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31/10/2017

O Culpado é o Poeta

O Culpado é o Poeta
Barata Cichetto


Há uma forte suspeita de que o culpado é o poeta. E se a suspeita é forte, mais forte que ela é a certeza que não é o mordomo, nem a estatueta negra sobre a mesinha de centro de uma mansão. O milionário não foi, muito menos a diarista. O psicanalista está fora de suspeitas também, assim como o policial. E nem pensem em culpar o político ou o general, pois suspeitas nunca caem num feriado. As suspeitas são sempre aos sábados, ou domingos, dependendo do dia do mês. E antes que comecem a julgar, poupem o tempo dos jurados e do magistrado, e apontem para aquele poeta parado na esquina, com ar de terrorista, jeito de anarquista e fama de encrenqueiro. E maconheiro. Só pode ser ele, o poeta, o culpado. Aliás, alguém duvida que seja? É dele a culpa. Sempre dele. Chamem agora o retratista e que se faça o retrato falado do meliante, mediante uma módica quantia. Estampem na capa do jornal. É ele, sim é ele! E preparem o corredor da morte, paguem a fatura de energia elétrica e liguem a chave da cadeira. Cuidem para que ele não morda a língua na hora fatal. Mas permitam que revele seu ultimo desejo, que todo criminoso tem direito a um. E ele lhes confessará, nas suas rimas tolas que é, sim, o culpado. E pedirá papel e caneta. E escreverá um poema, rimando culpas com desculpas; ira com lira, e putas com lutas. Afinal, que o deixem a apodrecer sobre a terra depois de morto. E que os corvos e os ratos roam seus intestinos. Pois nem a terra lhe pode ser leve.

30/10/2017


30/10/2017

Modernoso Mundo Hodierno

Modernoso Mundo Hodierno
Barata Cichetto


Falam que sou estranho, por ser poeta e por ser otário
E eu nem sei o que é estanho, nem nunca fui a Ontário
Mas o tal artista underground de rua que toca roque
Chegou ontem a noite de Roma, Paris e Nova Iorque.

Eu que sou estranho, mas acha bacana ser poeta surreal
Afinal, a falta de grana é o que alimenta a literatura real
Fala que é legal ser fudido, sofrer com falta de dinheiro
Mas ontem comeu duas groupies na porta do banheiro.

O artista usa coturno sem ser militar, e acha bom meliante
E por ser um bom militante, acha que é um eterno mutante
Me chama de reacionário guardando no armário casaco
E eu abro a geladeira e só acho restos dentro de um saco.

Ainda ontem, passou por mim trajando uma enorme capa
Chegado da Europa, da exposição marginal sobre a Lapa
Se diz esquerda, usa coque de lenhador, sapato sem meia
É estrela da feira literária e grita palavrão na hora da ceia.

Fuma maconha, cheira cocaína e reclama do meu cigarro
Mas o meu imposto é o que paga o preço do seu escarro
Chama traficante de chefe e policial de bandido de farda
E nunca pensa que a justiça é coisa que falha e que tarda.

É artista underground que ama o Buarque e o Caetano
Mas baixou um milhão de musicas somente neste ano
É um escritor que nunca lê, mas publica sobre dificuldades
E faz palestras sobre literatura em auditórios de faculdades.

Usa camiseta de Che e ama Fidel, mas nunca foi a Havana
Brada contra a ditadura, mas acha legal sandália Havaiana
Compara o capitalismo com o socialismo por ser ignorante
E acha que a mulher branca nunca pode usar um turbante.

Anda com O Capital e um Ipod na mochila de pano encardido
Come sanduíche natural em publico e um Big Mac escondido
Depois compra spray no shopping e lambuza muros inocentes
Porque a sujeira é algo que interessa a seus lideres indecentes.

Defende o aborto como forma de liberdade e por pura vaidade
E ofende até a um morto que não concorde com a sua maldade
Deixa morrer o feto, defende sem teto, mas é incapaz de afeto
Mesmo que seja a um filho, um pai ou ao enteado de seu neto.

E eu que sou egoísta, deixei de mim para tratar do casamento
Sem saber que o futuro me guardaria apenas o esquecimento
Restando apenas lamentar o que não foi feito em outras eras
Quando crianças ainda não tinham se transformado em feras.

Enquanto ele, o artista independente, carrega estrelas no peito
E escarra em meu rosto por discordar das sandices do prefeito
Berra pelos cantos sobre aquilo que considera como igualdade
Acreditando em cotas e tudo que é segregação e desigualdade.

Berra seu direito na escada rolante, na fila e no banco do trem
Mas o direito é de quem conquista, não de quem acha que tem
E eu que sou estranho perante prisioneiros de ideologias tortas
Caminho sem perceber sobre um mar turvo de criaturas mortas.

