Barata Cichetto
Diante do processo eleitoral em que vivemos, ponho-me a pensar, não sobre candidatos e partidos, mas sim sobre a democracia em si. Seria mesmo a democracia o anjo alado do bem, contra o demônio cornado? Seria ela o contraponto, o antônimo à ditadura? Existe um terceiro pensamento?
Penso que a democracia comete seu primeiro erro já na sua definição: "governo em que o povo exerce a soberania.", o que já me soa como algo falacioso, já que precisaríamos antes definir concretamente termos como "povo" e "soberania". A meu ver, é uma definição vaga e hipócrita. E todos sabemos que definições vagas dão margem a interpretações distorcidas, de acordo com interesses próprios, seja de grupos, seja de pessoas.
Já a segunda definição, "sistema político em que os cidadãos elegem os seus dirigentes por meio de eleições periódicas", piora ainda mais as coisas, pois além de arvorar a determinadas pessoas o direito de falar e agir em seu nome acaba até por se contrapor à primeira premissa. O fato de um determinado político ser eleito, por ter um numero maior de votos que o outro, significa apenas que ele, na melhor das hipóteses, representa apenas o grupo de pessoas que o elegeu. Não o restante, que é obrigado a se submeter à vontade do outro grupo.
Além disso, o próprio processo eleitoral é questionável, já que pelos custos financeiros, há de se concluir que esse eleito precisou de muito dinheiro e troca de favores, o que resulta no fato de que, portanto, ele não é representante sequer do grupo que o elegeu, mas sim do grupo que pagou os custos de sua eleição.
Agora, quando analisamos a terceira definição de democracia a coisa fica mesmo feia: "regime em que há liberdade de associação e de expressão e no qual não existem distinções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários.", já que sabemos que na prática coisa não funciona dessa forma, já que a existência da democracia é baseada justamente nos privilégios para que se exerça as tais liberdades. Aliás, "liberdade" é uma palavra tão vaga e poética, que dá margem também a interpretações múltiplas e pessoais, de acordo também com interesses de cada pessoa ou grupo.
Em resumo, todos os conceitos por trás de "democracia", a começa pela própria etimologia (dēmokratía, de dêmos 'povo' + * kratía 'força, poder') é falaciosa e hipócrita, pela excessiva existência de palavras não exatas, metafóricas, e seria o mesmo que se dizer que "democracia é amor".
Alia-se a essa análise, que o uso dos termos "democrático" e "popular" é abusivo e prontamente mentiroso. Todas as maiores e mais sangrentas ditaduras comunistas do mundo adotam como nome oficial "República Democrática" ou "República Popular", querendo reforçar o próprio conceito de uma representatividade que, nem de longe ocorre.
E então continuo mais além, e a discutir a própria validade da República, que em principio não é prerrogativa da Democracia, mas que no mundo moderno, é vendido como par casado. Então recorramos novamente ao dicionário: "forma de governo em que o Estado se constitui de modo a atender o interesse geral dos cidadãos." Família, não? E essa: "forma de governo na qual o povo é soberano, governando o Estado por meio de representantes investidos nas suas funções em poderes distintos." Impressionantemente idênticos, essas definições são formas de se fazer acreditar que uma coisa depende da outra, o que absolutamente não é verdade.
Basta que pensemos sobre as formas como as repúblicas foram instauradas no mundo, sempre de forma truculenta, e muitas vezes contra a vontade da maioria da população, à parte o que contam professores contaminados e vendedores de ideologias. A própria república brasileira nasceu de um golpe militar, e contra os desejos da população que em peso apoiava o então império de Dom Pedro II.
E quanto ao significado de império:"Estado que é comandado por um imperador." Pura e simplesmente, embora em alguns dicionários, desonestos intelectualmente, as definições venham carregadas de adjetivos, como nesta: "O significado mais estreito da palavra império concentraria -se na ideia imposição como forma de expansão.", como se todo sistema imperial fosse uma ditadura sanguinária, exercida por um sujeito gordo comendo uvas e fodendo com todas as mulheres do reino, o que é algo tão falacioso quando as próprias definições de "democracia", "povo", "liberdade".
No Império pode ser democrático? Se perguntar àquele seu professor de história, - aquele, sabe? - Ele dirá que não, pois segundo os conceitos ideológicos dele, o poder não pode estar concentrado nas mãos de indivíduos... Sei, mas e qual é a diferença entre um político eleito por interesses escusos, com um mandato de quatro, seis, oito anos, e de imperador? A diferença é que na "democracia", o poder é dividido entre determinados grupos que dividem entre si os feudos, numa cascata que propicia a corrupção social e moral. Já no Império, esse poder é concentrado em apenas uma pessoa, o que no final das contas é bem mais fácil de ser controlado. E combatido. Na "democracia", trocentos mil políticos criam leis de acordo com os interesses próprios, do grupo pequeno que representam, que muitas vezes divergem entre si, enquanto no império todas as decisões são unilaterais a partir do governante. Na "democracia", no final das contas, ninguém quem fez o que, o que dá margem a "esquecimentos", enquanto no Império, qualquer pessoa sabe quem tomou determinada ação.
Ah, mas dirão aqueles que se opõem a ideia, na "democracia" podemos trocar periodicamente um governante eleito... Sim, pode, é claro, mas não vejo isso da mesma forma que eles, afinal qual é mesmo a vantagem de se trocar a cada quatro, cinco anos um presidente, um prefeito, um senador, em detrimento de se manter no poder alguém que se sabe ficará a vida inteira ali? Não, seu professor de história não sabe, mas eu lhe digo: nenhuma! Ou melhor, existe, sim, uma vantagem, e ela é totalmente a favor da monarquia, e é simples: é bem mais fácil fiscalizar apenas um, ou um grupo bem pequeno e homogênio, do que um grupo bem maior. Seria bem fácil saber o que um Rei pensa, do que quatrocentos políticos.
Enfim, ao contrário da crença popular: sim, a democracia não é perfeita; e não, não é a melhor opção que temos.
E a minha definição política é clara, a despeito da risadinha ignorante de escárnio o seu professor de história comunista: sou um anarco monarquista, por ser bem mais fácil chutar o rabo de um rei e mandar ele reinar na puta que o pariu, do que ficar esperando a próxima, depois a próxima e a outra eleição, e, como disse mestre Saramago: "tirar um governo de quem não se gosta e colocar outro que talvez venha a se gostar." Talvez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Respeite o Direito do Autor e Não Esqueça de Deixar um Comentário.
Todos os Textos Publicados Têm Direitos Autorais Registrados no E.D.A. - Reprodução Proibida!