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07/09/2019

Esperando Manuel

Esperando Manuel
Luiz Carlos Cichetto

Meu amigo Manuel chegou de Portugal ontem. Fui esperá-lo no Aeroporto. Ele chegou cansado, mas eufórico, afinal o que eu lhe tinha prometido anos atrás era mesmo para causar euforia. Quando publiquei meu primeiro romance, Manuel foi o primeiro a comprar. Eu era um escritor muito pobre, sem esperanças de publicar, e muito menos de um dia chegar ao patamar aonde cheguei.

Manuel, meu amigo, tinha um sonho, que era participar de um bacanal com doze putas em Paris, e eu prometi que se um dia eu fosse um escritor rico, iríamos os dois até lá, contrataríamos as tais moças e faríamos nossa festa. Fiquei rico como escritor, e nunca esqueci a promessa, que só não foi possível acontecer da forma como sonháramos pelo fato de que Paris não existe mais. Foi tomada por islâmicos e depois incendiada, sob s aplausos dos comunistas franceses. Ele não quis que fosse em Portugal, pois é amante da cultura brasileira, embora eu insistisse com ele que a cultura que ele tanto admira também não existe mais, pois tudo foi tomado pelos comunistas brasileiros em uma estranha união com os neo-pentecostais. 

Saímos do Aeroporto, onde o topo da torre de controle ostenta o logotipo do governo, que é uma foice e uma cruz - não sei bem se é uma cruz ou uma espada, pois deve ter sido proposital o desenho estilizado para confundir - E atravessamos várias avenidas, onde tremulam bandeiras vermelhas com esse símbolo, e nos dirigimos para o Hotel Stalin, onde eu tinha feito reserva para o bacanal. As doze putas já deviam ter chegado. Todos os prédios governamentais tinham nomes de ditadores comunistas ou de pastores evangélicos. 

O recepcionista, que tinha barba, dois seios enormes, ancas largas e músculos aparentes, usava um cabelo de todas as cores do arco-íris e deu um murro no balcão. Eu não tinha de fato reserva, aliás, nem me conhecia, meu nome não constava entre as pessoas autorizadas a usar o Hotel, já que minha pontuação era baixa demais por proferir criticas ao Governo. Ainda tentei ponderar que eu era um escritor rico, e que tinha dinheiro para pagar o quarto e as putas. Ele disse que putas não me eram autorizadas, e que elas eram exclusivas aos membros do Partido ou do Templo.

Nervoso, Manuel ameaçou um escândalo, mas eu o contive. Eu era um escritor rico e poderia pagar por outras putas. Andamos horas por avenidas como a Edir Macedo e Lula da Silva, entramos por vielas escuras com nomes como Geisi Arruda, Manuela D'Ávila e Sônia Hernandes. Estavam desertas, cheiravam a urina e todas as paredes dos imóveis estavam pichadas. Não encontramos nenhuma puta. Deviam estar todas ocupadas bordando as fardas dos valorosos soldados brasileiros que tinham sido mandados à Venezuela lutar pela liberdade da América Latina, numa guerra que se estende desde que Maduro morreu aos 108 anos, e deixou em seu lugar um filho bastardo que teve com uma brasileira.

Meu amigo Manuel ficou triste. E eu também. Há dez anos esperamos por aquele momento. Não iríamos ter nosso bacanal, nenhuma puta e nenhuma celebração. Levei-o de volta ao Aeroporto. Ele embarcou triste e eu voltei para meu quartinho nos fundos de uma casa caindo aos pedaços, ocupada por traficantes armados, que também ostentam o símbolo do governo na porta. Agora são declaradamente amigos, já que a guerra que eles supostamente travavam era apenas um disfarce.

Eu contei que era um escritor rico, mas não disse que tinha dinheiro. Todo dia vou ao Aeroporto imaginando que vou esperar meu amigo Manuel, que nem sei mais se está vivo, já que todas as nossas comunicações foram cortadas depois de que o Facebook, propriedade do Presidente dos Estados Unidos, da ONU e da OEA, Mark Zuckemberg declarou guerra a todos os que se opunham, e bloqueou não apenas a rede, como toda a Internet e as comunicações. Sou um escritor rico, pois ainda escrevo coisas que ninguém lê, por não poder nem querer, e minha riqueza são apenas pilhas de papel empoeirado numa estante de tábuas de construção.

07/09/2019

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