Divagações de Um Burro Sobre a Independência do Brasil
Luiz Carlos Barata Cichetto
Sim, sou um Burro. Também conhecido por "Asno" embora meu nome original seja um tanto pomposo: “Equus Africanus Asinus”. Também chamado de "Jumento", "Jegue", "Jerico” e outros nomes que o Bicho-Homem sempre associa com a falta de inteligência e de capacidade mental.
Sou um mamífero que caminha sobre quatro patas, tenho focinho e orelhas compridas e sou utilizado desde tempos pré-históricos como animal de carga e montaria. Minha mãe é a “Mula” e meu pai o “Cavalo”, coisa que tem gerado por todas as minhas gerações, um crítico problema de identidade.
Mas sou um Burro e tenho servido ao Bicho-Homem, carregando suas tralhas e seu peso por caminhos e trilhas que a linhagem de meu pai não seria capaz. Sou forte, sou rijo e sou, conforme algumas definições, teimoso. E sou teimoso porque não me detenho por nenhum obstáculo, determinado a cumprir minha missão.
O Bicho-Homem, em determinados países, chama seus dicionários como "Pai dos Burros", porque sem mim estariam iletrados, mas conforme falam, meu pai é um Cavalo, portanto, nem sequer aí é dado justiça a mim.
Ao Bicho-Homem chamar com meu nome a alguém é uma ofensa mortal, pois o estaria associando a um indivíduo pouco inteligente, estúpido, teimoso, ignorante, com pouco entendimento, “sem conhecimento geral nem criatividade”. Coisa que decerto não sou, pois se, como admiti anteriormente, sou teimoso por natureza, essa teimosia é por minha determinação e força em vencer obstáculos, não em insistir em coisas que não são de meu conhecimento, ou em atos contra minha própria natureza.
Até mesmo a História do Brasil me defenestrou, me humilhou e colocou em meu lugar a carregar nos ombros o "libertador", a figura do meu pai, que de fato não teria capacidade nem resistência para subir uma Serra carregando um Bicho-Homem, mesmo sendo ele o filho querido de um Rei. Ainda mais que aquele era um tanto bem alimentado e prepotente. E prepotência pesa muito sobre os ombros de um Burro...
Esqueceram de mim na história. E olhem que eu ainda fiquei ali, ao lado dele, enquanto ele cobria uma de suas fêmeas antes da jornada, e também fiquei ali ao seu lado enquanto ele soltava seu estrume bem próximo às margens plácidas de um regato.
Poderia eu sentir-me honrado em ter transportado em meu lombo a bagagem e a bunda Real do Imperador Dom Pedrinho em suas jornadas em busca de foder as não tão nobres bucetas de suas concubinas, que acredito eu, o Burro, eram extremamente importantes à nação. Mas meu orgulho em carregar tão nobre carga não foi aceito nem entendido pelo artista da Corte, que ao copiar um quadro francês com intenção de retratar o heróico momento da Independência, esqueceu que eu também tinha importância na história e deixou de lado a minha figura.
Acho, por fim, que sempre fui muito importante à história do Brasil e tive papel importante em inúmeras de suas “guerras”, principalmente naquela que foi essencial à libertação do Brasil das mãos daqueles que hoje, à nível de troça, eles também chamam por meu nome. Uma guerra travada dentro de palacetes e casas de damas, e que foi ganha apenas por aquele príncipe garanhão, feito meu pai, que decididamente e indefinidamente transformou o Brasil numa pátria não de burros, que isso não sou, mas de idiotas, covardes e inúteis, que acreditam que tirar o Burro do quadro e colocar o Cavalo irá mudar sua história... E seu destino.
Eu não sou Burro!
Outras Reflexões do Burro:
Não sou desprovido de inteligência, apenas não tenho "consciência de espécie". Acaso a tivesse, acaso tivesse eu noção da minha força, decerto não admitiria a dominação por uma espécie fraca quanto a do Bicho-Homem.
Nasci no Brasil e portanto sou definido como "brasileiro", mas nenhum orgulho tenho disso. Aliás, o que sinto é uma imensa vergonha.
