Barata Cichetto
Abandonar os sonhos, feito a um barco com o casco podre que colidiu com uma montanha de gelo. Não há barco de construção tão sólida que o gelo não possa afundar. Lançar botes ao mar. Nadar nada, é preciso boiar até que a maré da tormenta me carregue à praia. Arrasto minha solidão feito um bote de pedra, sem sequer uma gaivota por perto. Estou são e salvo, salvo e são, no porto da solidão. Ilha deserta. Ilha certa. Da praia, avisto o barco que afunda à distância. Estou à salvo, a salvo e são. Não há sereia, nem náufragos encontrando bolas enterradas na praia, apenas a areia; e a solidão de uma ilha sem montanhas, sem gelo, sem fogo, sem carros, sem câmeras de televisão, apenas a mudez e a nudez. Apanho conchas ocas, espreito as palmeiras e me sento numa pedra, a espera de que nada aconteça. A noite chega antes do amanhecer, e não tenho nada a esquecer. Não há música, somente ondas batendo nas montanhas de gelo ao longe. Não quero nadar. Quero ficar. Preciso contar uma história, sem moral nem glória. A minha. Contar pontos. E quem conta um ponto cria um conto.
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados
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