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10/08/2019

Brick as a Thick




Palavras são tijolos. Constroem e ferem. Tijolos assentados casa erguida; tijolo s atirados testas feridas. Tijolos matam. Tijolos protegem. Tijolos de barro. Barro de terra. Tijolos são vermelhos. Ou tijolos amarelos na estrada para a terra da fantasia. São belos. São tijolos. Tijolos são burros. Feito portas. Brick as a trick. Thick as a brick. Quem constrói com tijolo de vidro não pode reclamar do vizinho. Tijolos esfarelam. Pontes e pontos. Tijolos de concreto. Poemas concretos. Casas. Sepulturas. Cemitérios. Palacetes. Fecham a fresta. Então empresta. Um tijolo. Que atiro na tua testa. Sangue no tijolo. Tijolo sem dolo. Tijolo de tolo. É palavra vã. Tijolo sem pedreiro. Construção sem emoção. Tijolo é palavra. Tijolo maciço. Tijolo oco. Tijolo refratário. Tijolo burro. Catatau. Façamos tijolos. Mortos e enterrados. Em tumbas de tijolos. Namorados. Tijolaços. Tijoladas. Tijolados. 

10/08/2019

08/08/2019

Arquíloco - Carlos Cichetto

Arquíloco
Carlos Cichetto
Poesia - 1981
Mimeografado



"Arquíloco", titulo em homenagem ao poeta-soldado grego Arquíloco de Paros, foi um livro de poesia lançado em 1981. São poemas escritos entre 1976 e 78 e impressos em mimeógrafo a álcool.  Os temas recorrentes são o submundo da sociedade paulistana da época, e versam sobre prostituição, angústia e desespero. Todos os poemas são rimados. Suas 50 cópias foram distribuídas basicamente entre os próprios poetas da chamada "Geração Mimeógrafo", que o ignoraram. Desses, apenas um ainda existe em meu poder, e praticamente ilegível, em função do processo. O objetivo desta publicação, em 2019, quase cinquenta nos depois é de se manter o arquivo vivo.

Embora desprezado pela história, e nunca tendo meu nome referido entre os autores da época, este original é prova mais que suficiente. Muitos autores citados em antologias e artigos nunca chegaram perto de um mimeógrafo, e outros tantos atualmente são integrantes da ABL. Quase todos integram as salas VIPs da Poesia Brasileira. Na época, contei com a crítica positiva e indicação para publicação por parte do maior critico literário paulistano, editor da "Página do Livro", Henrique Novak, no jornal paulistano Diário Popular.

Para a edição de "Arquíloco", contei com um casal de amigos, Claudia Bia e Luís Cogumelo Atômico, que os tempos grossos da política suja afastaram.

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Século XX
Carlos Cichetto

E foi ali que uma morena estrela matutina
Brilhou inaugurando a aurora do meu desejo
Abrindo pernas lisas igual a uma cortina
Deixando entrar o sol quente quanto um beijo
Que tinham escondido de minha retina.

E foi ali que entre os montes de sujeira
Pernas abriram igual a pétalas de rosas
Esperando que eu sentado numa cadeira
Penetrasse naquelas entranhas honrosas
Que marcariam uma existência inteira.

E foi ali, que com o seu pequeno porte
Trajada com a estranha roupa de sangue
Que escorria de um seu profundo corte
Ela pediu com um bocejo bastante langue
Que alguém causasse urgente sua morte.

E foi ali entre corredores de concreto
Que construí a minha paixão abstrata
E um dia depois de um estranho decreto
Acabou transformado em tumulo de prata
Sepultando aquele grande desejo secreto.

E foi ali que quando quebrou o seu esteio
Alguém a encontrou completamente morta
Esperou a morte igual um ônibus de recreio
E esperando de chegar bateu a sua porta
Encontrando ali mesmo sem qualquer receio.

Dezembro 79
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Arquíloco (em grego, Άρχίλοχος - Arkhílokhos, na transliteração) de Paros, onde seu pai Telesicles, filho de Tellis, era um cidadão proeminente. Arquíloco foi um poeta lírico e soldado grego que viveu na primeira metade do século VII a.C. (talvez entre anos de 680 a.C. e 645 a.C.). Os antigos colocavam-no em pé de igualdade com o próprio Homero. Escreveu principalmente iambos, sendo um dos primeiros e mais notáveis representantes do gênero.


Ah, Se Eu Fosse Igual...

Ah, Se Eu Fosse Igual...
Barata Cichetto

Não fosse idiota podia ser tão famoso quanto Paulo e suas filhas,
E ser uma estrela da poesia, feito Alice em Paris das Maravilhas.
Ou se não fosse tolo, quem sabe seria tão conhecido como Piva,
Daí eu estaria morto, mas ao menos minha poesia estaria viva.

Não fosse eu um pai seria apenas um filho, mesmo que da puta,
E seria astro da literatura falando sobre a dureza da minha luta.
Pelas feiras literárias eu seria chupado por um par de proscritos,
E as editoras pagariam adiantado pelos romances nunca escritos.

Se eu fosse um tanto esperto estaria em Paraty igual a um artista,
Circulando de chapéu e gravata borboleta entre a elite comunista.
Eu nem lembraria o que tinha dito, mas leriam minhas memórias,
E o que tinha escrito todos pensariam ser parte de suas histórias.

