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01/09/2019

Criado-Mudo

Criado-Mudo
Barata Cichetto
https://twitter.com/mulhernuanacama

Ela era incômoda feito uma cômoda antiga e cheia de cupim dentro do meu quarto. Me acomodei. Virei peça do mobiliário. Quase um criado-mudo onde ela guardava seu papel higiênico e suas calcinhas. Comodamente me fiz de imóvel como um móvel encardido de madeira antiga que um dia foi útil. Quieto apenas olhando a bagunça na cama ao lado e recebendo toda espécie de coisa sem uso em cima de mim. Criado-mudo me fiz de surdo. Até o dia em que o quarto ficou pequeno demais e a cômoda ficou tão incômoda que a coloquei na frente do portão. Que os cachorros mijem nela até que o lixeiro a carregue.

25/08/2019

Cabaré Pornopoético

Cabaré Pornopoético
Barata Cichetto

Minha poesia nasceu no meio das putas. E por elas. E para as elas. Minha primeira musa fazia ponto na Avenida São João. A partir daí, e lá se vão 45 anos, sempre foi assim: minhas musas sempre foram putas, mesmo que tenham sido esposas, ou foram esposas, mesmo sendo putas. Algo errado com isso? Errado chamar esposas de putas? Ou putas de esposas? Qual é a escolha certa? Minha poesia é das putas. E para as putas? Minhas lutas. Absolutas. Das putas. Pelas putas. As outras. São outras. Putas. Cansei de compor poemas no meio de outas bêbadas às três da manhã. E as três da tarde. Putas mijando de rir da minha poesia. E eu mijando na cara delas. Ejaculando poesia bem no meio dos seus peitos. Foram meu feitos. Eu era o poeta palhaço no meio do picadeiro. Do puteiro. E elas era putas querendo ser engraçadas. Desgraçadas. No meio do pardieiro. Elas eram putas e eu sobranceiro e fornido descendo as escadas como no Ulisses de Joyce. Eram tímidas aquelas putas da São João, eram temidas às da Radial. Fremidas as do meu quintal. Todas era putas e a todas eu beijei na boca. De todas chupei as bucetas. Mesmo das porcas fedidas cheirando a suor. Adelaide Carraro não mora mais aqui. O submundo da sociedade. Underground é coisa de inglês burguês. Punk de operário irlandês. E o bom Rock português? Em francês  pergunto os porquês. Nem quero saber em japonês. Em chinês ou em galês. Putas são putas em qualquer lugar do mundo. E também são putas os poetas do fim do mundo. Salope. Poète. Putas crentes são fedidas. Prefiro as arrependidas. Casei com duas. Detesto putas limpas. Porcas usando colares de diamante. E pulseira de barbante. De agora em diante. Caso apenas com poetas. Que são putas imundas. E gostam de bar suas bundas. Apenas para rimar. Vagabundas. Poetas são egoístas. Putas são artistas. Putas poetas são narcisistas. Maniqueístas. De agora em diante só caso com advogadas. São hedonistas. Por dever e profissão. Suas listas de leis, suas pistas e seus golpistas. Cansei de frígidas, de rígidas e de mal redigidas. Quero mulheres bem escritas, feito roteiros de cinema. Quero protagonistas. Quero mulheres bem elaboradas, ricas personalidades. Minha poesia nasceu no meio das putas. E no meio delas irá morrer. Comigo!

