Estrábico
Barata Cichetto
Tenho desvio de septo, algo horrível
E tenho fígado podre e pedras no rim
Penso que nada poderia ser tão ruim.
E eu, que tenho nos pés calos doloridos
E psoríase no pinto e escamos coloridos
Ainda penso em qualquer coisa penosa
Que poderia sofrer de gangrena gasosa.
Mas até que algum cão chupe meu tutano
Eu, um poeta sem carnes, pobre e puritano
Ou até que sangre a mordida do cachorro
Penso que é preciso atender a seu socorro.
E eu, que depois de dois maços de cigarros
Engulo a morte misturada a meus escarros
E penso em Marlboro e em algo bem curioso
Que um poeta estrábico é um tanto perigoso.
E eu, embriagado apesar de uma hepatite
Sofrendo dores horríveis por uma sinusite
Escrevo montes de poemas sem piedade
Porque a dor maior é a dor da realidade.
Mas eu, escorraçado feito pombo da cidade
A barriga roncando pela cruel necessidade
Ainda tenho forças de soltar um peido fedido
E gritar: foda-se a quem a mim tem ofendido.
30/05/2013
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