Fosse um malandro, desses que colocam "Poeta" antes do nome,
Eu daria entrevistas na televisão e explicaria o meu sobrenome.
Comeria um par de putas vesgas, e eu seria famoso até o jantar,
Onde poriam minha cabeça na bandeja depois de me acorrentar.

Ah, se eu não fosse tão otário seria tão bom quanto a Medeiros,
E esconderia meus versos mortos debaixo de dois travesseiros.
 Seria chamado de "Bukowski de Araraquara" ou outro truque,
E exibiria o pau em público e postaria na página do Facebook.

Se fosse esperto eu seria como o Diego, ou até como o Morais,
E contaria uma história triste com sórdidos contornos morais.
Enfim, fosse eu diferente do que sou, poderia ser um alguém,
Mas não seria o que sou, e no final seria apenas um ninguém.

07/08/2019


07/08/2019

As (4) Filhas da Fantasia

As (4) Filhas da Fantasia
Barata Cichetto


Um dia o poeta encontrou uma bela,
E que era conhecida ali por Fantasia.
Mas o homem não sabia que era ela,
E tolamente ele a chamou de Poesia.

Outro dia o poeta encontrou uma puta,
Que também era chamada de Fantasia.
E ele também não sabia que era astuta,
E também chamou a piranha de Poesia.

Houve outro em que encontrou uma santa,
Na cidade também conhecida por Fantasia.
Mas também não conhecia a tal sacripanta,
E também a ela chamou pelo nome Poesia.

E no fim o tal poeta descobriu uma morta,
Que no local também se diziam ser Fantasia,
Mas ele, sempre ingênuo, abriu-lhe a porta,
E jamais o poeta chamou alguém de Poesia.

06/08/2019

06/08/2019

E Eu Nem Sei Porque Escrevi Esta Merda

E Eu Nem Sei Porque Escrevi Esta Merda
Luiz Carlos Cichetto, Barata Cichetto



Depois de concluir "Jorro" em 2013, texto que mereceu a atenção, correção e até elogios por parte do amigo escritor doutor Eduardo Amaro, texto que foi rechaçado por editoras e acabou abandonado nalgum canto do meu computador. Ainda inseguro no gênero Romance, tentei outras coisas, mas só o que consegui foram longos contos abruptamente concluídos.

Em 2017, em menos de um mês, escrevi e revisei outro romance que tinha em mente há muito tempo, e a ele batizei de "A Mulher Líquida", mas nesse não pude contar com leituras críticas, afinal, é um saco esse negócio de ficar lendo textos dos outros quando se tem os próprios para pensar. O calhamaço que rendeu mais de seiscentas páginas impressas, depois de também ser recusado por várias editoras. Recusado nem é bem a palavra, pois neste Brasil de merda, sequer o prazer de ser recusado as malditas editoras nos dão. Enviei-o, entre outras à Record, aquela que chupa o pau das sandices e ainda dá dinheiro para o tal de "Bukowiski da Amazônia", mesmo quando o sujeito é pego com a mão no bolso alheio e depois desaparece. O livro acabou sendo publicado, por sugestão de meu irmão Genecy Souza na Amazon, que não oferece qualquer apoio a escritores sem editora, sem dinheiro e sem prestígio, o que relega qualquer obra ao limbo, somente vendendo algo por esforço único do autor, além de estar sujeito às chamadas "Diretrizes da Comunidade", a forma sutil de censura, já que qualquer menção à sexo, por exemplo, condena o autor a ter seu trabalho bloqueado. 

Sem desistir, mas sem saber o caminho a seguir, já que todos parecem estar fechado para nós que não somos jovens, e ao contrário somos velhos, sem dinheiro, sem amigos importantes e vindos do interior, parafraseando o amigo Belchior, ainda este ano de 2019 lancei-me em nova empreitada, e em uma semana escrevi novo romance, ao qual dei o nome de "Satânia", que também foi submetido à algumas editoras e concursos literários, sem qualquer resultado positivo. Uma editora de Portugal, indicada pelo amigo Carlos Manuel, a quem enviei o manuscrito respondeu: "Caro senhor, após análise do seu livro, lamentamos, mas não foi aceite para publicação por não cumprir padrões literários e linguísticos de qualidade. Com os melhores cumprimentos." Ao menos respondeu. Eu tentei.

Sem quaisquer dos requisitos necessários atualmente solicitados pelas editoras, brasileiras, como: alinhamento ideológico de esquerda, engajamento no politicamente correto, e alguma forma de ligação com os poderosos que determinam que come e quem não no mercado editorial, o que me resta afinal, além de um cotidiano de perdas e danos, de desilusão e em que oportunidades de trabalho, especialmente a quem já passou dos sessenta anos são praticamente impossíveis? O que resta, se não brigar com a depressão e desejar não acordar? O que sobra, senão as sobras?

Com uma pilha de mais de um metro de textos impressos, sem contar as pilhas virtuais de outros empilhados no meu computador, cujo monitor tem mal de Parkinson já que fica tremendo, a única conclusão, seguindo o poema de Pessoa, "a única conclusão é morrer". O maldito século XXI, me cerca feito um facínora querendo meu sangue. Ele me despreza e eu também o desprezo. Não há lugar dentro dele para mim e não há lugar para mim dentro dele.

06/08/2019


Foto: Carlos Manuel (Portugal)

Foto: Carlos Manuel (Portugal)