26/08/2019

Let It Be, Let It Bleed, Let It Seed

Let It Be, Let It Bleed, Let It Seed
Barata Cichetto


Deixa eu dilapidar teus patrimônios, lapidar teus demônios, brindar teus hormônios, blindar teus heteronômios; dançar no teu cabaré literário e cavalgar teu pangaré temerário. Deixa eu mastigar tuas vestes e instigar tuas pestes; comer teu pastel e beber teu bordel. Comer teu pão de queijo, derreter teu não desejo e dissolver teu não ensejo. Deixa eu me queimar com teu café e teimar com tua fé; escorrer pelas tuas curvas e correr pelas tuas retas. Deixa eu envelhecer nas tuas idades e enveredar pelas tuas cidades; morrer por tuas necessidades, e viver pelas tuas vaidades. Deixa eu morder tua jugular e morrer de sangrar; te sagrar rainha e concubina do universo, ser teu verso e teu inverso. Deixa eu morrer de desgosto a seu gosto, em agosto, antes do verão te chegar, ou da aurora me cegar. Deixa eu me molhar na tua chuva e me encharcar na tua vulva; secar tua testa e me enfiar na tua fresta; ser tua festa, e o que mais resta. Deixa eu ser teu vampiro e teu suspiro; o ar que eu respiro e o poema que te inspiro. Deixa eu deixar te comer e parar de querer; deixa eu ser, deixa eu estar. Deixa eu querer?

26/08/2019

Habeas Corpus

"Que tenhas o corpo", disse a advogada, em latim. E eu, usando de minhas prerrogativas pessoais prontamente, garantindo assim seus direitos individuais a possuí, sem abuso de poder e sem coação, dentro da legalidade. A cláusula pétrea do prazer, que garante a qualquer pessoa física  o direito de ir e vir, e também o direito de foder com quem e quando quiser é parte da declaração universal dos direitos humanos. Sem emenda, sem votação. Tesão não é democracia, é ditadura, eu disse a ela. E então a doutora me prendeu. Na cama. E me algemou. Na cadeira. E eu lhe disse: "que tenhas o corpo". E ela, com violência e abusando de sua autoridade e de seu diploma de safada me chupou. Apelei. Implorei por justiça. Por igualdade de direitos. Ela acatou meu pedido. Deferiu e levantou a saia: penetrei-lhe o rabo com base em toda a jurisprudência que eu tinha nesses casos. Ela disse: eu protesto, senhor Juiz. E eu disse: não sou juiz, sou Luiz. E sou inimputável, de acordo com lei de diretrizes das meretrizes. Ela apelou ao estado de necessidade, ao perdão judicial. E eu então lhe disse: perante a Lei todos são iguais, então gozemos juntos antes de terminar este tribunal. Aleguemos legítima defesa, e na reincidência, motivos de consciência. Sem dolo e sem perdão. Consumado está. E agora, nos resta apenas vestir nossas roupas e sair. Lá fora há uma penitenciária nos esperando, condenados que fomos por crime continuado. Hediondo. Culposo.

22/08/2019

Filosofia de Quintal

Filosofia de Quintal
Barata Cichetto

Gosto mesmo é da filosofia de quintal, daqueles de cimentado rachado ou forrado de mármore. Filosofia de varal, onde expomos nossas roupas velhas, sujas e rasgadas; roupas íntimas com marcas de sexo; mal lavadas, desbotadas. Dispostas na corda, sob os olhares curiosos de vizinhos inescrupulosos, voyeurs e sádicos. A filosofia de varal é a legítima, aquela que está nas casas tanto dos pobres, com seus quintais minúsculos em subúrbios, quanto dos ricos com seus quintais de mansões. A filosofia de quintal não faz diferença, não gera diferenças e não respeita crenças. Está no quintal do ateu e do pastor, no quintal dos presidentes e dos sem dentes; no quintal das bruxas e das xuxas. A verdade está lá fora, no quintal.  Não credito em filosofia de sala de estar, de televisão, de Youtube, mas na que é dita no meio de um churrasco, de uma reunião de bêbados, ou mesmo de freiras descalças, falando das desgraças. Filosofia de varal, como roupa que cai com o vento; filosofia de varal, que sai com o tempo. Que gatos arranham e cachorros mijam em cima. Há filosofia no quintal. Há filosofia no varal. De moços letrados e idosos analfabetos; de moças menstruadas a machos com gonorréia. Ha filosofia no fundo do quintal, no barracão de ferramentas, ou na beira da piscina, onde doze putas abraçam o pedreiro da construção ou o dono da mansão. Há filosofia no quintal, de terra batida, de concreto protendido, de cacos de cerâmica ou de mármore carrara. Há filosofia em qualquer quintal. Nos livros há a ideia, no quintal o pensamento; nos livros a fórmula, no quintal o produto final. No quintal se planta, no quintal se colhe; no quintal se toma sol, no quintal se toma chuva; no quintal se bebe e se come, no quintal se suja e se limpa; no quintal se mostra, no quintal se vê. Não há filosofia nas aulas de faculdade, nem nos discursos políticos; não há filosofia nas bibliotecas, nem nas escolas; não há filosofia nos balcões de bar, nem nas salas de estar. Não há filosofia em nenhum lugar, a não ser no quintal.

