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25/07/2019

Bosta

Bosta
Barata Cichetto

Abro a janela da rua e mostro meu pinto. Sinto, mas é o que tenho a mostrar. O crente batendo palminhas ridículas no portão e eu penso que deuses não sabem tocar a campainha. Desgrenhado, mostro o dedo médio e coloco as cuecas para secar no varal. Sujas, com marcas nos fundilhos. E os crentes desistem de carregar minha alma ao céu. Cai o véu. Cai a máscara e os deuses devem estar putos comigo. Afinal, sou apenas um bosta de um poeta que não deixará heranças aos filhos e netos. Não tem dinheiro e os crentes batem em outro portão. Tem olhos mágicos e câmeras nas portas. Jeová não entra. Nem sai. Daqui ninguém sai. Nem entra. Sou apóstata. Aposto no escuro e encosto no meio fio. Não sei dirigir, nem tenho carro. Jeová nunca me deu. Nem meu pai, nem meu filho, nem o espírito santo. Espírito Santo, Bahia, Salvador. O salvador mora em Salvador? Ou em El Salvador. Che Guevara não era santo nem guerreiro. Médico motociclista e ateu. Feito eu, que nem sou judeu. Deu? Fodeu! O que é teu não é meu. Meu, apenas meu eu, aquele que te fodeu... Hahahaha... Enfie suas jóias, seu condomínio fechado, seu helicóptero argentino e suas casas no rabo. E eu me acabo. E enrabo teu cu. Sou porco? Não tenho sorte, só a morte. Por sorte. Guarde teus segredos, resguarde seus medos. Aos meus dedos. No seu cu. Adote um artista, mate um ativista e leia uma revista. Contigo. Veja. Mas seja o que for, não venha. Guarde bem sua senha. Debaixo do colchão. De espumas flutuantes. De Castro. O Alves. Navio negreiro e barco bêbado. Bêbados no barco, arco do triunfo. Rimbaud e as mercenárias. Plebe rude e bolinhas de gude. Chupe meu pau antes de cuspir. Chute seu mal antes de se vestir. Jogue as crianças no rio. Ou na privada. Despeje os fetos. Abençoe os netos. E reze para que os deuses te perdoem. Peça perdão, mas não peça desculpas. Guarde suas culpas, debaixo do edredom chinês. Xadrez. Comprado na Vinte e Cinco. Reze um pai nosso. Negue o pai nosso. Ainda posso. Renegar. Negar. E cagar. Na tua cabeça. E antes que esqueça, guarde minha herança. Como lembrança. Amarga esperança. Do porvir. Biscoito de polvilho. Barulho e sujeira. Pombos jogando xadrez. Ratos de saias. Tombos. Os muçulmanos e os manos. Da favela. Atearam fogo na tua mansão. Da rua dos mestres. Ao mestre com carinho. Aos mestres um cantinho. Caminho suave, cartilha dos bobos. Robôs humanos tomaram de assalto o trem pagador. E o pombo cagador escolheu tua cabeça para cagar. Sorte sua. Não tenho raiz, nem país. Não sou árvore nem flor. Que se cheire. Sou bosta, mas sou feliz, mais bosta é quem me diz. Sou bosta, mas sou... Luiz.

16/07/2016

24/07/2019

Syd Barrett Não Mora Mais Aqui

Syd Barrett Não Mora Mais Aqui
Barata Cichetto

Eu não quero enlouquecer, comendo restos de merda e comida estragada em latas de lixo presas a postes. E não quero apodrecer em consultórios médicos, em clinicas de recuperação de bebida, ou em camas de hospital. A morte não consta em meu testamento, quero chupar as belas tetas de belas garotas loiras que amamentam a filha do outro.
Eu não quero adoecer minha alma, enlouquecer minha mente, apodrecer minha carne. Não quero estar sozinho, mas não quero companhia. Estar só é ruim, mas não aguento sua hipocrisia. Deixe estar, fique longe, esteja perto. Segure meu pau, cure minha ressaca e beba comigo sentada na calçada enquanto eu enfio o dedo por dentro de sua calcinha.
Por onde andam meus amigos, onde bebem minhas amantes, onde morre minha solidão? Putas não gozam mas chupam. Ontem eu era um amante, agora, não tenho amigos. Deixem eu deitar antes de morrer. Mas antes mesmo do gozo da morte, quero gozar entre suas coxas magras e lamber sua bundinha estreita.
Enlouquece minha mente, apodrece a semente. Somente a dor permanece, amada e amante com garras de leão, olhos de serpente enquanto eu procuro restos de amores jogados nas lixeiras das ruas. Rasga minha carne com unhas afiadas e pintadas com a cor do meu sangue. Beija minha língua, seu pai não percebe.
Deixe eu acender meu cigarro, soltar um escarro e peidar. Não há censura, não há doença, não há porque. Nem liberdade, nem poder. Beber e foder. O limite são os ponteiros do relógio, um verdadeiro Elefante Efervescente. Cortinas de ferro, baratas mortas no quintal, monstros quentes e um dia de glória a um poeta que teima em não viver.
Mas eu não encontro o que procuro, tenho bolsos furados e sonhos dourados. Pague minha bebida e a conta do motel, depois desapareça em direção contrária á minha fuga. Desapareça nas brumas, nas noites escuras enquanto eu procuro restos de comida e sobras de orgasmos nas latrinas dos banheiros públicos. Púbicos pêlos presos aos dentes, dentadura postiça e a trilha sonora do apocalipse.

