Crítica e Autocrítica
Luiz Carlos Cichetto
Uma das piores coisas - se não a pior - que o Facebook faz, é criar nas pessoas uma falsa ilusão de grandeza. Com base na premissa de falsa igualdade, onde todos podem e são instigados a, colocar suas opiniões e pensamentos, quando uma pessoa começa a receber "curtidas" e elogios ao que escreveu, ela começa a se sentir grande. Então, um sujeito com um pensamento medíocre, mal informado e iletrado, mas com uma horda de pseudo amigos que começam a clicar no dedo positivo e a elogiar, ele se sente no mesmo patamar dos grandes pensadores. E isso acaba criando monstrinhos, pseudo artistas, escritores e pensadores. Vaidade atingida e ego devidamente massageado, o tal começa a se sentir importante, e envolto na aura de artista, se corrompe de uma forma ou de outra, e passa a tratar a si mesmo como importante. E ai vem a parte ruim.
A parte ruim é que esse ser sente-se um belo pensador, um grande escritor, um artista genial, mas incompreendido. Afinal, nenhuma editora se interessou pelos seus textos, num mercado editorial que é mais uma loteria que qualquer coisa. Uma loteria que não dispõe inclusive do mecanismo da sorte, que é algo aleatório, mas um sistema de roda viciada, mas de critérios puramente espúrios.
E o tal do artista escritor pensador começa a se sentir mal, mas ainda espera e acredita que dentre as curtidas que recebeu, um dia possa aparecer alguém de uma editora, que ser "curtido" no Facebook pode significar alguma espécie de ponto em seu currículo. Ele provoca, invoca, cavouca editoras, curte suas páginas em busca de algum reconhecimento. E o pior: acredita que é escritor, artista. E o pior ainda: se considera injustiçado. E assim procura adaptar seu pensamento àqueles que curtem suas postagens, seus maravilhosos textos e poemas, instintivamente, procurando agradar seus amigos. E isso só aumenta sua frustração, ansiedade e angustia.
Ele faz de tudo para ter suas curtidas, como se aquilo fosse uma espécie de compensação ao que não tem: o tal reconhecimento, afinal, ele se sente um grande escritor, pensador, poeta. Ele faz de tudo, menos aquilo que é seria o mais importante: autocrítica. Afinal, ele seria mesmo um grande escritor, pensador, poeta? Ele nunca pensa que entre seus dois mil amigos de Facebook, apenas uma dúzia no máximo o consideram como tal, sendo que metade é por que também se considera um grande artista, escritor, poeta, pensador, e quer as curtidas de volta, outros dizem isso apenas para agradar, ou por pena. E por fim, sobram no máximo um ou dois, que assim o consideram como ele acredita ser. E ele fica feliz com isso. E assim, com isso, mais e mais cresce a frustração e o sentimento de impotência. Ainda considera a história de que os grandes escritores, grande artistas, morreram sem ser reconhecidos, e isso o consola, com aquele sentimento cristão latente de poderá de alguma forma gozar da fama post-mortem.
Um belo dia ele cai na realidade: não, não é de fato um grande escritor, poeta ou pensador, afinal, fora esses um ou dois amigos, mais ninguém o considera assim. E ele próprio não se considera assim. Afinal, de fato não é mesmo. Ou ao menos não é tão grande quanto lhe diziam as curtidas de Facebook. De fato é bem medíocre, bem limitado e, não, jamais terá sua obra apresentada em programas de televisão, jamais será entrevistado em programas noturnos, nem ostentará a capa de revistas semanais. E nem se trata de escrever bem ou mal, não se trata do assunto sobre o qual escreve, não se trata de nenhum fator artístico, se bem que a autodenominação de escritor, poeta ou pensador, que ele se auto infringiu é algo demais prepotente e arrogante. "Fulano de Tal Escritor", "Beltrano de Tal Poeta", "Mengano de Tal Filósofo" é algo que não sobrevive além das páginas de uma rede de ilusões, que mostra um lago azul e límpido, onde afirmam que há peixes para todos, mas que na prática quem apanha esses peixes são os portadores de varas caras e as iscas cuja composição poucos conhecem.
E num certo dia, como um personagem de Kafka às avessas, o tal escritor, poeta, pensador, acorda e se vê transformado não num inseto monstruoso, mas num ser humano real, medíocre e apavorado diante da realidade que lhe vomita na cara que ele não é nada além de um mero caixeiro, e que tem contas a pagar, que sua família lhe tem nojo, medo e indiferença, e que não há nada para ser amado, nem ele próprio. Então, feito uma barata, se esgueira para dentro de algum buraco escuro, como um temor orgânico da morte, sem nenhuma capacidade ou desejo de transformar sua desistência em resistência, sem nenhuma vontade de ir além de seu próprio nada.
18/02/2019
Aprendi com o passar dos anos, que, uma rede social é, antes de tudo, uma fábrica de ilusões de todos os tipos, sendo uma curtida um dos dois símbolos que nos induzem a toda sorte de erros, incluindo aí o autoengano. O outro símbolo é representado pelos falso elogios adulatórios sobre qualquer coisa que se publique. Excluam-se os comentários realmente sinceros de poucos. E nem vou entrar no mérito dos detratores.
ResponderExcluirTal qual você (mas em menor grau, por óbvio), também me senti dependente das curtidas e dos elogios (mais uma vez, noves fora os sinceros). Foi uma coisa louca. No fim das contas, você acaba se sentindo uma nulidade. Isso fere bastante a autoestima de qualquer um, especialmente quando se tem de lidar com gente realmente medíocre -- intelectual e moralmente falando.
Você é um artista. Isso é real e irrefutável. Apesar do enorme (e compreensível) desapontamento pelo muito do esforço investido ter redundado em quase nada, você se libertou ao deixar para trás a fábrica de ilusões que lhe tragava os esforços para levar sua arte a sua legião de muitos pseudo-amigos. A realiadde pode até ser dura, mas é libertadora também.
Você e sua arte são uma coisa só. Não há quem possa dissociar um do outro.
De decepção em decepção, vamos indo. E indo bem melhor sem a ditadura da curtida.
ExcluirMete bronca no blog!
ResponderExcluirGrato, meu amigo Cassionei. Como deve ter percebido, deixei o Facebook para ao bem da minha sanidade. Estou escrevendo mais e postando boa parte aqui. Caso querira contatar-me (16) 99248-0091 (Whatsapp)
Excluir