(Editorial Para Uma Revista Abortada)
Museu Ferroviário de Araraquara, Foto: Barata Cichetto |
Somos todos pessoas. Pessoas de bem, pessoas de mal, de açúcar, e de sal. Somos todos pessoas, fernandos ou orlandos, cidadãos comuns ou sem uns. Pessoas sem pessoas, pessoas de muitas pessoas, pessoas de ninguém, pessoas de alguém. Somos todos pessoas, poetas, profetas, paulos e saulos; marcos e pedros; jucas e lucas. Somos pessoas sem eira, pessoas sem beira. Somos todos pessoas, e pessoas são fatos. Pessoas são natas, daqui ou dali; pessoas de Araraquara, de São Carlos, de São Paulo. Somos pessoas, escritoras, cantoras; encantadoras e desencantadas. Somos pessoas feito Pessoa, que não querem nada, e pessoas que querem tudo. Pessoas que correm, que morrem, pessoas que socorrem; pessoas culpadas, pessoas inocentes. pessoas decentes, pessoas carentes; pessoas anãs, pessoas sãs, pessoas pagãs, pessoas crentes, pessoas doentes. Somos ciros, epitácios, estácios e inácios. Somos josés, saramagos, magos e bruxos; luizes e Camões; gagos, juízes e anões; antônios e joões. Somos todos pessoas. Augustos e Anjos, demônios e arcanjos. Somos pessoas com medos, com segredos; pessoas que acordam cedo, pessoas que não dormem, pessoas que não comem; pessoas com nomes, sem sobrenomes. Somos todos pessoas, simples ou complexas, côncavas ou convexas. Somos pessoas a toas, pessoas boas; pessoas más; mas somos pessoas, e pessoas são pessoas, apenas pessoas, e nada mais; pessoas normais, anormais; ademais, pessoas, outras jamais. Somos todos pessoas, doces e brutas, santas e putas; pessoas engraçadas, e desgraçadas; somos pessoas do sim, e pessoas do não. Somos todos pessoas, pessoas que são filhas, pessoas que são pais; pessoas que são filhos, pessoas que são mães. Somos joanas e anas, mários e marias, fernandas e amandas. Somos pessoas, que caminham e que param, que andam e mandam; pessoas que comandam. Somos franciscos e chicos, ricos e fredericos. Pessoas sem dinheiro, pessoas que devem, pessoas que recebem; pessoas que pagam, pessoas que pegam, que enxergam, que cegam; que negam, e que renegam. Somos todos pessoas, e pessoas são o inferno de outras pessoas. Somos todos pessoas más, mas algumas pessoas são mais más que outras pessoas más. Somos pessoas pessoais, sociais, antissociais. Somos todos pessoas, de peles escuras, e de peles claras; pessoas coloridas, pessoas doloridas, de qualquer cor; de fraldas ou de andador. Somos todos pessoas, que fazem poemas, que trazem problemas, que criam sistemas. Pessoas como quaisquer pessoas, que se prezam, que rezam, que se enfezam; pessoas que se atrasam, que chegam antes da hora. Somos todos pessoas; cristinas, marisas, marinas; faladoras e fingidoras; albertos e caeiros, covardes e guerreiros. Somos todos pessoas; pessoas das cidades e dos campos, álvaros, augustos e cids, humbertos e eduardos. Somos todos pessoas, somos quaisquer pessoas; de Portugal, do Brasil, de Moçambique; quaisquer pessoas, que falem português, que cantem em inglês, ou que façam poesia em chinês. Somos pessoas, que fazem versos, que criam universos, que fazem inversos, e causem inversões. Somos pessoas, diferentes versões, subversões. Somos pessoas; subversivas, vivas. E apenas quando somos pessoas mortas, deixamos de ser pessoas.
Barata Cichetto, Araraquara, 26/09/2018
Publicado Originalmente em 27/09/2018, em: http://www.abarata.com.br/revistapessoasararaquara/
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