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22/06/2019

Manual da Desexistência

Manual da Desexistência
Luiz Carlos Cichetto
Imagem: ntnvnc por Pixabay

Há uma poesia que não pode ser escrita. E não pode ser dita. E que de tão maldita ninguém acredita. Que seja poesia. Acham ser afasia. Concordam que é heresia. E imaginam ser hipocrisia. Há uma poesia que não posso escrever. E ninguém pode ver. E nem descrever. Uma poesia que nada tem a ver com haver. Com o que o houve. E que não se ouve. Uma poesia e um pé de couve. Há uma poesia que não pode ser pensada. Nem assada. Nem frita. Há uma poesia podre. No meio das outras frutas. Cheirando mal. Contaminada. Azeda. Há uma poesia na feira. Na cesta e na sexta. Poesia que não tem preço. Nem tem apreço. Há uma poesia que não pode existir. Nem resistir. Há uma poesia que não pode ser Poesia. Nem Prosa. Nem mote. Nem glosa. Há uma poesia no balcão. Na fila do pão. No supermercado da ilusão. Há uma poesia na fila do não. Com senha na mão. E um tiro no coração. Há uma poesia que não tem graça. Nem causa desgraça. Sentada na praça. Da Consolação. Há uma poesia dormindo. Embaixo da ponte. Sem colchão. Nem cobertor. Há uma poesia vazia no prato. E que não faz trato. Nem tem retrato. Falado. No jornal. Há uma poesia que não tem perfil. De poesia. No Facebook. E não tem Instagram. Nem Whatsapp. Há uma poesia que não pode ser falada. E que não pode ser calada. Há uma poesia caída na calçada. Pisada. Há uma poesia escarrada. Na sarjeta. Há uma poesia cuspida. No asfalto. Há uma poesia esculpida. Em barro. Em terra. E em carne e osso. Há uma poesia que não pode ser escutada. Nem estudada. Há uma poesia expandida. E que de tão bandida. Foi banida. Varrida. Debaixo do tapete. Do quarto de despejo. Sem beijo. Sem desejo. Há uma poesia sem pagamento. Sem aumento. Sem permissão. Há uma poesia estendida. No meio fio. Com a vida por um fio. Há uma poesia doente. Sem hospital. Há uma poesia louca. No hospício. Há uma poesia suicida. No alto do prédio. Sem remédio. Nem droga. Há uma poesia armada. No meio da multidão. Há uma poesia amada. No seio da escuridão. Há uma poesia morrendo. De fome. Há uma poesia assassinada. Assinada. Com sangue. Há uma poesia morta. De desgosto. Ou solidão. Houve uma poesia. Então ouve uma poesia. Que não pôde ser escrita.

08/06/2019

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