Barata Cichetto
Ah, então o poeta fugiu ontem a noite da escola
E sua mão direita insurgiu fingindo uma esmola
Ah, seria esse o poeta que fingiu ser o mentiroso
Ou seria qualquer pessoa a fingir ser incestuoso?
Ah, e então ele, aquele poeta que tinha verdades
Sucumbiu pelos prados, em procura das vontades
E despencou pelas rochas com alma de prostituta
Ou seria na sua fé, pelo vinho em que transmuta?
Oh, pois então é ele, o poeta que pulou o abismo
E das profundas chamou a todos por seu cinismo
Seria ele, este homem de verve tão maligna e pura
A solfejar palavras contra o véu de uma ditadura?
Oh, e se não há o poeta que possa tatuar no rosto
Que haja o que houver, que imprima seu desgosto
Há rigor no traje do político, e frangos no quintal
Ou seria o rigor da morte, mesmo que seja brutal?
O pasto tem cheiro de merda de vaca, há risco no ar
E eu, arisco feito frango, alguém há de me consolar
Acendo um cigarro, a fumaça sai pela janela da sala
E se há risco de incêndio, quem ainda que me cala?
O poeta foi aquele que a fodeu no meio do mato
Não aquele que foi feito de rato, de gato e sapato
Se não fosse ele as tuas entranhas seriam imundas
E o que seria dele, não fossem outras vagabundas?
Tem tanta poesia dentro dos próximos sessenta anos
Que o poeta deseja rabiscar no caderno seus planos
E se essa lira sem vergonha não terminar sem o fim
O que fará o poeta, longe das asas de corvo carmim?
Há na minha lira palavras sem algum sentimento
E eu as trocaria por tijolos e por sacos de cimento
Pois se não morre o poeta, por seu veneno sem sal
Por que não renascer como a vingança do seu mal?
11/08/2018
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