Luiz Carlos Barata Cichetto
Escrevo poemas sentado na guias que margeiam as ruas. E por linhas rotas e esquinas tortas, escrevo poesias mortas. Jogo a garrafa, acerto o passo e refaço cálculos. Chove e faz frio e não conheço um caminho que não tenha uma placa indicando contramão. Que merda! Estou sempre caminhando na contramão, com carros passando por mim em sentido contrário. Estou certo eu ou estão certos os carros, que passam e me atiram lama da chuva que empossa no buraco? A lama está em seu lugar. O buraco também! O que destoa dessa paisagem são os carros e as placas de contramão. As ruas me pertencem, nasci com elas e nós, eu e as ruas, não nascemos para sermos contramão. Não! Nascemos, eu e as ruas, para sermos caminhos, passagens, rotas. A contramão é por conta da autoridade constituída. Não por mim, nem pelas ruas. Constituída autoridade que nem eu nem as ruas reconhecemos. E se somos contramão, qual é a mão certa, Senhor Autoridade Constituída? Sabemos o que somos, eu e as ruas, porque nascemos com nossos destinos traçados, não em pedaços de papel onde estavam escritos poemas ou mapas, mas nascemos de outras ruas e de sonhos e morremos também em outros sonhos e ruas. Nuas. Carros passam pelas ruas e eu na contramão indicada por uma placa. Eu não tenho placas, não aceito placas. Não sou rua. Sou caminho.
12/10/2012
12/10/2012
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