Herança
Luiz Carlos Barata Cichetto
Herdei a tagarelice de minha mãe, o gosto por contar história de meus antepassados caipiras e os gestos espalhafatosos dos ancestrais italianos. Gosto de contar histórias, particularmente as minhas, então muita gente acha que sou um ególatra. Mas minha mania de estar sempre contando histórias tem muito mais a ver com uma necessidade de estar presente nas histórias alheias, de ser de alguma utilidade nas histórias alheias.
De certa forma é sim uma espécie de dependência emocional. Uma dependência quase que química, orgânica de gente. Preciso estar perto de gente, mesmo dos idiotas, mesmo dos chatos, mesmo dos incultos, mesmo das putas, dos pederastas, das santas e das promiscuas. São pessoas e o melhor de tudo isso é que são histórias.
Farto material a um filósofo amador, formado nas mais incomodas cadeiras em forma de guias e sarjetas das ruas e cujo quadro negro são as costas das minhas amantes e as páginas dos livros. As lições escritas numa espécie de tatuagem secreta que apenas eu consigo decifrar e que formarão um livro de fabulosas histórias.
E a tagarelice passada a mim por herança genética é auto-sustententável e enfim, um culto ao meu ego, pois não tagarelo com o mundo, mas comigo mesmo, com intenção de não esquecer de mim, nem de minha própria história.
17/07/2012
Foto tirada nas Lojas Pirani, São Paulo, 14/11/1959, por ocasião do meu batizado católico, e recentemente batizada com o nome de "Olhar Atávico", pelo amigo Orlando Lazaretti
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