Não sei escrever, nem ler. E se soubesse eu deixaria de ser Burro? Decerto que não, pois a "burrice" - olhem que absurdo, criarem um substantivo feminino associado a mim -, não é extinta apenas pelas letras, mas pelo acumulo de experiências culturais, pessoais e sociais.
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A maior parte dos países do planeta tiveram suas independências conquistadas depois de guerras sangrentas, sangue de irmãos... Mas a do Brasil depois de uma trepada e uma cagada às margens plácidas de um rio, declarada por um príncipe playboy... E querem que as coisas sejam diferentes por aqui! Pensem nisso!
Seria a Marchinha "Dom Pedrito", gravada em 1949, composta por Djalma Esteves e Célio Monteiro e gravada pelos Trigêmios Vocalistas, no mesmo ano, uma critica à "nossa" independência???
O titulo desta imagem deveria ser: "Vergonha Brasileira" ou "Vergonha de Ser Brasileiro" |
Sim, sou um Burro. Também conhecido por "Asno" embora meu nome original seja um tanto pomposo: “Equus Africanus Asinus”. Também chamado de "Jumento", "Jegue", "Jerico” e outros nomes que o Bicho-Homem sempre associa com a falta de inteligência e de capacidade mental.
Sou um mamífero que caminha sobre quatro patas, tenho focinho e orelhas compridas e sou utilizado desde tempos pré-históricos como animal de carga e montaria. Minha mãe é a “Mula” e meu pai o “Cavalo”, coisa que tem gerado por todas as minhas gerações, um crítico problema de identidade.
Mas sou um Burro e tenho servido ao Bicho-Homem, carregando suas tralhas e seu peso por caminhos e trilhas que a linhagem de meu pai não seria capaz. Sou forte, sou rijo e sou, conforme algumas definições, teimoso. E sou teimoso porque não me detenho por nenhum obstáculo, determinado a cumprir minha missão.
O Bicho-Homem, em determinados países, chama seus dicionários como "Pai dos Burros", porque sem mim estariam iletrados, mas conforme falam, meu pai é um Cavalo, portanto, nem sequer aí é dado justiça a mim.
Ao Bicho-Homem chamar com meu nome a alguém é uma ofensa mortal, pois o estaria associando a um indivíduo pouco inteligente, estúpido, teimoso, ignorante, com pouco entendimento, “sem conhecimento geral nem criatividade”. Coisa que decerto não sou, pois se, como admiti anteriormente, sou teimoso por natureza, essa teimosia é por minha determinação e força em vencer obstáculos, não em insistir em coisas que não são de meu conhecimento, ou em atos contra minha própria natureza.
Até mesmo a História do Brasil me defenestrou, me humilhou e colocou em meu lugar a carregar nos ombros o "libertador", a figura do meu pai, que de fato não teria capacidade nem resistência para subir uma Serra carregando um Bicho-Homem, mesmo sendo ele o filho querido de um Rei. Ainda mais que aquele era um tanto bem alimentado e prepotente. E prepotência pesa muito sobre os ombros de um Burro...
Esqueceram de mim na história. E olhem que eu ainda fiquei ali, ao lado dele, enquanto ele cobria uma de suas fêmeas antes da jornada, e também fiquei ali ao seu lado enquanto ele soltava seu estrume bem próximo às margens plácidas de um regato.
Poderia eu sentir-me honrado em ter transportado em meu lombo a bagagem e a bunda Real do Imperador Dom Pedrinho em suas jornadas em busca de foder as não tão nobres bucetas de suas concubinas, que acredito eu, o Burro, eram extremamente importantes à nação. Mas meu orgulho em carregar tão nobre carga não foi aceito nem entendido pelo artista da Corte, que ao copiar um quadro francês com intenção de retratar o heróico momento da Independência, esqueceu que eu também tinha importância na história e deixou de lado a minha figura.
