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24/03/2013

Arquíloco, o Livro - 1981


Arquíloco, o Livro - 1981

Página 19, Poema Escrito em 1978

Em Janeiro de 1981, com o mimeógrafo emprestado e os braços de um casal de amigos, editei um livro de poesia que tinha o nome de Arquíloco. O nome, em homenagem ao poeta-soldado grego, tinha cinquenta poemas escritos entre 1977 e 1980, sendo que o ultimo deles, feito no dia seguinte ao assassinato de John Lennon, em Dezembro de 1980. O nome do autor que eu escolhera usar na época era “Carlos Cichetto”, abolindo o Luiz... Muito antes da metamorfose que me transformaria em “Barata”.

O mimeógrafo a álcool era a única forma que tínhamos de difundir nossos trabalhos naquela época, num processo cansativo de datilografar o stencil, sem errar, colocar cada original no aparelho e girar a manivela "imprimindo" individualmente cada folha, de um lado; depois colocar tudo de volta cuidadosamente e repetir o processo para imprimir o verso.. Uma noite inteira para montar um livro e uns dois dias de dores nos braços pelo esforço.

Meu livrinho teve a "estrondosa" tiragem de 50 exemplares que foi toda gratuitamente distribuída por Correio e na porta de teatros e ruas. Eram 50 poemas, que chegou a chamar a atenção de um critico literário do extinto jornal paulistano Diário Popular. Entretanto, as necessidades e pressões fizeram com que o que restou disso, incluindo os originais, fossem jogados no lixo.

Mas, durante os últimos mais de 30 anos, minha mãe guardou zelosamente o exemplar que dei na época a ela. E agora o estou reconstituindo, com muita dificuldade, pois, apesar do zelo materno, a impressão quase que desapareceu por completo. São poemas de uma época marcante, mas que talvez só tenham valor histórico, pois muitos não possuem qualquer qualidade literária, escritos na ânsia dos meus vinte e poucos anos. 

O propósito, ao resgatar esse trabalho é o registro de minha história como poeta, iniciada no inicio daquela década, marcada por uma forte repressão política, falta de dinheiro e de recursos para se mostrar qualquer trabalho artístico. Arte era quase sempre atrelada à subversão e punida com tortura e morte. Liberdade era coisa proibida, mesmo que só como palavra. Éramos completamente órfãos de conceitos estéticos, abandonados num mar de incertezas e dúvidas. Mas tínhamos ideais artísticos, tínhamos sonhos políticos. Acreditávamos e lutávamos pelo que acreditávamos. 

Mas hoje, ao olhar de lado e perceber as possibilidades que a tecnologia nos proporcionou, mas que feito um monstro engoliu uma salada de ideologia, sonhos e pensamentos individuais, transformando a maior parte da humanidade numa massa estéril. Tínhamos apenas mimeógrafos e máquinas de escrever, mas decerto éramos mais humanos.

E é em homenagem à humanidade que um dia tivemos o resgate desse pequeno e inútil livro. E de fato, trocaria toda a tecnologia hora existente por um pouco mais da humanidade que tínhamos em 1981.

Luiz Carlos Cichetto, AKA Carlos Cichetto, AKA Barata Cichetto
24/03/2013

Página do Jornal Diário Popular da época encontrado recentemente (http://baratacichetto.blogspot.com.br/2012/08/um-trofeu-guardado-no-arquivo.html)


Um comentário:

  1. A releitura de nossas obras é sempre um impacto!
    Percebemos com prazer (ou não) que nossos anseios na época eram bem diferentes, reli a tempos atrás meus comentários em rodapé de alguns livros, me emocionei com algumas coisas e fiquei com vergonha de outras, mas é sempre um prazer viajar para o nosso passado.

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