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24/02/2013

Brutalidade (Ou Alice Cooper Não Mora Mais Aqui no País das Maravilhas)


Brutalidade (Ou Alice Cooper Não Mora Mais Aqui no País das Maravilhas)
Barata Cichetto
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Prólogo
Deixa-me contar sobre os tempos da minha infância
Sobre crianças da dor, sobre as botas e a ganância
E dos tempos das guerras, ditaduras e da brutalidade
Mortos sepultados sem lápide, estigmas da crueldade.

Deixa-me falar sobre o general e sobre o guerrilheiro
Sobre o dragão da maldade e o seu santo guerreiro
Falar sobre a Opinião, o Pasquim e sobre Realidade
Dos poetas do mimeógrafo e das putas da Liberdade.

Deixa-me sim, contar sobre o que ainda me recordo
Porque bem agora, domingo de manhã eu acordo
Com dores nas costas, ressaca e muita inutilidade
E antes que me perca na dor o bonde da saudade.

Deixa-me por fim falar sobre o Rock, a Poesia e o Sexo
E sobre arte sem cor, a arte da dor e coisas sem nexo
E ainda sobre descobertas, censuras e promiscuidade
Músicas proibidas, fugas audazes e sobre sexualidade.

I - 
As Flores do Mal, as Temporadas no Inferno, e outro Eu
Litanias de Satã e o Sangue Ruim do mercenário judeu
Augustos eram anjos que desciam a Infernos dantescos
E grasnados de corvos em ombros de bêbados grotescos.

Três da madrugada, dia D dos Últimos Dias de Paupéria
Um poeta abriu o gás, num ato de desespero e miséria
E não berrou na hora da faca, mesmo não sendo um boi
Pois sabia que seria apenas poeta, não o homem que foi.

Bandeiras desfolhadas, crianças estupradas, as ditas cujas
E a manhã nunca começa a dois perdidos em noites sujas
A morte ainda organizada, sempre uma filosofia perene
E eu que nunca achei a menor graça na risada da Irene.

E eu Desobedecendo, seguia uma canção até os bosques
Lendo pelas ruas e comendo vagabundas em quiosques
E mesmo falando a língua dos Charles e de Anjos barrocos
Nem a poesia separou a mim do tormento total dos loucos.

II -
Delirei com a realidade e o cotidiano foi a minha alucinação
Em delírios cotidianos de um anormal a morte de uma nação
E ainda por força de um destino, a fé cega e a faca amolada
Num tango argentino eu senti a minha própria pele esfolada.

Punhetas dentro de cinemas do centro e santas soltando rojão
Enquanto fodia putas na esquina da Ipiranga com a São João
Mas nada acontecia e por nada batia forte o músculo do peito
E eu sabia que o meu desgosto era de agosto e não tinha jeito.

A construção era tosca e nunca esperei nenhuma banda desfilar
Aos tolos era preciso dar um herói, aos falsos seu veneno destilar
E enquanto o outro bebia escocês destilado na banheira do hotel
Putas em busca da eternidade da chama davam o rabo no motel.

Um dia eu falei a Pedro, que iria com ele por qualquer caminho
Que o do fogo era a água, do reto o torto e do amigo o carinho
Mas sua transmutação em borboleta era indiscreta e torturante
E eu apenas de fato e resto era apenas metamorfose ambulante.

III -
Existiu ainda a senhora de ouro que me carregou por sua estrada
Construída de tijolos amarelos, subindo ao Céu feito uma escada
Mas eu era apenas um garoto com medo, e atordoado e confuso
Fui girando e gemendo em sua mão feito o enferrujado parafuso.

Sempre fui um homem magro e com um lápis rabiscava poemas
E as paredes do quarto, apenas elas conheciam meus problemas
O Senhor Jones era o marido da Senhora Jones, na noite perdida
E eu apenas um caubói da meia noite com minha espora partida.

Eu era apenas cantor, lunático atrás do lado escuro, brilhando
Ou apenas um louco de pedra pensando que era um brilhante
E rochas quebraram minha perna quando da montanha rolaram
Perdida Inocência, em minhas pernas as serpentes se enrolaram.

A imagem do poeta ficou na brisa, brumas sobre lagos de fogo
Mas agora era apenas sentir a falta das piadas e entrar no jogo
Nasciam meus deuses, Rock'n'Roll não era mais minha salvação
E eu nem sabia que estaria morto antes mesmo da Renovação.

IV -
Mas ainda existe a saudade, irmã mortal da esperança
Cruel gêmea, de quem eu não queria ter tal lembrança
Das tardes perdidas nas coxas de Judy, de Valery as pernas
Perdido em espaços, terras de gigantes e suas lutas eternas.

Lembrar é maldição, esquecer é preciso tanto quanto navegar
Esperança é perdição, a cegueira que nos impede de enxergar
Mas se for lembrar que então seja a cu da puta da Rua Vitória
Ou da buceta quente que não tinha tempo de contar história.

Saudades é a piada, tinha a gonorréia e tinha a tal ditadura
E a risada do palhaço sem graça deixando cair a dentadura
Esqueci agora o que é sorrir, não acho graça em palhaçada
E caso tenha que sorrir, então que seja por uma desgraçada.

O robô não me avisa do perigo, Smith o preguiçoso e sua dor
E agora que morreram todos: o roqueiro, o poeta e o ditador
Tenho apenas por obrigação de poeta ou por sanha de maldito
Lembrar do foi vivido, do que era dor e daquilo que era bendito.

Epílogo
Deixe-me agora concluir um relato antes da mente cegar
Porque sei que a minha história, muitos a querem apagar
E é mistér portanto que a conte com único intuito de justiça
E porque não sou feito um animal que aos filhotes enfeitiça.

Quero agora ir ao cinema e assistir a um filme com final feliz
Ter minhas próprias lembranças, não na boca de um infeliz
Que conta minha história com sua língua roubando-a de mim
E porque eu fiz a minha história com começo, meio e um fim.

Deixo de lado a parte suja das tábuas lixadas na janela
E das pancadas nas costas, com o cabo de uma panela
Mas deixo não porque esqueço, mas por lembrar demais
Pois esquecer é perdoar e o perdão eu não desejo jamais.

Tenho um baú lotado de discos, revistas e de livros antigos
Lembranças, bilhetes de putas, esposas e de falsos amigos
E quero terminar do jeito inicial, falando sobre brutalidade
Pois a existência, de um jeito crucial, é apenas a crueldade.


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