Acho, por fim, que sempre fui muito importante à história do Brasil e tive papel importante em inúmeras de suas “guerras”, principalmente naquela que foi essencial à libertação do Brasil das mãos daqueles que hoje, à nível de troça, eles também chamam por meu nome. Uma guerra travada dentro de palacetes e casas de damas, e que foi ganha apenas por aquele príncipe garanhão, feito meu pai, que decididamente e indefinidamente transformou o Brasil numa pátria não de burros, que isso não sou, mas de idiotas, covardes e inúteis, que acreditam que tirar o Burro do quadro e colocar o Cavalo irá mudar sua história... E seu destino.
Eu não sou Burro!
Outras Reflexões do Burro:
Não sou desprovido de inteligência, apenas não tenho "consciência de espécie". Acaso a tivesse, acaso tivesse eu noção da minha força, decerto não admitiria a dominação por uma espécie fraca quanto a do Bicho-Homem.
Nasci no Brasil e portanto sou definido como "brasileiro", mas nenhum orgulho tenho disso. Aliás, o que sinto é uma imensa vergonha.
Não sei escrever, nem ler. E se soubesse eu deixaria de ser Burro? Decerto que não, pois a "burrice" - olhem que absurdo, criarem um substantivo feminino associado a mim -, não é extinta apenas pelas letras, mas pelo acumulo de experiências culturais, pessoais e sociais.
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A maior parte dos países do planeta tiveram suas independências conquistadas depois de guerras sangrentas, sangue de irmãos... Mas a do Brasil depois de uma trepada e uma cagada às margens plácidas de um rio, declarada por um príncipe playboy... E querem que as coisas sejam diferentes por aqui! Pensem nisso!
Seria a Marchinha "Dom Pedrito", gravada em 1949, composta por Djalma Esteves e Célio Monteiro e gravada pelos Trigêmios Vocalistas, no mesmo ano, uma critica à "nossa" independência???
"Lá vem o Dom Pedrito,
Montado num burrico,
Cantarolando voi,
No rancho há muito vinho,
Há doce e salgadinho,
E a Chica se casou. (...)
Não por acaso, o apelido-nome de guerra de um popular ex-presidente nosso, rima com o da mãe do nosso simpático (e injustiçado!) burrico. Sofremos e sofreremos as consequências da "inteligentice" do sindicalista.
ResponderExcluirMas, cabe lembrar que o nosso bravo jerico foi merecidamente homenageado por Luiz Gonzaga, que lhe deu todas as honras, entre elas, a de que o jumento é nosso irmão-ão-ão-ão...
Bem lembrado, meu amigo. Luiz Gonzaga, foi poderia estar em duas das minhas listas, a de subestimado e superestimado. Subestimado, primeiro quando sua boa obra, como uma das musicas "de protesto" mais contundentes que já foram feitas "Vozes da Seca", é praticamente desconhecida. E Superestimado por ter ficado conhecido pela maioria como brega, autor de musicas de gosto duvidoso. Luiz Gonzaga é um ótimo exemplo sobre essa questão. No mais, pegando o gancho de outra postagem, "Pena não ser burro, não sofria tanto", frase de Raul Seixas... Tudo se converge, meu amigo Genecy, no país da "burrice" premiada. Obrigado pelos comentários.
ExcluirEssa frase do Raul grudou no meu subconsciente para nunca mais sair. O efeito é certeiro. E isso de certa forma tem a ver com a índole acomodada do brasileiro, que sofre, reclama, e depois resolve tudo no carnaval.
ResponderExcluirSim, Genecy! E ela foi um dos motes do texto Reflexões de Um Burro Sobre a Independencia do Brasil... Muitas das frases de Raul Seixas ficaram impregnadas na mente da gente, sim!
ExcluirSeis anos se passaram e muita coisa aconteceu. Uma delas foi que o 'popular ex-presidente nosso' atualmente é um presidiário. Prova que sua alardeada inteligência não foi páreo para gente realmente inteligente, que o enfiou na jaula. No entanto, os burros que consideram o ex-presidente como líder máximo continuam satisfeitos com seus fardos de capim.
ResponderExcluirCada um come o que planta.
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