23/08/2019

Os Canibais Suicidas

Os Canibais Suicidas
Barata Cichetto


Então ela me pediu; "Me come!" E eu comi. Com açúcar e leite condensado. Comi com gosto, como gosto de comer. E comi primeiro seus braços, de carne mais seca, depois as pernas e o tronco. Depois comi os olhos que são bem salgados e o cérebro que é bem doce. Deixei por fim os seios e as nádegas, moles e suculentas, com um pouco de limão e umas gotas de gengibre. Comi tudo. Lambi o tutano dos ossos. As tripas joguei para os cachorros, que, aliás, eram dela mesmo e viviam cheirando. Sobrou apenas a buceta, que guardei debaixo do meu travesseiro, e o coração que guardei na geladeira para comer mais tarde. A língua foi a única coisa que desperdicei: coloquei no triturador da pia da cozinha. Agora estou me sentindo mal, não sei se é indigestão, que aquela porra de mulher era uma criatura totalmente indigesta, ou se é por causa do leite condensado, que acho que estava vencido. Acho que vou vomitar. Preciso de um médico... Estou passando muito mal, acho que estou com febre. Ó.... Estou me torcendo de dor. Dói em tudo quanto é lugar. Já vomitei até as tripas. Os cachorros estão lambendo também. Desgraçada! Eu sabia que estava fácil demais quando ela me pediu para comê-la. Devia estar envenenada. Vai ver até tinha tentado suicidar e quis me levar com ela. Vagabunda de uma figa. Agora vou sair, vê se encontro alguma mulher bem filha da puta e dizer para ela me comer. Será que dá certo?

23/08/2019

Barata: Biografia Brutal

Barata: Biografia Brutal
(Um Falso Texto Sobre Pessoas Verdadeiras)
Barata Cichetto


