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17/08/2019

Eu Só Queria Fumar Um Cigarro

Eu Só Queria Fumar Um Cigarro
Barata Cichetto

O portão da rua, de ferro fundido e com um cadeado de aço parece tão distante visto da janela do meu quarto. Escuto cachorros ladrando insuportáveis na rua. Tento fumar. Pego e cigarro e coloco automaticamente na boca. O isqueiro não funciona. Agora não tem mais jeito. Tenho que atravessar o corredor de cimento cheio de musgo que separa minha porta e chegar até a saída de casa. Insuportáveis vinte metros. Insuportável caminho até a rua. Moro nos fundos. Nos fundos do mundo. Ainda penso. E saio sem fechar a porta. Os cachorros ainda ladram e me olham com medo e ódio. É quase a mesma coisa. Olho para o topo da rua e tento calcular quantos minutos sobre aquele asfalto quente eu terei que caminhar até chegar o supermercado onde uma atendente horrorosa vai passar o código de barras na leitora e pegar o dinheiro sem nem olhar na minha cara. O pior é tudo isso sem poder acender meu cigarro. Sem fumaça para respirar. A não ser a dos carros dirigidos por motoristas esnobes que passam cheios de empáfia dentro daquelas latas com rodas. E feito a gorda horrorosa do mercado sem olhar para mim. Sou um perdedor. Nem motoristas de carros ou caixas de supermercados olham na minha cara. Fosse eu um sujeito endinheirado e me ofereceriam carona nos carros e aquela escrota sebenta do mercado iria esfregar aquela buceta fedorenta na minha cara. Eu não preciso de um carro brilhoso que tenho dois pés. E nem da buceta sebosa daquela nojenta caixa de supermercado que tenho uma mão. Posso ser um perdedor. Um perdedor que ainda tem pés e mãos. Então posso ser um perdedor e andar e me masturbar. Eu só quero fumar. Não quero perder nem ganhar. Fodam-se a gordeta escrota com cara grudenta do supermercado que conta as moedas como se fossem pedaços de merda. E fodam-se os carros e seus motoristas automáticos que contam merda como se fossem moedas. Cheguei ao supermercado que de super tem nada e fui direto ao balcão. Pedi um isqueiro. Vermelho ou preto que tenho preconceito contra isqueiro branco. Todo mundo rouba isqueiro branco. Não tinha. Só branco mesmo. Só tinha branco naquele mercado. Me dei conta que não tenho ninguém que possa roubar meu isqueiro. Nem sendo branco. Aceitei. Eu só queria mesmo era acender a porra do meu cigarro. Tirei o sacana da embalagem de plástico e puxei um cigarro do maço e porra da vendedora que acho que era magrela e quase careca quase arrancou o cigarro da minha mão. Eu só queria acender a porra do meu cigarro. Tinha que esperar a rua. Que era distante e tinha um cimentado gasto e era cheio de musgo com um monte de carros cor de bosta dirigidos por gordas suarentas e magrelas carecas. Na saída do mercado tinha um portão. Estava trancado. Por fora. Então eu perdi. Sentei no chão de cimentado gasto e cheio de musgo verde e acendi meu cigarro. Ganhei!

17/08/2019

Um comentário:

  1. Às vezes é preciso lutar contra o mundo para ter o prazer de desfrutar o mínimo do que nos é muito caro por ser só nosso.

    Um pouco de paz e de silêncio fazem farte do pacote.

    Pequenos prazeres, lícitos ou ilícitos, são obtidos após uma corrida de obstáculos -- reais ou abstratos -- desde que um filho(a) da puta não ponha um pé no nosso caminho.

    Um cigarro aceso e tragado deve ser encarado como um troféu pelo esforço dispendido.

    E isso era tudo o que você queria.

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