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20/03/2017

Brincadeiras

Brincadeiras
Barata Cichetto

Sempre gostei de brincar. De ser alguma coisa. Na infância eu era astronauta, num pé de ameixas. Depois fui herói do espaço, voando num pedaço velho de madeira. E depois fui um Casanova, trepando numa puta da Boca do Lixo. Sim, sempre gostei de brincar de ser. De ser alguma coisa. E então fui um musico, cantor de Rock, balançado os enormes cabelos e cantando empunhando uma escova de cabelos. Fui também poeta e marinheiro, empunhando uma máquina de escrever. Eu queria ser alguma coisa. Brincava de ser alguma coisa. Quando homem, depois de ser poeta, marinheiro, astronauta e herói do espaço, fui facilmente pai, empunhando uma sabedoria que acreditei ser plena e real. Mas era essa minha sabedoria tão imaginária feito à nave espacial feita de pé de ameixa. E eu continuava querendo brincar de ser. E queria ser mais, queria ser perfeito. Perfeito pai, perfeito marido, perfeito funcionário de uma empresa de brinquedos, perfeito homem, perfeito poeta. Mas era tudo tão imaginário quanto um pé de ameixas, era tudo tão inútil quanto um pedaço velho de madeira, tudo tão sem prazer quanto uma puta da Boca do Lixo, e tão bobo feito uma escova de cabelos. Mas eu ainda queria brincar. De ser alguma coisa. E o tempo, rei das brincadeiras e das perversões passou. E agora, quando não tenho mais imaginação e inocência suficientes para construir espaçonaves, palcos, lares e prazeres, ainda quero brincar. De ser. Mas como brincar de ser, quando o estar conforta? Como brincar de ser, quando o não-ser é o que resta? Como brincar de ser, quando lhe cortaram os pés de ameixa, mataram as putas, e lhe caíram os cabelos e dentes? Como brincar de ser, quando qualquer brincadeira deixou de ser brincadeira e se tornou tortura? Como ainda brincar de ser, quando aqueles com quem ensinou a brincar, agora lhe escondem os brinquedos e os rostos? Renegam-lhe, lhe negam e zombam da sua... Brincadeira de ser...

20/03/2017

14/03/2017

Fui Por Ter Sido, E Fui Por Ter Ido!.



Eu, conscientemente, me recuso a existir em um mundo onde a vaidade está acima da poesia; onde a política está acima da amizade; e onde o dinheiro acima de tudo. Me recuso a viver, triste, solitário e cabisbaixo, pela incompreensão de meus pares; e principalmente me recuso a viver em um mundo onde as rédeas do poder, onde a corrupção moral estabelecida corrompeu as mentes mais brilhantes. Onde artistas se prestam ao papel de títeres de um sistema composto de ladrões da dignidade. Eu, que de tudo fiz, e de muito ainda faria, me recuso a continuar a existir, num mundo onde o "fazer" pouco importa; onde o "ser" nada é; e onde o pensar diferente da marginália comprada por esmolas bate palmas. Eu, que de muito fui transformado em nada, por obra e graça do desrespeito e da covardia. Eu, no limite da minha consciência, me declaro incapaz de ser... Humano. Recuso-me a existir a perceber a malícia, ao receber o desprezo. A tragédia final se aproxima, e o sangue derramado não será dos falsos líderes que os inflama contra aqueles que ousam, como eu, se oporem aos seus desmandos. Não estou de lado algum nesta guerra, não a declarei e não engraxei minhas botas para ir ao front. Fiquem, pois, com suas bandeiras rubras, suas foices, seus martelos e suas cruzes. Quando, um dia, enfim, dos olhos caírem às vendas negras que os colocam na mais pura cegueira perceberá o quanto estavam errados. E, quanto a mim, recuso-me, sim, a fazer qualquer outra coisa a não ser. o Nada. Tudo cansa, tudo farta, tudo um dia enoja. E para que eu não sinta nojo de mais ninguém, decido pela morte insepulta. Não aceito nem peço perdão, porque os sonhadores tolos feito não o fazem. Não peço nada, não quero nada e não sou, de fato e decerto, nada. Recuso-me a continuar, recuso-me a caminhar sequer. Fiquem com suas esmolas do estado, seu protagonismo de mentira alimentado por mídias forjadas que lhes ditam o pensamento. Não, seu pensamento não é seu, sua decisão política não é sua. Mentiram-lhe sobre isso, mentiram-lhe sobre tudo. Sobretudo sobre a liberdade. Ela não existe. A liberdade só existe ao indivíduo, não é um bem coletivo, não pode ser dado por nenhum movimento, governo ou general. Ela só existe dentro de cada um. E, por fim, eu, indivíduo, ser único, absoluto de minhas falácias, consciente de minhas descrenças, simplesmente desisto. E, como sempre termino meus programas de rádio que ninguém escuta: FUI. Fui por ter sido, e fui por ter ido!.
Barata Cichetto, 14 de Março de 2017.

