Em Busca da Poesia Perfeita
Luiz Carlos Barata Cichetto
Há pelo menos três dúzias de anos, desde quando comecei a cometer meus primeiros escritos, que busco sempre a Poesia Perfeita. Aquela que trará não apenas a mensagem, estimulando o sentimento, a percepção, o desejo... E que buscará e encontrará íntimos e ínfimos segredos, que marcará mentes e lembranças. Mais que o sentido claro e óbvio da busca da Poesia Perfeita, que seria medido pelo grau de emoção que despertaria em meu leitor.
Isso não faria de mim nada além do que foi qualquer poeta, daqueles que enfileram palavras bonitinhas a fim de impressionar o leitor. Não tenho pretensão de impressionar ninguém. O leitor não tem que ficar impressionado. De fato não tenho paciência de ler a maior parte das coisas escritas de cem anos para cá, com raras exceções. E isso porque a maior parte dos poetas - não apenas eles, mas principalmente eles - nascidos no século XX são autênticos exibicionistas. Principalmente aqueles nascidos nas últimas décadas do século. Um bando de exibicionistas, que acreditam que poesia é algo para ser escrito com o intuito de demonstrar uma sensibilidade que raras vezes possuem. Hipócritas a maioria deles.
Então, quero pressionar o leitor a deixar sair sua maldade, deixar sair seu rancor, sua ira, seu ódio. Pressiono-o, mesmo que usando coisas doces, porque nos meus doces há sempre muito veneno. E desse veneno que quero que o leitor de minha poesia prove. Para que ele sinta o quanto sórdido e horroroso ele é. Um espelho. Não quero sair por ai, impressionando doces meninas com palavras adocicadas para depois comê-las em algum motel barato enquanto choram a inocência perdida. Minha poesia, a Poesia Perfeita que busco é feita dos sentimentos duros, de horrendas espécimes de uma raça em extinção.
Desde Arquíloco de Paros a humanidade não conheceu outro poeta que soubesse realmente o que era a Poesia Perfeita... Aquele que mais chegou perto da Poesia Perfeita foi Schopenhauer, que nem sequer era considerado Poeta. E fica mesmo com isso uma lição: não acredite em ninguém que se defina poeta. Tenho asco daqueles que colocam Poeta como nome ou sobrenome. Ninguém, absolutamente ninguém, tem esse direito. Aqueles que assinam “Poeta Fulano de Tal” em dedicatórias de livros... Ah, esses então são piores... Algumas pessoas até pedem que eu lhes coloque dedicatórias em livros... Sempre me sinto constrangido com isso. Normalmente apenas assino meu nome e pronto... Dedicatórias são uma invenção de merda! Puro mercantilismo... Puro narcisismo! As pessoas que exigem dedicatória estão divididas em duas classes: as egocêntricas, que esperam com isso ser colocadas num degrau acima das outras, como “Amigas do Poeta”... Ou esperam que um dia esse exemplar valha alguns bons trocados... São escroques e medíocres em ambas as situações.
Acredito que o único Poeta de verdade nascido e morto no Século XX tenha sido Bukowski. Desde Aretino nunca houve nenhum que exercitasse com tanta clareza e sinceridade o sagrado exercício poético do insulto. O sincero insulto. Nem gratuito nem fortuito, mas absolutamente sincero! E porque será que tanta gente adora os poemas de Charles? Gente certinha, que bebe apenas de final de semana, nunca arrota na mesa, nunca peida na frente dos filhos. Nunca fala de trepadas e brochadas. Essas pessoas, medíocres e hipócritas enxergam nas poesias do Velho Safado aquilo que muito desejam ser, mas jamais a coragem lhes permitirá. Gostam de admirar os podres, os fedorentos, os sujos, as mazelas e desventuras de perdidos. Mas apenas a uma distancia segura que os mantenha na sua chamada “Zona de Conforto”. Nunca na linha de frente. Nunca na carne própria. Nunca na Zona de Confronto. È preciso muita coragem, coisa que poucos tem. É chique ficar colocando poemas sujos nas redes sociais. Merda! Merda de hipocrisia. Essas pessoas são aquelas que adoram uma feira-livre, mas desde que o barulho e a sujeira não esteja em suas portas e ouvidos.
