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26/10/2019

Não Me Peça Almoço de Graça, Estou Vendendo o Jantar de Amanhã

Não Me Peça Almoço de Graça, Estou Vendendo o Jantar de Amanhã
Barata Cichetto



Morta há 50 anos, a verdadeira diva e dama do Teatro Brasileiro, numa época em que lacração política não era a atividade principal de artistas, Cacilda Becker disse com propriedade: "Não me peça para dar de graça a única coisa que tenho para vender". Então, fico aqui pensando com aqueles botões que não tenho na minha roupa, o quanto ela tinha razão, e o quanto artistas de hoje são perfeitos idiotas. Em busca de um minuto (nem quinze mais) damos de graça a única coisa que temos para vender: nosso talento, nosso trabalho, nossa arte. Damos tudo isso de graça, juntamente com outras coisas, que todos - independente de ser artistas ou não - temos de maior valor, que é nosso tempo. Damos tudo isso de graça, enchemos páginas e páginas de conteúdo de sites como o Facebook, cujos donos enriquecem, enquanto permanecemos do lado de fora, mendigando cliques de curtidas e compartilhamentos totalmente inócuos. Damos de graça aquilo que temos para vender. É uma troca? Não, não é. Seria uma troca se recebêssemos pelo que postamos, seria uma troca se recebêssemos um quinquilhão do dinheiro ganho pelos donos bilionários dessas redes. Ademais, damos de graças nossa arte: publicamos poemas que antes deveriam ser impressos em livros e comprados por interessados realmente em poesia. Damos de graça pinturas, imagens, músicas, dramaturgias, e achamos que curtidas e compartilhamentos valem o mesmo que aplausos e dinheiro. Damos pérolas a porcos sequer se dão ao trabalho de ler um texto até o final, que não se detém um minuto para prestar atenção numa arte visual. Então além de darmos de graça o que poderíamos estar vendendo, ainda recebemos o total desprezo. Um poema pode demorar horas ou meses para ser escrito, o mesmo de uma pintura, mas nessas redes não são saboreados por mais de poucos minutos. Somos otários egoístas, enganados por cliques em um ícone maldito de um sinal de "positivo". É isso, apenas isso o que paga pelo seu trabalho? É só isso que custa sua arte? Ah, sim, isso quando ainda não pagamos para "impulsionar", pagando a essas redes milionárias para usufruir de nosso trabalho, na mesma ânsia vaidosa por nos sentirmos amados e queridos por pessoas que sequer se importam com nossas existências. A propósito, o assunto aqui não é Cacilda Becker.

26/10/2019
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