Quem sou eu? Sou Barata porque assim me chamaram. Com minúsculas. Depois dei uma de bacana, criei um site e botei um artigo na frente e o substantivo transformei em nome e em adjetivo. Sou  Barata e fui batizado Luiz Carlos, pelo meu pai escroto que odiava o Prestes e quis se vingar em mim.  Sou Barata e mais que isso sou desigual. Feito barata branca, que é assim por ser albina. Sou diferente. Não busco a igualdade na humanidade. Ninguém é igual. Busco a desigualdade como fim social. Sou anormal. Já fui chamado de tudo: de filho da puta por ser um e de filho da puta de bom. "Ai quero mais seu filho da puta. Me fode, seu filho da puta!" Fui chamado Baratinha por amigos chegados e Baratão por amigas fudidas! Nunca fodi com amigas. Não misturo negócios. Casei quatro vezes. Todas as quatro de supetão. Elas queriam e eu não. Mas casei. Trepei. Fiz filhos que hoje chamam Lula de pai. Nunca fodi com viado. Nem dei o rabo, por falta de vontade. Ou seria de oportunidade, ainda não sei direito. De qualquer forma já fui chamado de bicha, de tarado, de viciado. Detesto maconha, mas já fui chamado de maconheiro. Sempre fui fiel a uma única puta. Acredito que nem todas as mulheres são putas, apenas minha mãe e as que se casaram comigo, ou que me deram a buceta. O resto são santas. Já fui cafetão. Já fui cristão. Nunca fui ladrão. Deus é uma piada de mau gosto. Nem gosto de piadas. Sou mal humorado. Fumo três maços de cigarro e com isso morrer de câncer é uma lógica. Mas quem sabe antes. De tiro na testa. Ou de desgosto. Sou anticomunista. Conservador no que me interessa conservar. Sou contra o aborto, mas por nenhuma questão religiosa. O corpo lhe pertence, feminista imbecil, mas a criança dentro da porra do seu útero não é corpo seu. Então, por que deu? Não é meu. Não fui eu. Fiz vasectomia aos trinta. Foda-se a humanidade. Sou misógino, misantropo e até miss Brasil se achar que isso não afeta sua autoestima. Me chamem do que quiserem. Não luto contra a humanidade, mas muito menos por ela. Sou individualista, mas não egoísta: aprenda a diferença crucial. Nunca fui crucificado, só apedrejado. Nasci no dia de Natal. Do anticristo. Mas não sou demônio. Sou um moleque de sessenta. Sou o que escarra na tua cara, o que cospe no próprio rosto e o que esporra na tua cara e depois te mostra a face no espelho toda gozada. Tem nojo? Então engole. Tudo. E ainda quer mais? Mais de mim? Vai comprar na padaria. Compra uma dúzia de sonhos, depois me lambe feito aquele creme. Como disse, sou Barata, mas não qualquer Barata, aquela sobe nas tuas costas e que voa no seu quarto numa noite escura. Te assusto? Não tenha medo. Mais que rima poética medo é um segredo que não se conta. O medo que se aponta. Esqueci-me de dizer que sou um bosta. E de quem gosta um manjar. Me chama pra jantar? Prometo me comportar. Sei usar os talheres. E prometo não peidar durante a janta. Só arrotar. Mas sei segurar a faca com a mão direita e o garfo com a esquerda. E diferenciar copo de vinho do de requeijão. Sou sofisticado quando quero. Não prometo mais nada. Nem que não vou querer te foder sobre a toalha de cetim quando acabarmos de jantar. Sou assim: uma agulha que pode te furar ou te costurar a pele. Bordar até. E prometo não te chamar de puta, não te chamar de santa. E nem de mãe. Prometo te chamar. Para ir beber, para foder, para conversar sobre teus gatos e nossos gastos. Falar sobre tua menstruação e minha constipação. Quero poder segurar tua mão para descer do ônibus e abrir a porta do carro, sem com isso querer te comer. Quero te comer sem precisar fazer nada disso. E fazer tudo isso apenas por querer. Gosto de te agradar. Sou saudosista. Queria estar à meia noite em Paris ou em Lisboa. Fumando ópio com Baudelaire ou na Tabacaria com Pessoa. Sou ator. Cantor. Sou idoso. Alto, magro e gostoso. Cabeludo e barbudo. Tesudo. Tenho pau grande. Gosto de oral. Lá e cá. Laika? Sou laico. Bardo. Tenho Facebook, Whatsapp, Instagram. Só não tenho dinheiro. Se cobra pra trepar eu pago com poesia. Ou com orgasmos líquidos. O que é a mesma coisa. Escrevo poesia com a língua na tua depilada. Ou com meu canivete nas tuas costas. Topas? Te espero na esquina. Só até amanhã. De manhã. De short desfiado com a polpa da bunda de fora. Sei esperar. Mas só um minuto. Quer um gozo líquido? Pergunte-me como. Enfim, sou Barata, já fiz de tudo. Até amor. Já fui tudo, menos santo. Já fui. Agora sou. E se quiser saber mais de mim veja as rugas no meu rosto, que são minhas cicatrizes. Atrizes do desgosto. Quer saber o que eu sou? Não seja eu e eu serei seu. 

18/08/2019