Manual de Consulta Sobre Mim Mesmo
(Texto de Introdução a "Barata: Sexo, Poesia & Rock'n'Roll - Uma Autobiografia Não Autorizada")
Luiz Carlos "Barata" Cichetto
Queria tanto falar sobre os livros que li, durante a maior parte do tempo, em um tempo que passou por cima de minhas costas feito um elefante de ferro. Foram milhares, estou certo. Mas deles pouco recordo, apenas títulos e autores. E não deveria ser assim, dos livros deveríamos lembrar tudo e esquecer os autores. É a prova de que estão errados aqueles que pregam que o que importa é a obra e não o autor. A vaidade humana é maior que tudo e nos restam apenas os nomes, sejam eles sob a forma de títulos ou autores de livros, discos, casamentos, transas... Ficam nomes, somem histórias e idéias. As pessoas morrem, as idéias não? Ficam frases soltas, foguetes lançados ao espaço, nomes de filmes... Nomes, nomes, nomes... Nomes são títulos e títulos são chagas.
Enfileirados nas estantes, os livros mostram apenas os títulos e os nomes, mas sua alma permanece escondida. As estantes mostram nomes, apenas e nos contentamos em olhar os títulos dos livros que lemos um dia... Ou que nunca leremos. Livros perfilados numa estante, pessoas perfiladas nas ruas. Os livros na estante exibem nomes nas lombadas, mas as pessoas não exibem seus nomes nos rostos. São anônimos, sem nomes nem títulos. Dentro delas, escondidas, guardas, fechadas como em um livro guardado na estante, as histórias e as idéias.
Porra, não somos nomes nem títulos, somos histórias e idéias, somos livros, somos discos. Mas, espremidos feito livros em uma velha estante de madeira, com a lombada rota onde não se podem ler nem nomes nem títulos, ficamos parados, inertes e sem utilidade.
Acaso, como nos personagens do livro Farenheit 451 de Ray Bradbury, somos todos Homens-Livro, cada um lembrando um pedaço de um livro? Sim, guardamos dentro de nossas páginas histórias alheias, e por horas, do mesmo jeito que um livro tem gravado em si histórias dos outros e não conhece sua própria história, nos esquecemos de nós, de nossas histórias e contamos aquelas que nos contaram, que escreveram em nossas páginas. Somos sim, Homens-Livro, guardando pedaços de histórias alheias. E portanto urge, que cada ser humano escreva seu próprio livro, contando sua história e suas idéias, para que ela não conste apenas nos outros livros de histórias alheias. Escritas da forma que quiserem.
E é esta a razão principal de eu ter escrito minhas memórias, que eu chamei de "Autobiografia Não Autorizada". Porque minha própria história e minhas idéias, dentro da minha mente que envelhece, cansada, começa a ser apagada, como um velho livro em que as letras começam a sumir. E não admito que outros contem minha história em suas páginas, porque a cada ser humano é sua própria história e suas próprias idéias. Nem bem, nem mal, apenas... Histórias e Idéias.
E quem sabe, num futuro próximo, quando eu não lembrar mais de mim, de minhas histórias e de minhas idéias, possa a esse livro recorrer, como um manual de consulta sobre mim mesmo.
20/04/2012
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