Luiz Carlos Barata Cichetto
Arte: Nebu |
Uma fábula, escrita por Slavoj Zizek, filósofo e teórico crítico esloveno, nascido em 1949) nos conta: "Um operário alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que toda correspondência será lida pelos censores, ele combina com os amigos: “vamos combinar um código: se uma carta estiver escrita em tinta azul, o que ela diz é verdade; se estiver escrita em tinta vermelha, tudo é mentira.” Um mês depois, os amigos recebem uma carta escrita em tinta azul: “Tudo aqui é maravilhoso: as lojas vivem cheias, a comida é abundante, os apartamentos são grandes e bem aquecidos, os cinemas exibem filmes do Ocidente, há muitas garotas prontas para um programa. O único senão é que não se consegue encontrar tinta vermelha”. E eu analiso, com as cores da modernidade: Portanto que se escreva a mentira na cor da verdade, já que a cor da mentira não está disponível...
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Conheci todas as putas da Aurora, Andradas e da Praça do Correio, depois mijei na estátua de Álvares no colégio da Praça da República e passei a mão na bunda gorda da Mãe Preta do Largo do Paissandu. Comi muita puta embaixo da estátua à cavalo do Duque de Caxias e caguei de diarréia no Palacete Matarazzo, antes de ser da Prefeitura. E foi tanta merda que o cheiro era sentido até na Rua Santa Ifigênia. Bombas caindo sobre as cabeças. Na hora H, a bomba Humana. Chamem o médico, o dentista e o padeiro. Doutora, ontem doeu muito meu coração, porque não existe a poesia, apenas destruição. A mesma arma que destrói a terra, destrói a poesia, aniquila a compaixão. Então tragam o médico, o dentista... e o poeta. Doem meus dentes, não tenho mais lar e a poesia sob escombros grita mais alto, pois sua dor é a minha e a dela é dor de morte. Espero que além de mim ela tenha melhor sorte.
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Um dia, há mais de trinta anos, recebi uma carta. E ela dizia, a respeito do meu livro mimeografado: "Eu não acredito em arte pobre!" Junto a ela, num envelope cheirando alabastro (ou seria almíscar?) uma revista bem impressa, papel couchê e etc... Doeu tudo. E eu não acreditava mais em arte pobre, impressa em mimeógrafo à álcool. Fudeu tudo. Ai casei e deixei por um tempo a poesia de lado. Aí fudeu tudo! Eu não acreditava mais em arte pobre, nem em arte rica e nem em porra de arte nenhuma. Comecei a escrever poesia a lápis: era mais fácil de apagar. E entregar à uma esposa que nunca lia. Era mais fácil de apagar, também... Então.. Apaguei tudo. Era mais fácil apagar tudo. E aí fudeu! Fudeu tudo e fui meter! E meti muito, bebi pra caralho e o fato é que eu não acreditava mais em pobre, nem em arte. Nem em porra nenhuma que cheirasse a almíscar, alabastro, esperma, álcool.. Nada. porra nenhuma!
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Guerra não é bonita, nem com trilha sonora dos Rolling Stones. Quero ser cremado e junto com meu corpo minha poesia. Ejaculo sangue com prazer. E meu prazer não é o sangue que agora venho lhe trazer. O silêncio eterno da morte, sem deuses, sem pecados e sem dor. Lembro das cores, esqueço das dores. Detesto a modernidade que transforma todos em artistas, nasci antes da tecnologia que plastificou a humanidade e sobrevivo à bomba e a invasão de virus de computador. Tenho uma máquina de escrever, caneta e a eternidade e não nasci com Internet e ainda sei escrever à mão livre. "Liberdade...abra as asas sobre nós." Asas da liberdade?? Ou da fuga? É a mesma coisa, a busca pela liberdade é uma fuga? Icaro em noite de gala. A noite todos os Ícaros são pardos... ou se despem da vaidade. A noite todos os Ícaros são pardos... ou se despem da vaidade. Fugir? É... não há para onde... a não ser para dentro de mim mesmo.. Mas lá é pior.. É um lugar estranho, escuro, sombrio. Uma viagem sem volta.
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Acho que deveríamos criar um local, mesmo que imaginário, em resposta à Casa das Rosas. Seria a Casa dos Espinhos, numa mansão assombrada. Nada de uma mansão no lugar mais caro do Brasil, mantido com dinheiro publico para servir de palácio à burguesia da poesia. E como dizia Cazuza, mesmo sendo ele também um burguês: "a burguesia fede!"...
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