Prefácio a Um Romance Que Nunca Foi Escrito
Luiz Carlos Barata Cichetto
Enfim, um romance, a grande obra para qual ha tempos eu buscava motivação. E agora a tinha, a motivação estava ali, pronta, esperando por meus dedos apertarem as teclas enquanto a cabeça fazia o trabalho de alinhar as frases, criar os personagens, dar-lhes forma e existência real. Mas, de fato eu não sabia como, nem por onde começar. Pensei em fazê-lo pelo seu começo, com o nascimento da personagem, as dificuldades da sua geração e os problemas inerentes ao parto, coisas assim. Óbvio demais. Depois, ocorreu-me outra idéia, que era a de começar pelo fim, pela morte, o sepultamento... E mais uma vez, apaguei todo o texto, por não o achar bom o suficiente para despertar a atenção do leitor. Difícil fazer um romance. Complicado, pois, ao contrário da crônica ou da poesia, onde a realidade e o sentimento são as matérias primas. Decorrência natural de um processo, como defecar depois de se alimentar. Necessidade fisiológica, quase, o ato de escrever poesia.
Mas um romance, ah, isso é bem diferente. Lidamos ali com a ficção, com elementos que nem sempre são pessoais, principalmente numa história tão cheia de elementos estranhos, como é esta que me propus a escrever. Existem inúmeros elementos factuais a serem considerados, pesquisas, histórias a ser levadas a cabo e, principalmente, a capacidade de prender a atenção do leitor não por uma, mas por centenas de páginas.
Sempre invejei os escritores de romances e suas capacidades em criar histórias longas, enquanto eu me atinha a fragmentos de sentimentos, pedaços de existência e sonho. Poemas são pedaços, retalhos de uma colcha de sentimentos, enquanto o romance não. O romance é complexo, grande, poderoso, capaz de despertar a imaginação do leitor, levá-lo a uma jornada por lugares e vivências que ele nunca possa ter imaginado. Romances são mundos inteiros, coletivos, enquanto a poesia vidas em pedaços.
E assim que me propus a escrever essa história, a vida romanceada de uma personagem que tem me assombrado nos últimos tempos, pensei que a mera capacidade de enfileirar palavras, criar frases de efeito, como estava acostumado a fazer ao escrever poesia, bastariam. Mas estava enganado, pois a poesia é viés torto, licenciado e pequeno. E me senti pequeno perante a obra que tinha por criar. Os personagens não chegavam, os diálogos não engatavam, as cenas não tinham cenário e o romance foi sendo, assim, desromanceado.
Eu nem sabia como começar, e agora nem sei como terminar. Mas é preciso...
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