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20/10/2015

Dores, Odores e Fedores

Dores, Odores e Fedores
Barata Cichetto

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Ainda sinto em minhas narinas o cheiro da luxuria. Tudo cheira a sujeira, imundice, promiscuidade. As meninas de calcinhas rotas, com marcas de bosta nos fundilhos, sutiãs descosturados e peitos com marcas de mordidas. Meninas puxando pelo braço machos apressados pelas escadas fedendo urina, esperma e suor. Escadas mal lavadas de prédios encardidos encrustados pelas ruas mal varridas do centro imundo da cidade. A luxuria do dinheiro fácil. O prazer do dinheiro ganho. O gozo do dinheiro farto. Tudo ali fedia a dinheiro, não a prazer. Fedia a cobiça, não a desejo. Fedia a carniça. Cheiro de falsidade, ansiedade e esquizofrenia. Doentes. Aqueles corpos eram mortos, bebendo cerveja barata e imaginando sentir desejo. O gozo em dois minutos. Calças abaixadas, calcinhas jogadas aos pés da cama sem lençol, com um colchão fedendo a mofo e a mijo. A tabela de preços na parede. Cada prazer com seu valor. Prazer? O que havia de prazer naquilo? Naquele lugar, em que pessoas subiam por escadas que descem e desciam pelas que sobem. Machos segurando pelas mãos meninas de bucetas peludas e axilas mal raspadas. Que prazer havia naqueles machos de paus sujos, que queriam foder entre o intervalo do almoço e o retorno ao trabalho, pagando o preço de um almoço num boteco por uma trepada? Meninas dando a buceta enquanto mastigam ma maça comprada do ambulante da esquina. Moleques ainda imberbes gastando o dinheiro da merenda. Chato, gonorréia, sífilis. Escriturários, operários, balconistas de lojas, atendentes de hospital, ambulantes, todos ali, mecanicamente pagando por algo que teriam de graça, não fossem tão timidos em seu egoísmo, pagando por algo que não deveriam, acaso não fossem tão mesquinhos. Machos casados, cujas esposas ficaram em casa limpando a bunda de bebês chorosos e barulhentos. Machos de paus moles com camisinha colorida. Meninas que chamam a todos de "bem". E pegam uma nota de cem. "Não tenho troco. Aceita em punheta?". Barulhos ensurdecedores de portas abrindo e fechando, descargas de banheiro, molas, tapas, gritos, gemidos, choro, palavras a esmo, palavrões, socos... Tiros. Na noite. O cheiro de morte e horror no ar. Nada mais a falar.

19/10/2015
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