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11/04/2018

Profissão: Escritor

Profissão: Escritor
Barata Cichetto

Ontem escrevi "Escritor" num documento, no campo destinado à "Profissão". Nunca tenha escrito isso antes. Não por deixar de me considerar, não por não me reconhecer como tal, mas talvez por vergonha em assumir uma profissão tão relegada, maltratada e mal compreendida. O que meus familiares iriam pensar? Que sou um vagabundo? Um preguiçoso? Um folgado. Sim, iriam pensar isso. Aliás, não iriam pensar: pensam assim.

Já coloquei: "Oficce Boy", "Bancário", "Projetista Mecânico", "Auxiliar de Escritório", "Técnico em Informática" e muitas outras. Afinal durante uns trinta anos tive profissões "dignas", com Carteira de Trabalho, horário de almoçar, tomar café, chegar, ir embora, faltar, tirar férias, ter décimo terceiro, etc. Tinha horários definidos, trabalhos definidos, tudo definido. Não por mim, mas por aqueles que os definiam. Tinha horário para transar, que não podia nem ser tão cedo e nem tão tarde. Tinha horário para qualquer coisa. Cartilhas, manuais, procedimentos, etc. Mas a única coisa que não tinha horário era o de sonhar. De aplicar, de trabalhar por sonhos. Esse horário não tinha em meu relógio de pulso. Aliás, sempre tinha um. Ou dois.

Quanto tempo para acordar, cagar e tomar banho. Vestir a roupa, tomar café? Quanto tempo para chegar ao ponto do ônibus? Quanto tempo de trajeto? Quanto tempo? Quanto tempo para realizar a maldita tarefa que um chefete ordinário me destinava a cumprir uma tarefa que só ele sabia para quê. Ele tinha que manter a todos ocupados. Era sua missão. Ocupar nosso tempo.

Mas eu sempre arrumava um tempo. Minha profissão era exercida às escondidas. No ônibus que chacoalhava a caminho do trabalho, sentado na privada da empresa, cagando e escrevendo com o papel escorado na porta, no meio da madrugada no sofá da sala quando perdia o sono com alguma preocupação financeira ou alguma maldita ideia para um texto. Isso era ser um escritor maldito, escrevendo a despeito da maldição despejada por todos ao redor. Mas jamais seria uma profissão.

Há tempos, soltei as amarras. Perdi as estribeiras, o medo e até o respeito por aqueles que queriam que eu fosse um profissional pela metade. Decidi ser profissional inteiro. Mesmo que eu não tenha o declarar ao Imposto de Renda, mesmo que nada me renda, mesmo que não gere impostos, mesmo assim passei a considerar a escrita como profissão. Tolice? Ingenuidade?  Qualquer coisa. Pode ser, sim! O fato de alguém não ganhar dinheiro com uma profissão não faz desse alguém menos profissional. Um profissional é definido pela sua forma de trabalhar, de buscar aprender mais, melhorar seus conhecimentos para ter um resultado com mais qualidade ao se exercício profissional. E isso faço tão bem quanto quando procurava, como Office Boy conhecer mais ruas; manejar carimbos de forma mais eficaz como bancário e auxiliar de escritório; ou quando procurava ler todos os manuais sobre problemas físicos e lógicos de um computador. É assim. Ser profissional não é medido pelo numero representado num holerite de pagamento.

 Assim, represento uma classe cada vez mais desvalorizada, entre outras coisas pelo excesso de gente se candidatando à vaga. Há gente demais se arvorando em escritor sem a menor qualificação. Há até alguns editores picaretas vendendo curso para escritor. As facilidades da informática e a vaidade também são culpadas do baixo nível dos pretensos escritores. Nunca tive facilidades para escrever. Escrevo antes de existir Internet e escreverei se um dia ela deixar de existir. Não sofro de arrogância e vaidade artísticas, mas como profissional dedicado a ser sempre o melhor em sua profissão, torço o nariz para aprendizes arrogantes.

Enfim, tenho orgulho em colocar, sem mais vergonha nem qualquer tipo de constrangimento, a palavra "Escritor", no campo destinado a "Profissão".

11/10/2015

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