Barata Cichetto
(Publicado no Facebook em 6 de junho de 2015 às 20:32)
Há imensa ciência ao fumar. Ciência perfeita. Pegar o maço e arrebentar o plástico do lacre, feito um hímen, a virgindade de uma dama carente de ser consumida. Não espero compreensão de um cigarro quando o queimo até o fim. Ele não me ama, eu não o amo, apenas eu o consumo até não restar a não ser cinzas. Feito seres humanos que convivem em relações amorosas. Se consomem até não restar senão cinzas. "Das cinzas as cinzas, do pó ao pó", não é isso que está escrito? Meu cigarro queima nos meus lábios e eu o consumo até o fim. E sou consumido por ele, numa antropofagia mutua e consentida. Há delícia e prazer nessa relação antropofágica. Em todas. Eu consumo o cigarro, consumo a fumaça que entra nos meus pulmões e o devoram. Vermes. Malditos. Eu sou o verme que consome a si mesmo. Me devoro e tento me decifrar. Morro sem saber. Sou verme, sou morto ainda vivo e vivo o que respiro. Há ciência no fumar. Há vida no cigarro, quanto possível de haver vida na morte e morte na vida. Esquisito? O que há de esquisito em morrer?
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