29/07/2017



Também publicado em: https://www.meart.com.br/poesias/poesia-reflexiva-modernoso-mundo-hodierno/#comment-577
Em 29/10/2017

29/10/2017

Sim, Piva, Eu Direi As Palavras Mais Terríveis Esta Noite

Sim, Piva, Eu Direi As Palavras Mais Terríveis Esta Noite
Barata Cichetto

Ao contrário de Piva, eu quero esta noite dizer as palavras mais terríveis que puder. E as que não puder também. Lançar a maldição mais hedionda, a ofensa mais profunda, a blasfêmia mais profana. Quero dizer palavras terríveis, temíveis, horríveis. A ponto de te fazer vomitar, a ponto de te fazer cagar nas calças, molhar as calcinhas, por ódio, tesão, horror, vontade. Quero dizer palavras tão terríveis, que ninguém ousou dizer. Que nem Arqúiloco, poeta-soldado grego, que causou o suicídio do sogro ao ler seus poemas, ousou pensar. Sim, quero dizê-las, em alto e bom som, para que todos os cachorros da rua escutem, para que meu pai, do outro da sala se mate, para que minha mãe na cozinha deixe a comida queimar, para que meus filhos comunistas lamentem, e para que minha mulher interrompa seu sono à base de remédios. Quero dizer as palavras mais terríveis, que nenhum sacerdote, em sua sacristia profana, jamais ousou orar, e que nenhum deus, em seus momentos de maior ira, cogitou, e que nenhum filósofo tergiversou. Quero dizer as palavras mais terríveis, que sequer uma criança, na sua mais tenra e infinita maldade brincou. Quero dizer as palavras mais orgânicas, mais orgásticas que nem Safo, ou nenhuma deusa lésbica grega ou romana disse, nem a seus mais secretos amantes, as palavras mais horrorosas, que sequer aqueles que tanto me odeiam são capazes de pensar. Dizer em um volume mais alto que toca uma banda de metal, as palavras mais danosas, que possam a alguém machucar. Quero dizer, quero dizer que as palavras que quero dizer, sejam as mais hediondas, que nem Augusto conseguiu versejar, que nem Nero conseguiu incendiar, que nem Calígula conseguiu enomear. Quero falar as palavras que sejam mais terríveis, que nenhuma jura amorosa foi capaz de ser, que nenhuma mulher foi capaz de dizer, e nenhum homem foi capaz de escutar. As palavras mais medonhas, que nem mesmo aqueles que sonham com o futuro poderão aguentar. Falar as palavras mais sinceras, que nenhum traidor foi capaz de contar, que nenhum traído foi capaz de ouvir. Quero falar, com minha língua ferina, todas as palavras terríveis que eu puder pensar. E não imaginem que poderei por acaso pedir perdão pelas palavras terríveis que quero falar esta noite, que perdão é palavrão, palavra de baixo calão, que não sei soletrar. Quero dizer todas as palavras terríveis que ainda nem constam de dicionários, que sequer foram inventadas. Todas. Quero inventar palavras terríveis esta noite. Inventar palavras na noite terrível. Quero dizer palavras terríveis incríveis. Daquelas que nem sua imaginação possa reconhecer. Quero dizer todas as palavras que eu possa conhecer. Quero dizer palavras terríveis, capazes de te cegar. De te enxergar. Tão terríveis que possam te ouvir. Te deixar muda. Te mudar. E quero, porque quero e pronto, falar as palavras horríveis para escandalizar a diva. Quero dizer as palavras mais terríveis que nem Piva foi capaz de dizer. E que nenhum outro poeta foi capaz de versar. E se essas minhas palavras não lhe forem tão terríveis, a ponto de te chocar, a ponto de lhe causar o desejo de suicídio, escute-as como quem escuta palavras de amor. Ou pedidos de socorro!

26/10/2017

26/10/2017

Imprinting - Making Of

Imprinting é um projeto idealizado e batizado por Joanna Franko. Trata-se de um volume de 80 páginas, com capa dura dupla, acabamento laminado, contando a trajetória do poeta, artista visual, artesão de livros e filosofo Barata Cichetto. Em formato grande, 20 X 27 cm, com centenas de fotos coloridas impressas em papel couchê 150 gramas, depoimentos, registros, entrevistas e ainda textos inéditos, além de curiosidades como fotos de infância, ingressos de shows, etc. O volume inclui um DVD com poemas musicados e videos de entrevistas com o artista, que também foi o autor de toda a criação gráfica. O material é comemorativo dos 45 anos de atividade literária.





























































