27/12/2009

O Mundo é Uma Buceta

O Mundo é Uma Buceta
Barata Cichetto

Queria comer o mundo feito uma buceta deliciosa. Devorar suas entranhas, coisas estranhas, gordas de banhas e magrelas safadas. Magrelas, canelas finas, eróticas e desejadas amadas de brancos corpos cor de marfim. O sol se envergonha de sua pele, querida. 
Queria comer o cu do mundo, chupar as tetas da nação e morder os mamilos de Eva. Sou safado, velho e sem-vergonha! Minha vergonha é não ser o que sonharam de mim. 
Queria foder, chupar e gozar, mas estou agora, neste instante, á sós comigo enquanto o mundo se come e se devora. Devoro a buceta do mundo, como o cu do coveiro que quer enterrar minha alma no jardim.
Queria o gozo das putas, das esposas e das matronas ensandecidas, paridas de mel, ao fel e ao bordel. Bordel não é lugar de freiras, queridos padres. Peguem o terço ali no balcão ao lado da garrafa, incinerem seus livros sagrados e fodam-se.
Queria, queria, queria, mas não tenho. Estou indo dormir, sozinho e buscando em minha masturbação o deleite, doces deleites, doces e leites das putas ensandecidas, loucas meninas de peitos que cabem na palma da minha mão. Daimones e daianes. Enrosquem os pelos de suas  bucetas nos pelos da minha barba.
Queria guardar segredos dos meus medos, mas cedo ou tarde conto comigo mesmo e a esmo conto as farpas espetadas em minha mão. Sempre, sempre conto farpas, espetadas na palma da minha mão, feito espinhos de um cristo pagão, alucinado por uma madalena que não lhe oferece o sudário. Sou louco, estupefato e paralisado de um medo que não chega. Chega de medo. Acordo cedo e fico o dia com sono. Acorda, amigo, sou seu castigo.

23/12/2009

Números Absolutos

Números Absolutos
Barata Cichetto
Andrew_Loomis_-_Woman

Porque eu consigo transformar cada perda e cada desengano em outra poesia. São tantas poesias que nem as perdas e os desenganos conseguem dar conta. São mais poesias que perdas e desenganos?
Ah, garota, eu queria tanto lhe comer! Ontem a noite eu tinha planos, mas fiquei mesmo masturbando números e tirando poesias da escuridão e da solidão.
Calculo com uma régua sem números, somo em uma calculadora desmantelada e diminuo da aritmética onde o nada é absoluto e o tudo é absurdo. Quanto a dividir, sempre fico com a parte menor que cabe dentro da palma da minha mão.
Matemática pura, sempre o resultado das minhas contas é negativo. Porque devo ou porque devem a mim, depende de quem calcula. Mas sempre transformo números em letras e letras em palavras que formam um verso. Devo ao mundo, devo ao universo. 
Porque eu consigo transformar, matemático enérgico, mágico e trágico, cada numeral negativo em um cardinal sem cifras, sem dizimas. Numero absoluto de perdas, transformadas todas elas.... Em poesia...

22/12/2009

23/07/2019

Troco Poesia Por Dinamite (DOWNLOAD FREE)


“Troco poesia por dinamite” mostra um poeta intenso e íntegro e uma poesia obcecada por poesia, sexo, morte, marginalidade e escatologia. E o cenário onde flutuam estas obsessões neuróticas, eróticas e mórbidas é a cidade de São Paulo, outra obsessão de Barata Cichetto. " Do prefácio de Ciro Pessoa, sobre Troco Poesia Por Dinamite. Leitura on line e download fre, pelo Archive.Org.


