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06/11/2015

Putíssima

Putíssima
Barata Cichetto


E se fico tímido diante da perfeita nudez do teu corpo, bato punheta olhando teu retrato seminua. E se te fodo, se te faço jorrar, num prazer enorme que percorre teu corpo, não é por vaidade, mas por um prazer inominável e sem retorno. Das minhas mazelas, herdo as sequelas. Transformo desprezo em ódio. Desejo em rancor. Tenho dor. Seja o que for. Atraso o pagamento. Do meu juramento. De não estar mais em lugar nenhum. Não tenho pátria que me honre. Nada que me desonre. Não tenho honra, tenho horror. Pavor. Não tenho glória, apenas história. E estórias. Se me chupas eu gozo. Teu gozo líquido me alimenta, me sustenta. Teu orgasmo é minha lira. E minha ira teu tesão. Te foder é chegar ao céu. Gozar contigo meu inferno. Nos teus líquidos encontro meu estado mais sólido. Sou um deus, um demônio e um homem. A Santíssima Trindade do Prazer: tua buceta, teu cu e tua boca. Fico de joelhos diante da tua buceta e chupo numa oração pagã. Deusa e sacerdotisa numa mesma criatura. Puta e dama na mesma buceta. Dor e prazer no mesmo cu. Satisfaça tua ira, faça de mim seu demônio e sua mais pérfida alucinação. A mais completa tradução. Sou seu instrumento de prostituição, guia da tua perdição. Me sacrifique aos deuses pagãos, me esfole na tua cama, me corte com tuas unhas, rasgue minha mortalha e foda com meu cadáver. Me encante com teus gemidos, na canção triste dos reprimidos. Esqueça seus comprimidos. Emudeça os reprimidos. Arraste minhas carnes pelas esquinas, e me chupe até sangrar. Se vista de homem, me vista de mulher. Me chame de puto, me chame de qualquer. Me chame de poeta, me chame de profeta! Me chame de filho da puta, seja minha puta. Absoluta. Resoluta. Impoluta. Faça comigo o que não pode ser feito, aquilo que não é perfeito, nem pode ser desfeito. Meu sangue é teu sangue, minha carne a tua carne. Meus ossos teus ossos. E se nós somos nossos, vossos serão meus restos mortais. E se te coloco de quatro e enterro meu pau no teu cu, saibas que é um poema amoroso que te escrevo. E se te chamo de puta, de vagabunda e de piranha, sei que nas tuas rimas encontro o final do meu verso, puta do meu universo. Mas o que é afinal a poesia se não uma revanche contra o que chamam de amor? Uma avalanche que destrói o que encontra no caminho. O amor são as pedras de um destino que não buscamos. Nem acreditamos. Não existem poesias de amor, todas são poesias de tédio ou de sofrimento. O pêndulo seguro pelas mãos do desejo. O amor não é "a compensação da morte ", mas a ilusão da existência. E eu, enquanto putíssimo e puríssimo poeta, formado pela deformação, informado pela contradição,  deformado pela maldição, sigo em busca de alguma coisa que não existe, feito a qualquer coveiro. Aliás, sou meu próprio coveiro, aquele que assiste ao seu próprio enterro, que enterra a si próprio numa vala a sete palmos de profundidade. E se não podes ficar assim, deixe que eu apodreça só. Afasta-te do meu cheiro de podridão e saia em busca do teu prazer, aquele que te sustenta, que te alimenta. E nem falo sobre o prazer da tua buceta sendo fodida por machos galantes, nem falo do gozo inútil e infantil, falo do prazer de ser escrava, de ser nula diante de si. Falo por mim e do desfecho cruel de minha sina. Falo de revanche, de vingança. Uma vingança que regozijarei enquanto espero a morte, com a fronte suando e o revolver na mão, sentado na esquina, te esperando com um copo de Cynar e um cigarro na mão. 

Então, Putíssima Criatura, o que esperas ainda, que não arrancas de mim todo o prazer que possas suportar? 

22/10/2015

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