Outro Texto Sem Final

Outro Texto Sem Final
Barata Cichetto

Deixe-me agora escrever outro texto. Totalmente fora do contexto. Sem nenhum pretexto. Em curso. Que ganhe um concurso. Que me dê recurso. Fazer discurso. Em feira. Livre. Literária. Deixe-me escrever um poema. Sem vírgulas. Nem parênteses. Aparentemente poético. Antiético. Estético. Sem parágrafos. Sem linhas. Sem espaços. Sem tabulação. Sem adulação. Nem dois dedos da margem. Um texto à minha imagem. E semelhança. Mais imagem que semelhança. Um texto sem esperança. De ser lido. De ser tido. Como literatura. Sem ter sido. Como tortura. Uma tortura. Verbal. Nominal. Anal. Vaginal. Cerebral. Ataque de pânico. Sopro no coração. Mentira. Hipocrisia. Causa mortis. Escrevo por que é solido. Se fosse liquido eu beberia. Ficaria bêbado de texto. Como ontem fiquei de poesia. Se eu fosse mesmo um escritor. Ou quem sabe um torturador. Contaria tua história. Da minha maneira. Se fosse um terrorista. Explodiria teus miolos. E esparramaria pela Quinta Avenida. Em Nova Iorque. Dançando um Rock. De Lou Reed. Se eu fosse moço. Te jogaria no poço. Te esquartejaria. E colocaria numa mala. Então fala! Diga o que pensa. Ou me deixa inquieto. Quieto. Escrevendo um texto. Que jamais ganhará prêmios. Que jamais será lido. Por ninguém. Ou apenas por alguém. Um amigo. Quem sabe uma legião de dois. Não mais. Anormais. Se eu fosse anormal. Seria tudo normal. A qualquer um. Seria um animal. Urrando na jaula. Mijando na aula. Na sala. Na cozinha. E no quintal. Que tal? Se eu fosse o que quer. Eu não seria alguém. Seria ninguém. Quem? Quem disse que sou escritor? Quem disse que sou? Não sou nada. Estou tudo. Tudo é o que estou. Mas nunca estive na China. Nem na Grécia. Nem na esquina eu fui. A esquina é que vem até mim. Trazendo aquele boteco fedorento. Com bêbados odiosos. Que não sabem que sou escritor. Que não sabem. Todos estão perdidos. Com suas ideias políticas. Querem eleger outro presidente. Que é o mesmo. E se eu fosse escritor. Diria a eles que não. Que não é melhor. Que eleição. Que não é mais forte. Que sorte. Que sim é hipocrisia. Feito poesia. Então diria. Que poesia é o sim do não. E o não do sim. Poesia é assim. Eu diria de mim. Que não sou não. Nem sou sim. Sou o talvez e o senão. Se não for. Era para ser. Ser ou não ter. Eis a questão. Ter é não ser. Ser é uma palavra. Apenas uma. Entre tantas. Que não são. Há coisas que não são palavras. Nem todas as coisas são palavras. Algumas são apenas coisas. E eu que queria saber de todas as coisas. Conheci apenas poucas palavras. Muitas palavras. Poucas coisas. Coisa nenhuma. Coisa alguma. Palavra é apenas uma palavra. Simples. Feito a palavra eu. Que não significa eu. Apenas significa a palavra eu. Sem significado. E eu. Que não sou uma palavra. Escrevo um texto. Cheio de palavras que não são coisas. Enquanto muitas coisas. Que não são palavras. Acontecem. Crescem. Adoecem. Mas são as palavras. Que morrem. No fim. Mas antes. Escrevo outro texto. Para sair em revista. Com uma entrevista. Com um artista. Da televisão. E seu ponto de vista. Sem coesão. E meu texto. Sem nenhum pretexto. Vai para a lixeira. Do computador. Não sinto culpa. Nem dor. Não peço desculpa. Por matar palavras. Elas já foram abortadas. Em nome da modernidade. Da liberdade. E da vaidade. E só aviso. Quando parar de escrever. Para o leitor. Meu benfeitor. Vomitar. As palavras que lhe fiz engolir. A seco. Na marra. Por farra. E para me divertir. Da cara. De quem acha que arte. É parede de banheiro. Estupro de crianças. E sangue. E o crítico literário. Que é escritor. Dono de editora. Disse que meu escrito. Foi proscrito. Desperdício de papel. De bites. E de bytes. Malditos teclados de computador. Que zombam dos meus dedos longos. Malditos teclados de celulares. Que não gemem. Nem rangem. Estão mortos. Não escrevo sobre mortos. E quem dera um ataque de coração. Antes de terminar de escrever. Eu nem teria tempo de descrever. Minha morte. Nem de dizer.  Ad...

24/10/2017