13/03/2017

Porque Eu Não Saio Mais de Casa

Porque Eu Não Saio Mais de Casa
Barata Cichetto

Ontem fiquei sem Internet... Sai.. Andar pelas ruas do bairro. Na primeira esquina, um par meninas com as bundinhas semi expostas em shorts minúsculos tinham bebês no colo. Sem chance! Adiante, em frente a padaria, o carro importado prateado com a tampa do porta-malas aberto uma musica horrorosa, de uma dupla de sertanejas quase universitárias. Sem chance! Um pouco de caminhada...Duas quadras a frente, um par de moleques de bermuda no meio das canelas me pede uma "seda". Não tenho. Sem chance. Acendo um cigarro e continuo, agora com saudades da Internet. Outro par de garotas de minúsculos shorts, junto com um par de moleques de bermudas no meio das canelas rebolam ao som de uma dupla de sertanejas analfabetas. Sem chances. Sem chance. Sem chances. As bundinhas eram bem interessantes, mas eu não tinha "seda", e não suporto sertanejas universitárias. É melhor voltar pra casa e procurar algo interessante pra comer.

06/03/2017

O Pior Escritor do Mundo

O Pior Escritor do Mundo
Barata Cichetto

Não, eu não sou o melhor escritor do mundo, nem do meu bairro, nem da minha cidade. Há piores, no entanto. Não, eu não sou o melhor escritor da Internet, do Facebook ou do Twitter. Há piores, no entanto. Não, eu não sou o melhor escritor de todos os tempos, nem sequer o melhor da semana, ou mesmo deste minuto. Mas, no entanto, há piores. Não, eu não sou o melhor escritor que qualquer pessoa tenha lido, nem que qualquer pessoa nunca tenha lido, nem das que nunca leram. Há piores, com certeza. Não, eu não sou sequer o melhor escritor da minha familia, da minha casa... Ou de mim mesmo. Há melhores, no entanto.

20/02/2017

20/02/2017

Carta a Um Editor

Prezado Editor:
Não, eu não morei nem moro na rua; nunca morei em favela ou comunidade; nunca me entupi de droga; nunca fiz programa, nem fui cafetão; nunca roubei, nem matei; nunca fui preso, nunca entrei em coma alcoólico; não sou negro, não sou transgênero, travesti, nem homossexual; não sou indígena, alienígena, nem feminista; não sou comunista, nem empresário; não sou rico, nem miserável; não sou idoso, nem sou deficiente físico; não sou corintiano, nem maloqueiro, nem sofredor; não sou petista, nem tucano; não sou youtuber, nem ex-garoto de programa; nem tenho bela bunda, nem peitos siliconados; não sofro de nenhuma doença mental séria, não tenho olhos claros, nem cabelos loiros; não sou amigo do rei, nem inimigo. Não sou pichador, nem participo de nenhum movimento social, nem invado propriedade alheia; Não arrumo desculpas para os meus fracassos.
Não sou, enfim, nada que possas usar como produto. E nem sou vaidoso a ponto de achar que ter um livro publicado pela sua editora - de preferência prefaciado por algum descolado diretor de teatro/ator/escritor que anda de uniforme camuflado e tênis sem meia na rua, e que finge que é pobre, mas é regiamente pago -, fará de mim algo que não sou.

Ah, sim, esqueci de dizer: sou escritor, mas isso pouco lhe interessa.

Atenciosamente,
Luiz Carlos Giraçol Cichetto, nome literário Barata Cichetto, São Paulo, 01/02/2017

Resposta de Um Editor: "Escreva um romance pornográfico, cheio de putaria e sacanagem e então veremos."


- Veremos!