Barata Cichetto
Corram para as colinas, apertem os cintos, fujam enquanto podem, que Barata está vivo, e está na cidade. E Barata é uma péssima companhia, é bom que todos saibam de antemão. Uma má companhia a idiotas, agiotas; falsos profetas e poetas de letra bonita. Uma má influência às senhoras mal comidas, às mendigas mal dormidas, e às megeras pervertidas. Tranquem em casa suas famílias, prendam suas filhas, Barata está na cidade! Cerquem suas ilhas, soltem os cachorros e guardem as galinhas dentro do armário: Barata está cidade! Cuidado, é perigoso esse homem; ele e sua mania de fazer poesia como quem te mostra um espelho, ele e sua mania de falar o que pensa, sobre o vermelho, sobre o verde, e pessoas incolores, suas dores e seus sabores. Chamem o pelotão, enforquem-no em praça pública, para que sirva de exemplo à aldeia. Fujam, que Barata não é flor que se cheire, não gosta de tomar banho, peida fedido e fala palavrão; sujeito subversivo, que insiste em estar vivo. Corram, que Barata é um perigo. Joguem-no na linha do trem, moam seus ossos, quebrem suas pernas, para que não possa andar, e seus dedos para que não possa escrever. Arranquem sua língua, para que não possa falar. Espalhem cartazes de procurado vivo ou morto pelos muros, pelas pontes e pelos postes. Ofereçam recompensa, ao que pensa que pode matar. Chamem o prefeito, algo tem que ser feito, e de algum jeito, para deter esse sujeito, o tal de Barata, imperfeito; poeta perigoso, idoso, inescrupuloso, odioso. E ele está na cidade! Barata é bicho escroto, feito praga de gafanhoto, escriba canhoto; fujam dele, como fogem do Capiroto. Fechem os puteiros, acertem os ponteiros, chamem os porteiros; fechem as portas, escondam as mortas, acertem as tortas, que Barata está na cidade! Desliguem a eletricidade, escondam a felicidade, e abram nova vala no cemitério, que Barata é um caso sério; e ele está entrando na cidade, sem cavalo, nem esporas, sem estrela no peito, sem chicote nem foice, mas armado até os dentes que ainda lhe restam. Ele usa dentadura, abre fechadura e sorri mostrando a ferradura. Suspendam o churrasco, chamem o carrasco e tragam a corda. Pendurem-no na árvore mais alta, que ele não faz falta. Barata não é gente, pensa diferente, é descrente, indecente; um doente; de tanto pensar. Coloquem-no na jaula, suspendam as aulas, Barata chegou! E diz que veio para ficar. Chamem a polícia, acionem a milícia, Barata não pode passar! Mas cuidado, que ele anda amado e é perigoso; e escreve tanto, que até pensa que é escritor, mas é apenas avatar, difícil de matar. Não ouçam o que ele fala, não leiam o que ele escreve, que, aliás, de nada serve.
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