O CONTEÚDO DESTE BLOG É ESPELHADO DO BLOG BARATA CICHETTO. O CONTEÚDO FOI RESTAURADO EM 01/09/2019, SENDO PERDIDAS TODAS AS VISUALIZAÇÕES DESDE 2011.
Plágio é Crime: Todos os Textos Publicados, Exceto Quando Indicados, São de Autoria de Luiz Carlos Cichetto, e Têm Direitos Autorais Registrados no E.D.A. (Escritório de Direitos Autorais) - Reprodução Proibida!


Mostrando postagens com marcador João Barrá. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador João Barrá. Mostrar todas as postagens

02/11/2019

Barra, Barata, Barcelos

Barra, Barata, Barcelos
Barata Cichetto



Somos três amigos. Um preto, um branco e o outro mulato,
E desafiamos aos sentidos, do estrito, do restrito e do lato.
Disseram que não podíamos ser, dividiram as nossas cores,
E mentiram que éramos menores que nossas próprias dores.

A igualdade é o que temos, a desigualdade é o que querem,
E se somos diferentes somos melhores do que nos preferem.
Insistem que deixemos de ser o que somos, da cor ao penhor,
E que assim tenhamos um único amo, proprietário e senhor.

Não somos escravos de nossas peles, corpos meras carcaças,
E assim, diferentes irmanados em nossas próprias desgraças.
Mostraram o caminho do ódio que nunca quisemos por bem.
Conceitos que não nos pertencem, e os lucros são de alguém.

Barra, Barata, Barcelos, três amigos com honradas histórias,
Profetas poetas, em outras eras cobertos seriamos de glórias.
Temos as cores, mas cores não nos culpam, e nem absolvem,
Mas por elas é que as areias geladas deste mundo se movem.

Somos três seres. E fossemos um e seriamos bem menos,
Pois querem que nós nos dividamos, não que somemos.
E por Barra, construtor que une a argamassa com cal frio,
A Barata junta-se Barcelos, o profeta com olhar de arrepio.

Penso agora sobre meu destino e em cantigas do meu exílio,
E na esquina da Gonçalves Dias realizamos nosso concílio,
Crânios dos cachorros, troncos calcinados e esculturas finas,
No lombo trazemos a verdade e nas mãos carregamos sinas.

Percorrem as pernas cansadas os trilhos de aço da ferrovia,
Sobre dormentes de madeira o som que há muito não ouvia.
Há velhas máquinas que gritam na madrugada rumo à morte,
E um velho guardião dos rios, segue traçando a própria sorte.

Não há ordem no caos, nem justiça na terra da barbárie,
E o dente social, na boca do mal é o que sofre com cárie.
Bodes usam coturnos, e porcos fumam charutos cubanos,
O que nos resta é a solidão dos últimos redutos humanos.

Entre as linhas da pele nossa própria história escrevemos,
Falamos o que ouvimos e enxergamos além do que vemos.
Dois séculos e tanto mais somam todas as nossas idades,
Então fazemos do tempo um cavalo alado de realidades.

O que importa é o caminho, e não aonde queremos chegar,
Importante são os pés, e não a estrada, o terreno e o lugar.
De aço é o trem e os trilhos, e de madeira são os dormentes,
E a terra fria do cemitério único remanso de nossas mentes.

Somos em três: um é profeta, o outro poeta, e um é pedreiro,
E nunca sabemos quem é um, o outro ou quem é o primeiro.
Falamos em círculos, por mesóclises ou por colorida elipse,
Um triângulo escaleno, ênclises, e cavaleiros do apocalipse.

Barra, Barata, Barcelos, ou em qualquer ordem três profetas,
Que o mundo insano insulta como se fôssemos meros poetas.
Trajamos armaduras dos guerreiros, ultrajamos o estandarte,
E fazemos do que somos, muito além da existência, pura arte.

27/10/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

13/08/2019

Exumação

Exumação
Ao Amigo João Barrá
Foto: Luiz Carlos Cichetto, Cemitério das Cruzes ("Britos", Araraquara - SP

Confortem-se! Aceitem! A poesia morreu. De inanição. De falta de visão. Mas estava lúcida a coitada. Não ouvia direito. Não falava direito. Na verdade só chorava. Faleceu. Está morta a pobre. E nem no velório alguém recitou um verso. Em homenagem póstuma. Ninguém derrubou uma lágrima. Ninguém se aproximou do caixão. Nem pediu perdão. Nos celulares muitos concentrados. Preocupados. Com a eleição. A poesia se foi. Foi-se. Não houve missa de corpo presente. Nem discurso de presidente. Outros então contando piada. De polícia e ladrão. Mas não. Ninguém lamentou. Ninguém percebeu de fato. O fedor da defunta. Suas roupas rasgadas. E sua boca costurada. A poesia está morta. Foi sepultada como indigente. Num caixão. Sem paixão. Em cova rasa. Num cemitério clandestino distante da cidade. Ninguém pediu justiça. A beira do túmulo. E por cúmulo. O prefeito pediu a palavra. Como se soubesse o que é palavra. E disse: Que morra a poesia. Mas que sobrevivam os porcos. Todos foram para casa. E na sepultura nenhuma flor. E a chuva nem caiu. E ninguém sentiu. Pediram exumação. Abriram a campa. Não haviam restos mortais. Apenas cinzas. E o processo foi encerrado. E nunca foi noticiado.

13/08/2019