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23/10/2018

A Poesia Está Fedendo!

A Poesia Está Fedendo!
(Ao amigo Joka Faria)
Pintura: Barata Cichetto, "085 - A Leitora ", 2017 - Tinta látex sobre papel Paraná

Ora, pois, que sejamos sinceros: a poesia morreu. Inanição. Há muito deixaram de alimentá-la. À parte alguns poucos que bradam, que pedem para que não a deixemos morrer, ela é apenas uma carcaça moribunda, fedendo e estorvando na calçada. Sim, sejamos sinceros. Pense bem consigo: quando leu, ou melhor quando abordou pela ultima vez a poesia. Abordou, sim, ou seja, chegou perto, tocou, sentiu, perguntou do que se tratava, aonde ia, coisas assim.  Quando foi que comprou, e leu, um livro de poesia? Seja sincero. Não com a sinceridade da poesia, mas com a sinceridade da medicina. Ler poesia em Facebook é o mesmo que falar sobre as vantagens da virgindade num puteiro, sobre as virtudes da honestidade no congresso. Falam sobre livros de poesia, poetas boquirrotos brandindo seus últimos lançamentos por editoras que lhe arrancam o os olhos da cara e as pregas do rabo para terem o prazer vaidoso de ter seu nome numa capa colorida. Gatos mijam sobre livros de poesia, pombos cagam. Não há mais poetas, apenas escrivinhadores de palavrinhas bonitinhas para impressionar a garota que o sujeito ou a sujeita quer comer na balada, com a cara cheia de energético e uísque falsificado. Esqueçam a poesia. Se querem escrever alguma coisa, arrumem emprego num escritório de contabilidade, façam um livro de receitas veganas ou sobre como encontraram uma monja despida aos pés do monte karnal. O século vinte e um, que deu razão a Piva, um dos últimos poetas verdadeiros, matou a poesia. Poesia não rima com tecnologia, tela de computador com fundo azul, feito esta onde escrevo essa verborrágica vomitória sobre a morte da poesia. Ora pois, sejamos sinceros, deixemos que a poesia descanse em paz, já que neste mundo não há lugar onde ela possa respirar. Desliguem os aparelhos, pisem na mangueira. A poesia está morta. Viva a Poesia! Calem-se!

23/10/2018

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