22/07/2019

Araraquariana Nº. 1

Araraquariana Nº. 1
Luiz Carlos Cichetto
Foto: Barata Cichetto

Querem acabar com o trem na cidade. E agora? Como eu faço? Para cometer suicídio? Sem um trem para pular na frente? O prefeito disse que ninguém quer o trem dentro da cidade. É mentira seu prefeito. Imperfeito idiota. Agiota perfeito. Que eu ao menos quero o trem. Dentro da cidade. Fora da cidade. Ou com a cidade inteira no bucho. Feito serpente cobra coral. De aço... Querem arrancar os trilhos. Do trem da cidade. E agora? Como eu faço? Sem ter por onde caminhar? O prefeito suspeito. Mandou embora a locomotiva. A Maria foi. Nunca mais voltou. A andar na linha. Nos trilhos. Que agora querem arrancar... Querem acabar com o trem. E ainda tem. Gente que também quer. É o sujeito. Que mora ali perto. Que reclama que não pode dormir. E eu nem reclamo. Que moro perto. E sem o trem. Não posso morrer... Querem acabar com o trem. Do mesmo jeito que a mim. E seu aço. Ainda resiste ao tempo. Ao temporal. E ao prefeito. Imoral. Mas eu não resisto. Sou de carne...  Querem arrancar os trilhos. Da cidade. Que a eletricidade. Precisar passar. Arrancar os filhos. Por necessidade. Por vaidade. Por maldade. E por vontade. De um. Que é nenhum... É preciso não navegar. É preciso não viver. É preciso não correr. Na frente do trem... Querem destruir a estrada de ferro. E se não erro. É por decreto. Secreto. Do executivo. Que tem poder. É por dinheiro. Sem direito. A escolher... Querem mudar a história. Da cidade. Colocar outra em seu lugar. Arrancar o apito. Arrancar o grito. Mas eu repito. Não arranquem. Que eu resisto. Feito a estação... Dementes querem retirar dormentes. E vender à prestação. E a condição. É o pleito. Do eleito. Um sujeito sem trilhos. Sem filhos. E sem coração. Apenas vagão... Então o jeito. É arrancar o prefeito. E deixar os trilhos. Deixar eu jogar. Na frente do trem. A carne que restou. De mim. Enferrujada. Feito o trem. Que não tem. Onde morar. Que não tem estação. Onde parar.

21/07/2019

20/07/2019

Família

Família
Ao meu irmão Genecy Souza e a minha filha Joanna Franko

Aos meus pais, a meus filhos e a qualquer um que seja:
Família não é o que se empresta, nem o que se deseja.
Respeito é o que importa, e irmão é o que lhe respeita,
O restante tem o sangue, igual ao pernilongo e a seita.

Aos meus filhos, pais e todos que se afirmam parentes:
Família não é sorriso de fotografia de pasta de dentes,
É dividir a dor em partes idênticas, reduzir as cargas,
O resto é peso morto que carregamos nas costas largas.

A meus pais e filhos, que batem punheta a comunistas:
Família não é um luxo lixo aos interesses capitalistas.
É fluxo fixo de trocas, sem perdas ou lucros cessantes,
Sem saldo em conta bancária, e nem juros incessantes.

A filhos meus e pais seus, que roubaram noites e dias:
Família não é herança genética dos úteros das vadias.
É estar perto mesmo que longe, junto até que separado,
Ser o que precisar ser, e não aquilo que lhe é esperado.

A meus filhos que não são pais, e a pais sem filhos:
Família não é rua sem saída, nem trem sem trilhos.
É a estrada de mão dupla e um caminho sem culpa,
A quem não se precisa pedir perdão e nem desculpa.

Aos meus filhos sem mente, e meus pais sem coração,
Família não é a escolha, uma democracia sem eleição.
É um direito ao dever e um dever àquilo que foi feito,
E nem sempre perfeito é justo, ou não pode ser eleito.

Aos meus filhos, da puta ou da santa, e nunca abortados:
Família não é cuidar dos pais ou de filhos não adotados,
É dar aquilo que não foi pedido, agradecer o oferecido,
Sabendo que a troca é um valor há muito desaparecido.

E aos meus pais, que abortaram de mim antes de nascer:
Família não é sobrenome, ou algo que se possa esquecer.
Não é escolha, mas conquista; individual, e não coletivo,
É capital do ser, trabalho do estar; e essência do ser vivo!

20/07/2019