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04/07/2019

O Dia Em Que Eu Morri

O Dia Em Que Eu Morri
Luiz Carlos Cichetto
Imagem: Jonny Lindner por Pixabay

O dia em que eu morri foi igual ao dia antes e ao dia depois de eu morrer. Para muita gente foi diferente, mas não para mim. Naquele dia, assim como nos anteriores e nos posteriores, eu não sabia que tinha morrido. Todos são dias de morto para mim.
No dia em que eu morri, como em todos os outros dias, eu não fui lembrado, a não ser por três ou quatro amigos. Alguns até lembraram mandaram uma mensagem à viúva afirmando minha bondade e outras inverdades que se falam quando alguém morre, ou quando se deseja bajular. Estranha essa mania de as pessoas bajularem os mortos, como se eles tivessem ouvidos, como que se pudessem ser ouvidos. Ou como se quisessem.
Aquele dia eu não acordei, como não acordo nenhum outro dia. Não inspirei em aspirei o ar como nunca faço. A diferença foi que não acendi um cigarro, nem preparei café. Apenas fiquei deitado, morto, como faço todos os dias antes de morrer.
No dia em que morri, como em todos os outros em que estive morto, meus filhos não falaram comigo, ocupados com suas lutas, meus pais continuavam preocupados, como em todos os outros dias em que me abortaram, em guardar dinheiro para quando morrerem; e todos eles tiveram desculpas para não me verem morrer: as mesmas desculpas que usaram para não me verem viver.
O dia em que morri não aconteceu nada além da mesmice de todos os outros dias: políticos continuaram roubando e as pessoas brigando por eles; os donos do mundo continuaram a mandar, e os mandados continuaram a andar pelo mesmo caminho. Tudo era muito igual, e nenhuma pena caiu do céu em minha homenagem. Nenhum pássaro cantou diferente. Os ponteiros do relógio, mesmo daqueles que não tem ponteiros, continuaram a marcar as horas, até completarem as vinte e quatro do dia em que morri; e depois continuaram sua marcha marcando o dia seguinte ao da minha morte, sem se importar com quem ficou para trás, atrasado, perdido ou morto no tempo. 
Eu não sei a que horas foi que morri, que não uso relógio de pulso.
No dia em que morri não aconteceu nada que algum jornal pudesse dar notícia, a não ser as mesmas que dão desde que existe jornal, apenas mudando as palavras, as pessoas e os lugares. 
Enfim, no dia em que morri, apenas foi um dia qualquer em um lugar qualquer, como qualquer dia em que eu não tenha morrido.

04/07/2019

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