Barata Cichetto
And the colored girls say: doo doo doo, lou, lou, lulu, lulu...!
Um dia eu sonhei que era um Lou Reed doce e pervertido
Cruzando a Ipiranga com a São João em sentido invertido
E as putas na frente do prédio incendiado da Julio Mesquita
Eram Rachel e Jane, mas também era Ângela a hermafrodita
E Dalva a estrela negra da manhã que tinha a buceta quente
Mas eu era um Lou Reed sem New York e doía o meu dente.
Um dia ainda sonhando descobri a poesia da sarjeta imunda
E penetrei pelas suas entranhas de forma inocente e profunda
Eu era aquilo que não podia ter, e era poeta e não queria ser
Lembrava de coisas que não existiam e sonhava com perecer
O Anjo Negro da Morte não queria e fomos juntos ao Inferno
E éramos três agora, além de mim e Lou Reed vestindo terno.
E se um dia sonhei que era Lou cuspindo o rosto da hipocrisia
Agora sou apenas um tosco poeta que ainda cospe na poesia
Sem eira nem beira, apenas perdido num mundo que não quer
Giro as balas no tambor do revolver brincando de mal-me-quer
Ainda sonho ser Lou Reed, mas a Avenida não tem mais beleza
Foram-se as putas, Lou está morto e o que me resta é a tristeza.
06/09/2014
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados
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