Não escrevo poesia para saciar meu ego, nem para colocar meus recalques e arrependimentos à vista de todos. Ou não apenas por isso. Dissecar minhas carnes, esparramar os pedaços do meu cérebro pelo planeta, esta é minha real intenção. A poesia perfeita é escrita com sangue, suor, lágrimas, sexo, drogas, Rock'n'Roll.. Baratas e lagartixas. Centopéias gigantes... E muitas vísceras!
Nunca escrevi sonetos, inventei minha própria estética. Antes eram grupos de cinco versos... Cinco por cinco. Agora são de quatro por quatro. Eu os criei assim. Gosto dessa matemática. A estética da Poesia Perfeita não importa, mas minha matemática é a única que tem o resultado que aceito. É minha e portanto é perfeita. A mim. Não conto silabas, não tenho réguas de calculo poética. Não suspiro nem aspiro o pó das sílabas metrificadas dos poemas. Tolos cagadores de regras! Minhas rimas não tem métrica e minha métrica não rima porra com merda alguma. Misturo tijolos com merda e construo minha poesia. Não gosto de concreto... É frio! Tão frio e estúpido como a poesia concreta. O Modernismo é incompetente!
Dinheiro não tem pecado e estou farto de gastar o dinheiro da minha comida para imprimir Poesia! É bonito e poético o sofrimento e a penúria de um artista. Compraz a todos saber que o artista morre de fome, de frio, de sede e, principalmente de doenças estranhas. Aviso aos incautos: a Poesia Perfeita não será escrita com a fome do Poeta, nem com sua doença, nem com uma ação de despejo ou protesto em cartório. Essas coisas não fazem ninguém Poeta, apenas sofredores. E nem sempre sofredores são Poetas. O contrário também se aplica.
Estou preparando um tratado: o Tratado Geral da Pornitologia. Com quantas putas é feita uma Poesia Perfeita? Com nenhuma, seu filho da puta! A Pornitologia é o estudo do meio e dos meios das Putas... Mas o que a Poesia Perfeita tem a ver com Putas? Quase tudo: a Poesia é a a Puta da Literatura! Mal amada, mal compreendida, mal sentida... Seu gozo é falso e desejo criminoso! Fodidas! E mal pagas! E a Poesia Perfeita é a Grande Puta do Apocalipse!
A Poesia Perfeita não é feita de rimas, de versos, de estrofes... Nada de estrófes bonitinhas e versinhos ridículos falando de um amor falso (todo amor é falso!). Nada de métrica! Nada de prender a respiração e ler silabas como se fossem beijos. Poesias não são beijos, são tiros! Mesmo que de misericórdia. São armas, não almas, nem calmas, nem palmas. Nem carmas, nem darmas. A Poesia Perfeita é feita de carne não de espírito, alma ou qualquer coisa invisível. A Poesia Perfeita é visível. Tocável, cheirável, detestável, abominável. Nunca amável, nem lavável! A Poesia Perfeita... É inominável!
A Poesia Perfeita é a Puta Perfeita! A Poesia Perfeita não é religiosa, é atéia; não é amorosa, é libertina... Mal cheirosa, horrorosa, rancorosa. Não é rainha nem princesa, é plebéia. É Puta! Uma puta aleijada, viciada e teimosa. Perdida! Estuprada e assassinada numa esquina qualquer do baixo meretrício, seu sangue agora escorre pelas sarjetas...
Porque a Poesia Perfeita é sangue. Sangue de fato! Não um sangue metafórico. É dor de fato, não apenas dor estética, que não machuca de fato. É morte de fato, não uma morte poetada, mas temida e indesejada. A Poesia Perfeita enseja a morte, deseja a morte... De fato! Dela mesma! E daquele que dela é portador. A Poesia Perfeita é punhal, é lança, é chama! É fogo que queima de fato, não aquele que sempre rima com "ama". É morte, mas não apenas aquela rima com "sorte"...
E com sorte eu ainda o encontro...
Não existe mais Perfeição, não existem mais Putas, não existe mais Poesia. Só existe sangue...
13/08/2012
Tremendamente lúcido, seu texto nasceu para ser cult, com um número restrito de admiradores, porém um séquito fiel, em vez de multidões que seguem alguém só por ser "modinha". Coragem aqui é mato, como dizem os goianos. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado ao Celso Moraes! E.. parafraseando a mim mesmo: "
Excluir... A alma da Guerra... É ela quem me cobra a Vida!"