do sofá, empinou a bunda e levantou a saia. Depois disse:
- Charles, meu querido, pegue uma bebida bem forte. Nosso garoto precisa de algo que o faça se sentir um homem.

O homem, o que agora eu sabia se chamar Charles, deu uns passos cambaleantes em direção à cozinha, e eu, do mesmo jeito, em direção ao rabo de Rachel. Em minutos eu a estava enrabando e ela rebolava. Enfiei a mão no meio das pernas e um pau de bom tamanho ficou maior ainda quando o segurei. Não tinha perguntado a Rachel quanto custaria seu rabo. Se fosse mais de cinquenta pratas, como dizia o outro homem que se chamava Charles, não valia. Então gozei no cu de Rachel e Rachel gozou no sofá, sujando minha mão. O outro homem voltou com garrafa e copos. Sentou-se e nos serviu, e a ele mesmo. Bebemos em silêncio, com Rachel passando as pontas dos dedos no esperma no sofá e lambendo, entre um gole e outro.

O outro homem, que eu sabia que se chamava Charles ficava me olhando, fumando, bebendo e tossindo. Era um sujeito asqueroso, tinha sotaque alemão disfarçado e ficava o tempo inteiro olhando para uma máquina de escrever no canto da sala, como se lembrasse de algo a escrever e o precisasse fazer imediatamente. Talvez não fosse isso, e ele escondesse heroína dentro da tal máquina. Ninguém dizia nada. E eu só pensava que Rachel era uma viciada, talvez uma Vênus em Peles, que quisesse ser chicoteada ou apanhar na cara. E talvez ela quisesse me bater com uma flor. Ela tinha olhos negros de cavalo, eu já disse. E tinha pernas de cavalo, também. Eram musculosas.

Comecei a cantarolar uma das minhas musicas. E o outro homem a recitar uma de suas poesias. Quando terminamos nosso dueto sem pé nem cabeça, Rachel soltou um bocejo e disse que era tarde demais. E o outro homem, que se chamava Charles, me perguntou se eu queria ser escritor. E eu disse:

- Não, cara, eu estou apenas esperando por meu homem.

E ele me disse:

- Nenhum rabo vale mais que cinquenta pratas. 
Era um dia perfeito. Eu paguei cinquenta para Rachel, coloquei os óculos escuros e a jaqueta e botas de couro e sai pela porta, sem antes escutar o outro homem que se chamava Charles dizer a Rachel:

- Nem tente!

20/02/2019