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12/04/2018

Meu Nome é Alguém

Meu Nome é Alguém
Barata Cichetto

Vou logo avisando: sou perigoso! Peguei uma ideia ontem guardada em cima do armário fedorento do meu cérebro e carreguei minha espingarda. Munição quente. Felicidade e chumbo grosso. Em tempos grossos, como bem escreveu o poeta que era eu mesmo, é preciso andar armado. Queria andar amado, mas fui desarmado. Desalmado? Não tenho alma, troquei por um par de botas com uma diaba gostosinha que chupava meu pinto. Sinto, mas perdi a alma com ela. E a identidade? Não tenho também. Esqueci num motel quando fui comer uma puta negona de dezenove anos que queria que eu pagasse para comer o cu dela. Eu não pago para comer cu. Só pago por boquete. Como paguei para a Ivonete, uma puta asmática da Rua dos Andradas Meia Nove.  Ivonete me deu seu canivete. E eu lhe dei uma dentada no bico do seio. Que feio, Senhor Barata! Por isso repito: eu sou perigoso. Nervoso. Brioso. Horroroso. Medroso. E quem tem medo é perigoso. Quem tem fome também. Eu tenho fome. Do seu nome. Sou aquele que te come. Ao anoitecer. Sou perigoso, eu digo, e meu amigo, meu comparsa de crimes é Rimbaud. Aquela bicha mercenária. Mas voltando ao que falava, quando fui interrompido pelo matraquear febril das minhas lembranças: sou perigoso. Mas não daquela espécie de danoso, que paga por pensamentos, que esfacela crânios com machados ideológicos; que rompe cabaços de virgens de doze anos apenas por diversão. Não sou perigoso feito àqueles que abortam por vaidade, que matam por felicidade e zombam de mim pelos meus dentes podres. Sou perigoso, mas não sou criminoso. Não hasteio bandeiras vermelhas com foice e martelo, nem de cor nenhuma. Não acredito na ordem nem no progresso. Encaro um processo? Por injuria a pátria amada? Sou perigoso, pois que com minhas letras posso causar um terremoto. Então me mantém à distância. Segura. Não faço arte coletiva, que isso não existe; não faço arte social, que isso também não. Subverto o tom da palavra, o som das letras e mando todo mundo tomar no cu. Bando de filhasdasputas esses, que acorrentaram minha sede num poço sem fundo. Bando de desgraçados vermes imundos que me deixaram a deriva num barco embriagado num mar revolto. Mas cuidado comigo, sou perigoso. Um perigo a mim mesmo. Minha mãe chora por mim. Eu não choro por ela. Ela afirma que me conhece, mas não tão bem quanto eu a conheço: eu a vi por dentro, conheço suas tripas, rim, coração, tudo por dentro. Eu estive dentro dela, mas ela nunca esteve dentro de mim. Não chore, mãe! Limpe a gaiola dos passarinhos. Dê banho no cachorro. Minha mulher também chora. Ela não sabe o que sentir-se burro feito um tijolo, estúpido feito uma porta. E eu me coço para dormir, enfio o joelho no meio da sua bunda e lhe faço cafuné. Sou perigoso, afinal. Gosto de comer seu cu. Mas ela me faz um boquete. Melhor que da Ivonete. Pobre esposa penso eu, casar justo com um homem perigoso feito eu. Não, decididamente ela não sabe do perigo que corre. Ela tentou correr, mas só chegou até a esquina. Eu a peguei pelo pescoço e a trouxe de volta. Comigo ela jorra litros de tesão. Não é com qualquer um. Tenho dedos mágicos e uma língua comprida. Gosto da sensação de vê-la estremecer num choque elétrico e deixar jorrar litros de liquido transparente. Gosto de ver jorrar. Sou perigo por isso também. Eu lhe conto minhas histórias perversas sobre criar filhos, ela me conta suas mazelas.  Somos ambos infiéis até que a morte nos separe. Todos que eu digo é todos, mesmo! Mesmo que seja na punheta ou na siririca. A vaidade é a perenidade da espécie humana. Sou infiel a mim. Trai a mim quando decidi não trair ninguém. Mas eu e ela temos algo em comum: somos perigosos. Ela não ama ninguém. E eu, a alguém que nunca existirá, o que é a mesma coisa. Sou escritor e a criei a minha imagem e perfeição. A perfeita imperfeição da minha feição. Sou escritor e tenho meu escritório. O escritório do escritor é seu laboratório. Peremptório. Inglório. Ela tem filhos bastardos. Ignorados por bastardos. Gloriosos pela visão dos ciosos. Deliciosos momentos de fornicação em barracas de camping, em salões de baile esfumaçados. E filhos. Não tenho filhos, segundo os próprios. Renegaram. A não ser no momento da precisão. Por imprecisão cármica. Sou perigo por isso também. Amém. E amem alguém. Ninguém? Ninguém também é alguém. Meu nome não é Johnny, nem Ninguém. Meu nome é Alguém.

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