Ao Amigo João Barrá
Foto: Luiz Carlos Cichetto, Cemitério das Cruzes ("Britos", Araraquara - SP |
Confortem-se! Aceitem! A poesia morreu. De inanição. De falta de visão. Mas estava lúcida a coitada. Não ouvia direito. Não falava direito. Na verdade só chorava. Faleceu. Está morta a pobre. E nem no velório alguém recitou um verso. Em homenagem póstuma. Ninguém derrubou uma lágrima. Ninguém se aproximou do caixão. Nem pediu perdão. Nos celulares muitos concentrados. Preocupados. Com a eleição. A poesia se foi. Foi-se. Não houve missa de corpo presente. Nem discurso de presidente. Outros então contando piada. De polícia e ladrão. Mas não. Ninguém lamentou. Ninguém percebeu de fato. O fedor da defunta. Suas roupas rasgadas. E sua boca costurada. A poesia está morta. Foi sepultada como indigente. Num caixão. Sem paixão. Em cova rasa. Num cemitério clandestino distante da cidade. Ninguém pediu justiça. A beira do túmulo. E por cúmulo. O prefeito pediu a palavra. Como se soubesse o que é palavra. E disse: Que morra a poesia. Mas que sobrevivam os porcos. Todos foram para casa. E na sepultura nenhuma flor. E a chuva nem caiu. E ninguém sentiu. Pediram exumação. Abriram a campa. Não haviam restos mortais. Apenas cinzas. E o processo foi encerrado. E nunca foi noticiado.
13/08/2019
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